Talvez a minha insensibilidade seja patológica, genética ou sei lá, qualquer uma dessas definições com nomes complicados que dão pra isso. Às vezes acho estranho e me pego pensando que vivo em outra época, que realmente o que dizem sobre “era pra eu ter nascido nos anos 60,70 ou 80”, realmente cai como uma luva pra mim.

Meninas da minha idade, não são mais bvs, e nem tem necessidade de ser. É tudo tão urgente.

Não beijei aos 10 nem aos 12 pouco menos aos 13, por que não achei que fosse tempo de pensar nisso, queria aproveitar ser criança, brincar de boneca! Enquanto as meninas brincavam de troca de beijos e de serem agarradas no colégio, eu brincava de pisa pé, Barbie, com quem será e tantas outras brincadeiras de criança. Também não pensem que o tão esperado momento do primeiro beijo, chegou aos 14 por que não foi, e se lhes interessa saber, até o dia de hoje não beijei, e tenho 15 anos.

Agora o sentimento é outro. Não ligava aos 14, pois nessa idade isso não passava pela minha cabeça, até a minha amiga dar o primeiro beijo dela, fiquei uma ou duas horas pensando “minha nossa quando será o meu?”, e passei uma ou duas noites pensando no meu primeiro beijo com algum cara desconhecido. Depois passou e parei de pensar nisso até que em um curto período de sete, oito meses essa mesma amiga ficar com outros três caras e namorar com um deles.

Até ai a parte do namoro tudo bem por que namorar não esta e nem nunca estará nos meus atuais planos até que eu entre na federal. O que complicou muito a minha mente adolescente foi a minha segunda amiga que até então depois do primeiro beijo da citada acima, se manteve firme e virgem por um ano, dar o seu primeiro beijo e depois disso beijar outro dois caras. E onde eu fico nisso tudo? Bem isso aconteceu mais ou menos em um ano e meio e nesse período, excluindo as cantadas idiotas e olhares rápidos ou intensos de caras que só verei uma vez na vida, apenas um cara quis realmente ficar comigo a ponto de me falar isso, cara esse que me conheceu numa festa, me adicionou no facebook e se “preocupou” em me conhecer ao ponto de descobrir minhas serie e livros favoritos, ele queria ficar comigo realmente. Ai você se pergunta, e então por que não rolou? Por que eu fiquei o enrolando por um mês e depois disse que não dava. Agora vocês entendem o motivo de eu ter começado esse texto falando em insensibilidade patológica?

Na verdade acho que tudo isso envolve mais um medo da minha parte do que qualquer outra coisa, um medo idiota e constrangedor, mas ainda sim um medo, e vocês sabem que com medo as coisas nunca rolam.

Pra ser sincera gostaria de perder logo essa droga de bv com um cara numa festa e que eu não precisasse vê-lo nunca mais na minha vida, mas o bv tem que ser com alguém especial não tem? Desculpe sociedade, mas não estou mais na idade de procurar algum especial.

O que mais me irrita é que no começo desse ano eu não ligava pra isso, não tava nem ai, mas a minha amiga comentou com umas meninas do colégio, calma não foi com todas, foram só as que nós andamos e agora todas me enchem o saco com isso, e pelo menos uma vez na semana tenho que ouvir coisas do tipo: “ah! Isso é por que você nunca beijou, ou você tem que beijar logo amiga”. Vocês tem noção do quanto isso é insuportável? De como eu me sinto constrangida? De como eu me sinto incompetente? Vocês tem noção do quanto eu me sinto mal, por uma coisa com a qual não me importava e passei a me importar por que agora vocês se importam? Meio confuso eu sei. Porém depois disso, de todos esses comentários e todas as frases de incentivo a tirar, eu permaneço virgem.

E nossa eu passei a questionar a minha aparência, eu nunca ligue muito pra isso juro, só pra minha barriga eu odeio ter barriga grande, porém a genética me abençoou com um estômago alto e um corpo de violão o que dá pra segurar um pouco. Agora quer ver como começam as contradições? Ao mesmo tempo em que eu tenho um corpo de violão, eu sou magra, meus braços são tão finos que se eu unir a ponta do polegar com a do indicador pra formar uma pulseira, essa pulseira fecha meu pulso e ainda sobra espaço, ou seja, vamos ferrar com a minha autoestima, tipo tá me vendo lá no fundo do poço, eu estou tentando subir não estou? Jogue água nas paredes e me faça escorregar. Adivinhou minha situação?

Pois é, senhoras e senhores, amiguinhos e amiguinhas que tiveram a paciência de me acompanhar até essa linha, eu tenho algo importante a lhes dizer, eu poderia terminar esse texto com alguma mensagem do tipo não me importo, pois tudo acontecerá no seu tempo e blá blá blá, mas sabe isso aqui não é um artigo de revista teen,escrito por mulheres que estão beirando os 30 e tentam reconfortar adolescentes iludindo- as com a linda ideia de que será especial e de que elas ganharão o garoto mais gato e popular do colégio num típico enredo de filme adolescente americano. Não, isso é a confissão de alguém que esta cansada, desmotivada e um tanto desesperada pra calar a boca das pessoas. Então eu encero essa pequena confissão dizendo que eu espero que até o final desse ano eu possa deixar de ser bv, primeiro para eu poder consolidar a minha fase adolescente e segundo pra que as pessoas parem de me encher, eu não ligo se ainda sou bv, mas quero deixar de ser ,porque quero que as pessoas parem de ligar, e mais importante do que estas pessoas é a minha curiosidade. Sim, infelizmente isso será sobre mim e sobre o que os outros querem que eu faça, talvez seja por isso que sou virgem até hoje, meu desejo de ir contra o que as pessoas esperam, quase exigem que eu faça, sobrepõe a vontade de fazê-las.

Mas tentarei suprir essa “necessidade” juvenil, muito mais por mim do que por qualquer outra pessoa, afinal o que eu quero é ser feliz e sou feliz até hoje mesmo sendo bv. E para as pessoas que se interessam mais pela minha vida “amorosa” do que tenho um recado: O meu dane-se esta ligado para vocês, e como diz Erasmo ou Roberto Carlos ou os dois, e que tudo mais vá pro inferno!