Ezra está dando mais uma volta pelo quarteirão quando finalmente acha uma vaga. Ele estaciona seu velho carro com cuidado, porém, não consegue evitar dar uma pequena batida no carro da frente. Está muito nervoso em relação a esse encontro com Jackie.

Ela por uma lado pareceu meiga e verdadeira. Ezra sentiu como se falasse com a Jackie de anos atrás, aquela que dominava seu coração, que ao chegar perto do homem o arrepiava inteiro, que apenas de ouvir o nome acelerava seu coração. Mas por outro lado teve medo de que estivesse mentindo, que tudo fosse mais um esquema para ganha-lo de volta. Afinal, Jackie já não era mais aquela mulher linda, educada e honesta... Ou era?

A verdade é que o homem sentiu falta de Jackie, como amiga, claro! Mas sentiu, ela o ajudava nos momentos que precisava, e os dois não tinham que se esquivar o tempo todo e sempre que Ezra se sentisse mal, ouvir a voz dela o acalmava. Não a ama, disso ele tem certeza. Mas ver que essa Jackie maravilhosa ainda existe dá uma ótima sensação para o professor.

Sem amaçados no carro, ainda bem. O carro da frente e o dele estavam ilesos da trombada.

O restaurante está lotado, porém antes de entrar na fila checa seu celular, uma mensagem de Jackie.

“Já estou aqui. Está no nome de Leonardam.”

Ezra ri sozinho. Quando ainda estavam juntos, sempre que faziam reservas em restaurantes, ou pediam cafés do Starbucks, colocavam um nome masculino o deixavam metade feminino, com “am” “om” ou “im” no final. Apenas para ver a reação das pessoas em volta. Mas logo bloqueia essa risada. Esse é um vestígio da antiga relação deles, Ezra queria começar uma nova, como amigos. E tinha que deixar isso bem claro para Jackie.

Logo avista seus longos cabelos ondulados, grandes olhos, e seu sorriso. Seu braço esticado e sua mão acenando para ele. Sorria de uma forma que ele não via há muito tempo.

–Jackie! – Ezra solta um sorriso, que é logo cortado quando vê a roupa que ela usa. O vestido amarelo com borboletas. Sempre foi o favorito do professor, pois mostra o lado alegre e honesto dela, diferente das outras elegantes roupas que dominam seu guarda roupa. Ela repara o olhar de Ezra pousando sob seu vestido, e mesmo que minúsculo consegue-se ver um sorriso de conquista em seu rosto.

–Oh! Ezra! – Ela o abraça de um jeito intimo demais. – Achei que você tinha desistido de vir.

–Por que eu não viria? –Ezra fala se afastando, logo pensando que foi uma má ideia ter ido.

Os dois sentam. Jackie olha para os lados fingindo chateação.

–Cadê Aria? Achei que ela viria com você. Para podermos todos começar uma amizade!

Um sorriso sínico brota em seu rosto. Ezra não percebe.

–Preferi vir sozinho. Do jeito que você anda ultimamente, como saber que não era uma armação? – Ezra fala tentando parecer o mais severo possível, mas meio derretido por esse sorriso. Jackie abre a boca para falar e recua, faz de novo até que decide falar, ela parece realmente triste.

–Olha, Z! –Ele a olha desconfiado a ouvir o chamando assim, ela logo corrige. – Ezra, eu falei sério sobre o que disse no e-mail, eu quero um recomeço! É só o que eu quero, sei que pode ser pedir demais depois de tudo que eu fiz, mas poxa, pense se você fosse eu. Você partiu meu coração varias vezes durante os últimos anos. –Ela parece que acabou mais completa – E não foi o único.

–Jackie, - Ela o interrompe.

–Eu vou entender se você não confiar em mim. Mas pelos bons tempos, eu preciso muito de você agora. Lembra que antes de namorados, nós éramos amigos. E eu posso ser como uma irmã mais velha para Aria, ajudar ela nos deveres de casa. Até mesmo com física. Você lembra como eu sou boa! O que acha?

Ele demora um pouco para responder. Pensa nos lados positivos e negativos que isso pode gerar, mas pensa que mesmo se gerar lados negativos, ele não pode deixar sua amiga de lado.

–Acho... –Ele se força a dizer. – Acho que podemos tentar.