Burning Torch escrita por Pacheca


Capítulo 9
Aliados


Notas iniciais do capítulo

Menor do que eu achei, mas ficou grandinho :p Boa leitura, amores :*



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O resto do treino foi simplesmente entediante. Passei meia hora antes do almoço fazendo uma camuflagem de folhas no meu braço. Não ficou perfeito, mas considerei aceitável.

O sinal do almoço tocou. Limpei meu braço do melhor jeito que pude com uma toalha molhada e fui para o refeitório. Era um salão, com exatamente 6 mesas, cada uma para quatro pessoas, e um balcão com bandejas.

Peguei uma bandeja e entrei na fila, atrás da garota do 2. Aron me olhava, já sentado numa mesa mais ao canto, como se suspeitasse que a colega fosse me atacar.

Assim que consegui encher minha bandeja com meu almoço, fui até a mesa de Aron. Senti Rillion e sua equipe me encarando da outra mesa. Niliria ocupava o lugar que seria de Aron.

– Alguma coisa que conseguiu aprender sobre eles nas últimas horas? – Me sentei de frente para Aron, tomando um pouco de suco de tangerina.

– Rillion é o líder. O garoto até que é forte, mas sua confiança o cega. Sinceramente, ele não consegue pensar muito. A garota do 1 se chama Nebel, fantástica com o arco, também se cega com a confiança.

– E a garota do 2? O que ela faz?

– Rika é nosso maior problema. Ela é rápida, muito. Além de ser melhor do que eu consideraria seguro em arremesso de facas.

– Os Carreiristas não se importam muito em aprender coisas novas, não? Vi Rika passar um bom tempo naquele jogo depois de você. E antes ela ficou o tempo todo no arremesso.

– Assim como Rillion não se cansava de levantar pesos e Nebel monopolizou o arco e as flechas. – Ele deu de ombros. – Ao menos já sabemos as fraquezas deles.

– Ao menos em parte, sim. Desde que deixemos Rillion longe de qualquer um de nós e de coisas pesadas, Nebel sem seu arco e Rika sem facas, já é um começo.

– Rika não vai ser tão fácil. Bem, nenhum deles vai.

– A gente se vira. – Tomei mais suco. Mikail se sentou ao lado de Aron, segurando a mão da outra garota do 5.

– Aron, Jojo, essa é minha irmã Julia. – Ela deu um sorriso e pegou uma cadeira da mesa ao lado, se sentado na ponta da nossa mesa.

– Prazer. Sou Julia. – Acenei de um jeito travado para ela.

– Muito bem, só falta Neville agora. – Comi mais um pouco do macarrão que me deram. – Descobriu alguma coisa, Mikail?

– Niliria, a mira dela é sobre você. Jenna também.

– Alguma coisa que eu não saiba, garoto.

– Bem, os Carreiristas são nosso maior problema. Os organizadores não estão gostando muito da ideia de Aron no nosso grupo. Alguns acham que vai afetá-lo.

– Eu me viro com eles. – Aron mastigou uma bolinha de carne do molho do macarrão. – Mais alguma coisa?

– As crianças do 11. São piores que parecem. Não tenho certeza, mas o garoto é mais frio do que uma pessoa de 13 anos costuma ser.

– Muito bem, então. Treinem de tudo um pouco, ok?

Neville se sentou ao meu lado. Tinha sido um dos últimos da fila. Ele me olhou por um instante, sorrindo. Sorri de volta e dei outra garfada no meu almoço.

Comemos em silêncio por um longo tempo, até que um som irrompeu do meio do refeitório. Malec tinha se levantado, quase derrubando a cadeira. O barulho tinha sido dos talheres acertando a mesa.

Ele vinha na nossa direção. Todos o encaravam. Até mesmo eu. O que ele estava pensando?

– Ei, pôr do sol. – Era comigo, com certeza. Neville também era ruivo, mas não era tão claro quanto meu cabelo. Não parecia com o pôr do sol. – Vamos conversar.

– Precisava de toda essa comoção, Doente? – Malec realmente tinha uma aparência doente, com a pele manchada e os olhos fundos no rosto.

– Não é muito cuidadosa, Jojo. – Ele pegou sua cadeira e a colocou na outra ponta da mesa, ao meu lado. – Precisa controlar a língua, peste.

– Bem, todos aqui já sabem que eu não sou a sonsa tímida que eles querem que eu seja. – Dei um sorriso fraco, para quem estivesse de fora, tentando nos ouvir achasse que eu estava com vergonha. – O que quer?

– Ficar com vocês. Vigio sua língua e ainda consigo trucidar aquela garota. – Ele deu um sorriso largo, repentino. Parecia que ele estava me perdoando por algo.

– Por que a odeia tanto, Malec? – Me inclinei um pouco para trás.

– Não é da sua conta. – Não foi uma resposta afiada como de costume. Foi cheia de ódio. Todos voltaram a nos encarar. Aproveitei para confirmar minha ideia de sonsa.

– Não...Não quis ser intrometida. – Ele apertou um pouco os olhos. Passei a olhar apenas minha bandeja, diminuindo o tom da minha voz. – Me perdoe a indelicadeza.

– Tudo bem...Você, oh Deus, está chorando? – Passei a mão no rosto quando ele fez a pergunta e neguei com a cabeça.

– Não. Vamos terminar nosso almoço, ok? – Voltei a comer, com a certeza de que todos ali me viam como uma sensível garotinha que acredita em finais felizes. Até mesmo Malec.

– Sua desgraçada, como conseguiu isso?

– Força de vontade, Malec. Força de vontade e uma dissimulação avantajada. – Dei um sorriso disfarçado para ele.

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Passei o resto do dia treinando na estação de sobrevivência e de novo no jogo. Era a estação mais calma, vazia.

Rika fez uma cena no meio da área de treinamento, berrando que mataria quem tivesse sumido com a faca com que treinava. Não que eu ligasse para facas e suas diferenças, mas acho que foi algo bem pior para ela. Alguém estava a enfrentando.

Voltamos para nosso apartamento. Tudo que eu podia pensar era em tomar um banho, comer algo e dormir. Parecia que eu tinha passado o dia todo na floresta com Shiranui, catando avelãs para minha avó.

– O que acha? – Neville perguntou de repente. – Digo, de hoje.

– Fomos muito bem. Já temos nossa equipe, com sorte, só teremos de nos preocupar com os Carreiristas e Jenna. Talvez Malec.

– Acha que ele nos trairia? – Neville me encarava agora, pela primeira vez desde que embarcamos naquele trem.

– Todos eles vão, mais cedo ou mais tarde. – Ele concordou, como se acabasse de tomar um suco azedo. – Neville.

Ele ficou olhando para o chão, nervoso. Foi nossa vez de entrar no elevador, até o sétimo andar. O chamei de novo depois que as portas se fecharam.

– O que? – Neville era bonito, de verdade. Ou ao menos, o que eu imagino que seja considerado bonito.

– Não se esqueça disso. – Ele se negava a me encarar de novo. Parei de frente para ele, perto o suficiente para forçá-lo a erguer o rosto ou prensá-lo contra meu pescoço. Por mais alta que eu fosse, Neville me deixava baixinha.

– O que? – Suas costas estavam contra a parede do elevador. Ele estava nervoso, como se fosse chorar. A realidade das palavras que eu disse em seguida também me deram vontade de chorar, pela primeira vez em anos.

– Não se esqueça que no fim vai ter que matá-los. – Minha voz deixava minha garganta rígida. – No fim, só um sai vivo.

– Posso te perguntar uma coisa? – Ele disse, ainda tenso. Concordei, tentando dar um passo para trás. Neville, no entanto, me segurou, me virando.

Fiquei com as costas no elevador, enquanto quem me prendia agora era ele.

– Por que se preocupou em me dizer isso? Por que é tão...gentil comigo? – Ele tremia. Muito. Respirei fundo e respondi.

– Eu tenho a capacidade de gostar de certas pessoas, Neville. Ou acha que eu sou uma vadia louca sem coração?

– Não, eu... – Ele saiu da minha frente. A porta do elevador se abriu. Saí antes dele, direto para meu quarto.

Entrei debaixo do chuveiro, sem tirar minha roupa. Apertei qualquer coisa e deixei a água cair sobre mim. Uma parte de mim estava com raiva de Neville por pensar que eu não ligava para ninguém. A outra estava triste, em parte pela mesma razão. Eu não sabia que era assim tão distante dos outros.

Saí do banheiro, deixando as roupas encharcadas para trás. Peguei uma calça cinza e uma camiseta preta na gaveta de uma cômoda no quarto. Eu cheirava a lavanda.

Me sentei ao lado de Teuk na mesa, como de costume. Ele me olhou de lado, como se estivesse preocupado. Pela primeira vez em anos, me encolhi.

– Como foram hoje? – Loner se serviu uma taça de vinho e serviu outra para Charol. – Aceitam?

– Eu tenho alguma memória sua tomando algo além de álcool? – Apoiei minha cabeça na minha mão, deixando meu cotovelo sobre a mesa.

– Você não viu nada, garota. – Ele deu um sorriso fraco.

– Fechamos nosso grupo hoje. – Neville respondeu, erguendo o olhar para Loner, de pé ao seu lado. Falei com Julia, Jojo conversou com Aron e Mikail.

– Ótimo, agora...

– Também tem o Malec. – Falei, cortando-o. Ele me olhou, franzindo o cenho.

– O garoto do 10? Por que o convidaram?

– Ele se ofereceu. – Neville concordou com a cabeça. – Ele tem algum tipo de rancor com a garota, Jenna. Ele me pediu para matá-la, duas vezes.

– Tomem cuidado com ele, dobrado. – Loner se sentou. – Assim que Jenna morrer, ele não vai mais se preocupar em esperar o fim para se virar contra vocês.

– Tudo bem. – Dei um bocejo. O garoto avox entrou na sala, trazendo parte do jantar. Sorri em agradecimento, abrindo espaço para deixá-lo colocar a bandeja que carregava na mesa.

– Bem, estive pensando em começar o treino de vocês amanhã. – Charol pegou um pedaço de carne da bandeja.

– Treino? Para quê, exatamente? – Neville pegou um pedaço da carne também. Cordeiro, talvez?

– As entrevistas, querido. Não posso deixar que digam e ajam como bem entenderem na frente das câmeras, oh não! – Ela sorria de leve. – Loner vai ajudá-los com as respostas que devem dar, eu com o comportamento.

– Quando pretende fazer isso? – Bocejei de novo. – Depois do jantar?

– Não se preocupe, querida. Amanhã não deve se sentir tão cansada com o treino, já vai ter se acostumado. – Ela respondeu. Me servi também, por último.

– Tudo bem. Teuk, devo esperar algum tipo de “surpresa” no meu vestido? – Ele deu um sorriso antes de fixar os olhos azuis claros nos meus.

– Surpresas, talvez...Mas não uso a mesma ideia duas vezes, não se preocupe.

– Contanto que eu continue vestida durante toda a entrevista... – Dei de ombros. Teuk e Reys deram uma risada leve.


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Notas finais do capítulo

O que acham? Gostaram dos aliados? Beijo



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