Eu a vejo atravessar a rua com a tristeza a lhe guiar. Dia após dia, sempre desse jeito. Nenhum sorriso, nenhuma expressão.

Mais e mais um dia de perseguição, sempre nas sombras. Ouvindo o estampido agudo do seu salto alto. Seus suspiros perdidos. Anda por aí, sem lugar, sem ninguém.

Seu destino ? Talvez nem ela saiba. Mas faz suas paradas pelos bares, sempre expulsa um por um, mas isso não é motivo para fazê-la parar. Não até que já tenha passado por todos bares de Nova York. E eu sempre a seguindo.

Lucy Heartphilia é seu nome. A garota considerada por muitos apenas uma adolescente problemática, que após a morte de sua mãe, tem que carregar nas costas a culpa que seu pai a faz sentir. “É por sua culpa que ela morreu”, “Não sente vergonha de sua existência ?”, sempre recebendo reclamações de outras pessoas. Mas mesmo, que para muitos ela seja apenas uma inútil, para mim ela é a garota que vive no seu próprio mundo. Sem culpa, sem arrependimentos. Sem nada para fazê-la chorar escondida. Apenas uma garota normal.

Mais um bar. Ela pede a bebida mais forte que seu dinheiro pode comprar. Me pergunto, como seguirá em frente, presa a essa dor ? Novamente ela dá mais um gole pra garganta, pra esquecer o que passou.

Se é que um dia esquecerá.

Ta chovendo dentro dela, quase que um temporal. Vejo lágrimas no seu olhar, gente a encarar de suas mesas. Que vontade de ir lá e abraçá-la. Mas não posso. Não devo. Fico olhando, ela disfarça. Pega e acende um cigarro, alguém reclama da fumaça e dando um sorriso irônico, ela dá mais um trago.

Logo ela estende a mão e chama o garçom. Ele, ignorante, bate o copo e diz:

– Cabou!

Ela não discute e se levanta, como se engolisse tudo o que passou. Arrastando os pés, ela vai mais uma vez pra fora do bar. Não sei se era só impressão minha mas suas pisadas no chão tornaram-se duras e mesmo que não visse seu rosto, eu podia sentir que suas sobrancelhas estavam juntas de raiva.

Seus passos pareciam que iriam durar para sempre por causa de sua baixa velocidade. Mas logo a mesma entrou em um beco e sem pensar fui atrás. Ela então virou-se, mostrando a cara fechada e a testa contraída.

– Você. Não. Cansa ?

– Você sabe que é meu trabalho...

– Olha só, você fala que nem meu pai, Natsu Dragneel – Disse ela dando um passo até mim. Suas roupas eram pretas, totalmente pretas, como se sua vida se resumisse em um velório. Jaqueta preta, calça preta, blusa preta e salto preto. Provavelmente até as roupas intimas dela eram pretas. – Ou devo dizer, minha babá.

– Lucy... – Comecei a dizer, mas ele logo revirou os olhos. Como se quisesse dizer, “Cara, cala a boca”

– Chega. Já deu. Você quer me seguir ? Ótimo, então me observe ir a mais um bar, querido fantoche do meu pai. – Falou Lucy que se aproximou mais de mim, o suficiente para poder me bater. E eu sentia que ela queria fazer aquilo.

– Ah Lucy, por favor. Será que você não pode ficar um minuto sem jogar na minha cara que trabalho pro seu pai ? – Rebati, com a voz um pouco alterada. Ela deu de ombros ironicamente, e disse:

– É.

– Tem certeza que tem 19 anos ?

– Tem certeza que não é um fantoche do meu pai ?

– Disso eu não sei, mas de uma coisa tenho certeza. Eu gosto de você! – Respondi ignorando qualquer vergonha. É agora ou nunca. Pude ver os olhos dela adquirirem um brilho que nunca vi antes, mas logo eles morreram. Ela suspirou novamente. – O que foi ?

– Você ainda trabalha pro meu pai. – Levei as mãos para o céu como se quisesse dizer “Ah que merda”

– Mas que droga, Heartphilia. E o que eu posso fazer ?

– Fuja. Fuja comigo, Dragneel. – Disse ela sem pensar. E novamente pude ver brilhos intrusos aparecem nos seus olhos. Mas meus olhos estavam espantados, ela estava me pedindo pra fugir com ela ? Pra largar tudo e simplesmente, ir ? Ela suspirou e começou a andar para fora do beco.

Escutei a voz de outro segurança no meu ouvido, por causa do aparelho que possuo. “Ei 5-O, onde ela está ?”

– Não se preocupe, ela ainda está no bar. Estou de olho nela. – Pude ver que Lucy parou de repente e então a puxei pelo braço e juntei nossos corpos de repente, antes que ela pudesse protestar, encostei meus lábios nos seus. E ela retribuiu. – Para onde vamos ?