Capítulo XII

“Convocada”.

P.O.V. Kimberly

Acordei num pulo e quase derrubei Travis da cama. Ele estava babando no travesseiro e seu braço envolvia minha cintura. Retirei seu braço devagar de minha cintura e me levantei da cama, retirando o lençol branco de cima das minhas pernas. Travis se mexeu um pouco na cama, mas logo ficou quieto. Dei um beijo na sua testa e cobri o filho de Hermes.

Calcei minhas botas brancas e olhei para o relógio. Eram cinco horas e trinta minutos da manhã. Caminhei ligeiramente e cautelosa até a porta e saí do chalé onze. Corri até ao meu chalé e vi Dimitri, meu irmão, no sofá encarando o relógio. Merda. Tinha esquecido completamente que iria treinar com ele essa manhã.

–Dormindo fora do chalé e se atrasando para o treino... – Concluiu. –Nada bonito Kim. – Meu irmão disse um pouco irritado com meu atraso.

–Esqueci completamente no meio dessa confusão toda, desculpe-me. – Falei, retirando minhas botas brancas.

–Quero você em cinco minutos lá na frente. – Ele disse, pegou seus patins, deu-me um beijo na testa e saiu para o lago.

Bufei.

Peguei uma roupa confortável no armário ciano claro e fui me trocar no vestiário. Coloquei meu pijama no cesto de roupa suja e depositei minha bota em um lugar qualquer. Vesti-me ligeiramente – legging, blusa simples e calcei minhas meias - e escovei meus dentes. Penteei rapidamente meu cabelo e prendi-o num rabo de cavalo baixo. Achei meus patins brancos no meio do caminho até ao lago,peguei-os e saí pela porta do chalé. Dimitri estava se aquecendo; ele era um bom patinador e iria me ajudar de vez em quando. Calcei meus patins e caminhei até ele. Ao pisar no lago senti minhas lâminas mais fáceis de deslizar.

–Afiei suas lâminas ontem. – Ele disse quando eu patinei até ele. –Vamos, coloque a música.

Peguei meu ipod e coloquei na música Skinny Love. Dimitri se afastou um pouco e deixou-me começar a coreografia. Patinei direito até o meio do salto triplo, que eu errei. Dimi, apelido do meu irmão, levou as mãos para a cabeça e patinou até mim.

–Não sei o que acontece. – Disse. –Toda vez que chego na parte do salto, eu erro. – Bufei e ele me levantou.

–Tente de novo e de novo. Não saia daqui até conseguir. – Ele disse e saiu do lago.

–Aonde você vai? – Questionei.

–Tomar banho. – Ele disse e olhou para o relógio. –Ainda vou colocar a comida da sua loba, acordar Kaya e Jolie, pentear o cabelo de cada uma .... – Ele começou a falar e não terminava. – Não saia até conseguir, Kim. –Assenti com a cabeça e vi meu irmão caminhar até ao chalé.

–Grande ajuda, Dimi. – Murmurei.

Depois de cinco vezes, repetia a metade da coreografia – sim, só metade estava pronta- e na última tentativa, eu consegui. Comecei a pular igual uma macaca – sem ofensas, macaquinhas – e vibrei alto. Comecei a patinar livremente até que senti o chalé ficar um pouco mais quente. Ouvi o barulho da sua respiração. Respirei fundo. Olhei para trás e dei um leve sorriso ao ver Apolo.

–Posso entrar ou vai me expulsar como da primeira vez? – Ele perguntou e eu ri.

–Entre. – Disse e sai do lago. O deus do sol se sentou no banco de gelo em frente ao lago. Sentei-me também e retirei meus patins.

–Você patina bem. – Ele falou e eu sorri.

–Obrigada, Apolo. – Agradeci.

–Minha vez de se explicar para você. – Ele disse.

–Apolo, não...- Fui interrompida.

–Você acha que eu me aproximei por causa da profecia, que eu nunca gostei de você, que tudo foi uma mentira... Que aquela cena do piano foi uma farsa, que meus olhares para você são apenas ilusão... – Ele começou a falar. Merda. Ele sabia de tudo, mas como? –Kim, eu achava essa profecia a coisa mais ridícula do mundo. Eu? Me apaixonar? Ainda mais por uma filha de Quione? Você acha mesmo que isso estava nos meus planos? – Questionou-me.

–Não. – Respondi e bufei.

–Não vou mentir para você. Tudo começou por causa dessa profecia idiota. Eu me aproximei de você para tentar entendê-la. Entretanto, tudo que eu te disse e tudo que aconteceu desde que eu estava aqui foi real. – Levou suas mãos até ao rosto. – Nós somos como o sol e a neve. Não devíamos ficar juntos. Sabe o que é pior, filha de Quione? Eu poderia ter todas as mulheres do mundo, mas eu quero você.

–Eu estou com Ares. – Murmurei e mordi o lábio.

–Eu sei disso. – Ele afirmou e riu irônico. – Ele chegou mais rápido e conseguiu.

–Vocês acham que eu sou um troféu. – Afirmei.

–Não. – Ele virou seu olhar para mim. – Nós somos apenas dois deuses que amamos você. Louco, complicado, mas real. – Respiramos fundo. –Eu acho que amo você. – Disse baixo.

–A-apolo... – Comecei a falar, mas ele fez sinal para que eu não continuasse.

–Eu entendo. – Ele afirmou. – Ares é seu primeiro amor. – Fitei seus olhos. –Eu sei que vou ser o seu último.

Pisquei umas cinco vezes.

Na sexta vez, quando abri os olhos, ele não estava mais ao meu lado.

“Nós somos como o sol e a neve. Não devíamos ficar juntos. Sabe o que é pior, filha de Quione? Eu poderia ter todas as mulheres do mundo, mas eu quero você.”

“Eu acho que amo você.”

“Ares é seu primeiro amor. Eu sei que vou ser o seu último.”

Ele afirmava com tanta certeza que chegava a arrepiar minha pele gelada.

Esses dois deuses ainda vão me enlouquecer.

(...)

Estava na aula de ballet com a Kirsty, Kaya e Jolie. Graças aos deuses, nenhuma purpurinada veio à aula. Já estava quase na hora do almoço quando saímos da sala. Eu, particularmente, estava cansada e doida para tirar uma soneca. Dormir é tão bom. Deixei meus pensamentos de lado e continuei caminhando até ao chalé de Quione sozinha. Minhas irmãs já estavam longe. Até agora nós só tínhamos tomado café da manhã, treinamos ballet e fim. Nem vi Ares hoje e também não falei mais com Apolo. Na verdade, ele não falou comigo. Entretanto, para que palavras quando se há olhares?

Meu raciocínio foi quebrando quando certo deus da guerra selvagem me puxou para seus braços. Eu ri e baguncei seu cabelo loiro de leve. Ele estava sem seus óculos escuros e pude ver seus olhos fitando meus lábios. Depositei um beijo em seus lábios e ele puxou-me pela cintura. Já comentei o quanto ele beija bem?

–Lembrou de mim, deus da guerra? – Questionei e ele riu.

–Estava ocupado. Quiron quer realizar uma reunião com os líderes dos chalés e adivinha quem teve que organizar tudo? Eu. – Ele disse e eu franzi a sobrancelha.

–Essa reunião tem a ver comigo? – Ele assentiu com a cabeça. –Que horas eu tenho que ta lá? – Perguntei.

–Daqui a quinze minutos. – Ele olhou para o relógio.

–Ares ... – Chamei-o com uma voz meiga.

–Ah, não! O que você quer? – Ele perguntou.

–Me leva até ao chalé nas suas costas? – Pedi fazendo beicinho.

–Não.

–Fracote! – Exclamei.

–Tem certeza que disse isso? – Ele questionou e assenti com a cabeça. O deus da guerra me pegou e me colocou em seu ombro. –Da próxima vez, vai a pé. – Ele reclamou e eu dei língua.

(...)

Depois de tomar banho, colocar uma roupa mais quentinha – tava um pouquinho frio- e calçar minhas litas, Ares me acompanhou até a casa grande. Ele abriu a porta para mim e nós entramos. Os líderes de cada chalé estavam presentes e sentados na mesa de reunião. Sentei-me na minha cadeira e Quíron se aproximou. Apolo estava sentado em cima da arca e me direcionou um breve olhar. Retribui. Quíron, o centauro, sentou na cadeira da cabeceira e começou a falar:

–Todos sabem que uma profecia foi lançada no dia do aniversário de Kimberly. – Ele falou. – Como sabem, ela é uma deusa menor filha de Quione e um deus desconhecido, o qual ela mesma, sozinha, deverá procurar.

–Se ela é uma deusa, o que ainda faz aqui? – Questionaram. Adivinha quem foi? Drew.

–Você é burra ou só se faz? – Clarisse disse e Ares riu.

–Drew, ela só será uma deusa quando o último floco de neve cair no acampamento. Se você prestasse atenção, saberia. – Quíron respondeu e ela ficou com o maxilar trêmulo.

–Quíron, por que fez essa reunião? – Percy, filho de Poseidon, perguntou.

–Kimberly foi convocada por Zeus. Ela deve aparecer no Olimpo após essa reunião. –O centauro respondeu e minhas mãos ficaram trêmulas. Respirei fundo. –E também precisa informar vocês.

–Por que a mãe dela não diz logo quem é o pai e pronto? – Will questionou e Apolo lançou um olhar nada bom para ele.

–Porque é uma profecia. – Annabeth exclamou. –Conte com a nossa ajuda, Kim. Chalé seis está de portas abertas e os livros também.

–Obrigada, Annabeth. –Agradeci. Certamente iria precisar da sua ajuda.

–Conte comigo para qualquer coisa. – Clarisse disse e me abraçou.

(...)

Peguei minha mochila preta com tachas e fui ao inicio da colina do acampamento meio-sangue. Ares e Apolo estavam lá. Andei até eles e acenei com a cabeça. O deus do sol sussurrou um “oi” e o deus da guerra beijou meu rosto. Ambos me deram suas mãos e nós nos tele-transportamos.

WOW!

Foi a primeira coisa que eu pensei quando chegamos ao Olimpo. A estrutura que Annabeth tinha feito era incrível. Eu possivelmente estava com minha boca aberta e quase babando. Ouvi um raio no céu. Não sabia se era boa coisa. Apertei a mão de Apolo e ele me encarou. Ares me lançou um olhar ciumento e eu soltei a mão do deus do sol.

–Vamos à sala dos tronos. – Ares disse.

Subimos as escadas – que eram muitas- e eu só pensava que iria morrer. Zeus, meu filho, constrói uma escada rolante ou um elevador porque ta difícil subir esse troço. Assim que chegamos e Ares abriu a porta, Atena, a deusa da sabedoria, veio correndo me receber.

–Como você cresceu. – Ela disse.

–Menos. – Pedi.

–Então você é a famosa Kimberly. – Uma voz suave ao lado de Atena disse. Olhei para o lado da deusa da sabedoria e vi uma mulher com um vestido rosa. Ah, Afrodite. –Prazer, Afrodite.

–Oi. – Falei.

–Vamos logo, depois vocês conversam. Zeus está esperando e ele não é paciente. –Atena disse e nós fomos para a sala dos tronos.

Todos os deuses me encararam assim que Ares abriu a porta. Ele depositou um beijo nos meus lábios e caminhou para seu trono assim como os outros. Zeus, o deus dos deuses, me encarava. Pela primeira vez na minha vida eu fiquei nervosa com o que poderia acontecer. De longe, vi minha mãe sentada junto com Hécate. Ela sorri e sussurrou um “me desculpe”. Eu ignorei.

–Kimberly, filha de Quione, aproxime-se. – Zeus disse e caminhei até ele. – Sabe porque está aqui. – Assenti com a cabeça e ele prosseguiu. – Depois de conversar muito com Atena, eu vi que seria um fracasso tentar forçar sua mãe a contar quem é seu pai até porque temos uma profecia acontecendo. - Mordi o lábio. -Também já sei que está com Ares. – Ele encarou o deus da guerra. – Porém sei que você sente algo por Apolo. – Ele disse e nesse momento senti o olhar frio e matador de Ártemis. –Dependendo de quem seja o seu pai, você pode ser considerada uma ameaça.

–O que? Isso é ridículo. – Ares disse.

–Papai está completamente certo. – Ártemis falou. – Ela é uma ameaça.

–Diz isso porque Apolo esta apaixonado por ela. – Afrodite disse. –Seu destino não é ligado ao dele. Não mais.

–Sua vadia! – Ártemis exclamou. – Você sabe muito bem que eles são impossíveis de ficar juntos.

–Não é você que tem que decidir. – Afrodite retrucou. – Eles são destinados. Os três. Você não faz parte desse jogo.

–As duas caladas! Agora! – Zeus gritou. – Kimberly, - Encarei-o. – vejo você em breve.

–Eu sei que sim. –Falei.

–Reunião encerrada. – Hera disse e me deu um leve sorriso.

(...)

Estava no templo de Atena tentando ler alguma coisa, mas sem conseguir. Uma deusa me odiava e isso podia ser perigoso. A porta abriu e vi Apolo caminhando até mim. Ele se sentou na beira da cama e mordeu o lábio. Ele abriu a boca e viu que eu estava encolhida na cama.

–Você sabe minha história e a dela, não é? – Assenti com a cabeça. – Digamos que no último eclipse, eu não apareci. Foi quando você nasceu. – Encarei seus olhos. –E agora ela te odeia por isso. Por minha culpa... Você não precisava ter ouvido aquilo. Sinto muito.

–Não é sua culpa. Ela que é uma idiota. – Dei um sorriso torto.

–Afrodite quer falar com você. Te espero na porta principal. – Ele disse e me deu um beijo na bochecha.

Logo depois a porta abriu com Afrodite e Ares conversando com amigos. Não devia, mas senti uma pontadinha de ciúmes e ela notou. Ele também. Ambos riram e ele me deu um beijo nos lábios e sussurrou “Eu e você. Apenas você”. Após eu sorri, ele saiu pela porta e me deixou a sós com ela.

–Sei que não se entende com a minha filha, Kim. Sei que ela aprontou e vai aprontar muito ainda, mas não quero que pense que eu sou uma vadia como todos dizem. Eu queria poder te ajudar, porém eu também não sei quem é seu pai ou ao menos posso interferir. – Ela falou. –Eles amam você de verdade, sabe? Amam a ponto que pode chegar a doer. Doer como esta doendo em Apolo. Ele não pode curar feridas do coração. Digo, você escolheu Ares... Pelo menos, por enquanto. Pode achar que vai ficar com ele sem nenhum obstáculo ou sabe que irá passar por várias, mas não deseja pensar nisso agora. Entretanto, Kim, você sabe que ama os dois.

–C-como você me decifra assim? – Questionei.

–Sou a deusa do amor por um motivo. – Ela sentou-se ao meu lado. -Ele não vai desistir de você tão cedo, não importa o que diga. Ele está deixando você livre para viver com o amor escolhido porque é isso que as pessoas que realmente amam fazem.

A pessoa que eu menos esperava estava me decifrando.

–Não sei quem irá escolher. Não tenho a capacidade de ver seu futuro. Você vai sofrer, vai amar, vai ser magoada, vai viver e compreender tudo. – Ela disse. – Está na hora de você ir.

–Obrigada. – Agradeci e caminhei até a porta.

–Posso te perguntar uma coisa? – Perguntou e eu assenti. – Você acredita em destino?

–Não. – Disse.

–Você vai mudar de opinião.

(...)

Quando chegamos ao acampamento estava de noite. Ares e eu ficamos nos beijando perto do lago e eu o abracei enquanto minha cabeça estava em seu ombro. Não contei minha conversa com Afrodite pelo simples motivo de que ele não precisava saber.

Dei um beijo de despedida e entrei no chalé de Quione. A luz estava acessa e eu ouvi um grito enorme vindo do quarto. Corri para meu quarto e vi Kirsty sentada na cama. Todos tinham acordado e estavam a sua volta. Principalmente, Dimitri. Aproximei-me e vi seus cabelos brancos despenteados. Minha irmã respirava aceleradamente.

–O que aconteceu? – Perguntei e acariciei seus cabelos.

–Eu tive um sonho. – Ela disse devagar. –Um sonho com você.