Louise No Mundo Dos Sonhos escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 11
Regalos para a Barqueira


Notas iniciais do capítulo

E é agora que eu começo a escutar as exclamações de aleluia por eu ter postado rápido. Nossa, é um milagre até pra mim.
Decidi partir esse capítulo em dois, porque a parte de descrição que virá depois dele vai ser bem longa, e queria evitar que ele ficasse demasiadamente grande. Dentro de alguns dias eu devo estar postando a continuação direta dele, então não se preocupem.
Um agradecimento mais que especial para a linda da Snowy Kitten, que me deixou uma recomendação tão fofa quanto ela. E como sempre também ao Nick, o leitor mais guerreiro que eu conheço, pra ter que aturar meus eternos atrasos (viu só, Nick, dessa vez não atrasei. haha).
Uma boa leitura para todos. :3



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Louise cobriu os olhos momentaneamente para tentar acostumar-se com a luminosidade da água que corria, em meio a uma flora de aparência tão bizarra que fazia-a lembrar um filme de ficção científica. Vega também parecia estar incomodada com a luminosidade fluorescente, pois girou suavemente a cabeça, de maneira que o lado do rosto com o tapa-olho ficasse voltado para o caminho que estavam prestes a seguir.

— Não tem nada por aqui além de plantas e um rio… o caminho fica para além da outra margem? — Salazar piscou um pouco para se livrar da ofuscação, e observou Allistar de esguelha. Este respondeu com um meneio.

— Sim e não… olhando daqui, poderia se dizer isso, mas este rio é um tanto quanto… aleatório. — o explorador coçou levemente o queixo, antes de continuar. — E se notar bem, não é possível ver a outra margem…

De fato, era impossível ver onde o rio terminava em questão de largura – não que em matéria de comprimento fizesse muita diferença. A água que causava tanto desconforto à vista de todos, era de um tom de azul tão claro que era quase branco. Algas e flores de aspecto estranho, com cores quentes que variavam do laranja ao vermelho sangue, boiavam, sendo levadas pela correnteza. A inclinação do terreno era leve, mas ainda assim, talvez devido as pedras verdes que margeavam aquele lado, o rio corria com violência.

Árvores, cujas folhas e frutos mais lembravam pedras preciosas, cresciam ao redor, dificultando ainda mais a visão do outro lado… considerando que houvesse mesmo um.

— Er… vocês mencionaram algo como uma balsa, não é? Onde ela está? — Louise questionou, seriamente, conseguindo aos poucos acostumar-se à iluminação.

— Ah, ela não deve demorar. — Allistar disse, aproximando-se mais do rio. Ele parecia relaxado, como se tudo estivesse correndo da maneira mais perfeita possível.

— Fala como se ela soubesse que estamos aqui. — Vega alegou por sua vez, usando o cabelo para tampar boa parte do rosto. Com a careta que fazia no momento, este parecia ainda mais arruinado que o normal.

— Ela sabe. Afinal, ela é a Barqueira. — ele espalmou as mãos, como se aquilo fosse óbvio, e então ajeitou o chapéu sobre a cabeça. — Aliás… ela já está aqui.

Um esguicho de água cristalina fez com que os outros três tivessem reações diversas. Louise saltou para trás de Salazar, agarrando seu manto com a maior força que podia juntar em suas mãozinhas finas e delicadas. O mago fez com que suas cartas se armassem, como era de se esperar. Vega estremeceu ligeiramente, mas sua expressão permaneceu inalterada.

Foi com profundo espanto que eles viram a tal barca erguer-se de baixo de água, centímetro a centímetro. Não era particularmente grande ou pequena demais (na verdade, “barca” era uma péssima definição para aquilo), sua madeira era pintada de vermelho, com arabescos coloridos por toda a sua extensão. Era alta e larga, e os remos que saiam de suas laterais poderiam muito bem estarem movendo-se sozinhos, embora existisse uma Barqueira, de fato.

Ela se recolhia a popa, uma figura tão chamativa quanto a do barco que cuidava. Com seus longos cabelos prateados, olhos de um azul profundo e pele pálida, poderia até mesmo passar despercebida, embora fosse bastante bonita. O que mais intrigou Louise foram suas roupas, de corsária: uma camisa branca, saia negra, um sobretudo azul cobalto que deveria quase arrastar no chão – se ela ficasse de pé e andasse – com os punhos em vermelho. Um lenço amarrava-se ao seu pescoço, e botas de cano longo e de brancura impecável subiam-lhe até as coxas – como ela conseguia andar com aquilo era um mistério total. Usava também luvas negras, de tecido leve, e um chapéu de capitão, do mesmo tom do sobretudo, com penas que saiam-lhe do topo e uma rosa vermelha pintada do lado direito.

— Ora, você chegou bem a tempo, Barqueira…

Ao ouvir o comentário de Allistar, a mulher ergueu a cabeça, deixando seus olhos pousarem em cada um dos quatro, antes de abrir um sorriso cínico e voltar-se para o seu interlocutor. — Eu nunca me atraso, é uma extrema grosseria apenas mencionar isso, sabia? Ainda assim, conhece bem as regras… façam o pagamento, e os levarei imediatamente às Terras de Ninguém.

— Direta, ela… — Vega mencionou naquele tom entediado, cruzando os braços. Salazar, que havia parado seu olhar sobre o lenço que a Barqueira usava – ou melhor, mais especificamente para o que havia abaixo disso – sacudiu a cabeça brevemente para voltar a si e inclinou-a em direção a espadachim.

— Faz ideia do que ela queira dizer com pagamento?

— Não… e não sei se vou querer saber…

Louise teve a impressão que aquilo soava grosseiramente familiar, mas meneou a cabeça. Levantou a mão direita, como se fosse uma aluna em uma escola, pedindo permissão para falar. — Er… de que tipo de pagamento você está falando?

— Algo de valor, é óbvio… — a mulher sorriu de maneira lógica, começando a contar nos dedos. — Normalmente aceito moedas de ouro, mas também recebo sonhos, heranças ou memórias. Não sou assim tão exigente… o que cada um de vocês tem para me dar?

Allistar riu, consigo mesmo, de alguma piada interna, mas nenhum dos outros conseguiu entender a razão. O explorador retirou o chapéu com cuidado, olhando-o por alguns instantes. Então pensou melhor, recolocando-o entre os cabelos grisalhos e tateando casualmente seus bolsos do sobretudo.

— Ora… eu pensei que realmente poderia levá-lo desta vez… — a Barqueira resmungou, amuada, ao capturar entre suas mãos uma moeda de ouro, atirada por ele e possivelmente encontrada por pura sorte.

Ele sorriu de canto, tocando a borda do assessório e finalmente subindo na embarcação. — Sinto informar-lhe mas guardarei minha “herança” por mais algum tempo, querida.

— Como é chato… — ela murmurou por um momento, agora olhando para o próximo da fila. Salazar, muito a contragosto, fez com que uma de suas cartas fosse em sua direção e pausasse sua investida em frente aos olhos dela.

— Não gosto de me desfazer delas, mas não creio que tenha algo melhor para oferecer. Esta serve?

— O Ás de Ouros. De alguma forma me parece muito bom. — Os dedos dela, protegidos pelas luvas de cor escura, roçaram na ponta inferior da carta, antes que de fato agarrassem-na. A mulher levou-a até o próprio chapéu, como se aquilo fosse o melhor dos adereços, e fez um sinal para que ele subisse. — Belo simbolismo… talvez eu devesse pedir para que tire as cartas para mim, na viagem de volta.

— Ah, mas eu não sou um bom cartomante, no fim das contas… é a razão principal para eu ser um mago, ao invés disso… — ele acomodou-se, com gestos educados, e recolheu suas cartas de volta para a mão, na esperança que ela não tivesse a ideia de cobrar-lhe mais uma. — Não sei dizer se voltaremos, de qualquer forma.

— Bom, não compete a mim saber… minha função é apenas levá-los onde precisam ir, nada mais, nada menos, e… — A Barqueira agora observava atentamente Vega. As duas mulheres ficaram encarando-se por minutos intermináveis, até que a primeira estreitou os olhos, pensativa. — Então… o que vai ser? Sua espada? Não sei se tem algo mais que eu possa tomar, a menos que queira ficar deste lado da margem…

Pelo jeito que a espadachim trincou seus dentes, era óbvio que não estava disposta a ceder-lhe a arma. Segurava sua empunhadura, na verdade, com a intenção previsível de atentar contra a vida da Barqueira se esta insistisse no assunto. — Preciso responder?

— Uau… que personagem mais difícil temos aqui… — a outra murmurou, sem demonstrar qualquer sinal de receio. — Nesse caso, já que é sua primeira vez e imagino que todos estejam com pressa… que tal isso?

O dedo dela apontava para o tapa-olho de Vega. Isso fez com que a carranca mal-humorada da mesma ficasse ainda pior, mas esta também queria terminar as coisas o mais rápido possível. Com o resultado da batalha mais recente, contra os gêmeos, sendo completamente desfavorável com relação a si, havia adquirido conhecimento suficiente de como ser prudente com as pessoas que viviam naquele recanto mais afastado do Sonhar. De maneira que engoliu a má resposta que vinha na ponta da língua e largou o cabo de seu florete, erguendo as mãos para trás do cabelo, na região da nuca, onde as fivelas que prendiam o acessório a sua cabeça se encontravam.

O tapa-olho foi retirado e Vega pisou na barca, com passos decididos andando em direção à sua condutora, colocando o objeto entre seus dedos. Sua fúria era tão grande que todos ali podiam sentir, mas ficara claro que ela se sujeitava às regras da Barqueira, no intuito de cumprir a missão que lhe fora imposta.

— Ora, ora… precisa relaxar um pouco… mas fico contente que dê tanto valor assim a sua honra e… às prioridades. — A mulher disse, com uma voz cantada, levantando o acessório para colocá-lo de qualquer jeito sobre o olho correspondente. — Sempre quis ter algo assim para combinar com esta forma.

— Aproveite bem… — ela resmungou em resposta, colocando-se no canto do barco, o mais distante possível de qualquer um dos três que ali se encontravam. Jogara o cabelo para frente para tampar o lado onde deveria ficar o tapa-olho, de maneira que era impossível ver a fenda que ali ficava, tanto quanto antes. — Ande logo, fedelha, não temos o dia inteiro.

Louise fora a única que restara ainda em terra. Ela engoliu em seco, os olhos correndo de um para o outro. Não tinha dinheiro, os campeões que lutavam no torneio eram bancados pelo Palácio enquanto este sucedia-se, de maneira que não precisassem se preocupar com acomodação ou comida, apenas com os duelos e treinamentos. Ela não possuía nenhuma memória prática da sua vida antes de acordar no Mundo dos Sonhos, apenas impressões de coisas que deveria conhecer. Também não lhe restava qualquer herança, a única coisa que tinha ao chegar no torneio era seu vestidinho branco, que mal sabia dizer que fim levara. E quanto aos sonhos…

Bom… não havia nenhum. Apenas o desejo de saber quem era, de voltar para casa, mas duvidava profundamente que aquilo fosse valioso para aquela mulher tão intrigante. E falando nela, a despeito da presença de Vega, esta já havia colocado o tapa-olho definitivamente no rosto, e ajeitado-o, e dessa forma parecia ainda mais austera quando lhe indangou, sem demonstrar qualquer emoção.

— E você? Não há nada que possa me oferecer para embarcar?

Ela meneou negativamente a cabeça. Não conseguia pensar em nada, e qualquer coisa que materializasse com sua imaginação, parecia-lhe sem valor. A Barqueira notou esse pensamento, logo inferindo, com desinteresse. — Exato. O preço tem de ser algo importante. Se você pode dar-me qualquer coisa sem sentir falta, não é considerado valioso, não para mim.

A garotinha observou-se, um tanto quanto constrangida. Não havia nada, realmente, a menos que lhe oferecesse uma parte do seu corpo.

— Por mais que me interessem seus olhos de coelho, garotinha, eu não os pediria, e também nenhuma outra parte de um corpo humano. O que pensas que eu sou, afinal? — agora a mulher parecia realmente ofendida. — A não ser que…

— A não ser que?

— Seus cabelos…

— O que tem eles?

— Corte-os.

— O… o que? — a interjeição dela soou muito como um grito de protesto. Seus belos cabelos, sedosos, longos e bonitos, os quais deram-lhe seu título no torneio, tão chamativos quanto os olhos avermelhados… só seus esquecidos parentes deveriam saber quanto tempo levara para atingirem aquela altura. A simples ideia de livrar-se deles fez com que seus olhos enchessem de lágrimas.

— Ei… Barqueira, não está sendo um pouco cruel, ela é só uma criança… — Salazar alegou de sua parte. Allistar pensara em oferecer seu tão estimado chapéu em troca da passagem da pequena, mas a mulher não aceitaria nada que não pertencesse a Louise.

— Não… está… está tudo bem, eu corto. — seus lábios tremeram, enquanto a garotinha engolia o choro.

A condutora bufou, tirando uma das mechas dos cabelos prateados de frente do rosto, enfadada. — Deuses… pare de chorar, não precisa cortá-lo todo, não estou pedindo para que fique careca nem nada assim. Francamente, vocês todos parecem uma manteiga derretida. — ela levantou-se finalmente, agarrando uma tesoura que surgira sabe-se lá de onde e parando bem próxima a Louise, sem contudo deixar a barca. — Venha até aqui, eu não posso deixar meu posto. Ande logo.

A garota deu alguns passos exitantes, ficando de frente para a mulher. Mordia insistentemente o lábio inferior, como se isso impedisse-a de falar, gritar ou cair em prantos.

— Deseja subir nessa barca?

Ela assentiu.

— Tem certeza disso?

Mais um assentimento mudo. Os olhos vermelhos voltaram a encher-se de lágrimas, mas Louise não derramou nenhuma sequer.

— Como quiser.

O movimento foi tão rápido que ela sequer percebeu. Um instante e já podia notar a diferença, um pouco de peso deixando o lado direito de sua cabeça. Boa parte das mechas que normalmente caiam-lhe sobre os ombros, daquele lado, haviam sido cortadas na altura da orelha. Ainda assim, a garota pôde notar que todos os fios que ficavam jogados para as suas costas permaneciam intactos.

— Isso já me basta por hora. Na volta, se é que vai haver uma, eu corto o outro lado e talvez mostre clemência e te dê um corte condizente com a mocinha recatada que parece ser. — ela apontou para além do ombro, mantendo seguras na palma da mão as mechas que havia cortado. — Vamos logo, a viagem é longa.

Louise não esperou que ela mandasse pela segunda vez e rapidamente pulou para dentro do barco, indo para perto de Allistar e se agachando ali. A Barqueira, com o semblante carregado por cinismo, recolheu-se ao lugar em que antes estava sentada, na popa da embarcação, e com um comando de voz, os remos começaram a mover-se, sozinhos como era de se esperar, e a barca passou a descer o rio…


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Notas finais do capítulo

Hehe... apareceram certas menções ao passado de alguns personagens, se perceberem bem. Como eu disse, era pra este capítulo ser um só com o próximo, contando a viagem pelo rio de maneira sucinta, mas eu precisarei estendê-lo bastante - e não vou dizer o porquê.
Então preparem-se.
Kisses para todos e até a próxima



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