A coisa mais difícil foi a despedida. Tentei ser o mais forte possível, mas na hora em que ela veio me abraçar, três lágrimas conseguiram escapar dos meus olhos.

– É... tchau! - ela disse

– Vai voltar algum dia? - perguntei, com a esperança de uma boa resposta.

– Quem sabe daqui uns sete, oito anos - ela deu aquele lindo sorriso, pelo qual um dia eu me apaixonei, deixando a mostra seu aparelho, com as borrachinhas rosa-pink.

– Você continua com esse sorriso perfeito!

– Para com isso Jeff!

(OMG! Ela me chamou de Jeff)

– Desculpa, é.. não consigo controlar.

– Bom, agora eu vou indo, nunca vou esquecer de você.

Ela me deu uma caixinha, com o embrulho muito bem feito.

– É pra você - e mais uma vez, o sorriso lindo.

Ela me deu um abraço e dois beijos na bochecha. Não consegui dizer nada além de "se cuida", e quando ela se afastou, fui correndo pro banheiro. Comecei a chorar, e fiquei nisso até o Gustavo chegar gritando.

– JEFFERSON LEADS! PARA DE AGIR COMO UM VIADINHO. SEJA HOMEM! SAI DESSE BANHEIRO AGORA!

Não respondi.

– AH MOLEQUE.. VOCÊ NÃO ME LEVA A SÉRIO NÉ?! SE VOCÊ NÃO SAIR A-GO-RA EU FAÇO AQUELA PORCARIA DE OVO ABRIR PRA VOCÊ!

Aquela ameaça chegou em mim pior do que ele imaginava. Com voz de choro e os olhos vermelhos, respondi, ainda saindo do box onde eu estava me escondendo:

– Muito obrigado Gustavinho, eu já estava muito feliz de saber que a garota que amo foi embora, e agora - solucei - você me vem - solucei - com esta - solucei - notícia! Me traz - solucei - me traz aguá por favor - solucei - RÁPIDO!

Ele foi, rindo, e voltou com dois copos de Fanta Uva.

– Cara, me desculpa, é que eu não sou nada bom bom em consolar, e também, não quero que o Frank veja você chorando.

– Foi nada não, é que realmente eu não estou nada bem, falta pouco pro dia do teste lá, e essa viagem da Deborah me deixou mal mesmo.

E, mais uma vez nossa conversa foi interrompida pelo sinal. Três aulas chatas depois, fui pra casa.

*****

Faltam dois dias. Esse pensamento me perturba. Pedi para minha mãe um celular novo, mas a unica coisa que ganhei foram dez reais e um discurso sobre "Como multiplicar o seu dinheiro" no qual não prestei a mínima atenção. Gastei tudo em doces. A noite, ela liberou meu acesso a internet.

– Uma hora e meia por dia senhor Jefferson!

– Tá bom mãe.

– Nada de dormir tarde!

– Tá bom mãe.

– Cuidado com suas conversas!

– TÁ BOM MÃE.

Escrevi dois e-mails para o Gustavo. Mas ficaram dramáticos demais. Já passava da meia noite. Falta um dia, é amanhã . Fiz uma terceira tentativa, e só consegui escrever:

"Gustavo, é amanhã né.. Me encontra aqui as dez."

Surpreendentemente, ele respondeu dois minutos depois.

"Kra, eu naum vo. Vo fugi pra ksa da minha vó, e vou voltar 3 dias dps"

Um sentimento confuso me tomou. Raiva, ódio.. não sei. Só sei que de alguma forma ele me traiu, ele sabia que eu também queria fugir e nem me convidou! Não sei por que, mas parece que a minha vida é uma máquina de notícias ruins. Dormi

*****

– Jefferson? - era a voz da minha mãe, tão calma, tão meiga.

– Oi mãe! - respondi, ainda morrendo de sono.

– Desculpa te acordar a essa hora, é só pra dizer que se você não quiser, não precisa ir pra escola hoje!

Ufa, uma notícia boa.

– Ah! Valeu mãe!

– Mas vê se arruma esse quarto okay?

– Okay.

No momento em que minha mãe fechou a porta, lembrei do presente que ganhei da Deborah.

O embrulho era pequeno, o suficiente para o presente perfeito. Na verdade, seria perfeito mesmo se fosse só o embrulho, era uma lembrança da menina que eu sempre amei,

Tudo isso me fez lembrar do meu aniversário de sete anos, quando minha tia me deu o tão desejado vídeo-game da época.

Respirei fundo. Aos poucos desfiz o laço. Abri a caixinha. Dentro, havia uma foto dela, sorrindo, com as borrachinhas do aparelho verde-água. Linda!

Havia também uma carta. "Para o meu Jeff"

– MEU JEFF ?! - gritei instantaneamente.

A menina não me dava bola o ano inteiro, e depois que vai embora me chama de meu Jeff?!

Abri a carta, morrendo de curiosidade.