O Último Outono escrita por Nina Smitch


Capítulo 2
Capítulo 2 - Visitantes




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Adormeci no sofá e me arrependi profundamente disso na manhã seguinte, quando meu pescoço ficou dolorido e eu quase não conseguia mexe-lo. Arrumo a pequena bagunça que fiz na mesa de centro e recolho o lixo espalhado. Amarro o saco preto, visto meu robe e calço minhas botas confortáveis para sair da cabana.

–Ei...– Uma voz conhecida soa atrás de mim.

Descarto o lixo e respiro fundo antes de me virar.

–Oi.– É só o que eu respondo.

Sam continua a me olhar, também sem saber o que falar. Olho ao redor e não encontro sua pick-up.

–Cade o seu carro?– Pergunto.

–Deixei na estrada, ela não conseguiria passar por toda essa lama.

Fecho mais o meu robe por causa do frio e ficamos nos encarando.

–Então, como você está?– Ele quebra o silêncio.

–Tirando o fato de que eu perdi a única família que eu tinha, sim, estou me sentindo maravilhosamente bem.– Retruco.

No momento em que minhas palavras saem de minha boca, me sinto a maior vadia sem coração do universo. A expressão de Sam é...confusa. Não sei se está magoado ou irritado.

–Eu só queria saber se você estava bem. Sempre que eu te ligo, você não atende...– Ele diz, exasperado.

–Meu celular não tem recepção aqui.– Minto.

Sam ri, para a minha surpresa.

–Mentir é feio, Melanie. Eu sei que o sinal aqui é ruim, mas não chega a ser incomunicável.– Ele diz.

Reviro os olhos e tomo meu caminho para a cabana. Não quero socializar com ninguém. Enquanto subo os degraus, não escuto seus passos atrás de mim.

–Bom, eu já vou então. Se precisar de alguma coisa, sabe aonde me encontrar. E por favor, se puder me mandar uma mensagem dizendo que está bem, ficaria grato.– Ele grita.

Não respondo. Entro e tranco a porta atrás de mim. Me aproximo da janela e o observo andar em direção a estrada.

–Eu. Sou. Uma. Vadia. Insensível.– Digo a mim mesma.

Como eu fui capaz de falar toda aquela babaquice para Sam? E ainda enfatizei que não tinha mais famíla, como se ele não fosse parte da minha vida! É isso, está declarado. Eu sou uma vadia sem coração.

Durante o resto do dia eu fico remoendo o acontecimento de mais cedo e cada vez mais eu encontro adjetivos horríveis para me descrever. Como o resto do queijo que sobrou na geladeira e abro mais uma das três garrafas de vinho que ainda restaram da minha última compra em um mercado de verdade. Ligo a lareira conforme a noite começa e me sento a poltrona a sua frente, para me aquecer.

Minha mãe adorava ler, e por isso fizemos um anexo na cabana para que ela tivesse espaço para organizar seus livros, como sua biblioteca particular. Desde que cheguei, passei a maior parte do tempo aqui. Porque aqui, além de ter seu cheiro, é como se sua voz ecoasse pelas paredes. Sei que vai parecer loucura, mas toda vez que eu leio um dos seus livros favoritos, sua voz soa em minha mente a cada palavra que eu leio.

Leio algumas páginas de " Orgulho e Preconceito " de Jane Austin e sou interrompidapor três batidas na porta da frente. Deixo o livro de lado e espio pela janela. Não consigo identificar o rosto, mas sei que é um homem. Sam não pode ser, o homem é muito alto e musculoso. Saio da biblioteca e abro uma fresta da porta, desconfiada.

–Pois não?– Cumprimento o estranho.

No momento em que ele se vira, sinto que meus olhos saltam do rosto. Esse é o homem mais bonito/gostoso/sensual que eu já vi em 21 anos de vida. Seus olhos são de um caramelo incrível, assim como seu cabelo claro.

–Desculpa a invasão, mas a senhorita poderia me emprestar um telefone ou celular? Eu tive um problema com meu carro na estrada e meu celular está sem bateria...– Ele diz.

–C-claro...– Respondo, minha voz falhando.

Deixo a porta entreaberta e corro até a mesa de centro da sala para pegar meu celular. Desbloqueio a tela e volto para a entrada.

–Obrigada.– Ele diz ao pegar o aparelho.

Sorrio e o aguardo terminar de usar o celular. Fico confusa quando ele saúda a pessoa do outro lado da linha em uma língua que desconheço. Dois minutos de conversa e ele encerra a chamada.

–Muito obrigada, Senhorita.– Ele diz ao devolver o celular.

–Sem problemas! Sei como é enguiçar por essa área, acontece sempre comigo.– Respondo, minha voz um pouco empolgada demais.

Ele sorri e voltamos ao silêncio desconfortável. Será que devo puxar assunto? Ou devo levar em consideração o conselho de adultos dizendo para não falar com estranhos?

–Eu vou voltar lá para a estrada, minha carona chegará em instantes. Boa noite e muito obrigada.

–Boa noite.– Respondo, parecendo uma colagial oferecida.

Ele sorri uma última vez e deixa minha varanda. O observo andar pela pequena estrada de terra que dá acesso a estrada principal e fecho a porta rápido assim que ele olha para trás. O que foi que eu acabei de fazer?


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