Saí do hospital direto para casa. Eu estava feliz por o August estar acordado, mas minha cabeça não parava de pensar em conseguir um jeito para ficar sozinha com Emma. Cheguei em casa e já estava escurecendo, fiz o jantar e o Henry me enchia de perguntas sobre o despertar do August.

— Ele acordou quando você estava lá? – Ele falava insinuando como se eu tivesse algo com a saída do coma. De fato Henry queria me empurrar para cima do August.

— Não Henry, eu estava na prefeitura. Simplesmente ligaram porque ele havia acordado e fomos para lá, eu e a Emma. – Foi difícil não lembrar do celular da Emma tocando no exato momento que eu ia falar.

— Entendo. E você, o que você achou dele? – O garoto perguntava curioso.

— Eu? – Ri alto. Ele já tinha feito perguntas do tipo referentes à August antes, mas dessa vez não tive como evitar lembrar da Bela Adormecida. – Ele é muito engraçado.

— Talvez o amor verdadeiro esteja chegando... – Ele resmungou baixinho enquanto colocava os pratos na mesa. Talvez aquela fosse uma boa hora de conversar sobre alguns assuntos.

— Henry, venha aqui. – Enxuguei minhas mãos que eu tinha acabado de lavar para começarmos a jantar, puxei uma cadeira e sentei. Ele sentou em outra de frente para mim. – Você sabe que existem casais homossexuais e heterossexuais, nós já conversamos sobre isso antes, certo? – Ele balançou a cabeça com os olhos enormes me encarando. – Então, o August é um rapaz que prefere ter um relacionamento com outro rapaz e não com uma mulher. – O garoto olhou para os lados um pouco decepcionado, mas depois deu um sorriso como se tivesse pensado em algo. – Você vai ficar bem com isso?

— É claro que sim! O que importa é a felicidade dele. – Ele deu uma pausa. – Acho que eu pensei na pessoa errada, enquanto a certa estava bem em baixo do meu nariz. – Ele levantou sorrindo e pegando uns copos para colocar na mesa para o jantar. A imaginação do Henry é gigantesca e eu sei que ele é um garoto esperto, mas eu não sabia qual seria a reação de fato. E o que será que ele quis dizer com “pessoa certa embaixo do nariz”?

Jantamos em silêncio, o que era extremamente estranho, pois, o Henry sempre foi um tagarela nato. Por um momento me arrependi de ter falado sobre o August para ele. Mas o garoto quebrou o silêncio.

— E a Emma? Você vai falar com ela hoje?

— Eu... – Não sei por que, mas fiquei nervosa. E passou pela minha cabeça como seria o dia que eu contasse que Emma e eu estávamos juntas. – Eu não sei.

— Unhum. – Ele apenas resmungou e continuou a comer. Às vezes penso que o destino é uma criança que gosta de brincar e que nós somos seus brinquedos. É uma grande ironia eu ter adotado o Henry e ter me apaixonado justamente pela mãe dele. Talvez o destino tenha trazido Henry para que ele trouxesse o meu amor verdadeiro, por isso eu só poderia vivê-lo nesse mundo. “Mas que loucura essa minha” pensei isso e sacudi a cabeça.

Terminamos de comer e o Henry foi assistir TV enquanto eu tomava banho. Depois coloquei o pequeno na cama, ele já estava caindo de sono, então fiquei com ele até que adormecesse. Voltei para o meu quarto. Ficar sozinha me fazia pensar na Emma, pensar mais do que eu normalmente já pensava. Peguei o celular e quando estava procurando o número dela para ligar ele tocou. Não fiquei surpresa, mas era Emma.

— Não sei se você acredita em transmissão de pensamento, mas eu estava indo te ligar agora. – Falei.

— Acredito. – Ela riu. – eu estava esperando o August dormir para ouvir um pouco a sua voz.

— E eu estava esperando o Henry dormir. Acho que ele quer conhecer o August.

— Sério? – Emma riu. – O August perguntou quando iria ver nosso filho.

— Nosso filho é? – Sorri. – Amanhã depois da escola ele vai até aí, vou avisá-lo. Só uma coisa, eu contei a ele sobre o August, pois ele queria me jogar para cima do seu amigo.

— Você contou? E ele? – Ela falou surpresa.

— Ele agiu normalmente. É um garoto esperto. Apenas achei estranha a frase que ele disse.

— Que frase?

— “Acho que eu pensei na pessoa errada, enquanto a certa estava bem em baixo do meu nariz. ”

— Bem, - Emma riu. – Eu não caibo embaixo do nariz dele. – Ela deu uma gargalhada e eu sorri também.

Conversei com Emma até adormecer. Dormir ouvindo o som da voz e a respiração dela era sempre bom.

***

Duas semanas se passaram tediosas e eu mal tive tempo de ver a Emma ou de ficar com ela, o máximo que fazíamos era nos ver nos 10 minutos de intervalo de almoço e dormir conversando no celular. O trabalho na delegacia tinha começado e a nova Xerife, junto com o David estava cheia de trabalhos. Achei que esse trabalho facilitaria para que nós pudéssemos nos ver, mas acho que só atrapalhou. August já tinha tido alta há alguns dias e havia começado as sessões de fisioterapia e todas as terças e quintas Emma o levava para o consultório. Eles já tinham se mudado para o apartamento novo que o Gold estranhamente tinha disponibilizado para eles alugarem. Henry estava em semana de provas e passava o dia na biblioteca. Eu estava na prefeitura pensando em mil coisas ao mesmo tempo até ter uma brilhante ideia. Cancelei uma reunião de impressa que teria à tarde, sobre a explosão da mina que matou um infeliz que trabalhava lá, alguns repórteres queriam saber se a mina seria interditada ou não. Fui até a delegacia, hoje é quarta-feira e Emma estava sozinha.

Cheguei na delegacia e ela não estava lá, provavelmente estava no local do ocorrido fazendo o B.O e recolhendo informações sobre o acidente. Fiquei aguardando-a sentada sobre a mesa, até que não demorou muito e eu escutei o barulho do carro estacionando em frente à delegacia. Fiz questão de cruzar as pernas já que estava de saia. Embora eu não estivesse em condições para isso era sempre bom provocar a Emma, principalmente em situações que provavelmente não poderíamos fazer nada. Ela entrou na delegacia de cabeça baixa, arrumando a calça até que me avistou.

— Meu Deus... – Ela parou onde estava e levantou as sobrancelhas.

— Boa tarde, Xerife. – Falei com um sorriso debochado.

— Você não deveria aparecer aqui quando eu estou sozinha prefeita. – Ela andou até mim e parou na minha frente colocando uma das mãos na cintura. – É perigoso.

— Eu estava com saudades de você. – Falei.

— Eu também. Precisamos resolver isso.

— Vim aqui para resolver isso.

— O que você sugere prefeita? – Emma disse colocando a mão sobre as minhas pernas.

— Amanhã você vai levar o August para a fisioterapia, pela manhã certo? – Ela concordou com a cabeça. – O Henry vai passar o dia na escola, pois, está em semana de provas e só está chegando no fim da tarde. Amanhã é plantão do David na delegacia e você está livre, investiguei isso hoje pela manhã. – A encarei com um olhar sugestivo, levantando uma das sobrancelhas e ela mordeu os lábios. – Vendo isso, eu acho que não irei à prefeitura amanhã. – Desci da mesa onde estava sentada e me aproximei de Emma, encostando minha testa na dela e passando meu nariz no dela. – O que você acha de passar o dia comigo? – Emma não falou nada, apenas me beijou carinhosamente e eu a agarrei pela cintura e girei a encostando na mesa, minha mão deslizava pelo seu rosto e eu me lembrei do nosso primeiro beijo. Desde aquele beijo os meus sentimentos por Emma tinham se intensificado ainda mais. Ela parou de me beijar e ficou com os lábios encostados nos meus por um tempo.

— Eu espero que amanhã chegue logo. – Emma me abraçou e eu pousei minha cabeça no seu ombro.