Louise No Mundo Dos Sonhos escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 12
A última longa, louca e caótica viagem rumo às Terras de Ninguém.


Notas iniciais do capítulo

Yoooo!
Eu prometi, não prometi? Estou de volta em tempo recorde, kkkk
Este cap é mais gráfico do que outra coisa, tem bastante descrição, mas o próximo vai ter mais ação.
Desejo a todos uma boa leitura. o/



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/426941/chapter/12

Se eles esperavam que a travessia para o outro lado seria fácil, estavam completamente equivocados. Nos primeiros minutos começaram a achar estranho, pois a barca seguia descendo o rio, mas nunca conseguiam divisar a outra margem. As plantas chamativas começaram a escassear, e a corredeira ficou mais lenta. Era possível ver animais que lembravam muito os peixes chapinharem na água.

— São de papel! — exclamou em uma certa hora Louise, jogando o peso do corpo sobre a baixa amurada do barco para observar mais de perto. — De papel-celofane!

De fato, as criaturinhas eram deste material, brilhantes e luzidias, a maioria em tons de vermelho ou laranja. Eram agitados e não ficavam muito tempo nas imediações da barca, pois os remos constantemente os acertariam.

Vega desceu o rosto para observar também. — Até parece que nunca viu peixes assim antes… de que lugar amaldiçoado você vem, afinal?

A garotinha deu de ombros com suavidade, vendo Salazar pescar um dos espécimes, fazendo algumas cartas irem em direção a ele e fechando-o numa caixa com água dentro. Logo ela flutuava até as mãos dele, que foram estendidas à Louise. — Eles são bem simpáticos, ao contrário de nossa companheira caolha…

O olhar que ela lhe lançou deixava claro que iria atirá-lo da embarcação na primeira oportunidade. Com essas viradas instantâneas de cabeça, era possível ver o local onde deveria estar o outro olho, por pouquíssimo tempo. Um órbita vazia, revestida por pele e com cicatrizes ainda piores circundando-a. Da primeira vez que notara isso, a garota pensou em questionar se o que havia levado o globo ocular de Vega tinha sido algum instrumento em forma de garra, ou um monstro, mas por precaução decidiu manter silêncio. E como não era a melhor das visões, também parou de ficar reparando muito no rosto dela.

O peixe de celofane nadava em seu diminuto aquário improvisado, ora ou outra acenando para a menina com uma das barbatanas. Ela parecia encantada, os pensamentos completamente focados nele. Do outro lado, Allistar cantarolava baixo, usando o chapéu para tampar boa parte do seu rosto.

— Sabe, nós estamos quase chegando àquele ponto. — a Barqueira murmurou, cutucando-o com a ponta do dedo indicador. — Não tenho nada contra suas cantigas, mas deveria prestar mais atenção ao ambiente…

— Relaxe, querida amiga… cantarei uma balada para ti, se estás se sentindo tão entediada.

— Eu não fico entediada. — ela resmungou de volta com um muxoxo, ajeitando seu novo tapa-olho e levantando-se com indiferença de seu lugarzinho especial. — Mas quero ouvi-lo cantar minha música…

Ele apenas riu por baixo do chapéu, mexendo com os dedos como se regesse uma orquestra.

 

Minha querida senhorita do rio,

Prazer em revê-la, nesta hora tão tardia

Ainda que não uses de fato um navio

Essa nossa viagem é sempre o ponto alto dos meus dias.

 

Tão louca e caótica como esperado

Sempre sabe a hora certa para surgir

Leve-me, doçura, para o outro lado

E, em troca, entrego meu coração para ti!

 

E então foi ela que continuou a canção, batendo com ritmo suas mãos enluvadas sobre a madeira envernizada, sabendo que agora toda a atenção dos ocupantes estavam nos dois.

 

Oh, céus, um coração não me serve

Para que neste barco possa navegar

Como ingresso desejo algo mais leve

Algo que outra não possa afanar.

 

Pois sou deste mundo insano

E insano é o peso que tenho de carregar

Lembranças, Sonhos, Terrores e Planos

Todos eu aceito, mas com seu coração não posso ficar.

 

Ele pôs-se de pé e estendeu a mão para que esta segurasse. De alguma forma, o espaço parecia bem maior, como se a embarcação tivesse inchado naqueles últimos momentos. Agora os outros três podiam ver uma ponte feita de trepadeiras, que começava na margem mais próxima e terminava além do nevoeiro que cobria o outro lado. Exatamente quando a barca passou por baixo da mesma… não era mais uma barca.

Agora eles estavam em um trem. A paisagem desvanecia-se além da janela, mostrando os mesmos tons de antes. Chocada, Louise enfiou a cabeça para fora e reparou que haviam realmente trilhos onde antes devia ser o rio. Trilhos azuis, de uma substância não identificada, enquanto o vagão em que estavam parecia ser de madeira com o mesmo tom avermelhado da antiga barca. Ela preferiu não espichar-se mais para tentar ver a locomotiva. Até porque o que acontecia ali dentro era mais interessante.

A Barqueira também havia mudado completamente de aparência, como num passe de mágica. Agora parecia feita de preto e branco, a parte de trás dos cabelos tomando uma coloração negra, enquanto a da frente permanecia prateada. O vestido era também negro, com um modelo estranhamente aberto, principalmente nas mangas. Luvas finas e meias da mesma finura cobriam seus membros. Um pequeno chapéu estilo cartola descansava em sua cabeça. Do tapa-olho de Vega, nem sinal.

Os dois começaram a dançar lentamente, de um lado para o outro, apenas conectando-se por suas mãos. Agora, Allistar já começava a cantar novamente.

 

Oh, milady, tão graciosa, como é bom rever-te

Com suas mudanças tão marcadas quanto as da lua

Não tenho nada que possa oferecer-lhe

Além de uma vida vazia e nula.

 

Bem sabes que eu gostaria de continuar esta viagem

E tua companhia é mais agradável do que mereço

Necessito de chegar a outra margem

Que tal, como preço, eu lhe der um beijo?

 

Agora, a voz dela tinha um timbre mais metálico do que antes, quando entreabriu os lábios cheios para terminar a cantiga.

 

Ora, ora, que jovem mais impulsivo

O que me ofereces é inusual

Não sabe o quanto corre perigo

Por sugerir algo tão irreal

 

Mas deste mundo sou a Barqueira

E o serei até o último sino soar

E já que nos estendemos em demasia

Um beijo poderei aceitar.

Os passos pararam, e Allistar fez-lhe uma mesura, levando uma das mãos dela que ainda segurava aos lábios e depositando um beijo sobre a luva negra. Então, a Barqueira – que agora era uma maquinista – inclinou o corpo e segurou a barra do vestido, num polido agradecimento. — Estou quase considerando a ideia de aceitar isso como seu ingresso de retorno, Allistar.

— Mas, como a conheço bem, sei que não fará tal coisa.

— Definitivamente, essa música me faz parecer mais agradável do que realmente sou.

— É uma pena. — ele sorriu de maneira tranquila, ajeitando mais uma vez seu chapéu sobre os cabelos que começavam a ficar grisalhos. Ouviu quando Louise bateu palmas rapidamente, encantada, e Salazar logo após juntou-se a ela. Vega contentou-se em bater uma mão na outra de forma lenta e sem ritmo algum. — Pelo menos eu tentei…

A garotinha voltou a sua atenção para analisar o vagão, descobrindo que não fora só a antiga aparência das coisas haviam mudado. O peixinho e a água que havia dentro da caixa de Salazar também sumiram sem deixar rastro. Ele suspirou, fazendo um movimento lento com o dedo para que as cartas retornassem à sua mão. — Que viagem mais ilógica…

— E longa… — alegou por sua vez Vega, bocejando. — Onde ficam as Terras de Ninguém, afinal, em outro mundo?

— Não duvido nada. — Louise fez um biquinho, apoiando-se mais uma vez na janela para observar a paisagem lá fora, passando tão rápido que era difícil discernir muita coisa.

— Esta nem é considerada a pior parte da estrada… a última é a mais divertida. — O explorador comunicou, com suavidade. Pareceu aos outros algo ilógico juntar “pior” e “agradável” a um mesmo conceito.

A jovem garota notara que as árvores ali pareciam feitas de papel-machê, enquanto os pássaros que ocasionalmente apareciam lembravam bonequinhos de madeira pintados de negro e branco. Nuvens que pareciam algodão-doce cor-de-rosa cortavam o azul do céu. Virou a cabeça na direção da locomotiva, observando que esta era tão vermelha quanto o resto, e até a fumaça que saia de sua chaminé era carmesim. Foi quando notou que havia um túnel mais a frente. Tirou a cabeça de fora imediatamente.

— Bom, desta vez eu proponho que vocês segurem firme. — Allistar disse, com simplicidade, sentando-se. Vega endireitou-se em seu banco, assim como Louise e Salazar. A Maquinista era a única que ainda mantinha-se de pé, brincando com um tipo de cajado que surgira do nada, o qual girava habilmente entre os dedos delicados das mãos.

Suportes para apoiar as mãos subiram na frente dos quatro, e outro mecanismo desceu com velocidade, deixando-os firmemente presos ao assento. Louise franziu o cenho, aquilo lhe parecia irritantemente familiar. E então tudo escureceu, porque adentravam o túnel, e ao contrário do que se esperava, não havia luz alguma para indicar o caminho. Talvez fosse melhor assim.

 

 

Foi difícil entender o que veio primeiro: a luz cegante ou a descida vertiginosa que se seguiu. Louise mal teve folego para gritar, e quando o novo veículo começou a andar em linha reta, teve a singela vontade de se jogar do mesmo. — Uma… uma, uma, uma…

— Olha só, é uma montanha-russa. — Salazar deixou escapar, um tanto quanto chocado, seu coração ainda disparado por causa do susto. A expressão no rosto de Vega era neutra, ela não parecia nem ao menos ter notado a queda. Já Allistar, demonstrava extrema satisfação. Devia mesmo estar se divertindo.

— Não uma montanha-russa qualquer, é a minha montanha-russa, então tenham um pouco mais de respeito.

A Maquinista – que agora parecia uma vendedora de ingressos de parque de diversões, com vestes tão chamativas que era ainda mais difícil olhar pra ela – agora estava em pé displicentemente sobre a frente do carrinho, como se a gravidade não fizesse nenhuma diferença sobre a mesma. Seus cabelos agora eram um manto rubro, e parecia usar o mesmo bastão que portava antes da mudança para manter-se segura ao veículo (embora não precisasse realmente disso). Suas vestes eram coloridas, em tom de marrom, negro, branco, vermelho… era um show a parte.

— Montanhas-russas não são nada legais! — protestou de maneira insistente a menina mais nova, agarrando com ainda mais força a barra em frente ao corpo. O veículo começava a subir novamente, e já sabia o que viria depois.

— Deixa de ser fresca, até parece que não passamos por coisa pior… — Vega redarguiu. A velocidade que andavam fazia seus cabelos serem puxados para trás, de maneira que seu rosto arruinado ficava completamente a mostra. Salazar, que estava sentado ao lado dela no carrinho – assim como Allistar estava com Louise – fez uma careta de profundo desagrado.

— Sabe, o tapa-olho ficaria muito bom, agora.

— Cale-se. Ou vou dar razões para você usar um.

— Ha, acalme-se, acalme-se, é apenas brincadeira…

— Senhoras e senhores, estamos na linha de chegada! Por favor, preparem-se para desembarcarem e tenham um bom dia!

— Opa, isso quer dizer que não vamos precisar cair?

— Quer dizer que teremos de segurar ainda mais forte. — Allistar parou de sorrir, passando os braços por Louise. O veículo parou sobre o ponto mais alto dos trilhos, tão estranhos quantos os que o trem se locomovia, e balançou algumas vezes, antes que a condutora joga-se o peso do corpo para frente e fizesse-o cair.

O que se seguiu foi um amontoado de descidas, curvas e momentos de cabeça para baixo em alta velocidade, que só teve fim quando atravessaram mais uma vez o que parecia ser um túnel e, num piscar de olhos, os quatro estavam parados em pé e ofegantes, sobre uma terra negra e ressecada. Olhando para trás, só conseguiram notar a condutora da barca girando o bastão entre os dedos, fazendo uma vênia agradável, para depois sumir em meio a névoa.

— Bom… nós chegamos…

— Eu não quero subir naquela coisa nunca mais. — choramingou Louise, suas pernas tremendo tanto que mal podia ficar de pé.

— Estou me perguntando o que eu vou ter que dar para aquela mercenária na volta. — Vega praguejou, endireitando-se e pondo-se a caminho. Salazar ajeitava seus longos cabelos esverdeados com as pontas dos dedos, pensativo.

— Se nós conseguirmos voltar, você quer dizer…

E então, todos levantaram seus olhos para fitar a imensidão negra e rochosa que havia adiante, um lugar tão agradável quanto o pior dos pesadelos, digno de seu nome: As Terras de Ninguém, onde não havia reinos, nem serbos, nem nada… ou onde não deveria haver nada, afinal bastou a primeira olhada para repararem que não estavam sozinhos.

Os monstros da escuridão estavam de guarda. E seus olhos sem vida voltaram-se instantaneamente para eles, e rugidos terríficos cruzaram o ar, numa declaração clara de ataque.

A batalha final começaria em breve. E alguns segredos que deveriam permanecer enterrados, estavam prestes a surgir.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sobre a imagem: já fazia um bom tempo que estava devendo uma imagem do Allistar, e já deixo claro aqui que ainda assim não é exatamente a forma que imaginei pra ele. Na verdade, o Al é ainda um pouco mais novo, com menos barba - e menos músculos - mas no geral o Joseph Joestar tem uma aparência muito semelhante ao que queria, então estou usando ele mesmo - ou então vocês jamais veriam uma imagem do Allistar na vida.


O que aprendemos hoje?
+Que o Sonhar é um lugar mais bugado do que todo mundo pensava.
+Que não devemos pescar peixes no rio dos outros.
+Que aceitar ser levado pela Barqueira significa correr o risco de ter um ataque cardiáco (nunca irei pisar naquela barca, nunca mesmo!)

Well, brincadeiras a parte, já aviso que os próximos capítulos serão beeeeeeeeem tensos. Quem sabe não teremos vislumbres do passado de alguns personagens importantes, hum?

Agradeço como sempre aos que acompanham, espero que o enredo esteja satisfazendo-os e que fantasiem bastante ao ler essas linhas. Kisses para todos, e até a próxima.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Louise No Mundo Dos Sonhos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.