90 Dias escrita por Gaby Molina


Capítulo 2
Capítulo 2 - Jem e Tori


Notas iniciais do capítulo

Oláá :33 Awwn, amei os comentários, sério ♥ Mais um capítulo para vocês, espero que gostem :3



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Jem

Her dirty paws and furry coat,

She ran down the forest slope.

The forest of talking trees,

They used to sing about the birds and the bees.

— Dirty Paws, Of Monsters and Men

[Certo, Angie, agora me dê essa droga de microfone]. Jem falando. Olá.

Na aula vaga, eu estava indo para o campo de futebol quando encontrei a garota nova no telhado da pequena construção que um dia fora um celeiro, mas agora era uma sala de artes que parecia um celeiro.

Lá estava ela, com os joelhos dobrados, afastando os cabelos dourados do rosto. Estava escutando música, e cantava baixinho junto.

— Você é inacreditável! — gritei.

Ela ficou tão surpresa que quase caiu do telhado.

— Droga, idiota! — me xingou, tirando os fones.

— Espere um segundo, vou subir.

— Não, vai embora.

— Eu trouxe um bolinho!

Ela pensou por um minuto.

— Tá. Sobe.

Ela não achou que eu estava realmente falando sério, porque pareceu bem surpresa quando eu me sentei ao lado dela. Entreguei-lhe um cupcake extra que eu havia pegado na cantina.

— Belo jeito de ser suspensa no primeiro dia, sabia?

A garota deu uma mordida no bolinho.

— Bom saber.

— O que você estava ouvindo? — tirei o aparelho do bolso dela, e me surpreendi ao deparar-me com um walkman. — Nunca ouviu falar em iPod?

— Nada supera essa belezinha aqui — ela apontou para o walkman, sorrindo levemente.

— Por que está aqui?

— Aqui... Aqui onde?

— Aqui no telhado de um celeiro, novata.

— Não me chame de novata.

— Não é como se eu tivesse escolha, já que você se recusa a me dizer seu nome.

Ela revirou os olhos, e depois me fitou por um longo momento.

— Estou aqui em cima porque estava desesperadamente procurando beleza neste lugar.

— E quanto à minha beleza, bem aqui?

— Quase suficiente — ela zombou. — E então percebi. Olhe para frente, um pouco à esquerda. Nesse ângulo aqui — ela usou os dedos indicadores e os polegares para formar um tipo de moldura de foto. — Está vendo? O jeito que o sol bate na árvore, fazendo sombra no lago. Ignore todo o resto. E imagine uma foto com apenas aquela parte do campo.

— Eu nunca tinha imaginado esse lugar assim — admiti.

— É como a vida, sabe. O que vemos depende do que queremos ver.

— Estou um pouco impressionado.

— Não é tão impressionante assim. Minha mãe me ensinou. Ela é a artista da família. Teria achado esse lugar uma droga. Não seria interessante o suficiente para os olhos de pintora dela.

— Então... Como ela está com a coisa toda de vocês estarem morando em Phoenix?

— Ah, não se preocupe com isso. Ela foi embora quando eu tinha 12 anos.

— Por quê?

— Aparentemente, eu e meu pai também não éramos interessantes o suficiente.

Eu não sabia o que dizer. Virei-me para fitá-la, mas ela continuava encarando a paisagem.

— Sinto muito.

— Tudo bem. Já tive cinco anos para superar isso, obrigada.

— E o que você acha de Phoenix?

— É quente, lotado e sem graça.

— O que vemos depende do que queremos ver.

E então tudo ficou bem, porque eu consegui arrancar um sorriso dela. Pequeno, sem dentes, mas ainda assim um sorriso.

—... Além do mais, quartas-feiras são sempre sem graça — sorri. — É tipo um pré-requisito básico.

— Isso faz um pouco de sentido.

O sinal tocou.

— Hora de voltar. Quer ajuda para descer?

Ela soltou um riso debochado.

— Cai fora — e pulou, caindo em pé graciosamente no chão.

Algo em minha cabeça disse Eu também posso fazer isso, então pulei. Tropecei num balde. Bati na parede. E depois tropecei no balde de novo e caí no chão. Por sorte, tive reflexo o suficiente para amortecer a queda com as mãos.

— Quer ajuda para levantar? — a garota abriu um sorriso presunçoso.

— Cai fora — resmunguei, levantando. — Que aula você tem agora?

— Cálculo.

— Literatura.

— Tchau, então.

— É... Até depois.

* * *

— Eu estava procurando por você! — ouvi a voz de minha irmã mais nova, Victoria, no corredor.

— Tori, você não deveria estar na aula? — ergui uma sobrancelha.

— E você, sr. Irmão Mais Velho Machão? O caso é que... Afinal, onde você estava na última aula?

— Não é da sua conta — entrei na defensiva, não porque achasse que ela ia me dedurar por subir no telhado, mas porque achava que ela ia adorar me encher o saco por causa da garota nova.

— Que seja. Vou descobrir, mesmo. O caso é que Gabr... O sr. Harris pediu para avisar que ele fez algumas mudanças nos horários do último ano, e todas as últimas aulas de quarta-feira serão de Inglês, para que possamos discutir a viagem.

— Então é para valer mesmo, né? — suspirei.

— Sim. Então, o que me diz de irmos para a segunda das três aulas de Inglês do dia? — ela sorriu.

— Você fica sempre tão animada com essa aula.

— Impressão sua, querido irmão.

Deixei que ela me empurrasse até a aula.

Tori

So I think it's best

We both forget

Before we dwell on it

The way you held me so tight...

— Love Love Love, Of Monsters and Men

— Licencinha— sorri para o sr. Harris quando chegamos à classe. Ele me fitou por alguns segundos antes de dizer:

— Muito bem, sr. e srta. Lightbody. Podem entrar. Estávamos começando a discutir Dom Quixote.

— Ah, ótimo, adoro esse livro!

Ele ergueu uma sobrancelha.

— Desde quando lê clássicos?

— Não vejo por que o senhor saberia dizer — defendeu Jem, se sentando.

— Certamente... Hm, quem aqui pode me dizer alguma coisa sobre Sancho Pança?

— Tínhamos que ler esse livro aí também? — perguntei.

Pareceu-me uma pergunta inocente, exceto pelo olhar de "Peguei você" no rosto do professor.

— Grande fã de clássicos, hein?

Quando o sinal tocou, enrolei o máximo possível para guardar o material, a fim de ser a última aluna na sala.

Sentei-me na mesa do professor e encarei o sr. Harris, que estava terminando de corrigir alguma prova.

— Você não deveria ter dito aquilo — censurei.

— Bem, se vai me censurar a cada coisinha, você também não deveria estar sentada na minha mesa, Victoria.

Suspirei.

— Certo, me desculpe. Só não quero que nada ruim aconteça.

— Eu sei. Só não estou acostumado a não conhecer você — ele me fitou com aqueles olhos azuis que não deveriam ser tão bonitos quanto de fato eram. — Ou, ao menos, fingir que não conheço você.

— Bem, você já teve quase um ano para se acostumar, Gabriel.

— Eu só fico pensando... Quando tudo isso acabar... — a voz dele falhou.

— O quê?

— Nada. Você deveria ir para a aula — ele assumiu o tom autoritário de professor que eu odiava.

— Como quiser — bufei e abri a porta da sala.

— Srta. Lightbody.

— Quê?

— Você esqueceu sua bolsa.

Voltei para pegar a bolsa.

— Que seja — e saí dali.

Um aviãozinho de papel acertou minha cabeça na aula de História. Só uma pessoa tinha uma mira tão boa, e só uma pessoa fazia aviõezinhos de papel com bilhetes na sala.

Jem me lançou um olhar preocupado de irmão mais velho e formou como os lábios: "Abra".

Aconteceu alguma coisa? Você parece chateada.

Suspirei. Eu contava tudo para o meu irmão.

Bem... Não tudo. Pelo menos, não recentemente. E não havia nada que eu odiasse mais do que esse distanciamento.

Preocupada com a prova de Álgebra, só isso.

Pude sentir a expressão de "Não acredito em você", mas ele pareceu querer deixar as perguntas para mais tarde.

— Olha só se não é a dupla dinâmica — o professor Goffrey nos encarou. — Algum dos dois ouviu alguma coisa que eu disse? Qualquer coisa?

— Certamente — Jem sorriu.

— Poderia me explicar, então, por que os gregos antigos colocavam moedas nos olhos dos mortos quando os enterravam, sr. Lightbody?

— Com prazer — ele assumiu o tom animado, mas focado, que sempre assumia quando ia dizer alguma coisa muito nerd. — Para ser mais específico, eles colocavam dracmas nos olhos dos mortos. Os dracmas eram moedas de grande valor na Grécia Antiga. Eles as colocavam lá para que, quando o morto chegasse ao Mundo Inferior, cujo era a ideia dos gregos para vida posterior, pudesse pagar a própria travessia, que era feita por um barqueiro chamado Caronte.

O sr. Goffrey soltou o resmungo que sempre escapava de seus lábios quando não queria admitir que meu irmão estava certo.

— Tudo fica mais fácil da segunda vez, hein?

O comentário maldoso me deu vontade de retrucar, mas Jem não pareceu afetado.

— Não para os gregos. Na verdade, para eles, alguém tinha de alcançar o Elísio em três encarnações para ter direito à Ilha dos Abençoados.

— Ele ficou com todo o cérebro quando nasceu, não deixou nada para mim — resmunguei.

— Meus pêsames — o professor zombou.

O último período foi a aula, a partir daquele momento, semanal sobre o que diabos vamos fazer para juntar grana para a formatura.

Estrelando, Gabriel Harris.

E nós.

Como já havíamos decidido começar vendendo cupcakes e ninguém tinha mais nenhuma ideia, o sr. Harris ficou falando sobre como aquilo era sério e deveria ser tratado como tal.

Eu estava apenas observando os olhos dele e contando as vezes que encontravam os meus.

Treze nos primeiros vinte minutos.

Ouvimos uma batida na porta.

— Com licença — a garota nova, uma loura um pouco mais baixa do que eu, entrou na sala de cabeça um pouco baixa. — Aparentemente, hã... trocaram todos os... horários e eu ainda não me acostumei com... Esquece, ninguém quer saber. Desculpe o atraso. Não vai acontecer de novo.

— Como é seu primeiro dia, vou fazer vista grossa. Mas não se acostume.

— Pode deixar — ela assentiu e sentou-se na cadeira ao meu lado.


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