Vingue-se Ou Morra. escrita por Holden


Capítulo 13
Porcos selvagens são prostitutos.


Notas iniciais do capítulo

EU TÔ TÃO FELIZ VELHO, DUAS RECOMENDAÇÕES DE UMA VEZ?? Bia e Anaáh Melnik, vcs são lindas cara, acho que vou...Ops, chorei :'c
Vih me mandou postar antes das onze e meia, mas estou postando às onze e quarenta e quatro, pq sou rebelde u.u (ou pq sou lenta pra escrever kkk)
Boa leitura



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– Você é idiota.- ele repetiu pela milésima vez.

– Eu sei.- respondi entediada, caminhando com o sapato nas mãos.

– Muito idiota.

– Eu sei.

– E burra!

– Eu sei! Eu sei! Desculpe-me, ta legal?- retruquei com a voz pesada.

Carter e eu estávamos caminhando à quase uma hora naquela estrada ferrada e, agora escura. A chuva não havia cessado, e estávamos completamente ensopados. Sem contar que não achamos nenhum lugar com sinal de telefone ou que indicasse existência humana. Já sentia os calos no meu pé criarem vida para me dar um soco, e o Singleton estava mais zangado que mulheres no segundo dia de menstruação.

Alguém deveria me demitir do mundo das comparações.

– Ai meu Deus!- ouvi-o gritar.- Olhe! Lá longe!- apontou para o horizonte, na altura de meus olhos.

Um sorriso meu, brotou de orelha a orelha. Estava parecendo uma residência de dois andares. Claro que estava longe de mais para uma análise bem arranjada, mas pelo menos já era alguma coisa.

O loiro segurou a palma de minha mão, puxando-me para o meio da estrada. Estávamos prontos para correr como se não houvesse amanhã, quando um ruído misterioso começa a rondar o local.

De noite. Meio do nada. Florestas ao lado da estrada.

É, eu estou com medo.

– C-carter!- cutuquei-o.- O que foi isso?

Apertei com toda minha força sua mão, enquanto me aproximava mais dele. Os ruídos foram se tornando mais altos, e minhas pernas tremiam igual a um bambu de vara curta. Se isso existisse, sei lá, foi o que veio na minha mente.

– Acho que temos problemas.- sua voz grossa soou, juntamente com o barulho.

Olhei-o confusa, enquanto o mesmo apontava para o outro lado da estrada, dando em direção a tal floresta. Dei de cara com dois profundos olhos amarelados recheados de frieza, era o que dava pra ver na escuridão. Uma brisa forte soou sobre nós, e finalmente, trouxe consigo um silêncio.

De repente, parecia que tudo havia parado.

A sombra foi aos poucos se decepando da escuridão, revelando sua verdadeira forma. Uma gigante forma, para ser mais exata.

– Mas que porra é essa?- sussurrei.

– Parece um porco selvagem.- o loiro retrucou.- Pra sua informação, eles tem natureza violenta.

Hum, ok. Acho que isso é um pouco desesperador.

O animal começou a roçar a patinha no chão, como um verdadeiro touro, enquanto nos olhava com um “oba-finalmente-um-jantar-decente”. Hoje definitivamente era o dia mais azarado de todos. Ops, espera ai.

Todos são.

– O que a gente faz?- sussurrei, duvidando de que o maldito houvesse me escutado.

– Simples. - suspirou ofegante. Ta. Ele escutou. - A gente corre.

Não precisa ser um gênio pra adivinhar de que eu tive a mesma ideia. Ele praticamente me empurrou para o outro lado da pista, enquanto gritava “vai,vai,vai”. Corri sentindo a todo o momento que minhas pernas fraquejariam e me fariam beijar o chão. Mas acho que essa era uma péssima hora para cair. Olhei algumas vezes para trás, e Carter estava quase me ultrapassando.

E adivinhe. O porco também.

Apressei mais ainda meu passo, sendo atingida por um monte de galhos de árvores no rosto. A chuva já havia passado, mas a terra continuava barrenta, me sujando completamente. Deus o que eu fiz? Tenho certeza de que não extorqui velhinhas indefesas e nem contrabandeei órgãos de garotinhos inocentes.

Corri até o momento que o putão do meu pé se engajou em uma raiz apodrecida, concretizando meu presságio: Beijei o chão com gosto. Senti a lama gosmenta tomar conta do meu corpo, e uma dor aguda tomar conta de todo o meu eu.

Eu estava perdida.

Carter também parou de correr, enquanto se abaixava até minha imagem patética, tentando me levantar. Porém eu chorava de tamanha dor, pedindo fervorosamente para ele me deixar no chão.

Não demorou muito e o porco nos alcançou. Ficamos os três parados. Singleton e eu encarando o maldito, e vice-versa. Desça vez o bichano, passou o pé escroto no chão com mais força, enquanto bufava de raiva. Foi então que ele correu em nossa direção, com todas as forças que poderia ter.

Estaríamos mortos.

Se uma bala de espingarda não tivesse acertado sua barriga, fazendo-o cair duro no chão no momento seguinte. O barulho foi estrondoso, e meus ouvidos arderam. Eu mandaria o filha da puta que atirou para o inferno.

Se ele não tivesse salvado nossas vidas, claro.

– Quem são ocês?- uma voz masculina ecoou momentos após o tiro. Só vi que o corpo do homem surgiu do meio do matagal, apontando a espingarda para nossa direção.

– Er...Hã...Carter?- olhei para o garoto, esperando que ele tomasse a iniciativa de alguma coisa.

– Na verdade, somos da cidade e estamos perdidos.- ele respondeu de prontidão. Como quem não tivesse acabado de quase ser morte por um porco selvagem.

O cara abaixou a arma e sorriu satisfeito. Parecia um homem de meia idade. Usava botas de plástico, um chapéu de palha desgastado e uma calça listrada combinando com a camisa. Um típico caipira. É... Um tanto excêntrico.

– Uai! Mais isso é ótimo, !- indagou com “sotaque” momentos depois.

O loiro e eu nos entreolhamos confusos.

– Se quiserem, podem ficar na pensão minha e de minha muié.- continuou.- Mais terão que pagar.

O gorila sem noção sorriu de orelha a orelha, como se Jesus estivesse bem ali na nossa frente. O que não era o caso, pois aquele cara tinha cara de bêbado.

– Isso é ótimo!- o idiota aqui do lado gritou, se levantando.- Quanto é a noite?

Como é? Nós ficaríamos em uma pensão? No meio do nada?

Oxe, cinquentinha.- o caipira respondeu.

– Feito!- gritou tirando a carteira de couro do bolso.- Ah! Meu carro também está quebrado, no meio da estrada, será que o senhor poderia mandar um guincho pra lá?- questionou esperançoso.

Num se preocupe cum isso, meus fi podem vir e consertar pro’cê.- o pançudo se propôs, limpando a espingarda com a mão.

Amém.

– Jura? I-isso é ótimo!

Mais isso é mais cinquentinha.

O garoto bufou, entretanto mesmo assim assentiu, tirando as duas notas da carteira e o entregando para o jacaré banguela. Ele deveria pagar quarenta, só pelo velhote usar indevidamente “mas” e “mais”. Bem, foda-se. O dinheiro não era meu mesmo.

Minha dor só aumentou, e a idiota aqui já estava quase chorando. Contudo não iria dar o prazer de derrubar uma lágrima sequer ao Singleton na frente dele.

– Pegue ai a minina, e simbora! Eu mostro o caminho pro’cês!

– Vamos lá, Elisa!- o bronzeadão cancerígeno se agachou novamente em minha direção, entrelaçando minha cintura em seu braço e quando ele foi apoiar minhas pernas com a outra mão comecei a gritar.

– Solte! Ta doendo!- me debati em seus braços. Em partes eu era meio escandalosa, em outras... Eu comecei a chorar. Pois é.

Sou uma negação para o mundo.

– Ei, ei, ei. Eu mal encostei.- disse calmamente, olhando novamente para o meu pé.- Onde dói?

– A-aqui.- apontei para perto do meu tornozelo como uma criança de quatro anos. Foi ai que eu percebi que não estava agindo como um verdadeiro macho deveria agir.- Quer dizer... Aqui, porra.

– Certo, então eu não vou relar no seu tornozelo, ok?- murmurou lentamente, como se estivesse lidando com alguém que porta necessidades especiais.

No caso, eu.

Assenti minimamente, e ele voltou a passar os braços sobre minha cintura e pernas. Só que dessa vez, tomando cuidado para não relar no local dolorido.

O velhote (que salvou nossas vidas por sinal) nos guiou até a pensão, naquela escuridão dos diabos. Se eu não estivesse com dois homens ao lado, estaria me cagando até as tripas de medo.

Após uns dez minutos de caminhada (e eu carregada hoho, aproveite Elisa) chegamos ao local desejado. Não era lá muito grande, mas também não muito ruim, era... Razoável. Havia dois andares, e só algumas luzes estavam acesas. Tinha um aspecto velho, e poucas mobilhas se encontravam ali. Passamos pela recepção, e o caipira (que por sinal se chama senhor Burton) ordenou que sua mulher nos guiasse e me ajudasse com o banho (não que eu estivesse imaginando que Carter me daria um, mas... Sim, eu estava). Fomos direcionados até um quarto um tanto espaçoso, com uma cama de casal velha e rangendo, juntamente de um criado-mudo antigo e um abajur que mal iluminava o ambiente.

O bombadão saiu, para nos deixar mais a vontade com o banho (já que eu era a mais suja dali, esqueceram que eu enfiei minha cara no barro?), e a mulher me levou até o pequeno banheiro dali comigo mancando por trás. Não foi a coisa mais difícil do mundo (é só um banho), mas uma dorzinha chata ainda rondava meu tornozelo. Tinha a certeza de que o havia torcido. Quando saímos de lá, a sra. Burton me emprestou um pijama, e eu consegui colocá-lo sozinha (viva, não sou uma inútil) e improvisou um gesso meio mal-colocado no meu pé. Mas tudo bem, estava coçando, e tive a certeza de que aquele gesso era de verdade. Quando ela finalmente saiu dali, um Singleton cansado tornou a entrar no quarto.

– Estranho eu não poder entrar no próprio quarto que aluguei, não é?- soltou bem-humorado, indo na direção do banheiro com outra toalha em mãos.

– Não ao menos que você quisesse ter me visto pelada.- retruquei, na cara de pau, arrependendo-me logo em seguida. Que merda eu acabei de dizer?

Ele apenas me fitou indignado e soltou um riso irônico logo em seguida. Foi como se tivesse dito “Não, uma parede é mais legal que sua xavasca, beijos.” E entrou no banheiro.

É, meu dia estava sendo ótimo.

Ou não.

Dei de ombros, e encostei minha cabeça no travesseiro. Mas os pensamentos de que ele estava nu, bem ali na minha frente, só que com uma parede atrapalhando não saía de minha mente.

AH! Morra Elisa!

Quinze longos minutos se passaram, e o maldito Singleton saiu vestido apenas com uma bermuda aparentemente larga dali. Com seu peitoral bronzeado e definido bem na altura de meus olhos, com os fios agora escuros gotejando no assoalho me deixando completamente com inveja, e aqueles olhos, que pareciam agora estarem azul-escuro vagando sobre o cômodo.

Acho que vou ali me matar.

– Nós vamos dormir juntos?- sua voz, agora um pouco rouca, finalmente soou sobre meus ouvidos.

– A menos que você queira lamber o chão, sim.- sorri friamente, e afundei minha face no travesseiro que mais parecia uma pedra.- Boa noite.

O garoto apenas bufou, desligando o abajur, e deixando o quarto repleto de escuridão e silêncio no momento seguinte. Caminhou até a cama, e se infiltrou debaixo do cobertor grosso e felpudo que envolvia meu corpo. Ouvi um bocejo de sua parte, e seu rosto em atrito com o outro travesseiro.

Tentei relaxar, e quando isso foi finalmente possível, seu braço entrelaça minha cintura colando-me diretamente ao seu corpo. Se eu tivesse 90 anos teria tido um AVC.

– Carter! O que diabos você ta fazendo?

– Hm?- exclamou com a voz sonolenta.- Ah, eu sempre tenho uma almofada para abraçar em casa, você foi o que eu achei, agora cala a boca.- finalizou, e segundos depois sua respiração quente ficou vagando sobre meu pescoço, gerando malditos arrepios de minha parte.

Tentei dormir de uma vez naquela merda.

Mas não precisa ser nenhum gênio da matemática para adivinhar que não consegui pregar uma única vez meus olhos naquela noite.


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