O Último Outono escrita por Nina Smitch


Capítulo 1
Capítulo 1 - Perspectiva




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/426503/chapter/1

Faz cinco dias que estou isolada do mundo. Faz cinco dias desde a última vez que escutei a voz de minha mãe. Faz cinco dias que eu me sinto...vazia. Estou escondida no único lugar aonde ainda sinto sua presença.

A cabana era o seu lugar favorito. Costumávamos vir sempre aqui, no mínimo duas semanas, se o restaurante conseguisse funcionar sem ela. A lembrança do restaurante faz meu estômago acordar pela primeira vez em dois dias. Não como uma refeição completa a bastante tempo, mas ainda sim, não encontro forças o suficiente para prepara algo mais elaborado.

O celular está no silencioso desde que eu vim para cá. Sabia que as pessoas começariam a ligar para prestar suas condolências, e eu não agüentaria. Quer dizer, eu não sei como estou reagindo a isso tudo. Não consigo derramar uma lágrima sobre tudo isso. Eu me esforço, porque a reação de qualquer um seria se afogar em lágrimas, mas elas simplesmente não...caem.

Estou sentada no balanço de madeira que Sam fez para nós. Esse balanço me trás ótimas lembranças. Na primeira noite do balanço aqui, sentamos os três nele e observávamos o lago até eu cair no sono e Sam me carregou no colo ate a cama. Ele era um grande amigo de minha mãe, apesar de eu sempre ter achado que eram loucos um pelo outro, nunca se envolveram romanticamente. Quer dizer, até onde eu saiba...

A essa altura do campeonato, Sam deve estar surtando sem ter notícias minhas. Como se eu pudesse esperar outra coisa dele. Desde que eu nasci, Sam estava presente na minha vida. Nos víamos todos os dias e quando eu comecei a ir para o restaurante depois da escola, nossa relação tornou-se mais forte. Como minha mãe nunca disse quem meu pai era, adotei Sam para o papel. E eu fico feliz dele ter aceitado de bom grado.

O sol começa a desaparecer e o frio intensifica, me fazendo abandonar a varanda e me refugiar dentro da casa. A televisão fica ligada 24 horas por dia, para que eu não me sinta tão só. Essa cabana é tão escondida que a loja mais perto daqui é o posto de gasolina na estrada. E como eu não tenho ido comprar suprimentos no mercado, estou virando amiga do atendente da loja de conveniência de lá.

Abro a geladeira e pego mais uma garrafa de vinho. Procuro por algum queijo ou algo para comer, mas não encontro.

–Ótimo.– Resmungo.

Visto minha jaqueta de couro e calço meus coturnos pretos. Pego minha bolsa da poltrona e deixo a cabana. Dirijo por alguns minutos até o único foco de luz da longa estrada, a do posto de gasolina.

Deixo o carro no lugar para abastecer e atravesso o posto. O jovem de cabelos vermelhos, olhos verdes e rosto coberto de espinhas sorri assim que entro.

–Ei, você por aqui de novo?– Ele diz, sorridente.

–Pois é...a comida acabou. Vocês vendem algum queijo aqui?

Entro no corredor de freezers e começo a vasculhar por entre os frascos e pacotes.

–Acho que não...mas temos Cheetos sabor queijo.

Sua resposta me faz rir. Cheetos de queijo é, definitivamente, o salgadinho que eu mais enojo. O cheiro faz meu estômago embrulhar.

Encontro dois queijos brie e pego algumas barras de chocolate. Ponho minhas compras no balcão e peço para Brad liberar a bomba para eu poder abastecer o carro.

–Trinta dólares.– Ele diz, depois de digitar na máquina registradora.

Retiro uma nota de cinquenta e entrego a ele. A caixa registradora abre e ele deposita o troco na minha mão.

–Até mais!– Ele diz e eu respondo com um sorriso.

Volto para o carro e jogo a sacola no banco do passageiro antes de pegar a mangueira. Espero alguns minutos e o apito me avisa que o tanque está cheio. Retiro a mangueira e entro dentro do carro. Manobro o carro e quase bato de frente com o Hudson branco que aparece misteriosamente atrás de mim.

–Idiota!– Grito para a janela negra do carro.

Acelero e o ar frio que entra pela janela violentamente faz minha raiva passar. Sim, eu sou uma motorista irritadiça...outra coisa que herdei de minha mãe.

Em menos de dez minutos eu estou de volta a cabana. Entro com minha sacola murcha de volta na cabana e paro na cozinha para preparar meu "jantar". Encho a minha taça com o vinho e corto alguns pedaços do queijo. Me aninho entre as almofadas do sofá e tento me distrair com qualquer bobagem que esteja passando na televisão.

A tela do meu celular acende e a foto de Sam ilustra ela. Não sei quantas vezes ele me liga por dia, e apesar de saber que ele está quase morrendo sem saber de mim, ainda não sei se quero voltar para realidade. Não sei se posso...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Último Outono" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.