A Canção Permanece A Mesma escrita por Bella P


Capítulo 14
Capítulo 13




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SPINNER'S END, COKEWORTH – Agora

Harry e Ron aparataram em Spinner's End no começo da noite. Teriam chegado mais cedo, mas uma visita rápida ao St. Mungus foi necessária. Ron ainda estava vendo algumas estrelas diante dos olhos e os pulsos de Harry latejavam de maneira incomoda. Por isso, uma aspirina, ataduras e unguento depois e ambos os aurores partiram para completarem a sua missão.

- Lugarzinho macabro este. - Harry se lembrava de Spinner's End das memórias de Snape. E se nas lembranças do professor a rua já possuía um ar extremamente melancólico, ao vivo, sob a névoa noturna de outono, ela parecia ainda mais deprimente.

- Vamos! - Weasley ordenou, mais alerta do que estava antes devido ao analgésico e a poção revigorante que recebeu dos curandeiros do hospital.

Silenciosamente eles atravessaram a rua estranhamente vazia. Poderia ser noite, mas não era tão tarde assim para não haver sinal nem de carros passando ou luzes nas janelas das casas.

- Este lugar parece mais um cenário de filme de terror. - Potter comentou enquanto se aproximavam do número quinze. Ron soltou uma risada diante da ironia: uma família de caçadores vivendo em um lugar que parecia transbordar manifestações sobrenaturais.

Ao chegarem ao número quinze viram que a casa era a única da rua com poucas luzes acesas. A mesma picape de antes, amarelada e empoeirada, estava estacionada na entrada da garagem magicamente inserida na propriedade. Ron aproximou-se da entrada e tentou espiar para além da cortina da porta. E, como da primeira vez em que visitou Spinner's End, o seu esforço foi em vão.

Potter bateu na madeira e o som pareceu ecoar ao redor de toda a casa. Esperaram alguns poucos minutos quando a cortina da porta se moveu, revelando o rosto nada feliz de Daphne Greengrass.

- Você de novo? - ela praticamente rosnou. - E trouxe companhia. - zombou.

- Srta. Greengrass? Temos algumas perguntas, se não se importa.

- Me importo sim sr. Potter. Já respondi tudo o que tinha para responder anos atrás aos aurores e para o seu amigo Weasley. - resmungou e fechou a cortina, dando por encerrada a conversa. Harry e Ron trocaram olhares. Daphne parecia muito na defensiva.

- Greengrass? - Potter gritou para que fosse ouvido dentro da casa. - Por que a sua irmã se matou? - esperou alguns minutos e não ficou surpreso ao ver o rosto de Daphne aparecer novamente na janela da porta.

- Como é? - ela sibilou para os dois aurores.

- As nossas investigações levaram a essa vertente. - Ron explicou.

- Parabéns. - falou jocosa. - Vocês só levaram quase cinco anos para descobrirem isso.

- Daphne. - Harry falou em um tom apaziguador. - Por que Astoria se matou?

- Como vou saber o que se passava na cabeça da minha irmã? Pessoas se matam todos os dias por vários motivos.

- Mas nem todas essas pessoas são caçadores. - a colocação de Ron gerou uma expressão de genuína surpresa no rosto de Daphne. - Caçadores têm um conhecimento do sobrenatural imenso. Logo, Astoria saberia que nada de bom a aguardaria se ela se matasse. Pela crença cristã, suicidas vão para o Inferno e pelo tanto sobre o assunto que vi nos livros em sua casa, começo a acreditar que o Inferno não é algo assim tão insubstancial. Estou certo?

Daphne nada respondeu, apenas os mirou por enervantes segundos e fechou a cortina. Ron e Harry se entreolharam novamente, acreditando que teriam que gritar as suas teorias para a mulher ouvi-los e assim convencê-la a conversar, ou voltar com um mandado, quando o som do trinco da porta sendo destravado chegou aos seus ouvidos.

- O que estão esperando? - ela disse assim que abriu a porta. - Entrem antes que os vizinhos pensem que vocês são dois pedintes que vieram me perturbar. - e deu as costas para eles, sumindo além do corredor.

Harry e Ron se entreolharam pela terceira vez naquela noite e deram de ombros, adentrando a casa e dando um pulo surpreso quando a porta se fechou em um estrondo atrás deles.

Ambos seguiram pelo mesmo corredor no qual Daphne havia desaparecido, chegando a sala atrelada ao escritório e que já era familiar para Ron. O que não era familiar era a figura atrás da mesa do escritório e que fez Harry dar um pulo e sacar a varinha.

- Malfoy! - a reação do amigo fez Ron agir por instinto e também apontar a varinha para o homem escorado na mesa e que ao mesmo tempo lembrava e não lembrava Draco Malfoy.

Quando Harry falou que o ex-sonserino estava diferente, Ron não tinha imaginado isto. Malfoy tinha ganhado mais corpo, o que Weasley supunha ser resultado dos anos como caçador, lutando contra monstros. O rosto não era mais tão pontiagudo, havia uma sombra de barba neste, os cabelos estavam em um tom de loiro mais escuro e ele não usava nem de longe as roupas de grife feitas sob medida que costumava usar quando jovem.

No entanto, o sorriso debochado era o mesmo, assim como a sobrancelha erguida que só ele sabia fazer.

- Sério Potter? O que pretende alcançar com isto? - a voz arrastada também era a mesma.

Harry grunhiu e soltou o primeiro feitiço que lhe veio à cabeça.

- Incarcerous. - todos os presentes na sala esperaram as cordas aparecerem, mas nada aconteceu.

- Expelliarmus. - veio a voz exasperada de Daphne e as varinhas de Harry e Ron prontamente voaram para a mão dela. Em seguida um feitiço não verbal lançou os dois aurores contra duas cadeiras e os aprisionou nessas.

- Ocultar um fugitivo da justiça e atacar dois oficiais do Ministério. A sua lista de infrações anda aumentando a cada segundo srta. Greengrass. - Ron rosnou, lutando contra a forca invisível que o aprisionava na cadeira e perdendo.

- E você pretende chamar reforços como? Posso mantê-los aqui pelo resto dos seus dias e ninguém nunca os acharia. Só não farei isto porque sei que a companhia seria péssima. - Daphne rolou os olhos e Malfoy riu, desencostando-se da mesa e aproximando-se dos dois aurores.

- Um conselho para a próxima vez em que vocês resolverem entrar na casa de um caçadora tão paranoica quanto Daphne: não o façam. A propriedade possui feitiços e sigilos que permitem somente que a sua moradora execute magia aqui dentro.

- Então você esta tão indefeso quanto nós, Malfoy. - Harry provocou.

- Eu ainda tenho uma arma. O que você tem Potter? - zombou.

- Nossa! Estou praticamente farejando a testosterona. - Daphne disse com escárnio e Draco rolou os olhos, dando a volta pela mesa do escritório e retornando a leitura do grosso volume que estava sobre essa. - Mas você ainda não me disse o que Maribel lhe falou. - Malfoy lançou um olhar desconfiado para Potter e Weasley que estavam estranhamente calados. - O quê? Está se preocupando com eles? Para onde você vai nem mesmo o Ministério será capaz de te seguir.

- Para onde pretende ir Malfoy? - Potter finalmente se manifestou. Weasley preferiu permanecer em silêncio, mirando com fúria Daphne que agora folheava um de seus incontáveis livros sobre o sobrenatural.

Draco hesitou antes de responder. Bem, agora não faria diferença mesmo. Para onde iria os aurores realmente não podiam segui-lo e, quando voltasse, o Ministério não teria mais razão para acusá-lo de assassinato. Talvez por fraude e violação de sentença, mas sobre isto ele pensaria depois.

Havia descoberto sobre Maribel pela própria Daphne. A mulher era uma trouxa vidente que ajudou as mulheres Greengrass no passado e quando ela contatou a sua cunhada informando que tinha uma mensagem de Astoria, Draco deu meia volta no carro, adiando a cacada em Sheffield, e acelerou para Meanwood.

- Astoria conseguiu fugir do Inferno...

- E? - Daphne perguntou apreensiva e Draco a mirou com irritação diante da interrupção.

- Ela está no Purgatório. - Greengrass engasgou com a própria saliva.

- Purgatório? - Harry novamente se manifestou e por um segundo Malfoy havia se esquecido da presença dos ex-grifinórios na sala.

- Vocês ainda estão aqui? - Draco resmungou. - Não podemos simplesmente deixá-los ir? - Daphne o olhou como se ele fosse um idiota somente diante dessa simples sugestão.

- As barreiras da casa bloqueiam a magia de alguns bruxos, mas não creio que elas sejam fortes o bastante contra todo o Departamento de Aurores. E Purgatório, você falou. Isso não é bom.

- Em que o Purgatório pode ser pior do que o Inferno? - Ron opinou e foi a vez dele receber um olhar de Daphne que o acusava ser um idiota.

Greengrass não o respondeu e voltou a sua atenção para Draco.

- Terei que falar com os meus contatos. Abrir uma porta para o Inferno já estava se mostrando difícil, para o Purgatório pode ser mais fácil, mas acredito que nenhum caçador o fez antes ou entrou lá de boa vontade.

- Podemos ajudar! - Harry se ofereceu e recebeu um olhar chocado de Ron diante do absurdo que tinha dito. Eles estavam aprisionados em cadeiras e o amigo ainda oferecia aos seus captores ajuda?

O problema era que Potter não podia evitar que a curiosidade se sobreposse ao seu trabalho. Pelo que escutou da conversa, Malfoy estava planejando ir para o Inferno resgatar Astoria antes de descobrir que ela agora estava no Purgatório. Justamente o mesmo Malfoy que no passado só se preocupava em salvar a própria pele.

- Potter, este trabalho requer cérebro antes de músculos e, se eu me lembro bem, o primeiro lhe faz falta. - Draco desdenhou, mas Harry nem ao menos se abalou com as provocações. Não era mais um adolescente para ficar perdendo a cabeça diante de qualquer ofensa.

- Mas conheço alguém que faz bom uso do cérebro. - sugeriu e ignorou Ron ao seu lado o fuzilando com o olhar, pois ele sabia em quem Harry estava pensando.

- Potter, se você sugerir a Granger eu juro que não respondo por mim. - Harry ficou quieto e Draco rolou os olhos e trocou um olhar com Daphne que deu de ombros.

- Você quem decide. - ela disse, pegando o telefone sem fio que estava sobre a mesa em cima de uma pilha de provas não corrigidas. - Eu tenho que fazer algumas ligações. - e foi para a cozinha para ter mais privacidade em suas conversas, deixando Malfoy sozinho com os dois aurores.

- Deixe-nos ajudar Malfoy... - Harry começou, mas Ron o interrompeu bruscamente.

- Nós ainda e muita gente. Que fique registrado que eu não concordo com isto! - protestou enquanto Malfoy olhava longamente para Harry como se avaliasse algo.

- E o que você quer em troca Potter? - Harry o olhou surpreso e Draco riu com ironia. - Posso não ser um caçador treinado desde o berço como Astoria e Daphne, mas aprendi bastante nos últimos anos para dizer que todos têm o seu preço, até mesmo o precioso garoto de ouro do Ministério.

- Por que acha que eu quero algo além de solucionar este caso? Além do mais, quem sairia ganhando seria você. Com Astoria de volta ao mundo dos vivos a acusação de assassinato seria retirada...

- E entraria a violação de sentença e fraude. Eu forjei a morte dos meus próprios filhos, esqueceu? - Harry havia acertado de primeira: Ben e Drew eram Scorpius e Nico Malfoy.

- Hermione é promotora do Ministério, com certeza ela o ajudaria, faria um acordo justo diante da situação. Isto se você deixá-la ajudar.

Draco mirou Potter longamente. Ele havia ficado inteligente com os anos e aprendido a negociar. E se tudo desse certo, ele não queria estar na prisão ao invés de aproveitar os louros de sua vitória.

- Está bem Potter, chame a sua amiguinha sabe tudo. - Harry rolou os olhos.

- Eu faria isto, mas caso não tenha percebido: estou relativamente preso a esta cadeira. - mal ele terminou de falar e um estalo soou pela sala e Harry sentiu o seu corpo relaxar, informando que ele estava livre.

Rapidamente ele se levantou da cadeira e pegou o celular no bolso da calça para ligar para Hermione, vendo de rabo de olho Ron se espreguiçar e estalar algumas juntas.

- Mas eu estou curioso Malfoy. - Ron falou. - Sabemos que você pretende trazer a sua esposa de volta a este mundo... Mas por que ela se matou em primeiro lugar?

- Porque o seu Ministério é imbecil. Talvez eu devesse processá-los pelo morte de Astoria.

- Como é? - Harry perguntou ao voltar para perto deles.

A conversa com Hermione tinha sido breve. Quando ele lhe contou sobre os recentes acontecimentos, que precisavam da ajuda dela, a mulher não pensou duas vezes e disse que estaria em Spinner's End em minutos. E ele sabia que teriam uma Hermione excitada nas mãos só pela maneira com que ela gritou euforicamente no telefone, quase o deixando surdo.

- Bruxos insatisfeitos estavam perseguindo Comensais, fazendo justiça com as próprias mãos. - Draco explicou.

Harry se lembrava desse grupo que pregava que todos os seguidores de Voldemort mereciam a pena de morte. Shacklebolt abafou a propensa revolta antes que ela fugisse do controle, mas infelizmente isso foi depois que alguns ataques ocorreram. E agora que se lembrava, Malfoy foi um dos atacados.

A namorada e ele foram encurralados no Beco Diagonal nas vésperas do dia em que o Wizengamot iria sentenciá-lo. A garota foi contida por bruxos enquanto era obrigada a assistir Malfoy ser espancado a quase morte.

Porque foi isso o que aconteceu.

Draco teve a Marca Negra queimada com óleo fervendo, costelas quebradas, pulmões perfurados, concussão, hemorragia interna e ainda foi esfaqueado em um dos rins. Pelas notícias da época, ele não viveria o suficiente para cumprir a sua sentença. E então, uma semana depois ele acordou do coma do qual os curandeiros falaram que ele nunca acordaria, nas semanas seguintes recuperou-se dos ferimentos até receber alta sem nenhuma sequela do incidente a não ser uma feia cicatriz no braço da queimadura e outra na barriga da facada.

- Suponho que Astoria seja a causa da sua cura milagrosa. - Harry concluiu e Draco gargalhou de maneira seca e zombeteira.

- O mundo sobrenatural pode te ajudar como pode te ferrar. Uma vida em troca de uma alma. E depois de dez anos ela vem ser recolhida por cães infernais e arrastada para a Perdição.

- O quê? - Ron olhou para Malfoy como se ele tivesse enlouquecido.

- É isso o que acontece quando você faz um acordo com um demônio, Weasley. Foi isso o que aconteceu com Astoria.


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