Cowboy Bebop - Depois Do Folk Blues escrita por Jensen


Capítulo 4
Season 30 - I put a spell on you




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Spike estava na mesa de operação. Uma equipe de médicos e enfermeiros parecia preocupada com o estado do homem inconsciente sobre quem estavam debruçados. Nenhuma identidade, nada. Apenas um corte na altura do estômago e um buraco de bala... A bala atravessou a carne muito tempo antes.

– Morfina... Verifiquem os batimentos cardíacos... Alguém faça uma sutura nesse ferimento... Vamos ver se ele tem algum dano interno... Já descobriram o tipo sanguíneo dele?

Mesmo com toda essa comoção ao redor, ele não saia do seu estado de transe... Tantas lembranças o bombardeavam conforme o tempo passava. Ele á não sabia se estava morrendo ou não. Ele nunca se importou, é verdade. No meio de tantas lembranças do passado, uma única lembrança recente apareceu.

Faye! Ele queria viver. Queria viver e dizer à garota que descobriu se estava vivo ou não... A resposta era "sim". A Bebop foi como uma família pra ele, mesmo em meio a tanta indiferença, certamente fingida, entre eles. Jet, Faye, Ed e até mesmo Ein... Todos tinham cuidado com todos.

Tanto quanto ele tinha cuidado com Vicious muito tempo atrás.

– Vicious, você não pode fazer isso... Pense na Julia, pense em mim... Sei lá... Pense no Sindicato!

– Eu estou pensando no Sindicato... E em vocês dois.

– O que você vai ganhar entrando nessa guerra maldita?

– Experiência... Contatos... Armas...

– Vicious!

– Se cuida, amigo.

A guerra em Titã não passava de uma jogada do governo e dos sindicatos. Spike sabia que o lado que ganhasse a guerra, ganharia muitos favores e poder. Mas, ainda assim, não queria ver o amigo partir em algum tipo de missão suicida. O conflito tinha muitos idealistas, mas Vicious não era idealista, o que estava envolvido ali, para ele, era política e nada mais.

As disputas dos sindicatos deixaram as ruas. Já era seguro caminhar por aí sem precisar olhar por sobre o ombro a cada cinco segundos... Mas de que valeu todo esse esforço se ele agora estava sozinho?

– Spike...

– Huh? Oi, Julia...

– Vai à reunião?

– Que escolha eu tenho?

– É verdade. Teve alguma notícia de Vicious?

– Eu não... Desde o dia em que ele se despediu de mim.

– Ele me deixou uma mensagem alguns dias atrás. Disse que o pelotão em que ele está ia fazer uma investida arriscada sobre as linhas inimigas.

– Está tudo bem... Eu acho... Ele é um ótimo soldado.

– Nas guerras urbanas, sim... Quer dizer... Sindicatos não tem morteiros e outras armas de destruição em massa.

– Julia! Ele está bem! Ele tem de estar bem!

– Desculpe... Desculpe... Eu estou muito nervosa esses dias... Fico pensando besteira... Desculpe.

– Não. Tudo bem.

A reunião não teve nada de realmente importante. Spike já sabia que tinha uma missão em breve, nada de que precisasse ser lembrado. O casal de amigos saiu para um bar logo depois.

– Então, Spike... Preparado para a sua grande missão?

– Não vejo muita grandiosidade nela... Parece mais um suicídio.

– Seus olhos...

– Meu olho... O outro não é meu, nunca foi...

– Não ficou tão ruim. Agora você pode dizer por aí que tem heterocromia.

– Essa palavra é nova...

– Não conhecia?

– Não...

– Ela define pessoas que tem cores diferentes nos olhos... É um tanto quanto raro. E ninguém precisa saber que a sua é artificial.

– É... Acho que você tem razão. Posso te fazer uma pergunta?

– Claro.

– Como você se envolveu com o Sindicato?

– Eu estava precisando de dinheiro. Minha família toda morreu... Então a Annie me apresentou um pessoal.

– Entendo...

– E como você se envolveu com o Sindicato?

– Você não sabe? Eu e o Vicious resolvemos vender Bloody-eye numa boate, sem saber que ela era do Mao... Já estávamos bem perto de acabar numa vala com a boca cheia de formigas quando ele apareceu e mandou os seguranças abaixarem as armas... Ele disse que gostou da nossa ousadia.

– Parece que ele salvou a vida de vocês. – A garota riu.

– É... Pode-se dizer que sim... E com toda a certeza. Ah, Julia, preciso ir andando, o dia amanhã será longo, quer que eu te leve em casa?

– Pode ser, se não tiver outro jeito. Há algo que possa te fazer ficar?

– Eu queria ficar. Você sabe que eu adoro beber, mas realmente tenho que ir. Você sabe... A missão.

– É... Pois é... Se passar por qualquer problema, já sabe que pode me procurar. Eu vou ficar naquele esconderijo perto do local do encontro. Sabe como é... Pra garantir.

– Ah, qual é... Tenha mais confiança em minhas capacidades... Minha mira é impecável... BANG!

– Alguém anda vendo muito filme de faroeste...

– Eu assistia muito com o... Vicious.

VICIOUS!

Spike acordou num sobressalto. Olhou ao redor e percebeu que estava num quarto de hospital. Logo ele desmaiou. Ele não estava morto e aparentemente não iria morrer tão cedo... Ele estava tranquilo e lembrou do dia na igreja, naquele dia a sua tranquilidade estava relacionada a saber que ia morrer.

– Spike!

– Julia? O que foi? São quatro da manhã...

– Disseram que... Disseram...

– Quem disse o que?

– O pessoal do Sindicato... Eles ficaram sabendo que o pelotão do Vicious está com status indefinido... Eles se perderam, mas acham que estão mortos.

– Meu D...

– Me desculpe, eu não sabia pra quem ligar.

– Tudo bem... Tudo bem... Ainda tenho tempo para descansar... Embora agora eu não vá dormir nem tão cedo.

Spike não dormiu. Ficou o resto da madrugada pensando no que iria fazer se fosse verdade que o seu amigo estava morto... Ele ainda não conseguia acreditar. Não queria acreditar. Ao meio dia uma mensagem chegou.

"A MISSÃO DEVERÁ SER INICIADA EM QUATRO HORAS"

Relutante, ele pegou as armas, desmontou uma a uma... Depois montou novamente. Carregou todas com cuidado e precisão cirúrgica. Parecia uma piada que ele fosse enviado sozinho para algo assim. Se Vicious ainda estivesse por lá, ele certamente teria apoio.

– Andamos juntos... Morreremos juntos...

– Droga, Vicious...

Estava chovendo quando ele saiu do esconderijo, um buquê de flores numa mão, um cigarro na boca... Ainda faltava uma hora, mas não custava nada esperar com os cabelos molhados. Parou ao lado de um beco. De lá era uma curta caminhada até o local... A igreja... Essa missão deveria ser uma heresia, sem dúvida.

Um contato informou que um sindicato rival estava fazendo uma negociação por um carregamento de bloody-eye. A missão de Spike era simples tanto quanto era arriscada. Ele deveria entrar na igreja, matar todos os envolvidos e sair de lá como se nada tivesse acontecido.

Tão fácil quanto tirar doce de uma criança armada.

O relógio tocou na hora exata e ele saiu caminhando em direção à igreja com o sobretudo pesado pela quantidade de armas que levava. Dava pra acabar uma guerra com todo aquele arsenal.

O padre passou correndo por ele.

– NÃO VÁ LÁ DENTRO, MEU FILHO!

– Por que não?

– Há pessoas ruins lá.

– Pessoas ruins?

– É...

– Então eu tenho de ir... Não posso deixá-los esperando.


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