Cigarette Smoke escrita por Mary
Notas iniciais do capítulo
Capítulo novo!
Triste porque não ganhei comentários....
Ele está me encarando. Eu sei mesmo de olhos fechados. Mas ainda não estou pronta pra sofrer as consequências.
– Desde que você era pequena eu sei dizer se você está fingindo ou não.
Talvez se eu me virar para o outro lado... E respirar mais devagar... Quem sabe...
– Vamos lá Sarah. Sei que está acordada.
– Se eu abrir os olhos vou ter que te encarar pai e eu ainda não estou pronta.
Quando ele abriu a porta do meu quarto no hospital foi apenas para me abraçar desesperado e apertar, movimentar e inspecionar todos os meus ossos, olhos e garganta.
– Vai logo Sarah.
Abro os olhos bem devagar e me sento em câmera lenta. Hans está sentado na poltrona cinza que ele subiu da sala. Ele está aqui comigo desde que voltei do hospital ontem à tarde.
– Pronto...
– Não acredito que você ainda mantém a cama desse jeito... Tudo mudou em seu quarto, mas a cama continua do mesmo...
– Eu sei.
A verdade é que esse é o antigo quarto dos meus pais... Antes de minha mãe morrer e meu pai virar um cigano maluco.
– Senti sua falta filha. Foi difícil ficar sem você por perto.
– Pensasse nisso antes de me prender aqui e sair pelo mundo.
Droga. Tudo o que eu não quero é mais um drama na minha vida! Levanto da cama e me sento no braço da poltrona.
–Desculpa pai... Eu não devia...
– Você tem razão Sarah, mas eu tinha que fazer alguma coisa porque se não os pais dela...
Ele não precisa completar a frase. Eu tenho uma boa ideia do que teria acontecido caso Hans não interviesse.
– É por isso que estou aqui Sarah... Parece que toda vez que eu deixo sozinha por um tempo é só pra te encontrar metida em encrenca... Vou levar você comigo dessa vez.
Fico tão comovida que mal sinto o medo que começa a se alastrar pela minha corrente sanguínea.
– C-como assim?
– Você vem comigo para Nova York Sarah.
Me levanto e fico de frente para ele. Estou com raiva por não estar vestida adequadamente para um combate contra meu pai (preferia estar de jeans e camiseta ao invés de shorts e moletom).
– Não... Quer dizer, porque agora? O ano está acabando... Agatha precisa de mim por aqui.
Jeremy precisa de mim... E acho que estou começando a precisar dele também.
– Sarah, filha, como posso te deixar aqui se a única coisa que eu imploro de verdade para que não faça você simplesmente ignora e continua?
– Do que está falando?
– Cigarros... Você prometeu que ia parar.
Droga novamente! Essa me pegou de guarda baixa. Eu sei o que prometi, mas é tão difícil parar quando não se tem um motivo maior do que a morte para me entorpecer. Me jogo na cama, meu corpo todo encurvado pela culpa.
– Desculpa pai...
Hans solta um longo suspiro, como se estivesse segurando há muito tempo. Levanta-se e se senta ao meu lado, os braços para trás dando apoio ao corpo.
– Sarah, por acaso um dos motivos para você não querer ir não é o menino dos Evans, é?
– O que? Não. Não! Como assim? De onde você tirou uma coisa dessas pai?
Não era minha intenção entrar em pânico, nem fazer minha voz subir duzentas oitavas e pior ainda me entregar desse jeito, mas sou péssima em mentir para o meu pai. E agora ele está rindo e não tenho ideia de quem está mais vermelho: eu ou ele.
– Certo, podemos ficar aqui por mais algumas semanas, posso fazer minha reuniões por skype...
– Não vai dar não.
– Por quê?
– Você cortou minha internet, lembra?
– Então eu faço por telefone.
– Você cortou também.
Hans me olha incrédulo e sorrio de lado para ele, me desculpando por seus erros.
– Como você sobreviveu?
– Nem tenho ideia. Mas a gente tem que viver com o que tem né.
– Está certo filha e o que você tem?
– Na real? Nada... Já até li todos os livros que você me mandou da última vez. E vi todos os filmes também. Resumindo: restou apenas meu espírito para assombrar a casa, porque morri de tédio um tempinho atrás.
Meu pai para de rir certo tempo depois e me encara, de repente me abraça tão apertado que minhas costas estalam, mas ele parece nem se importar com isso.
– Você está livre por agora Sarah, mas te imploro: não apronte mais nada. Talvez eu não seja capaz de te salvar dessa vez.
– Não vou pai...
Abraço ele também e depois de alguns segundos ele se levanta e sai do quarto dizendo que vai me deixar tomar um banho por que estou exalando cheiro de doença.
Olho para minha parede espelhada e vejo uma garota descabelada me encarando, e como sempre, mesmo toda bagunçada e doente, ela ainda sabe que é bonita. Não do jeito convencional, mas ainda bonita.
Vou para o banheiro e deixo a água me lavar por longos minutos, que mesmo depois que eu desligo o chuveiro, parece pouco. Eu deveria estar na escola... Deveria estar trabalhando... Mas, o que eu faço agora? Estou livre, mas ainda tenho responsabilidades. Seguro a toalha bem firme em volta do corpo tentando decidir se me arrumo para trabalhar ou se volto a dormir.
Decido colocar uma roupa normal e dar uma passada na escola ver se Agatha precisa de algo. Penteio o cabelo e desço para a sala. Quando vou abrir a porta para sair sinto um cheiro ótimo que faz algo maligno acordar dentro de mim. Ando robotizada até a cozinha onde encontro um prato forrado de panquecas com calda. Antes que eu possa expressar qualquer coisa já comi metade.
Sento na banqueta e só então noto o papel debaixo do prato. Desdobro e encontro um recado de Hans: “Fui até a cidade atrás de alguém que instale uma linha telefônica e internet, volto mais tarde... E tenta não engasgar. Beijos, HH.”
Chego à última panqueca e começo a ficar triste... Acho que ainda estou com fome, mas não tenho certeza...
– Toc toc!
Me viro no banco e encaro a porta. Os cachos chegam antes dele e sorrio ao ver seus olhos brilhantes. Jeremy entra na cozinha segurando um prato coberto com papel alumínio.
– Oi.
– Oi, te trouxe uma coisa.
Ele coloca o prato no lugar do outro vazio e tira o papel. Minha boca saliva e quase despenco de cabeça na pilha de panquecas. Mas meu senso de educação volta no último segundo, então desço e encontro um garfo na gaveta. Dou a ele e começamos a comer juntos.
– Porque não está na escola?
– Minha mãe me deixou ficar aqui com você.
Mastiga, engole, corta, mastiga... O que eu falo agora? Hum... E se eu não disser nada e apenas avançar e beijá-lo? Certo... Melhor não... Engole.
– Sarah? Ei, estou falando com você!
– Heim?
Minha cabeça gira rápido quando percebo que ele está com o rosto a centímetros do meu. Meus olhos (malditos) desviam de seus olhos para sua boca e de volta a seus olhos.
– Senti falta dos seus olhos.
– Que coisa mais gay de se dizer.
– Eu sei.
Ele então passa uma mão pelo meu pescoço e encosta nossas testas... Quero dizer a ele que me beije logo, mas outro lado meu, que eu nem sabia que existia, berra para que ele prolongue o máximo possível.
– Sabe...
– O que?
– Sei lá... Esqueci.
Jeremy ri e quando penso que desistiu do nada ele me beija. Me esqueço de tudo: do meu pai, do meu castigo e das minhas panquecas. A única coisa que não consigo esquecer é que sei que isso vai dar merda... E uma merda das grandes.
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Preciso de cometários para viver! Sou movida à eles... E vou parar de implorar.
Boa leitura o/