House Of Shadows escrita por Sammy Martell


Capítulo 2
A Farsa


Notas iniciais do capítulo

Eu mudei o capítulo e muda completamente a história, mas espero que fiquem felizes com ele como eu fiquei.



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Academy for Ladies of America, academia para meninas ricas e metidinhas. A combinação das duas piores coisas em uma menina.

Sammantha Hellthorne gostaria de explodir aquela escola. Tudo era rígido e certinho, elas aprendiam dança e economia doméstica, como se fossem usar aquilo na vida delas. Mas a ruiva tinha outros planos: conseguir uma vaga na Casa das Sombras, uma escola para jovens dotados, porém Sammy não tinha as qualidades procuradas pelos diretores para entrar, era uma mera aluna bolsista da Academia.

Aquele dia era o mais especial do ano, os conselheiros da Casa das Sombras passavam nas escolas do mundo inteiro escolhendo poucos alunos para serem parte daquela enorme escola escondida do resto do mundo.

A última aula antes do almoço e logo antes dos testes era Ballet, para a alegria da ruiva.

Madame Poupanceur, ou Madame Poupança, como Sammy sempre a chamou, desde que era uma menininha, era uma velha formosa que usava óculos redondos e roupas pretas, ela era uma exímia dançarina, porém uma mulher antipática e fria.

As alunas já estavam posicionadas na barra praticando enquanto a professora passava corrigindo-as.

– Elizabeth segure a barriga, Thalia ajeite essa postura, Sammantha suba mais essa perna. – sempre a mesma coisa – Muito bem Jessica, continue assim.

As outras reviraram os olhos enquanto continuavam o exercício. Jéssica Malone dizia ser "a mais" e, Sammy não podia discordar, porque ela era mesmo "a mais recalcada". A garota tinha os cabelos loiros e sedosos caindo sempre perfeitamente por seus ombros e um sorriso maldoso em seus lábios, sempre que via uma garota errar algo e ser repreendida. Sua maior diversão, obviamente, era a miséria dos outros e sempre por ser a melhor tinha a maior chance de entrar para a Casa das Sombras do que Sammy, a ruiva de cabelos emaranhados e pele pálida, que mais se aparentava com uma vampira.

Após a aula, ela e sua melhor amiga Elizabeth, mais conhecida como Beth, se encaminharam para o vestiário e, enquanto trocavam de roupa começaram a conversar sobre o teste.

– E então, acha que vai estar entre as garotas?

Sammy balançou a cabeça negativamente.

– Eu? Metade dos professores me odeia nessa escola.

– Não é verdade, o treinador Stanny, te adora.

– Só porque eu não sou uma nojentinha rica. – a ruiva defendeu-se.

Elizabeth abaixa a cabeça enquanto amarra o cadarço de seu tênis.

– Desculpe. – disse Sammy.

– Tudo bem, Sam, todos temos nossas fraquezas, talvez a minha seja ser riquinha.

– Sabe que não foi isso que eu quis dizer.

– Não, eu sei que não. Mas eu só não gosto de me lembrar a minha natureza, não gosto de lembrar que sou igual a elas.

Sammantha abraçou a amiga.

– Você é diferente, acredite em mim, merece mais do que ninguém entrar nessa escola.

Beth sorriu para a amiga e ajeitou o uniforme antes de se retirar dizendo:

– A Sam, Sarah Parker não veio a escola hoje, acho que deveria pensar nesse caso.

E foi-se embora deixando Sammy se perguntando o que ela queria dizer com isso.

E isso atormentou a garota durante o almoço, quando chamavam os nomes das alunas escolhidas para o teste.

Eles faziam grupos de dez garotas que se encaminhavam para as tendas montadas atrás do colégio. Ninguém sabia como era o teste, ninguém tinha permissão de falar, porém diziam que eles mudavam o teste a cada ano.

Madame Poupanceur chamou os últimos nomes da lista, o que deixava Sammy nervosa, pois nenhum dos nomes falados era o seu. No entanto, quando ela chega ao final da lista dizendo o último nome "Sarah Parker". A ruiva pensou uma coisa de última hora, lembrando-se do que Beth havia lhe dito, quando os murmúrios encheram o salão: Sarah faltara à escola no dia mais importante da sua vida. Como Sammantha poderia esquecê-la? Parker era a sua cópia, com a única diferença sendo, talvez, o fato de ser dez vezes mais perfeita do que ela e obviamente, dez vezes mais rica.

Ela juntou coragem se levantando e caminhando até a fila, no caminho percebeu que todas as meninas a olhavam, obviamente sabiam que era uma farsa e que elas tinham mais chances do que Sammy de ser chamada, no entanto todos, até mesmo os professores estavam de mãos atadas no momento em que a ruiva passou pelo o portão seguindo as garotas, antes do portão ser fechado, ela virou para trás seus olhos procurando por Beth ou pelo professor Stanny e ela encontrou os dois sorrindo de modo como nunca vira.

De cabeça baixa ela entrou na última tenda, o nervosismo a consumindo por dentro como uma grande besta.

Ao olhar para cima viu um homem sentado confortavelmente em uma poltrona de veludo enquanto bebericava seu chá. Ele indicou a poltrona na frente da mesa para Sammy.

Sem dizer uma palavra ela se sentou e esperou até que ele dissesse algo, talvez como ela era uma farsa muito mal feita.

– Sarah Parker. - o modo como ele disse seu nome deixava claro que era escocês. – Dezessete anos, inglesa, herdeira do império comercial dos Parker. Impressiona-me o fato de que você está aqui.

Sammy fez menção de falar algo, mas ele a interrompeu continuando:

– Porque você não é ela.

O terror a consumiu por completo, deixando-a paralisada em seu lugar, os olhos arregalados. Mesmo assim juntou forças para falar:

– Co-co-como sabe? – ela perguntou.

– Simples. Você não parece ter um toque de maquiagem no seu rosto, entrou de cabeça baixa aqui, deixando claro que não é uma pessoa confiante. Estava com medo de ser reconhecida, obviamente e mesmo assim teve coragem se assumir o lugar da senhorita Parker, um pouco de coragem devo admitir, mas não o bastante para interpretar a personagem, o que prova que é uma farsa.

Cravou as unhas no assento, mordendo o canto da boca esperando que ele continue.

– Eu não quero saber por que você está se passando por ela, não quero saber como conseguiu passar pelos professores e como entrou aqui. Eu só quero um motivo para deixá-la assumir a vaga de Sarah Parker, eu quero um motivo para que eu deixe você ser ela, só um.

Sammy procurou nos cantos mais remotos de sua mente por uma resposta, mas de que adiantava se Sarah tinha tudo que ela não tinha? Beleza, dinheiro, uma família completa, um futuro. No máximo Sammantha conseguiria ter um emprego na lojinha de conveniências ali perto ou garçonete da lanchonete da estrada. Mas algo veio na mente da ruiva, uma coisa que havia sido citada.

– Eu tenho coragem. – ela disse, agora recuperando sua voz.

O homem riu.

– Coragem? Até agora você não falou uma palavra sem gaguejar.

– Não, não falei, mas se você quer saber, eu não ligo. De a vaga para a vadia sem coração, a burra que não consegue dar um passo sem salto alto, mais burra do que qualquer garota na academia. Ela tem dinheiro e beleza, por que precisaria do resto, certo? – Sammantha se levantou curvando-se sobre a mesa do homem – Mas eu te digo uma coisa, só uma: não vou desistir dessa vaga, porque é a melhor chance que tenho para sair daqui, para fugir desse lugar e principalmente para me provar. Então um não seu, pode ser o impulso que preciso para tentar mais e mais, até que eu consiga o que eu quero, porque talvez essa seja a única semelhança que eu tenha com Sarah: ambas sabemos o que queremos e como consegui-lo. A escolha é sua, é por bem ou por mal.

Com a adrenalina borbulhando em seu estômago, Sammy se retira da tenda, respirando o ar fresco e sentindo o aroma da chuva que se aproxima. Ela assopra um fio de cabelo ruivo de sua testa, frustrada.

A ruiva se preparou para sair do local e caminhar até sua casa, quando uma mão toca-lhe o ombro. Ela virou-se para encontrar o homem na tenda, com uma caixa e uma carta.

– Esteja pronta para entrar na personagem, porque do dia indicado na carta em diante você será Sarah Parker. – ele disse entregando-lhe a caixa e a carta. – Tudo que precisa saber está nessa caixa, só não se esqueça de nada e não teremos problemas. Encontre-me na porta da escola do Dia da Coleta.

– Por que está me dando uma chance? – perguntou.

– Porque há muito tempo não conheço alguém com o fogo que você tem e quero conhecê-la melhor, além disso, acabo de receber a notícia de uma morte ontem à noite, o corpo foi encontrado hoje, sei que foi Sarah, mas a notícia não pode vazar ainda, não conte para ninguém. Sete da manhã, na porta, entendeu?

Ela assentiu esperando que ele fosse embora para comemorar.

Não gastou tempo, correu para sua casa, com cuidado para não derrubar a caixa, mas com rapidez para não desperdiçar as horas que lhe restavam antes da volta de sua mãe.

***

Sammantha estava sentada em seu quarto olhando para a caixa e para a carta repetidamente, se perguntando se realmente deveria fazê-lo, fingir ser alguém que era alguém que não era. A notícia do corpo passava na TV, o cadáver fora achado perto dos trilhos durante a tarde. Obviamente ela havia se suicidado, mas por quê?

Sammantha tinha a chance que precisava, mas não sabia se deveria aceitá-la.

– Vamos lá, Sammy, você pode fazê-lo, não vai te matar. – murmurou.

Ela virou-se para sua mesa de cabeceira, pegando o telefone e discando o número da polícia local.

– Alô? Eu sei de quem é o corpo encontrado. Sammantha, Sammantha Constance Hellthorne, estudante da Academia para Moças da América.

Ao desligar o telefone sabia que precisava fazer outra coisa, pois o diabo mora nos detalhes.

Abriu a caixa avaliando seu conteúdo. Uma agenda, algumas roupas típicas, fotos de Sarah, alguns vídeos e no fundo se encontrava uma arma, mergulhada em ouro. É claro que Sammy sabia como usá-la, sua mãe fazia parte do exército e ensinou a garota a usar uma arma, para defesa própria, claro.

Sammy pegou a pequena agenda de couro e a abriu procurando pelos contatos de Sarah.

Rapidamente discou o número da casa dela esperando que fosse atendida. Uma voz masculina atendeu.

– Residência da Família Parker, quem fala?

Sammantha sabia de uma coisa: gente rica não atendia telefone de primeira, eles tinham gente que o fizesse normalmente um mordomo ou coisa do tipo. Ela procurou por mais nomes na agenda, mas não achou nenhum, então resolveu seguir com a farsa.

– Bob! – exclamou fazendo sua melhor imitação do sotaque inglês.

Ouviu-se um suspiro do outro lado da linha.

– Senhorita Parker, é você.

Claro. – disse com uma raiva que não existia, mas que era típica de Sarah. - Quem mais seria?

– Não reconheço o número que está ligando.

Sammy arregalou os olhos pensando em algo.

– Vou passar a noite na casa de um amigo. – jogou a primeira desculpa na sua mente

Um amigo?

– Namorado – corrigiu-se. – Mas sabe como meu pai é com essas coisas e não quero que ele saiba, poderia dizer que estou na casa de uma amiga.

– Claro, madame.

Ela não agradece, apenas desliga o telefone e volta a fuçar as coisas de Sarah. Lê a agenda da garota, verificando todos os compromissos e contatos que podia, para sua sorte, a garota parecia gostar de colocar as fotos dos contatos

O telefone tocou, a ruiva não sabia se deveria atender, por isso deixou-o tocando até que caísse na caixa postal. A voz de sua mãe encheu-lhe os ouvidos.

– Querida eu não vou poder voltar para casa hoje e estarei viajando a semana toda, me desculpe, eu sei que prometi que passaria a semana com você, mas dessa vez vou ter que furar. – novamente, pensou Sammy – Se conseguiu a aprovação fico muito feliz por você e se não, sinto muito. Provavelmente semana que vem, no caso de ter conseguido a aprovação, não nos veremos então, vejo-a quando voltar da nova escola, beijos filha.

O tom de sua mãe quebra o coração da garota enquanto ela pensa em como sua mãe reagiria quando recebesse a notícia de sua morte, provavelmente ficaria arrasada.

Mas ela tinha que continuar, precisava conseguir e provar a todos que seria capaz de se fingir Sarah.

Mesmo se perguntando como o homem poderia ter todas aquelas coisas de Sarah, ela não questionou, nas fez o melhor para ficar parecida com ela, usando a maquiagem da sua mãe e a tesoura para cortar o cabelo. Sammy passou horas com bobs esperando que o cabelo ficasse perfeitamente cacheado, enquanto treinava seu sotaque e o comportamento. As roupas caiam-lhe bem e, mesmo que não fossem exatamente o seu estilo, tinha que admitir que ficava feliz pelas roupas não parecerem com as de Jessica.

Exausta ela foi dormir, tomando cuidado para não desarrumar nada e tirando a maquiagem para não borrá-la.


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