Capítulo I

“Who’s my mom?”

Narração em terceira pessoa.

Sete anos depois

(...)

–Kimberly, venha já aqui. – Quíron gritou, chamando a menina.

–Estou indo, Quíron. – Kimberly resmungou ao ver o centauro em sua forma humana.

Seus cabelos negros batiam um pouco abaixo dos ombros. Seus olhos continuavam negros como as sombras. A pele branca necessitava de muito protetor solar, mas, como ela odiava o sol, não precisava nem passar. Kimberly, mais conhecida como Kim, usava um short jeans preto, blusa cinza com a estampa de uma loba e all star branco. A pulseira de presente dos seus cinco anos foi dada pela sua mãe desconhecida e sempre estava no pulso fino da garotinha.

Durante os sete anos que se passaram, Kim ficou num quarto na casa grande – o que ocasionou estranhamento dos outros campistas, entretanto o acampamento meio-sangue tinha muitas crianças e poucos adolescentes naquela época. Ao começar a falar, Kimberly já perguntava pela mãe. Somente sabia que era uma deusa. Seu passado e origem ainda eram um mistério. Ao perguntar pelo pai pela primeira vez, o centauro disse que tinha morrido num acidente de carro. Kim sabia que ele estava mentindo, mas preferiu não questioná-lo. Quíron era o único que se importava com ela de verdade. Pelo menos, era o que ela pensava.

A menina passou os sete anos no acampamento meio-sangue. De amigos só tinha dois, eram os filhos gêmeos de Hermes: Travis e Connor. As garotas do acampamento a olhavam estranho por sempre usar roupas pretas ou cinzas. As filhas de Afrodite invejavam os olhos grandes e negros de Kim, mas não a deixavam perceber. Muitos semideuses a provocavam com comentários como “sua mãe nunca vai te reclamar” ou “sua órfã”. A “semideusa” não ligava para os comentários, ela apenas ignorava-los.

Ela sempre foi boa de luta, era inteligente, amava o escuro e a neve. Toda vez que nevava no acampamento, ela ficava feliz! Não suportava o calor do inferno que ficava o ano inteiro. Por mais que Quíron mandasse instalar ar-condicionado no quarto da garota e mantivesse a temperatura do acampamento por volta dos 19°C, Kim achava muito quente.

Kimberly andou até ao centauro que a olhava seriamente. Ela bufou colocando os braços na cintura. Quíron não conteve o riso ao olhar para o biquinho que se formava nos lábios da menina. Ela o encarou batendo o pé enquanto esperava o tio Quíron – como ela o chamava- se pronunciar.

–Ô branca de neve, - Quíron disse e Kim bufou. Odiava esse apelido. – que história é essa de ter machucado uma filha de Afrodite?! – Ele questionou. Sabia que Kimberly era uma pestinha, mas as filhas de Afrodite não ficavam nem um pouco para trás.

–A culpa não é minha se ela jogou purpurina no meu cabelo. – A menina de cabelos lisos e negros disse. – Não me olhe assim tio Quíron, você não sabe o inferno que foi tirar aquelas coisas do meu cabelo. – Kimberly falou e tirou as mãos da cintura. Apontou para a purpurina que ainda tinha no cabelo. – Lavei-o quatro vezes só hoje.

–Só não precisava bater nela. – O centauro retrucou.

–Ah, precisa sim! – Ela disse batendo o pé. – Drew tem que saber a não se meter comigo. – Kimberly falou e deu os ombros.

–Ah, essas crianças! – Quíron resmungou. –Vem comigo até a casa grande. – Ele disse e começou a andar.

–Eu ia ver meus amigos. – Ela fez biquinho.

–Precisamos conversar. – O centauro disse sério.

–Não me coloca de castigo! Eu não bato mais nela. – Kimberly disse, mas sabia que estava mentindo. –Errr ...

–Não é sobre isso, Kim. – Quíron a interrompeu.

Pelo tom sério de Quíron, a garota não contestou e caminhou com o centauro até a casa grande. Chegando lá, os dois se sentaram nas cadeiras acolchoadas e olharam um para o outro. Kimberly batia as unhas no ‘braço’ da cadeira e Quíron olhou-a seriamente.

–Titio Quíron, o que foi? Você ta sério.– Ela comentou até um pouco preocupada.

–Kim, eu preciso que você saia do acampamento.– O centauro disse um pouco triste ao dar a notícia.

–Mas aqui é a minha casa e você é minha única família. – A garota começou a ficar profundamente desapontada com o centauro.

–É um pedido de sua mãe. – Os olhos da menina brilharam.

–Eu vou morar com ela? – Kim perguntou animada.

–Não. Você vai para o Canadá. – Ele falou e ela engasgou a água que acabara de beber.

–O QUE?!- Kim gritou com raiva.

–Kimberly, você ficará segura lá. – O centauro tentou acalmá-la.

–Por favor, titio, não me deixa. – Ela segurou as pernas do centauro.

–Ah meu floquinho de neve, em breve você voltará. – Quíron disse calmamente. Ela era como se fosse uma filha para ele.

–Você ta mentindo. – ela começou a ficar emburrada. – EU QUERO MINHA MÃE! – saiu correndo para o seu quarto.

O quarto de Kim ficava na casa grande, ou seja, não demorou nada para ela entrar correndo no quarto e bater a porta com força. Seu quarto era todo preto com flocos de neve – de verdade – perdurados no teto. Sua cama era de solteiro. Tinha uma loba de pelúcia cinza em cima da cama com os outros travesseiros. Na parede da porta ficava a mesa e a estante de livros. Na parede em frente, tinha a porta para o banheiro, o armário branco e uma poltrona. Todo quarto havia sido decorado pela mãe desconhecida de Kimberly.

A pequena adormeceu na cama depois de chorar um pouquinho. Quando eram dezenove horas, Travis e Connor começaram a bater na porta do quarto de Kimberly. Ela levantou da cama ainda sonolenta e abriu a porta para eles entrarem no quarto. Os dois entraram e Kim começou a pentear os cabelos.

–O que querem? – Ela perguntou.

–Quiron disse que você vai embora. – Connor falou triste.

–Ah, little snow, com quem nós vamos zoar? – Travis abraçou Kimberly.

–Ai gente, eu só vou se minha mãe vier aqui, ok? Hunf! – ela disse friamente colocando as mãos na cintura.

Os três riram e foram zoar o chalé de Afrodite. Colocaram papel higiene envolvendo o chalé. Na porta, colocaram um balde cheio de caramelo. Quando Drew abriu a porta, tudo caiu em cima dela. Lógico que eles levaram uma bronca do Sr. D. – Porém, ele até que foi bonzinho, pois gostava de Kimberly.

Mais tarde no pavilhão, Kimberly estava com uma saia azul marinho rodada, blusa cinza lisa e um casaquinho branco. Seu cabelo estava preso numa trança lateral. A garota estava sentada ao lado de Travis e Connor. O Sr D. , ou titio Dio como Kim o chamava, deu suco de uva para a menina e sentou-se ao lado de Quíron.

O centauro, alguns minutos depois, mandou Kim se despedir de todos do acampamento em voz alta. A “semideusa” levantou ajeitando sua saia azul marinho e bufou. Sua bochecha estava vermelha assim como toda sua cara. Ela odiava falar em público e muito menos sair do acampamento contra sua vontade.

–Não vou me despedir de ninguém, tá bom? Se minha mãe desconhecida quer me levar para o castelo dela lá no ... – Tentou se lembrar do nome do local. - Canadá, ela que venha até aqui me buscar. – Kimberly gritou e Quíron colocou as mãos na cabeça.

Uma luz cinza com prata envolveu o pavilhão todo. A grama do acampamento ficou coberta por neve. A luz quase cegou os outros, menos Kimberly. A deusa estava com os cabelos castanhos caídos pelas costas, um vestido grego branco que tinha uma fenda na lateral da perna direita e usava um casaco fino de pele branca. Uma loba cinza igual a da blusa de Kim estava ao lado da deusa. A loba era enorme.

–Que assim seja, filha. – A deusa menor disse.

–Quem é você? – Kimberly perguntou e contou nos dedos os deuses. Não se lembrava daquela deusa. Pensou bem e lembrou-se da aula que teve com o centauro. –Q-Quione? – Gaguejou ao perguntar.

Um floco de neve apareceu na cabeça de Kim e a garota foi reclamada pela deusa menor que estava na sua frente.

–Salve Kimberly, filha de Quione, a deusa da neve!- Quíron disse e todos vibraram.

Os olhos de Kim se encontraram com o da mãe. A “semideusa” correu para os braços da deusa. Quírou suspirou aliviado por uma coisa sobre o passado da menina ter sido revelado. O resto ela teria que continuar descobrindo por conta própria. Tanto o centauro quanto Quione sabiam que ela não iria gostar mundo do que estava prestes a contecer.

(...)