Burning Torch escrita por Pacheca


Capítulo 27
De Volta




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Não aguentava mais aquilo. Queria ir pra minha casa, abraçar minha avó, reencontrar Shiranui. Eu o salvara. Mesmo que sem muita percepção. Acordei e peguei minhas roupas na gaveta. Minhas. As da minha mãe.

Estava quase saindo do quarto, quando a porta se abriu. Tatto. O garoto avox com quem eu conversara antes de ir para a Arena. Ele carregava sua caderneta junto ao peito, como se a escondesse.

– Ei. – Falei, estendendo minha cama. Não era serviço meu, mas tive vontade.

“Você fez sua decisão.” Ele escreveu e me mostrou a caderneta. Suspirei.

– Não diria muito que eu tinha escolha. Nunca achei que eu fosse capaz daquilo.

“Foi ele quem mandou. Além disso, aposto que foi do jeito mais indolor possível. Aquela coisa estava afiada. Talvez seja por isso que ele tenha pedido isso.”

– Existem maneiras mais fáceis de se matar alguém sem dor. Tipo, enterrando o machado na cabeça dela... – Ele ficou sério. – É, esquece. Tão ruim quanto.

“Não quero que ache que sou a favor dessa matança. Não tenho nem minha língua para protestar. Só quero que você entenda que já fez e não tem volta.”

– Eu sei disso, garoto. O problema é que eu fico esperando que ele vá aparecer de novo. – Dei de ombros. – E imaginar o enterro dele, deve ter sido horrível receber aquele corpo.

“Eles não viram. A Capital manda o corpo já num caixão, limpo e pronto pro enterro. E não o gravaram depois daquilo. Só o golpe.”

– Mas eles ainda sabem. – Comentei. – Mas é como você disse. Não tem mais volta. Obrigada, Tatto.

“Você merece. Ninguém é simpático comigo.”

– Eu sou? – Ri fraco. Simpatia nunca foi uma palavra que me definia.

“Do seu jeito.”

Sorri. Achei que nunca mais fosse sorrir. Talvez nunca mais feliz de verdade, mas pelo menos eu consegui sentir algo além de culpa e dor. Tatto sorriu de volta e saiu do quarto.

Fui tomar meu café. Teuk me esperava no fim do corredor, para me acompanhar até a mesa. Será que ele tinha visto Tatto? Preferi não perguntar.

– Vou te encontrar em algumas semanas. Aproveite sua volta. – Ele sorriu, sentando-se ao meu lado.

Não comi muito. Queria ir embora logo. Charol sorriu para mim dentro do elevador. Nem podia acreditar no que eu fizera. Pena que ela achava aquilo incrível e não absurdo.

O trem. A máquina imensa que me levaria para casa. Acenei mais uma vez para as aberrações que me viam como uma heroína. Senti falta de Neville, erguendo a mão no espaço entre nós, esperando que eu a apertasse.

– Sem nostalgia barata, ande. – Loner me empurrou de leve para dentro do trem, acenando também.

– Logo, logo estará em casa, querida. Curta a viagem. – Charol sorriu, indo para um dos vagões. Loner obviamente foi para algum lugar com um carrinho de bebidas.

Eu fiquei uns bons minutos de pé, olhando a paisagem pelas janelas da porta fechada. Neville. Ele devia estar em um lugar melhor, vendo Panem por cima.

– Espero que esteja bem ai. – Falei, suspirando. – Vou sentir sua falta.

Fui para o último vagão, o da parede de vidro. Logo eu estaria vendo minha floresta de novo.

Loner me acordou quando chegamos ao 7. Tive a impressão de que a volta demorou mais do que a ida. Charol dessa vez não tentou me colocar em roupas coloridas demais.

– Muitos desses lá fora te veem como vítima, mas muitos também acham que os traiu. – Loner falou, parado atrás de mim. – Fique normal, nem sorridente, nem séria. Só normal.

– Ok. – Concordei. Charol tinha aquele sorriso fixo. Mandou que eu saísse primeiro quando a porta se abriu.

Flashes de todos os lados. Parecia que era pior do que na Capital. Estavam filmando tudo e passando nas televisões de lá. Pisquei, atordoada. Podia sentir dezenas de olhares sobre mim.

Encontrei minha avó, sorrindo. Shiranui estava logo atrás, também feliz. Aliviado, até. Os pais de Neville. Agora eu sabia quem eram, podia ver a semelhança dele com aquele casal. Os dois me olhavam, atordoados.

– Bem vinda de volta. – Loner falou, virando-me de frente para uma câmera. – Agora você sorri.

Ele ergueu meu braço, como se eu acabasse de ganhar um combate, o que eu teoricamente fizera. Sorri, como eles gostariam de me ver. Forte. E por um minuto eu me senti forte. Snow podia até ter ganhado. Mas eu ainda poderia pensar em tudo que quisesse.

– Vamos te levar para casa. – Loner falou, me puxando pelo meio das pessoas.

Era uma mansão. E aquilo era incrível. Parei no meio da sala. Acho que tudo tinha seu lado bom na vida. Claro que a ideia de ter aquilo sobre o sangue de outros não me alegrava.

– Talvez ela possa falar com a gente agora? – A voz da minha avó ecoou pela sala, já mobiliada. – Olá, querida.

– Ei, vó. – Abracei-a, sentindo aquele cheiro de conforto que só ela tinha.

– Fico feliz que tenha voltado.

– Eu também. – O que eu fiz com Neville podia até ser horrível, mas aquele sentimento bom de rever minha avó e meu melhor amigo eram um bom remédio.

– É isso, garota. Ano que vem somos nós dois enfiados naquela floresta. – Shiranui me deu um abraço apertado.

– O que aconteceu enquanto estive fora? – Perguntei, segurando-o pelos braços.

– Não muito. Foi pouco mais de uma semana. – Ele deu de ombros.

– A semana mais agitada da minha vida. – Suspirei. – Nem sempre de boas maneiras. Mas não vou pensar nisso.

– Aproveite sua nova casa. Merece isso. – Shiranui sorriu pra mim, me abraçando de novo. Loner seria meu vizinho agora, já tinha ido embora sozinho.

– Vou fazer isso. – Subi as escadas, estudando o corredor comprido. Meu quarto era a última porta. A decoração me lembrava a do quarto no andar 7, mas de uma boa maneira. Sorri. Como eu podia achar algo de bom naquilo?

Alguém batia na janela. Loner estava sentado em sua própria janela, me encarando. Abri minha janela.

– Esse é seu quarto? – Perguntei. Ele concordou. – Eu deveria ir para outro, então. Não quero um velho me vendo trocar de roupa.

– Primeiro, foi você quem decidiu andar por ai de toalha. Segundo, de velho aqui só sua avó.

– Literalmente. – Ri. – Quantos anos mais velho que eu você é?

– Está com dezoito? – Concordei. – Então sou cinco anos mais velho.

– É tão novo?

– Um dia você devia ver os vídeos do meu desfile. Eu era um perfeito modelo. O trauma me transformou nisso. – Ele apontou para si mesmo. – De toda forma, aproveite para descansar. O trabalho está só começando.

– Valeu, Loner. – Fechei a janela e as cortinas, indo me deitar. Seria um momento de calmaria no mar bravo.


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Notas finais do capítulo

Caminhando para o final .q Devagar, mas to chegando :3



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