Echo. escrita por nekokill3r


Capítulo 28
Capítulo 28.


Notas iniciais do capítulo

Eu ia postar mais cedo, maaaaaaas acabei dormindo e acordei agorinha.
Espero que gostem :3



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Desde a “queda” de Hinata, a escola virou de cabeça para baixo. Alguém teve a ideia genial de gravar o que aconteceu no aniversário e parece que agora, sou eu a líder por aqui e não ela. Hoje mais cedo mesmo na escola, tiveram a outra ideia genial de colocar a lata de lixo para cair em cima dela quando chegasse; assim que caiu, Hinata apenas a tirou da cabeça, colocou de volta no chão e se sentou, sempre com a típica classe e perfeição. Então as pessoas começaram a uivar em negativa porque acharam que ela iria fazer alguma coisa e eu até que entrei no meio. Eu rio dessas coisas com todo mundo, mas no fundo ainda me sinto um pouco culpada. Shion e Karin não apareceram hoje e me disseram que essa primeira mudou de escola –– o que eu achei muito idiota já que hoje foi o penúltimo dia de aula e amanhã iremos saber quem passou e quem ficou de recuperação. Não estou muita certa que minhas notas foram lá muito boas, mas tudo bem se eu ficar de recuperação ou repetir de vez, entendo de verdade. E Gaara também não veio para a escola porque pegou uma gripe, sabe-se lá como.

Estou nesse segundo me encarando no espelho substituto do outro que arrebentei. Eu não quero mais esse cabelo desse jeito, tão grande. Passei metade da minha vida deixando ele crescer por causa de Sasori, mas creio que ele também queira que eu mude de vez em quando. Por isso, decidi cortar o meu cabelo sozinha. Não sei se vai dar certo –– provavelmente não ––, porém vou tentar do mesmo jeito. E se eu fazer burrada, posso pedir para a minha mãe me ajudar depois. Minha intenção é dar uma cortada nele e fazer uma franjinha –– um dos meus sonhos. A minha franja já ficou na mesma comprimento do cabelo, então eu não tenho mais nada. Ai, meu Deus, que medo de só passar a tesoura!

Com muito cuidado, coloco duas mechas para a frente, ajeito o tamanho que quero e começo a cortar. Meu coração nunca bateu tão forte como agora, nem como quando estou com Naruto. Mais umas três cortadas e... estou de franjinha! Ficou mais bonitinho do que eu pensei e agora estou apaixonada por ela; passando a mão a cada um segundo e sorrindo para mim mesma no espelho. Depois de varrer todo o cabelo –– e olhe que saiu mais coisa do que deveria ––, tomar banho, trocar de roupa e o deixar em um rabo de cavalo, desço para a sala ansiosa para o que meus pais vão dizer. Cumprimento assim que chego até lá, mas eles sequer olham para trás. Corro até a frente dos dois e eles quase tem um ataque ao mesmo tempo.

–– O que você fez com o seu cabelo, amor da minha vida?! –– meu pai pergunta se levantando e indo até onde estou. Ele olha para a minha mãe desesperado. –– Para onde foi parar o resto de cabelo dela?

–– Você que cortou sozinha? –– ela pergunta o ignorando. Confirmo com a cabeça. Minha mãe parece estar insatisfeita, mas sei que ela na verdade quer dizer mil e uma coisas sobre como ficou maravilhoso. Emburrada como sempre, ela apenas diz: –– Ficou até bonitinho.

–– Ficou perfeito! –– meu pai meio que grita e olho para ele. Só então percebo o quanto a cortei tão grande, pois quase não consigo vê-lo direito. –– Mas aonde a senhorita vai arrumada desse jeito?

–– Kiba vai se mudar e eu disse que iria lá para me despedir... –– digo e estou mesmo triste com isso. Não quero que Kiba vá embora.

–– Você não disse que iria na casa do Gaara também? –– minha mãe pergunta e me lembro que preciso passar lá.

–– É, eu vou, só que depois –– respondo e olho para as horas no celular. 13:21. –– Tenho que ir agora ou chegarei atrasada. Até mais tarde. –– Saio correndo e quase caio perto da porta, e em vez de me ajudarem, meus pais ficam rindo. Deixo essa pequena intriga para mais tarde e saio de vez.

Eu simplesmente não entendo esse tempo de final de ano, juro. Entramos no verão, mas agora ficou frio do nada. Hoje choveu cedo e quase achei que meu pai teria que me buscar de carro. E agora estou com uma blusa enorme, porém não está me esquentando nada. Mas espere um segundo... Se hoje é quinta, o que minha mãe está fazendo em casa? Ah, não é possível que ela já está abandonando o emprego de novo! Depois vou ter uma conversa séria com ela sobre isso.

Quando chego no aeroporto, me lembro que não tinha combinado com Kiba um lugar para podermos nos encontrar e aqui está mais cheio que o normal! Me lembra muito o dia do baile que ele sumiu e tive que sair gritando seu nome por todos os cantos, chega até a ser nostálgico. E esses momentos também que lembram de Hinata me maltratando, que vai a imagem dela agora sendo humilhada e xingada pela maioria da escola, e mesmo não querendo, acabo rindo e o resultado disso é que eu esbarro em um rapaz. Me viro no mesmo instante, as palavras de desculpas na ponta da língua, quando vejo quem é. Primeiro, fico impressionada de vê-lo ainda por aqui, depois pulo em cima dele, o abraçando forte.

–– Eu senti a sua falta, Deidara! –– digo em seu ouvido enquanto ele ri no meu e retribui meu abraço.

Deidara é o ex-namorado do meu irmão. Depois que Sasori morreu, ele sumiu, sequer foi no enterro –– era bem óbvio que ele não iria, nem eu o faria se não fosse quase que a minha obrigação. Por um tempo procuramos por ele na esperança de ajudá-lo a encarar a perda de um jeito mais “fácil”, mas nunca o encontramos mesmo. Fico feliz por estar abraçando ele agora, pois antes Deidara era uma das pessoas mais carinhosas comigo e sempre conseguia me fazer rir, mesmo que as coisas estivessem horríveis. E eu queria que ele estivesse aqui também quando eu piorei...

–– Ai, meu Deus, olha só para você! Está uma gracinha –– ele elogia e bagunça a minha franja, fazendo com que eu feche os olhos antes que fios entre dentro deles. Quando tento enxergar, ele faz isso mais uma vez e começamos a rir juntos.

–– Mas e aí, por onde tem andado? Procuramos por você –– digo e ele respira fundo, soltando os ombros de um jeito triste.

–– Andei por muitos lugares, Sakura. Porém agora parece que eu encontrei o meu caminho –– ele diz e fico um pouco confusa. Deidara parece entender isso como se fosse uma pergunta. –– Estou indo para Milão.

Acho que por um segundo, a minha respiração falhou. Será que ele entende que Milão fica muito longe daqui e eu quero levar ele para casa para os meus pais o verem de novo? Não, acho que não entende. Percebo o quanto estou sendo idiota, pois esta é a vida dele e não a minha, então se Deidara quer ir para uma outra cidade tentar algo novo, não vai ser eu a impedi-lo de o fazer. Forço um sorriso, como se estivesse realmente feliz com a notícia.

–– Que bom... Eu espero que você se dê bem lá –– desejo, mesmo contra a minha opinião de querer que ele fique. Ele afirma com a cabeça e pela primeira vez consigo ver o quanto aqueles olhos azuis claros estão transbordando de tristeza. Saudade; saudade de Sasori. Eu ia o abraçar mais uma vez, mas foi neste segundo que o vôo dele foi anunciado. Deidara pega alguma coisa na mochila apressado e me entrega.

–– Veja quando chegar em casa, de preferência sozinha. E tente não chorar. Até à vista, Sakura. Se cuide. –– E sai correndo sem nem ao menos esperar por uma resposta minha. Olho para o CD nas minhas mãos, com um coração desenhado por um canetão vermelho e tenho certeza de que isso aqui é sobre Sasori. Se não fosse, Deidara não falaria “e tente não chorar”. Quero dar meia-volta e ir correndo para casa para descobrir, mas infelizmente preciso esperar por Kiba que até agora ainda não apareceu.

Me sento em um banco e continuo olhando para o CD, às vezes o batendo em uma das mãos e olhando para o nada, e assim se segue a minha espera por Kiba. Só vou acordar mesmo quando ele se senta ao meu lado e coloca a mão no meu ombro, me fazendo virar e ver ele todo sorridente. Acredito que esse sorriso não seja para mim realmente, porque ir embora mesmo, eu sei que ele não quer. E o impedir e fazer com que ele fique aqui, eu também não posso.

–– Está tudo bem com você? Estava sem piscar quando cheguei aqui –– ele diz e sinto o meu rosto queimar.

Não sei exatamente o que eu esperava neste outro encontro com Kiba. Talvez alguns abraços ou até mesmo um elogio pelo novo penteado, contudo, parece que não vai ser mesmo assim. Acho que o tempo que passamos separados, foi o necessário para ele superar esse amor meio platônico e seguir em frente; o que significa, sem mim. Não que eu o ame ainda, não é isso, apenas estou tentando dizer que esperava mais coisas que fossem vindas dele, como antes. Na maior parte do tempo, não sinto falta especificamente de Kiba, e sim de todos os seus elogios e frases lindas que ele costumava me falar quando estávamos juntos. Até hoje não consegui esquecer aquela vez em que dormi em sua casa.

–– Eu estou bem, sim. E você? –– digo depois de alguns segundos o olhando. Era inevitável, com todas esses arranhões de pessoas que odiavam Hinata e acabaram colocando a culpa nele, assim como seus olhos que já perderam há muito tempo toda aquela alegria. Kiba não grita mais quando conversa comigo, e nem com ninguém.

–– Estou nervoso. Nunca andei de avião antes, sabe? –– ele diz e consegue rir por um tempo. Queria dizer para ele que tudo ficaria bem, mas infelizmente eu também nunca andei.

–– E a sua perna? Ainda dói? –– pergunto desesperada e é impossível não me abaixar e erguer sua calça um pouco.

–– Só às vezes, mas não é tanto assim –– ouço ele dizer enquanto olho para os machucados que ainda parecem estar saindo sangue. Sou surpreendida por sua mão que tira as minhas da peça de um jeito gentil e cobre o resto da perna. –– Não precisa se preocupar.

Sento direito e fico olhando para ele enquanto apoio o queixo na mão. Eu confesso que queria dizer mil coisas a ele antes que fosse embora, mas agora elas desapareceram da minha cabeça. Um “vou sentir a sua falta” talvez não seja tão ruim, porém eu vou sentir mais que a falta dele. Vai ser algo difícil, pois logo agora que as coisas estão se ajeitando, eu queria que todo mundo pudesse ficar amigos novamente e perdoar as coisas que Kiba fez. Sei que é a culpa dele, mas infelizmente não posso mudar a opinião dos outros. Queria que as pessoas tivessem o conhecido assim como eu, que mesmo que foi por pouco tempo, será o bastante para sempre encher o meu sono de sonhos. Sinto saudades de mais do garoto que era todo alegre e tinha amigos de sobra, e juro que não reconheço esse que está a minha frente, todo triste e sem ninguém além de mim. Eu não me recomendo como amiga, para dizer a verdade, pois veja bem o que eu fiz com ele; quando ele precisou, eu fui a primeira a dar as costas. Fico imaginando o quanto deve estar sendo mais difícil para ele.

–– Eu não queria que você fosse embora –– confesso, e ele não parece tão surpreso como imaginei que ficaria.

–– Ninguém precisa de mim aqui –– ele diz e sou eu quem fica surpresa.

É verdade que ele perdeu todos os “amigos” que costumava ter, que a irmã só sabe gritar com ele e a mãe mal parece saber de sua existência, mas acho que eu preciso dele sim; quanto para eu seguir em frente, tanto para ajudá-lo a também fazer a mesma coisa. Eu ia começar a falar quando ele fez um sinal para que não o fizesse.

–– Eu sei que o que eu tinha para te dar naquela época era pouco, na verdade, pouquíssimo. Mas acredite, era tudo seu –– ele começa e sinto vontade de fazer alguma coisa para que cale a boca, pois logo vão vir os arrependimentos e eu não vou agüentar ficar segurando o choro por tanto tempo. –– Sei que o que eu fiz com Hinata aquela vez foi algo errado, muito errado. E me arrependi bastante quando te perdi –– ele continua, olhos vidrados nos meus. –– Quando eu disse que te amava, não era mentira. E quando eu disse naquela madrugada que ainda ia te amar no outro dia, também não era mentira. Se eu pudesse voltar no tempo, faria tudo diferente e você não sairia machucada na história. Eu juro que eu não seria tão idiota como antes.

E pronto, basta este pequeno discurso dele para me fazer começar a chorar como se alguma coisa ruim tivesse acontecido –– o que até faz sentido, pois ele está indo embora. A vontade de beijar Kiba vem e volta todas as vezes em que olho para ele, e agora as luzes iluminam seus olhos perfeitamente quase como se estivessem brilhando, e acho que isso deveria ser por causa de suas lágrimas. Não dá para conter a vontade e acabo o beijando, mesmo sabendo que isso é errado e que alguém aqui talvez conheça Gaara e saiba que estamos namorando e corra para contar a ele. Não tenho culpa quando a esse beijo, porque foi algo que nem eu mesma consegui evitar. Era o nosso último beijo, um de despedida. Kiba segura o meu rosto com uma das mãos e ficamos com os rostos ainda perto, sentindo a respiração um do outro. Posso concluir que nem com isso ele voltou a ser o Kiba de antes.

Uma maldita mulher anuncia o vôo dele e sinto vontade de fazer tudo parar de funcionar, para que possamos ficar apenas nós dois desse jeito por pelo menos dois dias. Abro os olhos e ele está me encarando de um jeito triste, mas desta vez não há mais lágrimas. Ele deveria saber que eu ainda vou estar aqui para quando ele precisar; não do mesmo jeito de antes, porém de certa forma como uma amiga que sempre vai estar aqui. O ajudo com o mala mesmo que ele esteja carregando apenas uma e pergunto sobre sua família, já que não as vi em nenhum lugar até agora. Kiba me responde que elas foram no outro avião e que ele perdeu o anterior apenas para ficar mais tempo comigo, me fazendo assim ter mais vontade de chorar.

Na hora da despedida, meu coração fica ainda mais apertado. Eu realmente não quero que ele vá embora. Ficamos no final da fila que para a minha infelicidade não está tão grande, abraçados e em silêncio. Sei que agora ele prefere desta maneira; que nós não falássemos nenhuma palavra até que ele tivesse de ir. E chega essa hora. Tem uma moça que fica falando e falando para ele entrar e a culpa não é a de Kiba se ele está demorando, e sim a minha. Me agarrei nele e me recuso a soltá-lo. Ele segura o meu rosto com as duas mãos e pego em uma delas, sentindo pela última vez a pele que deveria estar quente e não fria como agora.

–– Tenho que ir agora, Sakura –– ele diz o que já sei, mas que ainda não quero acreditar.

–– Não vai não... Fica mais um pouco, ou pelo menos até que as coisas comecem a dar certo para você –– digo, tentando convencer a ele e a mim mesma de que tudo vai mudar, assim, do nada e todos vão esquecer tudo o que ele fez.

–– Nada vai dar mais certo para mim, não enquanto eu continuar aqui –– ele diz, fazendo meu coração se apertar mais um pouquinho. É como se ele estivesse se esquecido de que eu também vivo aqui. Recomeço a chorar, estragando o papel de garota forte. –– Ah, não faça isso comigo... Eu prometo falar com você depois de chegar lá, tá? Não fique desse jeito por mim. Você agora tem amigos e um namorado decente, veja como as coisas melhoraram mil vezes para você... Não jogue tudo fora logo agora.

Aos pouquinhos, Kiba vai se distanciando e quando vejo a situação, ele está indo embora e as minhas mãos estão congeladas no ar, esperando que as dele também se juntem a elas. Mas sei que é tarde demais e eu não deveria estar tão mal assim, porque ele não é mais meu namorado. O beijo foi mais como um consolo que não deu certo, e a insistência de o fazer ficar era justamente pelo fato de eu querer vê-lo bem de novo. Contudo, não vou embora. Continuo no mesmo lugar, do mesmo jeito, mas com as mãos agora dentro dos bolsos, olhando por onde ele entrou e talvez esperando por um milagre que Kiba apareça correndo ali e diga que tudo não passou de uma brincadeira.

–– Ele não vai voltar –– digo a mim mesma, forçando o meu corpo a se virar e seguir outro caminho. Porém, não consigo. Ainda fico mais alguns segundos olhando para lá, e então recomeço a andar, desta vez com o destino para a casa de Gaara.

Eu não sei se ele vai ver ou não diferença em mim, mas eu sinceramente espero que não. Desde que saí da clínica, Gaara tem se importado comigo mais que o necessário, quase não me deixando pisar em algum lugar sem antes ver que não tem mesmo nada por ali. Fico feliz e triste com isso; feliz por ele estar preocupado comigo, e triste por ele não estar preocupado com ele mesmo. Não sou apenas eu quem precisa de cuidados ultimamente. O pai dele tem estado mil vezes mais exigente não sei com o que, e tudo o que Gaara faz não é o suficiente para ele. Queria entender como existem pessoas como ele, que não aceitam filhos que não sejam perfeitos. E eu também queria que ele olhasse bem para Temari antes de reclamar do Gaara, por que aquela sim deveria estar levando uma bronca muito feia e não ele. Me pergunto como que Kankurou consegue sobreviver naquela casa todos os dias e ainda assim parecer tão feliz –– “parecer”, o que não significa que ele realmente seja.

Assim que a porta se abre, sinto vontade de ter escalado o muro e entrado pela janela direto no quarto de Gaara, pois quem está me encarando com um sorrisinho ameaçador e venenoso, é Temari. Não entendo por que ela não gosta de mim, pois nunca fiz algo para ela. Tudo bem que na primeira vez que vim aqui mostrei língua para ela, mas isso não é motivo suficiente para tanto ódio. Mas talvez, para a infelicidade dela, eu posso sobreviver muito bem com sua indiferença.

–– Onde o Gaara está? –– pergunto e acabo me lembrando do ursinho. Tenho que me esforçar para não sorrir.

–– Deitado na cama dele, sem vontade nenhuma de ver alguém –– ela responde e sei que está mentindo, pois ele implorou para que eu viesse aqui. –– Veio ver ele?

–– Não, eu vim ver você –– brinco e sorrio vencedora, mas a minha piadinha perde a graça quando a vejo continuar com a mesma cara, e agora com uma sobrancelha erguida. –– Eu posso ir lá ver ele ou não?

–– Já que não tem outro jeito. –– Então Temari vira as costas e sai em uma outra direção, deixando a porta para eu fechar e milhões de escadas para subir.

Eu não sei exatamente onde é o quarto de Gaara, por que aqui tem milhões de portas com o nome dele e sempre tenho a impressão de que nenhuma é a certa, assim como o medo de entrar em alguma e descobrir, sei lá, alguma coisa extra-secreta. Está muito sinistro aqui e eu acho que com qualquer barulhinho eu sou capaz de morrer do coração. Seria muita gentileza da parte de Kankurou aparecer agora e me falar onde é o maldito quarto em que Gaara está, provavelmente mais mal-humorado que o normal. No meio do corredor, piso em alguma coisa e preciso levar as mãos a boca, contendo um grito. Passou pela minha cabeça mil coisas que poderiam estar ali embaixo, quando na verdade eram apenas alguns dedos de marionetes espalhados e eu sorri aliviada. Me agaichei para pegá-los, e foi neste segundo em que alguém me pegou pela cintura e agora eu estou em uma cama, totalmente congelada de susto. Não preciso olhar para a pessoa para saber quem foi.

–– Oi, mô –– Gaara cumprimenta e relaxo os músculos, mesmo que ainda estivesse um pouco assustada. A voz dele ficou muito fofa por causa da gripe e seu nariz está vermelho como o cabelo. –– Veio cuidar de mim?

–– Vim tentar –– digo, rindo um pouco. Continuo triste com a história de Kiba, mas acredito que ele não gostaria de me ver assim... –– No que eu posso ajudar?

Levanto a cabeça e encontro Gaara olhando para mim. Ele me abraça mais forte e se ajeita na cama, pois estamos quase caindo. É incrível como sempre quase conseguimos arrebentar alguma parte do corpo no chão quando estamos juntos.

–– Tem que me dar banho –– ele diz e faço uma careta, ao mesmo tempo indignada e alegre (espero que essa última parte não esteja tão visível). Gaara ri de mim. –– Não foi você que disse que queria ajudar?

–– Mas eu não achei que teria que te dar banho! –– retruco e abro ainda mais a boca, juntando as sobrancelhas. Tenho que conter a minha raiva em meio a isso tudo, pois o CD não tem culpa de nada. –– Eu não vou te dar banho.

–– Vai sim –– ele diz, concordando com a cabeça de um jeito pervertido até demais para o meu gosto.

–– Não vou! –– retruco mais alto, e evito de tudo para não dar um grito.

–– Vai sim... –– Gaara sorri para mim mais uma vez e percebo que não tenho opções, eu vou mesmo ter que dar banho nele. Ele olha para a minha mão de um jeito curioso. –– O que é isso aí?

–– Não te interessa –– respondo quase que automaticamente e ele finge ter achado ofensivo. Não resisto e acabo com toda a minha marra, começando a rir. –– Passa logo para o banheiro antes que eu te enfie lá para dentro à força.

Gaara pega uma toalha e vai para lá, chamando o meu nome. Isso me lembra muito do Sai, que também me lembra que eu preciso começar a agir para a vida e ir procurar por Shin. Deixo o CD em cima da cama e depois de muita coragem, abro a porta. Okay, a visão a minha frente agora é algo que me deixa com muita vergonha, mas não significa que não seja ruim. O meu rosto deve estar muito vermelho, pois ele começou a rir de mim enquanto ligava o chuveiro. Levantei as mangas da blusa e tentei ao máximo não olhar para , porém é meio que impossível, principalmente por que Gaara está vindo na minha direção. Primeiro ele fica me olhando, bem de pertinho, e acabo começando a rir enquanto olho para as paredes até o teto, mas nunca para onde não tem roupa. Ele ergue o meu queixo e me beija, me colocando contra a parede, no caso, sem chances de sair daqui. Muito embora ele esteja sem nenhuma peça, não tenta fazer mais nada além de me beijar como sempre. Sei que talvez vou acabar ficando gripada por isso, mas tudo bem, eu não quero que ele pare... Mentira, eu quero que pare sim, principalmente quando percebo que está mordendo o meu lábio. Tenho uma crise de riso e choro ao mesmo tempo, por que senti o gosto de sangue e a coisa deve estar feia. O empurro para a frente e ele finalmente me solta, rindo até não conseguir mais.

–– Seu estúpido! –– o xingo enquanto vejo o quanto de sangue ele conseguiu tirar de mim.

–– Não brigue comigo, eu estou doentinho –– ele diz, fazendo aquele bico que sempre consegue me acalmar. E não é dessa vez que a coisa dá errado.

–– Vire para o outro lado, vou lavar seu cabelo –– mando e ele o faz. Quase como se fosse automático, ergo as sobrancelhas, pois a “situação” aqui atrás não está nada ruim também. Ele vira o rosto a tempo de ver a minha reação e finjo não ter ficado assim só por ele ter uma bunda bonitinha. Começo a lavar o cabelo dele de verdade depois de alguns segundos, jogando água por todos os lados de todos os jeitos que consigo, apenas para não ter que ser eu quem vai fazer o resto do serviço. Gaara não para um segundo quieto e parece sentir prazer em me irritar, pois em um momento quase me fez cair de cara na parede.

Depois de toda a dificuldade, ele está até brilhando de tão lindo e devo dizer que fiz um ótimo trabalho. Estou quase toda molhada e tem sabão no meu nariz, queixo e bochechas. Meus braços estão doendo um pouco por ter que ficar subindo nas pontas dos pés para lavar o cabelo dele, mas tudo bem. De volta ao quarto, Gaara troca de roupa enquanto fico virada para o outro lado. E é então que percebo o quanto ele conseguiu me atrasar, porque agora já é a noite e eu necessito ir correndo para a minha casa ou vou estar ferrada.

–– Gaara, preciso ir embora –– digo procurando até debaixo da cama pelo maldito aparelhinho que decidiu sumir. –– Você viu o meu... –– Me levanto e ele está com o meu celular em uma das mãos, todo feliz.

–– O seu celular? –– ele pergunta e começa a girá-lo de um lado para o outro no ar. Medo agora de que a coisa caia não me falta. –– Não, eu não vi –– ele continua e fica com o rosto perto do meu. –– Ouviu? Começou a chover. Parece que eu vou ter companhia na cama hoje.

Não dá para não pensar em outras coisas a mais depois de ouvir uma coisa dessas e fico lá, parada, com o rosto todo vermelho de novo. Tento pegar o meu celular, mas Gaara o levanta ainda mais e eu não sou alta o suficiente para conseguir ter ele de volta.

–– Você é mesmo um idiota, Gaara Sabaku –– digo enquanto tiro a blusa de frio e depois o tênis. Vou ter que ficar aqui, não tem mesmo como eu ir embora.

–– O idiota que você ama –– ele diz, colocando o meu celular dentro do bolso da calça. Eu não sei como ele vai conseguir dormir desse jeito.

Quando Gaara deita, começo a pensar no que ele disse. “O idiota que você ama”. De certa forma, eu o amo sim, mas queria que entendesse que não como ele acha que amo mesmo. Deve ser mil vezes mais fácil viver no Polo Norte e não ter uma TV do que desistir de Gaara –– e confesso que estou pensando seriamente em me mudar para lá.

Ele não para quieto na cama; a todo segundo fica se virando e às vezes quase me deixa cair, me pegando no último segundo. Então a chuva começa a engrossar e ele fica abraçado comigo, tremendo algumas vezes não sei por que. Consigo sentir a respiração dele no meu cabelo e suas mãos quentem me lembram a de muitas pessoas, inclusive Kiba.

Mas o meu pensamento sempre só vai para uma; aquele que não está aqui, que sempre faz com que eu me sinta feliz de verdade e que parece ser uma das mais difíceis de cuidar. Naruto.


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