A Canção Permanece A Mesma escrita por Bella P


Capítulo 13
Capítulo 12




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BECO DIAGONAL, LONDRES – 13 anos antes

- Você quer parar? - Astoria disse contrariada quando viu Draco olhar pela enésima vez por cima do ombro, e pegou na mão dele na esperança de distrai-lo de seu breve momento de paranoia.

- Você também estaria tensa horas antes de receber a sua sentença. - resmungou e Greengrass rolou os olhos. Draco estava uma pilha de nervos desde que o Wizengamot entrou em recesso para decidir a pena dele por associação ao Lorde das Trevas.

Por isso, como ideia brilhante para tirar a mente dele do problema, ela o convidou para um jantar no Beco Diagonal. Achou que isso o relaxaria. Ledo engano. A saída estava deixando Malfoy ainda mais estressado. Ainda mais porque as pessoas não paravam de olhar para eles como se o casal tivesse alguma doença grave e contagiosa.

- Mais uma razão para você relaxar. Vai que esta é a sua última refeição como um homem livre? - brincou, mas isto não melhorou o humor de Draco. Pelo contrário, apenas o fez amarrar ainda mais a cara.

- Não tem graça Astoria! As pessoas me olham como se eu fosse surtar a qualquer momento e atacá-las. E você me convidou para sair e está pagando a minha comida... - Astoria rolou os olhos.

Surpreendentemente, apesar de todos os defeitos , Draco era um dos poucos jovens que se recusava a deixar o cavalheirismo morrer. E quando ela o mirou com diversão ao chegaram no restaurante e vê-lo puxar a cadeira para ela se sentar, Draco explicou, com as bochechas rubras, que a sua mãe o tinha ensinado boas maneiras.

E, obviamente, que ele não gostava da ideia de Astoria estar pagando o jantar. O problema era que todos os bens dos Malfoy estavam embargados pelo Ministério até a família terminar de ser julgada. Narcisa havia sido absolvida no dia anterior e voltou para a mansão para prepará-la para o eventual retorno do marido e do filho, tirar da casa qualquer resquício deixado pela presença de Voldemort. Lucius esperava a decisão na prisão ministerial e a Draco foi concedido liberdade condicional.

- Eu não me preocuparia tanto. Harry Potter testemunhou por você e sua mãe. - e era isso que estava irritando Draco mais ainda.

Alem da humilhação de estar devendo a vida à Potter, agora ele provavelmente iria dever a sua liberdade também.

Malfoy sabia que o seu pai não tinha chances de ser absolvido, pois sobre Lucius pesavam várias acusações desde a primeira guerra. Mas com Azkaban sem mais Dementadores a assombrando, Draco ao menos ficava mais aliviado em saber que o beijo o seu pai não receberia. Talvez somente uma perpétua. E com o Ministério agora sob o comando de Shacklebolt, ao menos um julgamento justo os Comensais iriam receber.

O problema era que com ou sem o testemunho de Potter, Draco cometeu crimes de guerra. Permitiu que Comensais invadissem Hogwarts, matando pessoas. E, por isso, uns bons anos de prisão provavelmente estavam inseridos em seu futuro. Mas não era ir preso que amedrontava Malfoy, mas sim como isso afetaria o seu relacionamento com Astoria.

Greengrass não era o tipo de garota que esperava pelo Príncipe Encantado, ainda mais se esse estiver na prisão. Draco temia que com a sentença ele perdesse a única coisa boa que lhe aconteceu nos últimos dois anos.

Novamente ele olhou por sobre o ombro e Astoria bufou.

- Se ficar aqui te incomoda tanto, podemos ir embora. - não é que o restaurante o incomodasse. Ou o olhar azedo dos garçons e os temerosos dos outros clientes. Mas sabe aquela sensação de que alguém te observa e esse alguém não esta nada feliz em vê-lo e planejava coisas terríveis à sua pessoa? Draco estava com essa sensação desde que se sentou à mesa, o que fazia um frio descer a sua espinha e o obrigava a olhar por cima do ombro a cada cinco minutos

- Não. - disse depois de dar uma última espiada por sobre o ombro. - Vamos ficar. Temos direito de ficar aqui e você me prometeu diversão. Uma distração para que eu evite pensar em meu futuro nebuloso. - Astoria somente sorriu matreira para ele e chamou um dos atendentes.

Por duas horas eles conversaram amenidades e saborearam um jantar servido por um garçom mal humorado. Quando a refeição chegou, Astoria brincou e perguntou se ele queria que ela checasse possíveis venenos ou se o cozinheiro havia cuspido na comida. Draco somente fez uma cara de nojo enquanto ela ria.

No fim, mesmo que por pouco tempo, ele esqueceu que estava prestes a ser arremessado na prisão e o Ministério provavelmente jogaria a chave fora.

Entretanto a lembrança voltou de maneira dolorosa quando Astoria e ele foram encurralados por um grupo em uma rua transversal do Beco Diagonal, vinte minutos depois de terem saído do restaurante. E, ironicamente, o líder do grupo era um dos garçons mal humorados do restaurante.

Em uma reação instintiva, Draco colocou o seu corpo na frente do de Astoria, o que ocasionou gargalhadas de zombaria de seus propensos assaltantes.

- O Comensal da Morte achando que tem algum poder aqui. - ironizou o garçom em um tom de tamanho desprezo que Malfoy sentiu um arrepio descer a sua espinha.

- Não queremos problemas. - tentou argumentar em um tom apaziguador. Estava desarmado, a varinha que Potter havia conquistado dele quando fugiu da mansão Malfoy agora era de posse do Ministério, e não queria envolver Astoria em uma briga decorrente de seus erros passados.

- Nós também não. - disse o líder do grupo em zombaria e Draco sentiu o coração vir à boca ao ouvir Astoria dar um grito surpreso atrás de si e logo em seguida não sentir mais o corpo dela contra o seu.

Malfoy olhou por cima do ombro e viu que Greengrass era segurada por dois bruxos que esforçavam-se em mantê-la no lugar. A garota se debatia como uma fera e dava trancos com o corpo que faziam os dois homens cambalearem.

Draco deu um passo na direção dela. Não era do tipo heroico, deixava tais atos para Potter e a sua trupe, mas quando era Astoria a envolvida a história mudava. No entanto, não foi muito longe pois um soco na boca do seu estômago o fez se curvar de dor e perder o fôlego.

Ouviu Astoria gritar alguma coisa. Talvez o seu nome, mas o mais provável foi um xingamento, e tentou se endireitar para auxiliá-la de algum modo, mas um punho feito de chumbo chocou-se contra o seu queixo, o fazendo cambalear para trás.

- Reage seu merda! - alguém gritou ao seu lado, dando-lhe uma cotovelada nas costelas que as fez estalarem. - Não é tão grande coisa sem o seu Lorde das Trevas o acobertando, não?!

Draco até responderia a altura, mas a chuva de socos e chutes sumiu com a sua voz. As ofensas berradas ao pé do seu ouvido faziam os mesmos zumbirem e entre a névoa de dor ele ainda ouvia Astoria gritando e se debatendo contra os seus captores.

Sentiu unhas rasgarem a pele do seu pulso, onde a marca negra repousava, fazendo uma queimação subir por todo o seu braço. Queimação esta que se transformou em tortura pura quando derramaram sobre a ferida um líquido viscoso e fervendo.

Um clique foi registrado pela sua mente em meio a dor lancinante e a voz do líder do bando, do garçom mal humorado, sibilou em seu ouvido:

- Isto é pelo meu irmão.

E algo frio e pontiagudo foi enterrado na barriga de Malfoy, com a dor desse novo ataque sobrepondo-se a todas as outras. Os socos e pontapés pararam, passos apressados soaram pela rua e um grito embargado foi a ultima coisa que Draco registrou antes de ser tomado pela escuridão.

A primeira coisa que ele registrou quando a escuridão finalmente o deixou foi que estava deitado em algo macio, o seu corpo todo doía, mas não a dor agonizante de antes, e o rosto de Narcisa pairava sobre o seu.

- 'toria... - balbuciou, pois a garganta seca só lhe permitia dizer isso. Narcisa fez uma expressão sofrida e Draco se desesperou, remexendo-se na cama, tentando se levantar, mas as mãos da mãe sobre ele o impedia.

- Ela está bem. - declarou a mulher com uma expressão desgostosa que Draco não entendeu. Narcisa sempre aprovou Astoria, então por que do nariz torcido? - E você precisa descansar.

- O que foi... - Draco se lembrava vagamente do jantar, de terem saído do restaurante, entrado em uma rua transversal que servia de ligação entre duas principais e ser emboscado por um grupo de bruxos. Depois disso havia somente dor e incompreensão.

O rosto de Narcisa, se possível, ficou ainda mais torcido.

- Grupos extremistas. Surgiram ao final da guerra. Eles são a favor de todos os Comensais receberam uma pena mais severa e quando digo mais severa, me refiro a pena de morte. Mas o ministro Shacklebolt quer por um fim na intolerância e na corrupção, começando pelo sistema judiciário. Nem todos ficaram felizes com isso, claro. E você não é o primeiro a ser atacado ou receber ameaças.

- Sai um psicopata, entram os psicóticos. - Draco disse em voz baixa, com a sua garganta ainda arranhando. Narcisa ao perceber a rouquidão do filho serviu de um pouco d'água no copo na mesa ao lado da cama dele e o fez beber em pequenos goles.

- Astoria está esperando do lado de fora para falar com você. - disse o nome quase com desprezo, o que estava deixando Draco ainda mais confuso e assustado. - Vou pedir para ela entrar. - completou, colocando o copo novamente sobre a mesa. Em seguida deu um beijo na testa de Draco e saiu do quarto silenciosamente.

Três minutos depois da saída de Narcisa, Astoria entrou no quarto.

Ela estava pálida, com olheiras, a roupa amarrotada e não encarava Draco sobre a cama. Aproximou-se dele a passos lentos, quase arrastados, e torcia os dedos das mãos uns nos outros. Mordia o lábio inferior, o ferindo, uma demonstração do nervosismo que sentia, e quando Malfoy a chamou em um tom baixo, ela suspirou e ergueu os olhos para finalmente mirá-lo.

As íris verdes possuíam a vermelhidão característica do choro as cercando. A ponta do nariz estava rosado e ela fungava um pouco. Draco percorreu os olhos sobre Astoria, procurando algum sinal de ferimento, mas nada viu.

- O Wizengamot chegou a uma decisão enquanto você estava inconsciente no hospital. - mas já? Draco pensou surpreso ao ouvir a notícia. - Você ficou em coma por uma semana. - completou Astoria em um tom sombrio e com um olhar distante. - Há aurores guardando o seu quarto para impedir novos ataques e garantir que você cumpra a pena. - ela soltou um ruído de escárnio. - Como se você tivesse condições de ir a algum lugar.

- E o que... - Draco engoliu em seco, com medo de ouvir a resposta. Seria levado para Azkaban para fazer companhia ao seu pai assim que melhorasse? Astoria esperaria por ele, pela sua liberdade? Qual, afinal, seria o seu futuro?

- Prisão domiciliar por tempo indefinido. O Ministério já se encontra na mansão colocando os feitiços necessários. A sua circulação será restrita somente a propriedade, os seus feitiços serão monitorados e você receberá visitas mensais de avaliadores que irão decidir se a pena poderá ser revogada ou não. - Draco suspirou aliviado.

A decisão não era perfeita, pois não era a liberdade completa, mas era melhor do que nada. Mas a restrição tinha que ser justamente na mansão? Adorava a sua casa, verdade, mas desde que o Lorde das Trevas montou base nela a velha construção não tinha mais o mesmo glamour. Uma aura deprimente parecia sempre circulá-la mesmo com a sua mãe tendo se livrado de quase todos os feitiços e resquícios de Voldemort da propriedade.

E, provavelmente, com a instalação dos feitiços de monitoramento, o Ministério estava se encarregando de retirar os últimos traços de magia negra das paredes e pertences da casa.

- Os bens em seu nome e no de Narcisa serão desbloqueados. Os de Lucius serão leiloados para pagar multas de guerra. - Astoria continuou explicando e Draco agradeceu que boa parte da fortuna Malfoy foi automaticamente transferida para o seu nome no dia em que ele completou dezessete anos. - E eu estou terminando com você.

- Como é que é?! - praticamente gritou. Primeiro ela dava uma lista dos recentes acontecimentos e no final soltava uma bomba daquelas?

- Isso o que você ouviu. - continuou a garota com as sobrancelhas franzidas e uma expressão endurecida.

- Não... Você não pode, eu não... - Draco não tinha palavras para se expressar, porque elas estavam ficando entaladas em sua garganta. Com esforço conseguiu apoiar as palmas no colchão, ignorando a pontada de dor que surgiu em seu pulso direito e subiu pelo seu braço. O seu corpo dolorido protestou pelo movimento, mas o obedeceu, o colocando sentado em seguida.

- Malfoy... - Astoria disse seca, recuando um passo na intenção de se afastar, mas Draco foi mais rápido e em um gesto reflexo segurou a mão dela com força entre a sua, a mantendo no lugar.

- Você não pode me deixar. Não pode! - disse praticamente histérico e isso chamou a atenção dos aurores que estavam de guarda, pois um deles abriu a porta e pôs a cabeça para dentro.

- Algum problema aqui? - perguntou com a voz rouca ecoando no quarto.

- Não! Está tudo bem. - Astoria respondeu em um tom firme, sem desviar o olhar do rosto pálido de Draco. O auror apenas assentiu com a cabeça e fechou a porta novamente.

- Nós enfrentamos uma guerra juntos! - Malfoy rosnou, ainda a mantendo no lugar pela mão e Greengrass não fazia nenhum esforço em se soltar. - Eu sobrevivi a esta maldita guerra por você e agora você vem me dizer que vai me deixar? Não! NÃO!

- Draco... Não seja uma criança petulante e torne isto mais difícil do que já é. Nosso relacionamento estava fadado a fracassar... Os acontecimentos recentes me fizeram perceber isto mais cedo do que mais tarde.

Sofrer o espancamento de um grupo de bruxos revoltados tinha doído menos do que isso. Aquela que foi o seu alicerce durante a época mais conturbada de sua vida estava tirando o corpo fora? Estava desistindo dele depois de ter estado ao seu lado por mais de um ano durante todos os grandes conflitos? No auge da guerra? Era impossível de acreditar.

- Eu não acredito nisso... - ele a puxou pela mão, a fazendo tropeçar e aproximar-se mais da cama. - Eu não acredito – a puxou novamente, a obrigando a se inclinar por sobre ele e aproximando os seus rostos um do outro. - que a garota que não pensou duas vezes em se associar a um Comensal da Morte agora está dando para trás por causa de um simples ataque.

- Draco... - Astoria murmurou com os seus olhos ficando marejados a cada segundo.

Quando retornou ao hospital e pôs-se a esperar do lado de fora do quarto para que Draco acordasse, fez isso já convicta de sua decisão. E assim que Narcisa entrou no corredor e a mirou de cara feia (afinal, Astoria sumiu do hospital no segundo dia de internação de Draco e não deu mais notícias, para voltar quase uma semana depois como se nada tivesse acontecido), dizendo que o filho tinha acordado, Greengrass reuniu o resto de sua coragem e cruzou a porta pronta para dar um fim naquilo tudo.

O problema era que Malfoy não estava facilitando as coisas e justo naquele tinha ele resolvia ser teimoso e finalmente lutar pelo que queria.

- Me dê um bom motivo. Um só para que eu aceite essa loucura. - exigiu e Astoria engoliu em seco. Ela tinha vários, o principal deles impossível de explicar. Queria ser egoísta, queria esquecer tudo o que aconteceu e continuar de onde eles pararam. Continuar vivendo aquele relacionamento nada convencional e longe de ser um conto de fadas. O problema era que este não teria uma final feliz.

Ela tinha certeza disso.

O conto de fadas deturpado dela estava fadado a terminar em tragédia.

- Eu não posso perder você. - disse a segunda razão pela qual ela estava fazendo isto e a expressão de Draco suavizou. Ele a puxou mais pela mão e com o braço ferido envolveu o pescoço dela, a abraçando contra o seu corpo e a obrigando a esconder o rosto na curva do ombro dele.

- Você não vai me perder. Eu prometo. Estarei sempre aqui com você Astoria. Sempre.

A garota soluçou e fechou a mão livre sobre a camisa do pijama que ele usava, retribuindo o abraço de maneira desesperada.

Draco acabou de jurar que sempre estaria ao seu lado, que ela não o perderia. Pena que Astoria não podia prometer o mesmo.


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