Dias de Um Passado(quase) Esquecido escrita por Lexas


Capítulo 15
Capítulo 15




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- Urghhh ...
— Tudo bem com você ?
— Hã ... Maki ? O que houve ? Onde estou ?
— Na casa de Seo . Relaxe, dormiu o dia todo, praticamente .
— Preciso falar com ele .
— Fique deitada . Não tem condições de se mexer .
— Não, é importante .
— Melhor não se mexer, do contrário só irá piorar .
— Não posso ficar aqui - ela se ergue, sentando-se no sofá – preciso encontrar Seo .
Seo ? Desde quando Naru chamava Seo puramente pelo nome ?
— Escuta aqui, ô franga ! Tu vai aquietar o rabo ai ! Já me queimei bastante pra livrar a tua bunda daquelas Sailors, não me faça te dar uma surra pra abaixar seu fogo !
— Uma ... surra ? "timo – ela se ergue, segurando Maki pelo colarinho e o erguendo – que tal agora ?
— Hein ? Mas que porra é essa, ruiva ?
— Anda, Maki ... me dá só um motivo, anda . Meus ossos estão estalando e eu preciso me exercitar, que tal me ajudar ?
— Mas que porra ! Que que tá acontecendo contigo ? Pensei que tinha passado essa sua face de querer lutar, lutar e lutar !
— Nada de mais ... Niichan . Apenas estou com a cabeça fervilhando .
— Apesar da proposta ser imensamente tentadora – uma outra voz chama a atenção de ambos – aconselho-a a largá-lo . O mesmo ficou observando-a durante as últimas horas ... acredito que você queira falar comigo, não é mesmo ?
— Ah, claro ... a dama negra ... Death ... vejo que as Sailors já a batizaram ... o que você fez comigo ?
— Nada que você não tenha permitido . Sabe, aquilo que você fez foi muito bonito, sabia ? Faz tempo que eu não vejo tamanha demonstração de lealdade .
— O que você fez comigo ?
— Não achei que alguém faria isso, se daria de livre e expontânea vontade . Mas também senti que sua lealdade não é para com Meijn, não é mesmo ? Você serve a Seo, fez isso única e exclusivamente por ele, não é ?
— O que – ela coloca Maki no chào – você fez – ela dá um soco de leve na parede, abrindo um rombo nela de onde podia se visualizar outra sala – comigo ?
— Apenas agradeci ao que você fez . Sabe, o espirito de Sailor Júpiter é muito poderoso . A essa altura imagino que ela já esteja morta, mas tanto faz . Eu ia utilizar a energia coletada para me recuperar, mas você chegou toda autoritária, dizendo que eu não tinha o direito de usar essa energia para me curar .
— E nunca vai ter . Meus irmãos permitiram que você os manipulasse para que eles pudessem cometer atos frios como esses ... eles morreram para conseguir essas almas, você não tem o direito para usá-las ...
— E então, disse para eu me alimentar de sua essência . Sabia que poderia ter morrido ?
— Sou uma guerreira ... fiz o que tinha que fazer . No entanto ...
— Eu fiquei muito grata pelo que fez . Tanto que ... aproveitando que você estava dormindo, fiz um breve rastreio em sua alma, sabe . Só para descobrir e averiguar algumas coisas .
— O que queria fazer ? Libertar minhas memórias ?
— Exato .
— Perdeu seu tempo . Eu sempre me lembrei muito bem de tudo o que eu fui .
— Sim, é verdade ... Seo diversas vezes comentava que você era uma das pessoas que mantinham boa parte das memórias ... mas não todas . Agora, ao analisar sua essência, eu liberei todas as suas memórias . Todas . Ainda ficará um pouco confusa ... mas com o tempo, terá total noção de tudo o que você fez no passado .
— Por que você fez isso ? Já não bastava o que fez ?
— Devo lembrá-la que eu manipulei as almas de vocês por que permitiram ?
— Justamente – ela abaixa a cabeça – mas para acatar com os planos de Otousan ... de outro modo, duvido que tivessemos conseguido fazer tal coisa ... ele precisava de guerreiros frios ... pessoas que seguissem seus planos sem serem afetados pela sua sua consciência ... e para tanto, precisava que eles perdessem parte de sua carga moral ... que parte de suas emoções fossem absorvidas, não é mesmo ?
— Exatamente ... mas em você ... em você eu encontrei algo diferente . Algo muito especial, princesa .
— Não sou uma princesa ... sou uma guerreira . Títulos reais nada representam para mim . – ela dá as costas, virando-se para a porta .
— Vê ? Antes você não se lembrava disso ... em verdade, com o tempo você teria todas as suas memórias de volta, sabe .
— Se é assim – ela pergunta sem se virar – por que adiantou o processo ?
— Como eu disse ... foi uma forma de demonstrar o quanto eu estava impressionada com tamanha demonstração de lealdade para com uma pessoa .
— Pois eu – a porta se abre, e os três vislumbram Seo atravessá-la, acompanhado de Sumire – Otousan ! Okaasan ! – a bela moça que aparentava vinte anos se atira nos braços do mesmo, apertando-o e erguendo-o .
— Urgh ! Devagar ... filha .. Devagar . Vai acabar esmagando meus ossos dessa forma !
— Seo, ainda bem que já retornou . Vamos começar agora o ...
— Ele não pode realizar o ritual agora, lembra ?
— Sumire, o que se passa ? Nós já perdemos muito tempo, temos que ...
— Diga o que quiser, mas ele precisa estar plenamente reestabelecido para tanto, e se desgastou um pouco fugindo das Sailors . Amanhã poderemos terminar com tudo . E você também tem o que fazer, precisa sintonizar as essências roubadas, não é mesmo ? Se não fizer corretamente, irá perde-las .
— .....
— E então ? O qe me diz ?
— Está certa ... esperaremos até amanhã ... mas não irei esperar mais do que isso, ficou claro ?
— Como quiser .
— Porra, Sumire ! Comé que cê consegue ? Eu tô a tarde inteira com essa vadia de preto me ameaçando, me ensina o segredo !
— Como é ? Vadia ? Ora, seu verme ...
— Acalme-se . Maki não teve a intenção, não é mesmo ? – ela o encara duramente, e Maki abaixa a cabeça no mesmo instante . Death fica momentaneamente impressionada . Era como se ele possuisse um respeito enorme por aquela mulher, a qual ela tinhas muitas dúvidas a respeito . Mas seus olhos não a enganavam . Eram olhos prateados, possuidores de um brilho jovial, mas que denotavam uma grande experiencia de vida – Seo ... faça o que você tem que fazer . Ficarei aqui protegendo o local para o caso das Sailors Aparecerem .
— Cês encontraram elas ?
— Sim . Na verdade, só uma delas . – Sumire passa a mão pelos seus cabelos , os quais possuiam uma tonalidade cinza tão clara quanto a neve, ajeitando-os – mas isso já foi resolvido .
***
— Comece, filha . Diga-me o que a está incomoda tanto .
— Otousan ...
— Sem rodeios . Vá direto ao ponto .
— Eu ... – ela apertava seu punho – aquela  mulher ... o canalizador ... eu permiti que ela se alimentasse da minha essência . Eu sempre me lembrei muito bem das coisas ... mas ela mexeu em mim . Ela ... ela libertou todas as minhas memórias . E a cada instante, estou descobrindo o quanto isso é verdade .
Ele continua encarando-a ternamente, com aquele olhar de Pai atento ao relato de um filho .
— O que você deseja saber, Naru ?
— O senhor sempre soube, não foi ? Sempre soube que eu não era realmente um dos seus, não é ?
— Faz diferença ?
— Não ... não faz ... eu sabia que alguns te conheceram no passado ... e que outros o senhor adotou por compaixão mesmo, mas ...
— Naru – ele coloca a mão sobre o ombro dela – todos vocês ... todos tivemos um fim terrível . No entanto, não tiveram a chance de descansar, como lhes era por direito . Alguns de vocês eu encontrei nas ruas . Outros, largados em orfanatos . Membros de gangues, membros de péssimas familias, fugitivos, delinquentes juvenis ... e no fundo, aquele sentimento de dúvida, uma pergunta que não queria se calar dentro de cada um de vocês : “quem sou eu” ?
— O senhor me mostrou quem eu era ... mas não fez diferença .
— Não . Entenda, eu sou Nekomi Seo . Seu Otousan . Em verdade estava a procura do meu antigo grupo ... mas cada um que encontrei me deixou tomado de compaixão . Sentia uma imensa dor ao ver que, ao contrário de mim, tantos outros não tiveram tanta sorte . Não criei soldados, criei seres humanos . Eduquei-os, dei-lhes meu amor e carinho. E Sumire também .
— E o senhor sempre disse que podíamos escolher nossos caminhos ...
— Sim . Quando eu disse que finalmente havia chegado a hora, não os inqueri, mas convoquei voluntários . E vocês se ofereceram . Você, Maki, Miki, Shoten ...todos vocês, meus filhos .
— Mas ... o senhor nunca permitiu que eu fosse diretamente para as missões de campo . Por que ? O senhor sempre soube que eu era uma das mais poderosas, que tinha muito mais chances de sucesso . Por que me poupou ? É por que eu sou a sua preferida ? É isso ? Meus irmãos viviam dizendo isso, é verdade ?
— Diga-me você .
— Eu digo ... eu digo que algo dentro de mim diz que não . Não estava me protegendo ... estava, de alguma forma, respeitando algo que eu fui ... mas que diferença faz ? Mesmo que eu não tenha tomado partido nas mortes ... isso não tira minha culpa .
— Correção ... isso não tira a MINHA culpa . Entenda ... vocês seguiram minha ordens ... mas não estavam no controle de suas ações . Em outros tempos, não teriam sido tão frios assim . Nem um pouco . Se algum dia alguém tiver de ser punido por esse massacre, esse alguém será eu, pois encabecei desde o principio tudo isso .
— Eu sei ...
— Minha filha ... não tenha dúvidas ... não hesite diante de suas decisões ... assim como eu não hesito diante das minhas  . Você foi uma poderosa guerreira ... é uma poderosa guerreira ... mas nada tira de você o direito de escolher o caminho que desejar seguir , ouviu ? Ninguém . Já havia traido bastante tudo o que você foi ao te colocar nisso ... não queria continuar .
— O que eu fui ? Eu ... não entendo, mas ... sinto que irei compreende em breve . Sinto todas as memórias fervilhando pelo meu corpo, como se as tivesse vivido há um minuto atrás ... lembro-me de dores, alegrias, tristezas , mágoas ... – ela dá as costas para ele, afastando-se – me desculpe, Otousan ... eu ... eu preciso ficar sozinha .
— Fique a vontade .
— Mas, Otousan ...
— Sim ?
— E ... e se eu não voltar ?
— Como eu disse ... criei seres humanos, não soldados . Tem o direito de decidir o que fará da sua vida, e ninguém, nenhuma pessoa, nenhuma força, nenhuma autoridade pode te tirar esse direito .
— Arigato, Otousan .
— De nada, filha . De nada, Io .
***
Seu corpo doía  . Seu corpo suava .
Mas ela não desistia .
Há quanto tempo estava ali ? Minutos ? Horas ? Não importava .
Já estava há muito tempo tentando descobrir .... tentando interpretar aquilo .
Kléb . Nekomi Kléb . Os nomes “Yosho”  e “Miki” ecoando insensantemente pela sua cabeça .... uma noite chuvosa ...  brigas com outras pessoas ... o mesmo Kléb mais novo, vestindo um uniforme escolar ...
Inútil . Tudo inútil . Já estava convencida de que fora um erro ter ferido a mente dele .
Mas também não se arrependia . Não sentia um pingo de arrependimento . Não daqueles brutos, daqueles animais, daqueles ...
Como ousaram fazer mal a sua filhinha, ao seu amor, ao seu orgulho ? Como ?
E, em meio a tantas memórias, um nome sempre presente : Seo . Nekomi Seo .
Quem era ? O que era ?
Deveria ser muito importante . Seria o mandante de tudo isso ? E pensar que acabou se encontrando com o mesmo horas atrás, quando havia acabado de sair da prisão .
Mas ... quem era ele ? O que era ?
E aquele porco chauvinista ? O que era ?
Afinal ... quem eram essas pessoas ?
A verdade, a tão dura verdade, era que não sabiam . Os mesmos causaram estragos enormes em suas vidas em um curto período de tempo, e nem ao menos sabiam o que eles pretendiam .
Seo ... Seo ... Seo .... quem era esse homem ? Ela o conhecia, tinha certeza de que sim ... mas de onde ? ONDE ?!?!?
Já tinha se passado muito tempo desde que retornara para seu antigo templo, e estivera ali, de pernas cruzadas e com os olhos fechados, analisando a situação .
Outra memória . Ele e outras pessoas que não conhecia . Os rostos não eram tão estranhos . Eram .... as pessoas que ela matou .
Era estranho pensar nisso . Não os conhecia . Sequer teve tempo de interroga-los . Apenas chegou até o tempo e os matou .
Fora tomada por uma ódio mortal, ou um enorme sentimento de perda materna a tomou por completo ?
Não era hora para pensar nisso . Ainda mais com o que estava vendo agora . Estava vendo as memórias dele, como se estivesse lá . E estavam atirando contra as arvores . Mais precisamente, contra algo que se movia entre elas .
Ela quase perde a concentração quando os vê atirando no templo, mas se segura e continua observando . Estavam andando pelo local, como se procurassem algo .
Até que ela vê .
Duas crianças . Uma delas era seu tesouro . Correndo . Até que tem seu caminho bloqueado por Kléb e por outros .
Ela se compadece por completo ao ver aqueles olhos, aqueles olhinhos assustados . Sua filhinha, sua doce filhinha ...
E o garoto de cabelos castanhos espetados e olhos verdes também . Akira . Estava ao lado dela, como se quisesse protege-la .
Era compreensível . Sempre foram muito amigos . De certa forma, tinham muita coisa em comum, seja por eles mesmos, seja por suas progenitoras .
Podia perceber o medo nos olhos dele . Afinal, ainda era um garoto, claro que sentiria medo em uma situação dessas . Mas fora isso, mantinha um expressão dura, como se quisesse afugentar os demais .
Em determinado momento, o menino dá um chute por entre as suas pernas – as de Kléb, mas Rei vê como se ela tivesse levado o chute – e em seguida ele salta, chutando o homem no meio dos peitos e sendo jogado para trás, rolando vários degraus da escada .
Que coragem .... ela quase chora de emoção, ainda mais quando percebe que Kléb havia ouvido as ultimas palavras dele, dizendo para sua filha fugir .
Seu ponto de vista havia mudado . Estava olhando para o começo das escadas, e vendo uma mulher vestindo um vestido vermelho subindo e ... era ela ! Estava vendo a si mesmo, pelo ponto de vista de Kléb . E também viu Amy chegar . E Makoto também . E ....
Fogo . Muito fogo . Consumindo tudo, passando pouco acima dele . E em seguida ....
Ela muda, tentando pegar outra coisa . Sabia o que acontecia, era agora que ela iria ataca-lo psiquicamente . Tal coisa não lhe interessava .
Kléb . Nekomi Kléb . Nekomi Naru – a ruiva que supostamente atacou Akira – Nekomi Maki – O machisca – Nekomi Yuji – aquele que ela havia visto no cento da cidade, quando estava lá em sua forma psíquica, junto de outro, Nekomi Aruma – tantas pessoas ... e tinha também o tal de Seo . Quem era ele ? Parecia ser bem mais velho do que os outros . Mais do que Maki . Nekomi, Nekomi ... esse nome lhe era familiar . Jurava que já o tinha ouvido antes . Que ligação ele tinha com tais pessoas ? Será que eram parentes ? Talvez ... aparentemente ele tinha idade para ser o Otousan da maioria deles .
Hmmm ... seus ... filhos ? Filhos de Seo ?
As memórias continuam . Se não estivesse em uma situação como aquela, teria achado fascinante a vida de Kléb . Nasceu e cresceu em Tókyo .... freqüentou a escola ... candidato a uma vaga na Toudai, apesar de ter falhado na primeira tentativa – devia ser bastante inteligente, pensava . Muito – tinha irmãos .... antes era um fugitivo ... fugitivo ? Mas ... será que ele tinha outro nome ? Afinal, ficar tanto tempo com o mesmo nome sem ser encontrado ... ah, não interessava . Tinha que se prender aos fatos – tantas pessoas ... lembrava-se vagamente de algumas delas, em especial de uma : Death .
Quem era ? O que era ? E por que atacou a escola ? Por acaso queria prevenir problemas futuros ? Minako havia dito algo a respeito, mas não havia prestado muita atenção ...
Outra lembrança . Dessa vez, uma mulher . Uma mulher ...alta ? Baixa ? Gorda ? Magra ? Ruiva ? Loira ? Jamaicana ? Francesa ? Japonesa ?
Mas ... o que estava acontecendo ali ?
Por que não conseguia ? Qual era o problema ? Estava tentando insensantemente desvendar as memórias que absorveu daquele sujeito ... qual era o problema ? Por que não conseguia algo de útil, só informação inútil ? Por que ? Por que ? Por que ? Por que não conseguia ? Onde estava errando ? Onde falhara ?
Simplesmente não aceitava isso . Tanto que sai de seu transe, socando violentamente o chão .
Por que ? Por acaso era tão incompetente assim que nem isso conseguia fazer ?
O que mais tinha que acontecer ? O que faltava ? Outras mortes ? Outros ataque ? Talvez na residência de Amy ? Ou de Makoto, quem sabe ?
Ou outro ataque em massa . Talvez outros bairros . Fora o que ouviu das pessoas mortas, as que aparentemente ninguém dava falta . Quantas teriam morrido ? Cem ? Mil ? Mesmo que estipulasse, sabia que nunca chegaria perto do verdadeiro número .
Talvez o Juuban devesse ser atacado novamente . Ou então um local de grande movimento, como um shopping . Nem seria necessário um grande esforço, apenas atacar alguns pontos especificos, e toda a estrutura desmoronaria . Ou um grande prédio comercial . Ou o metrô . Ou o aeroporto .
Poderiam atacar aviões em pleno vôo, e a queda dos mesmas causaria centenas de mortes . Simples . Muito simples .
E ela simplesmente não conseguia sair daquele estado .
Qual era o problema ? Onde estava errando ? Onde ?
— O grande problema é que você está cansada, totalmente esgotada, e não quer admitir isso . Há dias não tem uma noite de sono decente, e se recusa a se dar por vencida . É muito teimosa, por sinal . Nesse estado em que se encontra, não há nada que possa fazer . Nem se concentrar você  consegue direito .
Rei dobra seu corpo para trás, apóia-se nas mãos e em seguida estica as pernas, erguendo o corpo rapidamente e saltando para trás, Colocando a mão no bolso e puxando sua caneta de transformação, pronta para se transformar, enquanto olha ao redor para tentar localizar de onde aquela voz viera . No entanto, ela não vê nada, nem ninguém . Na verdade, fica até um tanto surpresa, uma vez que não havia nada lá . O templo, as árvores .... tudo havia sido destruído pelo fogo . Tudo . De onde aquela voz viera, e onde estava tal pessoa, uma vez que a mesma não foi capaz de senti-la ?
Porém, esconder-se ali não era tão difícil quando Rei esperava, uma vez que, já que tudo fora destruído, não havia mais nenhuma iluminação por perto, de forma que ela cria uma chama na mão para iluminar o local .
Um erro fatal .
Ela olha para trás, bem a tempo de ver algo curioso : de dentro da escuridão, dois pares de olhos se aproximavam . Ou algo parecido, uma vez que brilhavam em uma tonalidade vermelha, chamando sua atenção .
Os olhos vermelhos a deixam perplexas, brilhando naquela intensidade . Eles a enfeitiçam, fazendo-a perder todo o interesse no mundo ao seu redor .
A chama em sua mão se apaga, e apenas a luz dos olhos é vista, o que a deixa enebriada por estar vendo aquilo .
Os olhos vão se aproximando, cada vez mais rápido . Em determinado momento, Rei expele todo o ar que estava em seus pulmões, caindo de joelhos . Do jeito que estava, ela fita aqueles olhos uma ultima vez, antes de cair .
Estava cansada . Estava muito cansada .
Estava há dias acordada . Havia se desgastado muito lutando contra Death .
Mas o mais importante ... seu tesouro estava há salvo . E ileso .
Diante de tal constatação, ela se permite fazer algo pelo qual seu corpo clamava há dias .
Ela dorme . Apaga por completo naquele chão, ao passo que, no instante seguinte, a luz dos olhos vermelhos se apaga, trazendo novamente a escuridão total para aquela área, e deixando uma sacerdotisa inconsciente aonde antes havia sido um templo .
— Não se preocupe – uma voz que Rei não poderia ouvir se manifestava -  Megumi estará segura . Nós prometemos .
**********
— Mas  ... Otousan !
— Sem reclamação ! Já está tarde, e já é hora de vocês irem dormir !
— Mas não é justo ! – uma garota de cabelos azuis tentava escapar do pijama que ele colocava nela – a gente queria ouvir uma história da Okaasan !
— É isso mesmo ! – o menino que possuía cabelos castanhos como o pai chamava a atenção do mesmo .
— História ? – ele coça a cabeça, surpreso – depois de tudo, ainda querem ouvir uma história ?
O mesmo torce o pescoço . Quando foi buscá-los na casa da sogra,  teve a infelicidade de descobrir que eles ainda não haviam tomado banho – algo que ele esperava que ela tivesse feito – e viu-se na obrigação de cumprir com seus deveres de pai .
E, embora os estragos fossem esperados, ele inocentemente acreditava que ambos, Anchitka e Kinji, seus filhos, estivessem bem mais comportados .
Ledo engano . Se já era duro dar banho em um, ainda mais em dois ao mesmo tempo . E agora, depois de tudo, tinha plena convicção de que teria se molhado menos durante o Dílúvio biblico .
Mas isso não foi nem a metade . O número de surpresas que tivera superou sua cota diária, e o mesmo duvidava que ainda iria terminar .
Se soubesse o quanto estava certo, ele com certeza apostaria alto nisso ...
— Tudo bem, então eu vou contar uma história para vocês dormirem .
— IUPI !!! – ambos gritavam, dando um caloroso abraço nele . Roger pega ambos pela cintura e os coloca na cama, ajeitando-os .
— Vejamos ... o que eu contarei para a minha pequena dupla de gêmeos ? Deveria citar Júlio Verne ? Ou quem sabe Sherlock Holmes ? Ou mais ainda, eu poderia fazer um monólogo a respeito da teoria da relatividade ...
Roger é interrompido quando um travesseiro atinge seu rosto, e outro em seguida . Quando se dá conta, Anchitka e Kinji pulam encima do mesmo,enchendo-o de cócegas e derrubando-o no chão .
— Aiaiaiaiaiaai ! Isso é trapaça ! – ele puxava a menina mas a largava em seguida, visto que Kinji o torturava em áreas criticas – Assim não vale !
Ele rola no chão, escapando de ambos, mas ao se erguer, Anchitka estava nas suas costas, fazendo-o de cavalinho . O mesmo fica totalmente ereto, mas Kinji o empurra, obrigando-o a ficar de quatro, ao passo que o mesmo sobe nas costas dele, o qual agora estava servindo de montaria para os filhos .
— ", e agora, quem poderá me defender ?
Infelizmente essa era uma frase que ele só deveria pronunciar se tivesse plena convicção dela, o que não era o caso .
Anchitka pega um cinto que estava no chão e enrosca no pescoço de Roger, ao passo que Kinji, que havia pegô um jornal e feito um bastão com ele, começa a bater no traseiro do pai, obrigando-o a continuar andando, antes que algo pior acotecesse .
— Isso machuca !
— Quieto, cavalo não fala ! – Anchitka puxava o cinto mais ainda .
— É isso mesmo, o senhor só pode falar se nós o ensinarmos a falar !
— Hmmm ... que tal me ensinarem ?
— O senhor falou ! – Kinji dá uma forte batida em Roger, fazendo-o perder o equilíbrio enquanto se move, ao passo que ele se atrapalha com as mãos e derrapa, batendo com a cabeça no chão .
— Aiiiiiiiiiiii !
— Levanta ! Levanta ! – a pequena de cabelos azuis continuava puxando a “cela” – anda, seu cavalo molenga !
— Shhh, chi-chan ... acho que o cavalo morreu !
— Morreu ? Mas ... mas ... buáááá!!!!!
— Sua chorona ! Não fica ai parada, a gente tem que dar um jeito !
— Mas ... mas ...
— Vamos ressucita-lo, que nem a Okaasan faz no trabalho !
— Hmmm ... tá bom ! – ela dá um pulo, animada – será que a Okaasan pode emprestar algo para a gente usar ?
— Claro ! Vamos até o quarto dela, deve ter algo .
Caido no chão e merecendo um oscar por uma suposta morte, Roger segurava a vontade de rir, diante dos pequenos correndo a casa .em busca de material .
E que imaginação eles tinham ! Ressuscitamento ? Essa merecia o prêmio de idéia mais original ...
— Kinji, pegou tudo ? – Roger olha de rabo de olho rapidamente, percebendo que ela estava com um jaleco de sua esposa, e também com um ôculos da mesma – temos que salvá-lo !
— Salvar ? Ah, mas nem pensar ! Assim não dá manchete – Roger abre os olhos novamente e os fecha para que ambos não percebam a farça . Kinji ... seu filho ... ele ... ele estava vestindo um um paletô igual ao seu, e segurando um bloco ded notas como ... como ... um reporter !
Obviamente as roupas ficaram bem folgadas em ambos .
— Vamos salvar o Otousan !
— Salvar, nada ! Eu quero é publicar a manchete na primeira página ! Parem as máquinas, Mitsukai Mizuno Kinji trouxe uma matéria que vai estourar as vendas ! “Reporter morre após sofrer acidente em casa”!
            - Kinji ! Não seja cruel ! Temos que salvá-lo !
            - Essa é a sua obrigação ...
Anchitka se abaixa, vira Roger e começa a bater no peito dele, fazendo uma massagem pulmonar – um tanto errada por sinal .
— Olhaolhaolha ! Otousan ! O coração dele está batendo !
— Droga ! – Kinji joga o bloco no chão e afrouxa a gravata, visivelmente enfurecido – lá se foi a minha promoção !
— Mas eu salvei uma vida ! Oba !!!!
— Tá bom, sua histérica ! Anda, como prêmio, eu te pago um jantar .
Anchitka estenda o braço para Kinji e esse aceita, e ambos vão caminhando pela casa .
Após ambos sairem, Roger começa a rir frenéticamente . Ambos estavam agindo que nem ele e sua esposa . Iguaizinhos ! Era até engraçada essa imitação dos pais ...
Ele se levanta, ajustando sua roupa bagunçada e caminha até o quarto . Sua esposa não iria gostar de ver os pequenos brincando com seu jaleco, ainda mais depois de lavado ...
***
— Muito bem, meus amores ... agora é hora de dormirem ! Já brincaram bastante, portanto é hora de irem para a cama !
Eles nem reclamaram, estavam de pijama e deitados, sorrindo para ele .
Roger se aproxima e dá um beijo na testa de Anchitka e Kinji, e sai do quarto, desligando a luz .
— Otousan ! Otousan ! Otousan ! – ele olha para trás, ouvindo o chamado de Kinji – e a nossa história ?
— É , o senhor prometeu !
Roger dá um sorriso e, acendendo a luz, caminha até a cama deles . Crianças ... sempre atentas ...
— Ok ... que historia vocês querem que eu lhes conte ?
Anchitka ergue sua cabeça e puxa uma folha de papel que estava embaixo do travesseiro, entregando-a para Roger .
— Essas são as histórias que a Okaasan já contou  pra gente, Otousan !
Desconfiado, ele pega o papel , lendo-o atenciosamente . João e o pé de feijão, Pinóquio, A bela adormecida ...
— Deixa eu ver se entendi ... querem que eu conte uma dessas histórias para vocês ?
— Não ! A gente quer que o senhor conte uma que não esteja na lista !
— Não gostam de João e o pé do feijão ?
— Não gostei, Otousan ! – Kinji balançava os braços para ele – o tal do João é um ladrão, ele rouba um bicho do gigante, invade a casa dele ... isso é errado ! E ele nem queria o animal para comer !
— É ... tem sua lógica . Pinóquio ?
— Ahhhhh ..... eu não gosto, Otousan – agora era a vez de Anchitka .
— Por que não, Chi-chan ?
— Por que eu não gosto ! É muito triste, sempre choro quando a baleia engole o Gepetto ! – sua expressão ficava um pouco triste, coisa que Roger percebe na hora ...
— A Bela adormecida ?
— Isso é coisa de menina ! Ficar teando ? Argh !
— Não é não, seu bobo !
— É sim, sua chorona !
— Mas é lindo ! E o principe lutando contra a bruxa é muito legal !
— Ah, ele foi muito burro ! Se fosse eu, ao invés de atravessar a floresta de espinhos, eu sobrevoava a floresta e pulava de para-quedas, isso sim !
— Aham ... crianças ...
— FOI ELE/ELA QUEM COMEÇOU, OTOUSAN ! – Um apontava para o outro, fazendo Roger balançar a cabeça .
— Certo ... então eu vou contar uma história nova para vocês ... é sobre um menino, Kinji .
— Oba !
— Otousan, eu quero sobre uma menina ! Menina ! – ela cruza os braços, emburrada .
— Nada disso, sua chata ! Conta, Otousan ! Conta !
— Bem, continuando ...  era uma vez um garotinho, o qual era igualzinho a você, Kinji . Ele era esperto, curioso ... e peralta, também .
— Não sou peralta !
— Claro que não, campeão . Ele adorava brincar, jogar bola com os amigos ... enfim, uma criança comum . Um dia, ele resolveu passear com alguns colegas, queria dar um passeio no parque da cidade . Sabe, carrossel, bate-bate, escorrego, casa de bolas  ... tudo .
— Oba ! E de qual ele mais gostava ?
— Da roda gigante . Sentia-se no topo do mundo vendo tudo acontecer . No entanto, ele havia desobedecido sua okaasan . Ela tinha pedido para ele ficar naquele dia com ela, pois teria visitas . Ele não gostou nem um pouco da idéia, claro . Achou que se divertiria mais no parque com amigos, assim ele saiu escondido e foi brincar .
— Ahá ! Sabia que ele faria isso ! – Anchitka entrava no meio do diálogo – só podia ser um menino desobediente ! Malvado, malvado, malvado !
— Olha quem fala ! Okaasan falou pra você não ficar mexendo no forno, senão o bolo não iria ficar bom, e você acabou queimando a mão !
— Você também mexeu no forto !
— Mas eu não queimei a mão que nem você, sua bobona – ele dava a lingua para a irmã – por isso que Amy-mama não me deu bronca !
— Crianças , por favor ... continuando, naquele dia ele se divertiu muito . Andou na montanha russa, brincou na Dança Maluca, foi no Escorrego Gigante, na casa mal assombrada ... e na roda gigante – o tom de voz de Roger diminuiu bastante, tornando-o bastante sombrio .
— O que houve na roda gigante, Otousan  ?
— Nada ... por enquanto . Mas o menino teve a visão mais fantástica de toda a sua vida, amigão . A maior de todas .
(Anchitka) – E o que foi que ele viu  ?
(Roger) – Tudo . Absolutamente tudo . Eram muitos . Grandes, pesquenos, gordos, magros, feios, garbosos ... eles estavam ali, por todos os cantos .
(Kinji) – Eles quem ?
(Roger) – Monstros . Muitos monstros . Dezenas deles . E estavam destruindo o parque todo . Ele ficou com medo e, ao mesmo tempo, impressionado, pois estava tendo uma visão privilegiada daquilo . A roda se movia, e ele via aquilo de perto e de longe .
(Anchitka )  - Puxa, Otousan ... e ninguém impediu eles ? Ninguém salvou o parque ?
(Roger) – Ah, mas ai é que veio a parte boa . Havia super heróis que se moviam pela cidade, protegendo-as de bichos como aqueles .  Eles tinham um nome, mas as pessoas o chamavam de tantas coisas que o nome original deles parou de ser usado, e nós os apelidamos de “Piratas” .
(Anchitka) – Piratas ? Com gancho ?
(Kinji) – E perna de pau ? E bandeira ? E fragatas, que nem no “One Piece” ?
(Roger) – Não , nada disso . Era só um apelido que a gente dava pra eles .Eles estavam lá, enfrentando aqueles bichos feios . E, no fim, um sujeito alto de roupa verde com uma espada acabou com o líder dos monstros, um urso enorme – Roger faz um movimento com as mãos, imitando o corte de uma espada – e o menino viu tudo, e de camarote . Mas alguma coisa muito ruim aconteceu . Um dos monstros tinham atacado a roda gigante, e ela começou a cair . E ele era o único que estava nela . Teve a chance de fugir, mas ficou ali, assistindo a tudo . Ele ficou desesperado, achando que iria morrer . Foi então que ele olhou para céu e viu, descendo dele, a coisa mais bonita que já vira em toda a sua vida : um anjo . Naquele instante tudo havia ficado confuso, e ele só se deu conta de que o anjo o tirou dali e o salvou, colocando-o no chão . Ele estava assustado, de modo que estava abraçando o anjo com todas as suas forças, e ele retribuia o gesto . Quando se separaram, ele observou bem o anjo, percebendo que nào era bem um anjo, e sim uma “anja” . Uma bela anja estava diante dele, sorrindo para o mesmo . Ele ficou de boca aberta, e prometeu que nunca mais iria fazer bagunça ou deixar de ouvir o que sua okaasan e otousan viessem a dizer, pois haviam dito aquilo para o seu bem . A anja se despediu e partiu, mas uma coisa ficou marcada na mente dele para sempre : as asas dela . Escuras . Negras como a mais profunda noite . E, apesar disso, a tornavam o ser mais belo a cavalgar os céus ...  – Roger para, observando a cena . Ambos estavam dormindo, de modo que Kinji abraçava Anchitka, e esta também o abraçava, ao passo que sua cabeça repousava no peito do irmão . Roger se aproxima e dá um beijo em ambos, desligando a luz . Sua esposa ficaria emocionada ao presenciar aquela cena .
Ele já estava .
Ele para, processando informações que passaram despercebidas por ele . Kinji e Anchitka escreveram uma lista ... uma singela e simples lista das histórias que sua esposa contava para eles . Também chegaram a mexer no computador enquanto ele preparava o jantar,  mas ... mas ...
— Espera um pouco ...  eles não sabem ler nem escrever ! Tampouco tem idade para mexer naquele máquina ! Como é que ...
Súbito, enquanto caminha para seu quarto, ele ouve um barulho na sala . O mesmo caminha até ela, imaginando que deveria ser sua esposa .
Ao chegar lá, percebe que não havia mais ninguém no aposento, mas percebe um barulho vindo da cozinha .
Decidido a vê-la, ela vai até lá e, quando chega na entrada da mesma, tem a segunda maior surpresa de sua vida .
A luz da cozinha estava apagada, de forma que a luz da sala entrando pela porta era a única iluminaçào .
Mas ele ainda assim, não acreditava no que estava vendo .
Vestia uma camisa com um laço azul na frente, e uma minisaia realmente sedutora, apesar de possuir diversos cortes . Ele fica atônico por alguns segundos, tempo suficiente para a pessoa se virar e perceber que não estava sozinha .
— Querido ?
Ela balança a cabeça . Foi chamado de “querido”?
A pessoa caminha em sua direção e, parando bem próximo dele, fita seus olhos . Ele começa a suar . Até que algo acontece, algo que ele não esperava .
Ele é beijado .
E apaixonadamente .
Seja quem fosse, o apertava fortemente, como se não quisesse deixá-lo escapar . Naquele momento, ele lembrou que só uma pessoa o segurava daquela forma, com tanto desejo e carinho : Sua esposa  .
Ele retribui, percebendo que algo a incomodava pela forma que ela o abraçava, como se necessitasse estar com alguém ali, naquele momento .
Inesperadamente, ambos roçam na parede, encostando no interruptor e acendendo a luz naquele instante .
Ele pisca rapidamente quando visualiza que, seja quem for, com certeza não era sua esposa , e na mesma hora se afasta .
Mas não era aquilo que o deixava mais preocupado ainda . Aquela pessoa .... o uniforme ... as botas ... era uma Sailor !!!!!
Ela fica parada, não compreendendo o o terror nos olhos dele, até que se dá conta de sua roupa .
—  Querido, eu ... eu posso explicar, eu ...
— Quem é você ? – sua mente começava a se esfriar e seguir um caminho lógico – espere, eu te conheço ... você ... esse uniforme azul ... é a Sailor Mercúrio, estou certo ?
— Sim, você está certo . Eu sou a Sailor Mercúrio .
— E ... o que você veio fazer aqui, na minha casa ?
Ela não se sentia bem, mas ainda tinha noção do que a presença dela estava causando ali  . Poderia ficar a noite toda explicando, contando-lhe sobre o que aconteceu nos últimos dia, falando que a destruição do centro da cidade não fora obra de um grupo terrorista, que o incendio do templo Hikawa não fora um acidente, que o motivo dela ter estado tão reclusa nos últimos dias não era apenas por Megumi ... mas tinha algo que ela tinha que fazer primeiro, algo que provavelmente fritaria os miolos dele, mas era algo que ela devia ter feito há muito tempo atrás .
Amy fecha os olhos e abaixa a cabeça . Roger não deixa de perceber o quanto ela estava machucada e seu uniforme danificado . Haviam contusões na perna, nos braços ... e sangue . Em várias partes do corpo . A linha de raciocinio dele é interrompida quando o corpo da mesma começa a brilhar e, um segundo depois, a transformação de Amy reverte por completo, revelando uma mulher com um jaleco de médico, mas ainda com os mesmos ferimentos .
— Amy ?!?!?!?!?!?!?!?!?!?
Não aguentando mais, seu corpo perde a total sustentação, e ela cai . Demora um segundo para Roger decidir entre ficar surpreso ou ajudar sua esposa, e ele a segura, impedindo sua queda .
— Mas que diabos ... o que está acontecendo aqui ? Amy ... você ... você é uma Sailor e ...e ... o que houve com você ? Por que está assim, toda machucada ?
— Roger ...
— Nem uma palavra ! – ele a carrega até a sala – fique aqui, eu vou chamar uma ambulância !
— Não ! – ela segura seu braço – por favor ... não ... não chame, por favor !
— Amy ...
— Eu ... eu posso me recuperar ... meu corpo pode se recuperar de ferimentos mais rápido do que o normal ... eu só preciso de tempo ...
— Mas você está quase tendo um colapso !
— Não se eu me transformar – ela puxa do bolso de seu jaleco sua caneta de transformação – Pelo poder do Cristal de Mercúrio, transformação !
A cena espanta Roger novamente . Ela ... sua esposa ... A SAILOR MERCÚRIO ?
Ao ver aquilo, percebe que o uniforme dela não estava mais rasgado, mas as feridas continuavam, apesar dela não parecer que iria desmaiar a qualquer momento .
No entanto, ainda estava com os olhos arregalados ... SUA ESPOSA ERA A SAILOR MERCÚRIO ?
— Sim, eu sou a Sailor Mercúrio, e sempre fui . Obviamente eu não queria que você descobrisse dessa forma .
— Amy ... você ... você ... você é uma sailor ? Eu não acredito !
— Fale baixo . As crianças já estão na cama ?
— Acabei de colocá-las para dormir e ... como assim, fale baixo ? Acabo de descobrir que minha esposa fica passeando pela cidade enfrentando monstros de mini-saia e quer que eu não grite ?
Ela arregala os olhos, percebendo o que ele acabara de dizer, e pela reação do mesmo, ele também percebe, de modo que ela emite uma forte gargalhada .
— Não ria ! É sério !
Outra gargalhada .
— Ai, Roger ... só você pra me fazer rir assim, nesse estado – ela coloca o braço sobre o sofá, ainda o encarando – eu realmente lamento por não ter o que dizer para você  . Nunca passei por isso antes .
— Realmente, não é como ter um amante .
— Não, mas é parecido, já que não fui fiel com você . Me desculpe .
— Eu não sei nem se posso te culpar, Amy . Estou confuso demais para isso . Ainda não estou acreditando ... eu devo estar sonhando, só pode . Se me dá licença, eu vou fazer um café para nós dois, e se por acaso eu acordar no meio caminho, saberei que não passa de um sonho .
— Sonho ? O correto não seria um pesadelo ?
— Tá brincando ? Minha esposa na minha sala à noite usando um modelito sexy com uma mini-saia extra curta, e eu vou achar que isso é um pesadelo ?
***
Ele retorna ao aposento, trazendo uma garrafa e copos e, enquanto os coloca na mesa, não passa desapercebido por ele o fato de que Amy estava com algumas ataduras . No mínimo, aproveitou o tempo que ele havia demorado e foi até o banheiro pegar algo para cuidar dos ferimentos .
— Chá gelado ? – ela o olhava enquanto sorvia a bebida .
— Desculpe ... acabei bebendo todo o café ...
— Está tão nervoso assim ?
— Eu nem sei o que eu estou sentindo, Amy . Só sei que é uma situação bastante incomum . Pensando bem, é totalmente incomum !
— Eu sei – ele colocava o chá sobre a mesinha – só é dificil encará-lo depois de esconder isso durante todos esses anos .
— ....
— ....
— .....
— .....
— .... que silêncio matador, não acha ?
Ela não se conteve e emitiu outra deliciosa risada .
— Não parece confuso .
— Depois da quarta chicará de café, estava convencido de que não era um sonho . Anda, Amy . Isso está me corroendo a cada segundo, poderia me fazer o favor  de acabar com essa dúvida toda ?
— Está bem . Eu sou uma Sailor Senshi . Sou uma guerreira que tem  missão como missão proteger minha princesa e futuro soberana . Quanto entramos em atividade, nosso objetivo era encontrar nossa princesa e impedir que um antigo inimigo vencesse uma guerra cujo final havia sido adiado .
— Guerra adiada ? Qual ?
— Depois eu te conto . No fim, encontramos nossa princesa, ela era uma das guerreiras, mas só descobrimos isso bem depois . Seu nome era Serenity .
— Serenity ?
— Sim . Minha principal função era e é protegê-la, mas ao decorrer do tempo, novos inimigos apareceram, assim como novas Sailors . Imagino que se lembre dos vários incidentes ocorridos há dez anos atrás em Tókyo, nào é mesmo ?
— Tenho registros disso em meus arquivos e no meu escritório . Agora que você comentou, algumas reportagens mencionavam que as Senshis na maioria das vezes lutavam  neste Bairro ou nas proximidades dele . É, faz sentido . Alguns achavam que era puro acaso, mas poucos cogitaram que vocês moravam por aqui – ele arregala os olhos, piscando rapidamente para ela – O TEMPLO HIKAWA !
— É ... parece que alguém juntou as peças, e percebeu que Sailor Marte costumava aparecer muito por lá .
— Quem é a Sailor Marte ?
— Rei .
— Rei ? Rei, a okaasan de Megumi ? Mesmo ? No duro ? A sacerdotisa temperamental e ... hã, deixa pra lá . – ele toma outro gole do chá – continue .
— Como dizia, com o tempo novos inimigos e antigos aliados ressurgiam . Sailor Urano, Netuno ...
— Já ouvi falar . Saturno e Plutão também . E umas outras estranhas que surgiram , mas depois sumiram .
— As Sailors Starlights . Eram senshis de outro planeta e ... tudo bem com você ?
— Uma parte do meu cérebro está me mandando correr daqui e gritar, mas outra está dizendo que os meus sonhos de adolescente de encontrar com super-heróis estão sendo realizados, logo , na dúvida, é melhor continuar ouvindo . Continue .
— É só isso que eu posso te contar agora . Todo o mais é relevante, pura perda de tempo e encheção de lingüiça .Há alguns outros detalhes para serem explicados, mas em suma, é isso . Agora é a sua vez, pode dizer o que pensa .
— E o que eu deveria dizer ?
— O que quiser . Menti para você, não te contei a respeito do que eu fazia . Nos conhecemos no segundo grau, e anos depois, eu ainda mantinha esse segredo . Mas não agora . Não mais . Menti para você, mas não tornarei a fazer isso novamente .
Ele continua observando-a, pasmo com suas palavras . As mesmas estavam cheias de mágoa e, ao mesmo tempo, de rancor .
Ele podia dizer o que quisesse, poderia chamá-la de traidora, descarregar toda a sua angústia na mesma naquele momento .
Mas, por algum motivo, sentia que havia algo mais ali . Algo além da mágoa, muito mais .
Algo perturbava sua esposa . Seja o que fosse, a estava corroendo, tomando-a e deixando-a em um estado que ele não estava acostumado a vê-la .
Insegura .
Amy estava precisava de alguma segurança, a qual, naquele momento, ele se perguntava de onde tirar, visto que sequer entendia direito o problema .
Ele poderia simplesmente ignorar tudo aquilo, mas antes que se arrependesse pelo resto da vida, resolveu fazer uma pergunta .
— Por que ? Por que não me contou antes ? Você – ele estava receoso, temeroso da resposta – achou que eu iria te rejeitar, que iria te tratar com indiferença, como uma ... aberração ? Pensou que eu iria achar que você se considerava um ser superior que se achava acima da raça humana ?
— Não – ela repondia a tudo com uma calma que chegava a assustá-lo – Entenda, querido .... sou uma Sailor . Fiz um juramento, e seguirei com ele até o fim da minha vida, ou até o momento em que eu for sucedida – e essas últimas palavras ela falava de forma quase que inaudivel .
— Você ... ficou um pouco receosa quando disse isso .
— Claro ! – ela se segura, percebendo que havia gritado – a sucessão é por primogenitude, e pela primeira mulher da familia . Como acha que eu me sinto ao imaginar que minha princesinha poderia estar por ai lutando em meu lugar, correndo o risco de se machucar terrivelmente ?
— Foi por isso que você não me contou ?
— Também . Entenda, sou uma guerreira . Nasci como humana, mas sou uma guerreira . No entanto, não me agrada que meus filhos tenham tal destino . Não quero que eles sejam obrigados a prosseguir com uma guerra que eu comecei . E se for preciso que eu fique mil anos no posto para impedir que meus filhos tenham que entrar nessa guerra, é o que farei .
— Por que guerra ?
— Por que ? É para isso que tenho esses poderes, para lutar, lutar e lutar, e somente para isso . O que acha das minhas crianças crescendo e treinando para serem soldados ? O que acha que Rei e Makoto fazem com Megumi e Akira ?
— Makoto também é uma Sailor ? Nossa, isso fica cada vez melhor ! Deixa eu ver, pelo tamanho ... Sailor Júpiter, não ? A que lutou em frente ao colégio das crianças , correto ?
— Exato . Ela está treinando Akira para ser um guerreiro desde cedo . Fica dizendo que está educando ele como um Joviano, mas não tem noção do que está realmente fazendo . Um dia ela vai acordar e quando abir os olhos, vai perceber que seu filho não passa de um brigão que só quer saber de lutar cada vez mais, já que fora a única coisa que Makoto o ensinou . Ela vai se arrepender da vida que deu para aquela criança, mas então será tarde . E Rei também . Seu temperamento explosivo misturado com seu orgulho não a fazem perceber que Megumi deve ser criada como uma criança normal para seu bem, e que o melhor a ser feito é ocultar essas coisas das crianças . Para que ? Para elas crescerem sabendo que vão ter que se preparar para a guerra ? Não, eu não concordo com elas . Nem um pouco .
— Mas ... não são elas que devem decidir isso ?
— Como é ?
— Bom ... pelo que eu entendi, tem medo do que sua vida dupla possa fazer com as crianças ... do quanto isso pode me afetar . Mas você fez a decisão que achou melhor . Não acha que elas pensam da mesma forma, resolveram ser mais sinceros com as crianças, achando que elas poderiam se adapatar melhor com isso ?
— Você ... você acha que eu errei ? – havia desespero em sua voz, e o coração da mesma batia mais rápidamente .
— Não disse isso . Só disse que estamos em uma situação bastante delicada . Por um lado eu respeito sua decisão ao achar que um filho não precisa continuar o trabalho do pai . Por outra, eu também respeito a decisão de Rei e Makoto ao decidirem não negar aos seus filhos a cultura que lhes é de direito ... e por um terceiro lado, minha cuca está se fundindo !
— Não acha que isso é um erro delas ?
— Não sei dizer . –ele tomava mais um gole de chá – minha cabeça está a mil por hora . Eu me pergunto se grito com você ou se demonstro respeito pelo seu sofrimento,então decido continuar pensando mais um pouco . Começamos descobrindo seus segredos, e agora estamos discutindo sobre a criação das crianças !
— Significa que eu escolhi bem meu marido – ela sorria docemente para ele e se aproximava,sentando-se no mesmo sofá e tocando em sua mão – Eu quis esconder isso de vocês para não colocá-los em perigo . Não queria que por algum acaso minha vida pessoal fosse tomada pela minha vida de guerreira, me desculpe . Eu ... eu tive a chance que outras não tiveram, e a desperdicei . Makoto, Rei e Minako nunca tiveram alguém para que suas crianças pudessem se espelhar ... me desculpe, querido .
— Eu te desculpo ... mas ainda estou confuso com tudo isso . É muita coisa para se assimilar de uma vez só . Acho que ainda vou levar um tempo para me acostumar . E agora fiquei curioso para saber o motivo de você ter tanto ódio do que você é .
— Não tenho ódio de ser uma mercuriana .
— Não ? Foi o que me pareceu, do jeito que falou . É como querer esconder que você nasceu na alemanha .
— Não tem a menor comparação .
— Claro que tem, querida . É como querer esconder que você é uma Alemã por causa dos horrores da segunda guerra, ou ter vergonha de ser americana por causa da bomba atômica, renegando assim sua identidade cultura . Ou dizer que não é judia, por que você tem vergonha de pertencer a um povo que no passado massacrou outras nações . Ou esconder sua origem espanhola por causa dos massacres que eles promoveram nos povos nativos da América, ou então ...
— Afinal, aonde você quer chegar ?
— Que da mesma forma que você considera o meio delas educarem sues filhos como errado, elas podem te acusar de esconder dos nossos filhos mais do que devia . Não que eu esteja te acusando, mas a situação é assim . E querida ...
— Sim ?
— Tem algo mais que você queira me dizer ?
— Por exemplo ?
— Tipo assim, esses ferimentos ... ou o fato das crianças saberem ler e operarem meu computador, por exemplo ...
— Hã ....
— Sem problema . Na altura do campeonato, estou apto a aceitar qualquer explicação .
— Bem ... eu ... eu tive medo, querido . Quando tinha a idade deles, era uma gênia solitária, não tinha muitos amigos, era sozinha, só tive amigos de verdade quando conheci Usagi e as garotas ... eu tive medo que isso os deixasse retraidos ... que afetasse sua vida ... suas escolhas ... suas formas de ver o mundo ...
— Então ... você se esforçou ao máximo para inibir essa “essencia mercuriana” que existe dentro deles, certo ? Se esforçou para que eles não demonstrassem qualquer diferença de outras crianças, não é ?
— Sim . Eu tinha medo . Tenho medo . São duas crianças normais, que vivem perfeitamente suas vidas . Quando começaram a fazer coisas que crianças de suas idades não faziam, procurei esconder, as vezes dizia pra não fazerem mais, para não dizerem a mais ninguém que faziam isso .
— Tanto medo assim ?
— Muito mais . Recentemente eu tive uma surpresa . Eu adaptei meu celular para rastrear e analisar certos padrões de energia .
— Fez isso com seu celular ? Nossa, eu casei com uma gênia !
— Justamente . Eu estava analisando Akira recentemente e ... e ... querido – os olhos dela se arregalaram, como se demonstrassem um terror há muito oculto – aquele garoto , ele ... ele tem muito poder dentro de si ! Muito !
— Olha, sei que ele tem muita energia, que não se cansa facilmente, e é um pouquinho forte, mas ...
— Ele poderia me vencer ... há dez anos atrás .
— O QUE ?!?!?
— Isso que você ouviu . Quando as senshis apareceram na Terra, e os jornais de todos os lugares estavam tentando descobrir quem eram ... bom, o nível de poder de Akira equivale ao mesmo que eu tinha nessa época .
— Nossa . Quer dizer ... isso deve ser muita coisa, não é mesmo ?
— Depende do ponto de vista . Eu era uma das senshis mais fracas . A única coisa que podia fazer era gerar uma névoa para prejudicar a visão das pessoas . Minha força e resistencia fisica nunca foram grande coisa, mal se comparavam com a de Sailor Júpiter, tampouco era uma guerreira com um espirito guerreiro e agressivo como Rei .
— Já sei, a Sailor Marte, você já havia contado . Quem são as outras que você ainda não contou ?
— Usagi é a nossa Líder, a sailor Moon, Minako é A Sailor Vênus, e Mamoru, o Tuxedo Mask .
— Tuxedo Mask ?
— Sim .
— Hmmm ... não me lembro muito dele .
— Ele ... ele veste um fraque e usa uma bengala durante o combate .
— No duto ? Espera ... lembrei ! Céus, que coisa mais rídicula ! Como ele tem coragem de sair assim na rua ? Pensando bem ... vocês não tem vergonha de sair na rua com algo tão curto assim ? Quer dizer ... faz frio, não faz ?
— Engraçadinho – ela estala um beijo nele – obrigado por compreender, querido . Muito, mas muito obrigado, mesmo .
— De nada . Você dizia ... ?
— Como eu dizia ... nunca fui tão forte e resistente como Makoto ... nunca tive um poder de ataque tão destrutivo como o de Rei ... certo, Minako era parecida, mas ela tinha um que especial, sabe, que fazia ela sempre se dar bem ... tampouco era tão poderosa quanto Usagi . Mas eu não tinha vergonha do que era . Cada um tem uma função em um grupo, e mesmo que eu estivesse ali apenas por uma questão tática, ainda tinha minha utilidade . Perdi a conta de quantas vezes essa Senshi “fraca” salvou o dia . Mas a questão não é essa . Mesmo fraca, eu ainda era superior a raça humana . Era mais rápida, mais forte, mais resistente ... não tanto quanto minhas colegas, mas era . E uma criança como Akira tendo essas mesmas caracteristicas é algo que eu não posso conceber .
— Bem ... foi você mesma quem disse que era a mais fraca .
— A questão nem é essa . Eu sou uma senshi . Sou de uma Elite . As guerreiras mais fortes , incubidas de protegerem a princesa . Tem idéia do que isso significa ? Significa que eu era mais poderosa do que muitos outros guerreiros, do que muitos outros guardas do palácio . Como uma criança pode se equiparar a nós assim, tão cedo ? Não imaginei que treinar em estilo Joviano pudesse fazer isso . Não queria que algo acontecesse com minhas crianças . E se de repente elas começam a saltar pelos telhados, congelar as coisas, e resolverem brincar de super-heróis pelas cidades ? E se algo acontecer com elas ? E se não voltarem ? Eu temo isso e muito mais . E se for preciso renegar minha herança mercuriana para manter isso longe delas, é o que farei . – ela abaixava a cabeça, encostando-a no peito de Roger . Em seguida ela a ergue, e o olha com aqueles doces olhos, como se implorassem por consolo – me ajuda ?
E essa agora ? Ela estava pedindo para que ela o ajudasse a evitar algo que ele nem compreendia direito . Ocultar delas sua herança cultural ? Era algo estranho de se fazer ... algo perigoso ... e mais tarde ? As mesmas não se sentiriam enganadas ? Traídas, talvez ? Ele não sabia . A única coisa que ele conseguia pensar era se ele fosse alemão e sua esposa pedisse para ocultar de seus filhos que eles são alemães, para que eles não se tornassem o que os alemães foram . Era como se ela jogasse ralo abaixo toda a cultura, todo o desenvolvimento cultural do povo Alemão, todas as suas proezas e feitos, todas as suas participações através da história, toda a sua contribuição para a história mundial ... era como se ela etivesse jogando tudo isso no lixo e passasse apenas a enxergar os alemães por causa da Segunda Guerra Mundial .
No entanto, era sua esposa . Não estava certa, mas não estava errada . Acima de tudo, era mãe de duas crianças ... crianças as quais eram prodigios, e tal coisa não poderia ser obstruita por muito mais tempo .
— Eu vou fazer um trato com você . Não vou contar para as crianças sobre tudo o que elas podem ser ... mas também não serei contra elas . Vou deixar que os instintos delas falem por si .
— Não vai dar certo ...
— Será que não ? Ser um judeu não é apenas ter sangue judeu, assim como ser japonês não é apenas ter sangue de japonês . É preciso muito mais do que isso . Está na mente  . Está na alma . É a identidade cultural que aflora dentro de cada um . E se isso for forte nelas, bom, me desculpe, mas nada do que você fizer irá fazer efeito . você só estará se enganando, achando que está escondendo deles o que você realmente é .
— Quer dizer que aprova o fato deles poderem estar por ai, arriscando a vida e correndo o risco de não retornarem ?
— Não ! Estou dizendo que se eles forem mercurianos de verdade, e não me refiro ao sangue, nada que você fizer terá resultado . Mais cedo ou mais tarde você irá perceber neles caracteristicas que só são encontradas em seu povo . Ai, vai se sentir extremamente mal, pois vai achar que seus esforços serão inúteis, ou ...
— Ou ... ?
— Você pode mostrar a eles a maravilha de sua cultura . A beleza que habita nela . Pode mostrar que há muito mais do que as Sailors . Eu mesmo me recuso a acreditar que a sociedade Mercuriana se resumia à sailor Mercurio . Me recuso e não faz o menor sentido . Você disse que Makoto está ensinando Akira a ser um guerreiro, e Rei também ... você acha que é só isso ? Será que elas não estão ensinando aos pequenos sobre suas culturas, contando histórias de seu mundo natal, comentando sob antigos feitos, cidades importantes, periodos históricos, em fim ... acha mesmo que elas não estão passando para as crianças a cultura de seus povos ?
— Eu não sei .... não sei, mesmo . É tão estranho isso ... estou acostumada a uma vida humana ... meus filhos são humanos, em parte . Agem como humanos . São inquietos, mas isso é da idade deles . É tão dificil assim imaginar uma vida mais tranquila ? O meu mundo natal, Mercúrio, foi devastado a milhares de anos, assim como os outros ... para que reviver uma cultura que nem vestigios deixou ? Que diferença fará na vida das crianças ? Que diferença fará na minha vida ? Eu quero ser apenas uma dona de casa, cuidar dos meus filhos e estar com o marido que escolhi como meu ... é pedir demais ?
— Não ... não é – ele a abraça ternamente, e seus lábios se tocam . Naquele momento, ele sentiu todo o peso do corpo dela , a esforço que ela estava fazendo para se manter assim .
Amy estava ferida . Fisicamente e psicológicamente . E como tal, precisava de algum conforto, coisa que ele estava se esforçando para providenciar . Afinal, não era todo dia que você descobria que era casado com uma super-heroína que foi parte de suas fantasias adolescentes .
Não sabia o que faria dali por diante . Não sabia, mesmo . Era tanta informação de uma hora pra outra, que ele mal tinha tempo para processá-la . Nãoo era como algumas de sus reportagens de ultima hora, era algo mais complicado ainda .
Mas de uma coisa ele tinha certeza . Havia algo de que ele não nutria a menor dúvida : Amy . Ela era sua esposa, sua amada, a mulher que escolheu, sua eleita para passar a vida ao seu lado, e que não houvesse dúvida alguma a respeito disso . E nesse exato momento, ela precisava de apoio e conforto, e seria isso que ele faria . Sentia-se um pouco traido e enganado por ela ter escondido isso dele por tanto tempo, mas não era a melhor hora para jogar isso na cara dela . Não ali, nem agora . Talvez depois, quando ela estivesse mais descansada e curada de seus ferimentos, e o mesmo estivesse com a mente mais relaxada .
Mas que aqueles ferimentos o haviam deixado bastante curioso, deixaram . Onde os conseguiu ? E os cortes ? E as contusões ? E por que ele tinha a estranha sensação de que ainda havia muito mais a ser resolvido ?
Um pouco mais relaxada, Amy segurava firme seu marido . Estava ferida . Algumas horas como Sailor Mercurio e seu corpo estaria totalmente recuperado ... mas continuaria ferida .
Acabou de levar um dos piores tapas de sua vida .
Seo . Seu professor .
Seu mentor .
Seu ... inimigo .
O que ela tinha na cabeça ? No que estava pensando ? Havia realmente achado que ele iria querer apenas conversar ?
Não sabia o motivo, mas teve um desejo enorme de ir até a Toudai . Sabia que a chance de encontrá-lo ali era incrivelmente remota, mas ainda assim, ela foi .
E o encontrou .
Parado lá, observando a construção, diante de seus olhos, estava Nekomi Seo, Reitor da Universidade de Tóquio, também conheicda como Toudai ... e pai de Nekomi Maki . E de Nekomi Naru . E de Nekomi Miki . E de Nekomi Yosho . E de Nekomi Shoten .
E de todos os outros .
Eles ... eles ... ele era o pai de todos ! Eles eram filhos de Seo !!!
Mas ... como ? E que tipo de pessoa era aquela que mandava seus filhos para a guerra, sabendo dos riscos ?
Teve a chance de acabar com tudo aquilo de uma vez por todas, dar um basta a tudo o que aconteceu, mas não conseguiu  . Inexplicavelmente, Seo não reagiu . Estava imóvel, como se ignorasse o mundo .
Ou como se estivesse pronto para receber sua punição .
Infelizmente, Sumire não pensava assim .
Sumire . Professora Sumire .
Não a conhecia tanto quanto Seo, seu relacionamento com a mesma se resumia a alguns encontros nos corredores da Universidade .
Não que fizesse qualquer diferença .
Estava impressionada . Com exceção do mendigo que encontrou, da ruiva que deu uma surra em Akira e da tal dama de preto que Makoto e Rei enfrentaram, não tinha encontrado outra inimiga assim, tão perigosa . Chegou a cogitar a hipótese de terem se tornados tão poderosos, que os inimigos é que pareciam muito inferiores .
Mas não aquela mulher .
Ela ... ela a venceu ... a derrotou ... facilmente !
Podia ter acabado com tudo aquilo, só precisava deter Seo, mas aquela mulher ... Sumire ...
No fim, acabou com alguns ossos quebrados, os quais já estavam em posição para se recuperarem ; vários hematomas pelo corpo todo, e cortes, vários cortes . A maioria não estava visivel,mas doiam . E muito .
Mas ... por que aquilo ? Por que ?
Seo ... seu mentor ... por que ele fazia tal coisa ? Ele era um homem sábio, inteligente ... atento as mudanças do mundo ... em verdade já o ouvira dizer incontáveis vezes que as pessoas mudam dependendo do periodo em que vivem . Será que ele se referia a isso ?
Não, não podia ser . Justo ele que sempre se preocupou com o desenvolvimento e aprendizado de seus alunos e que não deixou a promoção lhe subir a cabeça ...
Não fazia sentido . Nem um pouco .
O que faria uma pessoa como ele fazer tais coisas, tomar tais atitudes ? O que ? O que ?
O que ?
*****
— Joshua ? Joshua ? Diabos ...POTIFIA !
— Algum problema, querido ?
— Todos ! Onde está esse garoto ? Estou há horas me esgoelando e nada dele !
— Querido ... relaxe . Vai acabar se extressando assim !
— Já estou extressado ! Onde está o meu filho ?
— “Meu” filho ? Pensei que fossemos sócios nesse “empreendimento”!
— Pais criam os meninos, mães criam as meninas . JOSHUA !!!!!!!
— Até parece que ele vai te ouvir desse jeito .
— Isso é um absurdo ! Onde está esse rapaz quando eu mais preciso dele ?
— Querido ... nosso filho já não é um garotinho . Deve ter coisas mais importantes para fazer .
— Importantes ? IMPORTANTES ?!?!? Eu estou prestes a receber um grupo de alunos, e a única pessoa com a qual eu poderia contar tem coisa mais importante para fazer ? Potifia ... importa-se de me explicar o que seria, por que acho que eu pulei essa parte da minha juventude !
— Se divertir, por exemplo . Lembra-se do que é isso ?
— Lembro-me muito bem, mulher . Muito bem, para falar a verdade . O que me lembra aquele jantar beneficiente que você promoveu com aquele bando de velhas gordas para levantar fundos  ....
— O qual bancou os custos dessas primeiras excursões, devo lembra-lo ...  – ela cruza os braços, encarando-o com um sorriso no rosto do tipo “te conheço o suficiente, benzinho” – Ami, meu amor ... relaxe . As naves só entrarão no espaço aéreo em cerca de duas horas . As acomodações já foram preparadas . O trajeto também . O material educativo já está pronto . E só para lembra-lo, fora seu filho quem organizou isso tudo com bastante antecedência ...
— Hmmm ... – ele faz um bico, imaginando como escapar daquela situação – certo, tem razão, estou me preocupando à toa . E Potifia, meu bem ... poderia por favor parar de me chamar de “Ami”  ... em público ? Vamos deixar nossos tratametos íntimos para outra ocasião, certo ?
— Já sei, já sei – ela dá um tapa de leve no ombro dele, ajeitando sua camisa – “estamos aqui como representantes de nosso povo, logo temos que dar o exemplo .”  Já decorei seu discurso, meu bem . Afinal, sou quem escreve a maioria deles, não é mesmo ? – ela dá um sorriso, e ele dá um pulo em seguida ao sentir uma mão descer delicadamente pelas costas, passar pela cintura e agarrar com todas as forças as suas nádegas – hmmm .... sabe ... Josh está crescendo ... já cresceu ... deve fazer muito sucesso entre as garotas por aqui ... daqui há pouco já vai estar se casando ... e eu acho que vou ficar bastante solitária, talvez fosse a hora de providenciarmos outro mancebo .... – ela continuava com as mãos ali, apertando com força, com desejo .
— Aham ... depois, por favor .
— Puxa ... você sabe mesmo estragar um clima, não é mesmo ? Lanzorei Amistasi, as vezes você é tão grosso ...
— Obrigado .
— Não me referi a isso – ele dá um grito quando ela encrava as unhas em seus gluteos – mas acho que você está se preocupando demais com isso . Relaxe . Eu estou aqui, lembra-se ? E como nossos anfritriões costumam dizer ... “seja sincero consigo mesmo, e tudo correrá bem”.
— Claro que eu me lembro ... sinceridade é a “alma” do negócio por aqui . Na verdade, acho que meu garoto esqueceu desse detalhes, por que eu sinto que ele está escondendo algo de nós .
— Por que pensa assim ?
— Conhece um motivo melhor para ele sumir justamente no dia em que eu mais preciso dele ? Como ele pode sumir justo quando a excursão chega ? É muito trabalhoso passar a cultura desse povo não sendo dele, e fica mais difícil sem a ajuda daquele que mais se acostumou com isso, sabe .
— E também é muito difícil desmentir para esse povo a imagem de “cabeça-quente” que nós temos ...
— Nào comece ... sabe muito bem o quanto foi dificil fazer as pessoas daqui crerem que nós não somos um bando e pessoas esquentadas que só pensam em guerrear, guerrear, guerrear .
— E você tem feito um excelente trabalho, diga-se de passagem .
— Nós temos feito . Admito que representar nosso povo é uma honra, mas me satisfaz muito quebrar a falsa idéia que esse povo e o nosso tinha um do outro . MAS ONDE ESTÁ AQUELE GAROTO ?!?!?
— Ele nào é um garoto ... já é um homem .
— Escuta ... não era para eu dizer que ele é um homem e deve assumir responsabilidades, e para você ficar protegendo-o, enfatizando que era seu "menininho" ?
— Querido - ela coloca o dedo na boca do mesmo, como se pedisse para ele calar a boca - daqui há pouco, um grupo de estudantes estará aterrissando aqui, e caberá a nós conduzir essa excurssão . claro que teremos ajuda, voce sabe disso melhor do que ninguém . viemos até aqui para representar nosso povo , mas pelo visto, nosso brilhante filho acabou sugerindo, como sempre, que seria uma ótima oportunidade para promover um intercâmbio entre ambos os povos, para um conhecer o outro, para compreender de verdade, e não apenas o que ouviu de outras pessoas . Da mesma forma que esses estudantes vào ficar muito surpresas ocm o que descobrirão, nosso anfritriões também ficarão ao conhece-los, afinal, muitos se ofereceram para hospedá-los durante todos esses dias . É uma chance de ouro para se conhecer os aspectos culturais uns dos outros . aproveite esse momento, afinal, você adora coisas assim, não é ? Quanto ao nosso filho ... ele deve estar a caminho ou, se por algum acaso esqueceu disso, tenho certeza de que é por algum motivo muito importante .
***
Chato, chato, chato .
Aquele dia estava sendo terrivelmente chato .
Veja só sua situação . Aquele deveria ter sido um belo dia, no qual ela estaria se divertindo e, ao invés disso, lá estava ela, presa aos seus afazeres .
Esse era o problema de pertencer a familia real . as vezes, tinha vontade de sair por ai, farrear à vontade, paquerar quem desse na telha - bom, quanto a isso,ela tinha muitos pretendentes ...
Mas que droga ! Por que ela tinha que estar ali ? Era apenas a princesa ! Seus pais poderiam muito bem resolver tal assunto ! Tudo bem, deveriam permanecer ali para dar as boas vindas aos visitantes, mas era innjusto ela ter que ficar ali o dia inteiro !
Ela fica na sacada da torre, observando o movinento das pessoas que estavam passando do lado de fora, e pisca para um rapaz que estava de passagem .
Que gatinho, ela pensava . Será que ele não teria coragem de invadir o castelo, escalar a torre e ir resgatá-la de sua "prisão" ?
Provavelmente não ...
— Princesa ! Estive procurando a senhora por todo o castelo ! Desse jeito vai se atrasar !
Ela olhava a criada, com uma gota na testa . Nem ali podia ter seu momento de sossego em paz . Nem ali .
— Eu já estou indo . Quero apenas desfrutar desta vista por alguns instantes .
A serva se vai, deixando-a observando os arredores do castelo novamente . Estava nos fundos do castelo, observando o movimento das pessoas . Com exceção de uma rua que havia ali atrás e que passava por parte dali, toda a parte traseira do castelo era ocupada por uma floresta imensa, o “jardim” particular da família real, por assim dizer .
E que gatinho estava passando pela rua, agora . O mesmo olha, vislumbrando a beleza da princesa e faz uma reverencia para ela . A mesma não perde a oportunidade e pisca para ele, ao passo que ele vai se retirando .
Será que ela só ficaria ali, observando os lindos rapazes que passavam ?
— Atenção, isso é uma ordem da princesa de Vênus ! Qualquer rapaz lindo que passar por essa rua agora está sendo intimado a cumprir seu dever com o reino e resgatar sua bela princesa daqui . Repetindo, qualquer rapaz LINDO !!!
—  Serve eu ? – ela se vira para trás, bem a tempo de ver um gancho preso no parapeito amarrado em uma corda . A mesma se assusta, e quando se aproxima, percebe que havia um rapaz escalando a torre pelo lado da floresta .
— Josh ? O que você pensa que esta fazendo ? – ela falava baixo, deixando claro o tom de irritação em sua voz – e se os guardas te pegarem ?
— Me pegar ? Nem morto ! Deu um trabalho enorme adentrar  na floresta para poder chegar até esse ponto . Aliás, seu pai tem que despedir sua guarda – ele termina de escalar, parando um pouco para respirar – como foi que eles nunca pensarem que alguém poderia entrar pela floresta e escalar a torre ?
— Talvez por que todas as entradas para a floresta sejam fortemente vigiadas – ela cruza os braços e bate o pé, fazendo uma cara feia para o mesmo – ficou louco ? Se te pegassem, ia ficar apodrecendo na prisão durante as próximas décadas ! Já posso até ver as noticias : “FILHO DE EMBAIXADOR É CAPTURADO AO TENTAR SEQUESTRAR A HERDEIRA DO TRONO VENUSIANO”!  Sua mãe ia vibrar, Joshua . Seu pai iria precisar de sedativos ! Meu pai precisaria de uma coleira de força . Minha mãe ...
Suas palavras lhe são tomadas quando ele sela os lábios da mesma com os seus, abraçando-a fortemente, acariciando suas costas e invadindo-a com sua língua .
De certo modo, ela retribuía, embora seus olhos estivessem arregalados para o mesmo, que continuava com o beijo .
Em determinado momento, os olhos dele se arregalam, e a força do abraço diminui, ao passo que ele vai caindo lentamento, gemendo baixo, vitima do joelho da mesma que estava mais erguido do que o normal ...
— AAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHH ................
— Abusado – ela ajeita seu vestido, passando a mão no seu cabelo e terminando de ajeitar o laço nas costas .
— Urgh ! – o mesmo continuava se contorcendo no chão, falhando miseravelmente em segurar as lágrimas de dor . Mas que diabos deu nela ? – ai ... por que ... por que ...
— Abusado – ela terminava de ajeitar a tiara em sua face, junto com os brincos .
Apoiando-se bruscamente no parapeito, ele vai se erguendo, recompondo-se lentamente . Céus, como doía !!!!
Quando ele se dá conta, percebe que ela não estava mais ali, a qual agora estava dentro do castelo, em seu quarto, sentado em uma cadeira que ficava de frente para uma cabeceira, e a mesma com uma escova penteava seu cabelo, ao passo que com a outra mão separava algo que , aos seus olhos, parecia ser algum tipo de produto de beleza ...
Recomposto, ele caminha até lá, sentando na cama da mesma e observando-a : estava linda . Era linda .
Ele olha para a porta, certificando-se de que a mesma estava fechada . Não seria nada bom algum criado adentrar no quarto da princesa, ainda mais que ele não tinha uma explicação decente para dar .
Mas ele continuava ali, observando-a . Linda . Bela . Atraente . Sedutora . Inigualável .
Seria algum pré-requisito ser extremamento bonito para pertencer à família real ?
A mesma continuava ali, se pintando .
Era uma princesa .
Não, uma rainha .
Não, uma deusa .
— Vai ficar ai só me observando é ? – ela quebrava o silêncio – sei que sou linda de ser vista, mas espero mais do que ser apenas observada .
— Ora, ora, ora ... como estamos comunicativos hoje, não ? – ele se aproximava da mesma, quase impaciente, mas ao mesmo tempo com um enorme sorriso no rosto . – Inana, Inana ... está mais disposta agora ?
Ele vira o rosto esperando por um tapa, mas a única coisa que recebe é a escova dela em suas mãos .
Ainda de pé, ele começa a passar a escova pelos cabelos dela . Belos e sedosos  . Lindos e brilhantes . Somando o fato do lugar aonde estavam, o brilho de seus cabelos enlouquecia multidões .
Inana continuava se maquiando, passando um batom vermelho extremamente sedutor nos lábios, ao passo que ele continuava escovando seus cabelos, sussurando uma melodia bastante agradável .
— Está pronta, minha rainha . – ele coloca a escova na mesa .
— Não sou uma rainha – ela se ergue, observando-se, ao passo que gira seu corpo para ver toda a sua roupa e seu cabelo – ainda não . Sou uma princesa . E onde está seu respeito, plebeu ? É assim que se apresenta diante de sua futura soberana ?
— Perdão, “magestade”  ... mas o que esperas que eu faça ?
— Ajoelha-te ! Curva-te diante de tua futura soberana !
— Perdão, mas ... não é minha soberana . Nem ontem ... nem hoje ... e não tão cedo . Minha soberana está em um lugar bem longe daqui ...­- ele abria um sorriso para ela, como se tivesse encontrado uma falha do racionicio da mesma .
Ela entortou um olhar para ele, como se não tivesse gostado do que ele tinha acabado de dizer .
— Você é muito engraçadinho, sabia ? Igualzinho ao seu pai ... tem o mesmo cabelo ... o mesmo jeito ... os modos também ...
— Os olhos são da minha mãe – ele a interrompia – obviamente, são apenas uma cópia, já que ela ainda precisa deles – ele dava um enorme sorriso para a moça emburrada à sua frente .
— Ajoelha-te agora perante tua soberana, plebeu !
— Ajoelhar-me ? Terá que cortar minhas pernas, princesa, do contrário, não me ajoelharei – ele continuava com um sorriso no rosto – claro que se você pedir docemente, eu pode reconsiderar a proposta ....
Ela pega a escova e bate na cabeça do mesmo, mas ele continua de pé, firmemente . Teimoso como sempre ...
— Mas que droga, Joshua ... onde estava com a cabeça ? Que idéia foi essa de escalar a torre ? Tem idéia do que poderia ter te acontecido ? Sabia que os guerreiros podiam ter te acertado de longe ? Você ia ser uma peneira antes que pudesse dizer “ai” !
— É isso que eu mais gosto em você, Mina ... sinceridade . Esse seu jeito de falar exatamente o que tem na cabeça é impressiona a cada instante .
— Inana ! Inana ! Que mania essa de ficar me chamando de Mina ! Meu nome é Inana, já cansei de te dizer !
— Mesmo ? – ele se ergue, aproximando sua face dela, de modo que ela pode sentir a respiração do mesmo – você parecia gostar do som disso enquanto nos beijavamos . Soa tão doce esse apelido ...
— Josh ... eu estava falando sério !
— Claro que estava ! Sei muito bem que você não consegue mentir pra mim ! Mas fala sério ... você adorou isso, não foi ? Cada momento ! Vibrou com a idéia de alguém vindo te resgatar !
— Não diga isso – ela tentava se afastar, visto que o rosto dos dois estava perto demais – foi muito imprudente da sua parte, ainda mais por causa da posição que seu pai ocupa – ela tentava não prestar atenção nos lábios dele, pois os mesmos a estavam enebriando .
— Despistar os sensores de calor do castelo foi fácil – ele continuava fitando-a -  o Rei deveria inventar dispositivos mais eficazes, ou contratar funcionários mais espertos ... – os braços dele envolviam sua cintura .
— Não ... zombe – ela colocava uma das mãos nas costas dele – vai ser a primeira recomendação que vou dar ao meu pai – a outra mão dela passo por trás da cabeça dele, segurando-a – vou pedir para ele retornar os sensores de movimento, ai eu quero ver você fazer isso de novo .
— Sempre tem um jeito – ele aproxima seus lábios dela cada vez mais, até que ambos se tocam .
Ela se perguntava como aquilo foi acontecer .
Lá estava ela, deliciando-se com os lábios daquele rapaz, extremamente hábeis, por sinal, divertindo-a e, ao passo que a língua do mesmo passeava pelos cantos de sua boca, gerava pequenas sensações de prazer
— Hmmm – Joshua também se perguntava o que tinha na cabeça . A essa hora, seu pai deveria estar precisando de sedativos ao ter percebido sua ausência, e se soubesse o que ele estava fazendo, então ...
Mas aquilo parecia ter perdido a importância . Ainda mais quando tinha em seus lábios a herdeira do trono de Vênus . Seria puro acaso do destino toda a família real ser extremamente bela ?
Certo, em todo o tempo que passou ali, acabou descobrindo muitas coisas sobre eles . Coisas demais ...e em sua maioria, bastante interessantes . A começar pelo extranho poder que emanava de todos eles . Bastante curioso isso . Se um dia fosse escrever uma tese, o faria sobre os venusianos e seu estranho poder empático, o qual, diferente das pessoas com poderes que possuíam uma empatia psíquica, vinda da mente ... eles usavam uma espécie de empatia espiritual, vinda diretamente da alma ...
Interessante, muito interessante . Era curioso notar isso . Não duvidava que houvessem outros seres com tal característica, mas era bem mais comum tal coisa se manifestar em um lugar repleto de pessoas assim . Mas de certo modo, era um aspecto da vida desse povo bastante curioso , apesar do fato de tal habilidade se manifestar em todo o povo se deva ao fato da existência de uma Ligação Familiar, na qual toda um família compartilha de um elo empático, o que acaba despertando desde cedo os poderes nas crianças, devido a ligação que possuiam com a mãe desde o ventre .
— Sabia que existe o risco de alguém passar por aquela ...
— Quieto ! – ela puxava sua cabeça novamente, deliciando-se com a presença do mesmo .
Na altura do campeonato, era ele quem estava enlouquecendo . Não era a toa que os venusianos eram conhecidos como os guerreiros do amor ...
Claro que tal título era um tanto quanto injusto, afinal, as pessoas os chamavam de guerreiros do amor, mas não tinham a menor noção do real significado disso . Assossiavam eles a guerreiros belos e sedutores, mas estavam longe de entender o verdadeiro significado disso, de compreender ou gerar palavras que pudessem explicar a facilidade dos venusianos de enxergar o mundo e suas mudanças . De seu forte elo com o mundo espiritual .
Não era a toa que seu pai estava todo feliz com essa excurssão , com esse grupo de pessoas que chegava . Finalmente teria a chance de apresentar para estrangeiros a cultura de um povo, de modo que eles não generalizassem essas pessoas, como muitos fazem .
— Mina – ele se afasta um pouco, colocando os dedos nos lábios dela – aqui é muito perigoso . O que achar de ... irmos para um local mais ... reservado ?
***
— Josh, defnitivamente você é louco .
— Correção, minha ninfa ... louco por você, não se esqueça disso .
— É para ficar louca de amor diante de uma declaração dessas ? – ela respondia de maneira pouco sutil – invade o castelo, aproveita-s da inocência da princesa, seqüestra a mesma e usa o bosque real como rota de fuga ?
— Importa-se de repetir a parte da “inocência” ?
— Não banque o engraçadinho ! Eu tinha um compromisso hoje, sabia ?
— Claro que sabia . O pessoal que iria chegar hoje faria uma rápida parada no castelo para cumprimentar a família real . Estou a par disso . Fui EU quem escolhi o trajeto, sabe .
— O que me lembra ... você não deveria estar lá, ajudando seu pai ?
— ....
— Josh ?
— ....
— Joshua ?  O que houve ? Por que está tão ... – ele teve sua boca selada pela mão do mesmo, ao passo que era puxada para trás de uma arvore pelo rapaz .
Ele fica ali, totalmente inerte, observando o ambiente . Tinha alguém ali, e podia muito bem imaginar quem era ...
— Josh, o que ...
— Shh ... seu admirador  “nada secreto” está aqui, lidinha ...
— Admirador ? – ela franze as sombrancelhas, tentando entender o que ele queria dizer com aquilo, quando vê um homem passando ali por perto, como se estivesse caminhando . Ela pisca várias vezes, percebendo quem era . Como não pensou nisso antes ? Claro que ele estaria ali, afinal, ele era o encarregado de cuidar do jardim e do bosque - ... Ishullanu ...
Ambos continuam ali, controlando sua respiração .
Ela entra em pânico ao perceber um pequeno detalhe : Ishullanu poderia sentir a aura de Josh . Poderia senti-lo por perto . Ela havia aprendido alguns truques que poderiam ajuda-la, mas o mesmo não poderia ser dito dele ...
Ela fica apreensiva e o puxa, mas ele continua no lugar, até que Ishullanu some do campo de visão de ambos .
— Ufa ! – ela respira aliviada – essa foi por pouca ...
— Pensei que ele estava em outra parte ... me enganei ... engraçado não vê-lo carregando tâmaras ...
— O que quis dizer com admirador ?
— Ora ... nunca prestou atenção no modo que ele olha para você ? Francamente, Mina ... não são vocês, venusianos, que podem sentir as emoções das pessoas ?
— Não seja exagerado, ele apenas é educado, só isso !
— Aham . Ele vive te oferecendo cestas e mais cestas de tâmaras ... deve estar apaixonado por você, isso sim .  É até capaz dele comprar o seu dote com tantas frutas e acabar casando com você .
— Mas nunca ! Eu transforme ele em um sapo antes disso !
Um risada gostosa toma o local, vinda dos dois jovens, que começavam a caminham pelo bosque .
— Josh ...
— Sim ?
— Não acha que foi muita irresponsabilidade sua ter feito isso ?
— O que ? Ter faltada a um compromisso ? Invadido o castelo ? Seqüestrado a princesa ? Ou ter aproveitado a melhor oportunidade de todos os tempos para ficar a sós com você, uma vez que toda a guarda está preocupada com os novos visitantes, ou melhor, todo mundo aqui está ?
— Fez tudo isso por mim ?
— Se conseguir pensar em um motivo melhor, eu te conto .
— Você é louco !
— Já disse, gatinha . Louco por você, lembra ? Louco por você .
— As vezes eu é que me surpreendo com você, sabia ? Seu pai está trabalhando nisso há tanto tempo ...
— Nós estamos trabalhando nisso, amor . Eu, meu pai, minha mãe ... seu pai ... todos aqui . Meu pai não está sozinho, nunca estará . Ele tem pessoas que o apóiam, que estão ao seu lado nessa iniciativa . O número de pessoas que se ofereceram para hospedar os alunos de intercâmbio foi impressionante . É verdade, ele deve estar precisando de sedativos há uma hora dessas, mas minha mãe sabe como acalma-lo .
— Ela sabe disso ?
— Claro . Contei a ela sobre nós .
A mesma fica em total silêncio, percebendo que, embora não tenha tido a intenção, ele acabara de dar uma tremenda indireta nela . Mas havia algo que estava martelando sutilmente em sua cabeça : como Ishullanu não sentiu Josh ?
— Para onde estamos indo ?
— Para os limites do bosque .
— Limites ?
***
— Eí ! De onde isso surgiu ?
— Você realmente fez essa pergunta ?
— Não banque o engraçadinho ! De onde isso surgiu ?
— Isso o que ? A montanha ? Ela sempre esteve ai, sabia ? Isso é que dá não percorrer todo o bosque ... aposto que seus pais não costumam vir até aqui com muita freqüência, não é mesmo ?
Inana estava parada, com várias arvores a circulando, diante de um buraco na montanha . Uma caverna . A entrada era pouco maior do que um adulto, mas olhando para dentro, percebia que ela parecia ser bem maior por dentro do que aparentava .
— De onde surgiu essa caverna ?
— Ela não “surgiu”, gracinha ... eu a encontrei por acaso . Lembra da última vez em que fui te visitar ?
— Claro que me lembro ! De onde surgiu aquela idéia de falsificar os convites para o baile ?
— Falsificar ? Aqueles convites eram legítimos !
— Mesmo ? Não foi o que um dos guardas achou . Bem que eu achei estranho você me largar no meio de uma dança .
— Não tive escolha ! Era isso ou dar satisfações para ele ! Tive que fugir pelo bosque para não ser pego !
— Cheguei a pensar que tinham te pego . Fiquei dias sem noticias suas ...
— Também sentia sua falta – ele roçava o nariz no pescoço da mesma, convidando-a para adentrar na caverna . Meio contrariada, ela o segue .
A surpresa que tem é tremenda .
A caverna, como ela havia imaginado anteriormente, era realmente maior por dentro do que aparentava . Na verdade, tinha praticamente o tamanho do seu quarto .
A despeito do tamanho, a altura da caverna era bem grande, visto que o teto estava elevado a mais de cinco metros . E ...
Nossa !!!!!
Já havia estudado sobre aquilo . Haviam diversos fatores que eram responsáveis pela formação das cavernas, mas ... mas ... aquela caverna, em especial ...
Estranho . O formato das rochas, os alicerces, o formato que possuía ...
Podia jurar que não havia sido a natureza que a havia feito, e sim alguém .
— Foi você quem a construiu ?
— Quem, eu ? Imagina . Claro que eu adoraria assumir a autoria dessa obra de arte, mas não faz o meu tipo, sabe . O cara que fez isso aqui merecia um beijo .
— Você o conhece ?
— Olha, gata ... não faço a menor idéia de quem tenha sido, mas tenho algumas suspeitas, sabe . Quer dizer, percebeu que não é uma caverna natural, não é ? Bom ... alguém escavou a rocha . E não acho que tenha sido da noite para o dia, ou que tenha feito isso com uma picareta e uma furadeira, sabe . Deve ter precisado de mais material, o que com certeza chamaria atenção, ainda mais estando nos domínios do palácio . Fora que algo assim chamaria a atenção do jardineiro ... a não ser, claro ...
— A não ser ... ?
— A não ser que o jardineiro olhasse para o outro lado quando estivessem fazendo isso . Se for possível engana-lo, estão está tudo bem .
— Enganar Ishullanu ? Sem chance !
— Eu não disse que precisava ser ele, sabe . E sim, é difícil engana-lo, mas ...  talvez o responsável pelo jardim não precisasse ser enganado . Talvez ele tenha olhado para outro lado de propósito . Talvez ele tenha fingido que não tinha visto quando alguém passou por aqui carregando equipamento suspeito ... provavelmente por que conhecia a pessoa ...
— Isso é impossível ! Todos os que trabalham no palácio são de extrema confiança ! Nunca fariam nada de mal a nós ! Alguns estão conosco há gerações !
— O que me levou a pensar em outra coisa, sabe . Por exemplo, como tanta gente entraria no palácio sem chamar atenção . A não ser que alguém estivesse garantindo o passe deles ... alguém que pudesse convence-los ... que tivesse livre acesso ao castelo e todos os seus domínios, alguém que os guardas e jardineiros deixassem passar ...
Ela pisca os olhos rapidamente, como se algo tivesse estalado na sua cabeça naquele exato momento .
— Meu pai ?!?!?
— Talvez ...
— Mas ... meu pai ? Meu pai ? Meu pai ? Meu pai ? Mas ele ... ele ... ele ...
— “Atenção, senhores passageiros . Venho-lhes informar um detalhe técnico a respeito da monarquia em alguns reinos : em tempos de guerra, o Rei procura ter o máximo possível de filhos, para assegurar que o trono venha a ter um herdeiro .” Certo, não estamos em tempo de guerra ... mas a família real é grande, e já foi maior em outros tempos . Pode ter sido qualquer pessoa, Mina . Qualquer pessoa . Seu pai, sua mãe ... seu avô ... qualquer pessoa ...
— Ainda acho que isso é coisa do meu pai ! – ela coloca as mãos na cintura, emburrada – isso é típico dele ! Ah, tenho certeza ! Vive me mandando indiretas, e acabava tendo seus encontros secretos por aqui ! Posso até sentir o rastro da aura dele por aqui ! Ah, mas que safado !
— Mina ... você está imaginando coisas . Não vem ninguém aqui há muito tempo .
— Como sabe ?
— Andei dando umas voltas por aqui . Quando encontrei o lugar, estava abandonado, como se não o freqüentassem há anos . Algum parente seu que freqüentava esse lugar deve ter usado sua empatia espiritual para criar uma barreira ao redor daqui que impeça as pessoas de encontrarem esse lugar . Típico para alguém que queira ficar sozinho com outra pessoa, sabe ...
— Não entendo como você encontrou esse lugar .
— Talvez por que eu não queria encontra-lo, por que não o estava procurando . E pelo tempo que andamos, não acho que alguém se afaste tanto do castelo . Nem o jardineiro .
— FOI O MEU PAI !!! EU TENHO CERTEZA DE QUE FOI ELE !!!!! É BEM O TIPO DELE !!!
— Gata ... – ele enlaça a cintura da mesma, sorrindo para ela – vamos ficar aqui discutindo a respeito do seu pai ?
— Hmmm ... no que está pensando ? – ela o olhava de rabo-de-olho .
— Estamos sozinhos ... longe de tudo e de todos ... ninguém pode nos ouvir aqui .... a caverna é bem escavada, dá pra se sentar em qualquer parte dela sem causar danos a coluna ... é bem arejada, fora que estamos aqui sozinhos ... achei que podíamos nos divertir um pouco ...
— Hmmm – ela cruza os braços, encarando-o – no que está pensando, senhor “filho-do-embaixador” ? Nada imoral, eu espero .
— Acha mesmo que eu iria querer me aproveitar de você, minha deusa ?
— Eu espero que sim ! – dizia a mesma com um sorriso e o agarrando, tascando-lhe um beijo beeeeeeem melado, praticamente o derrubando no chão -  vamos lá, vejamos o que o futuro líder do clã Lanzorei é capaz de fazer !
— Líder ? Nem meu pai o é, por que eu seria ?
— Você tem pouca ambição, sabia ?
— Quem, eu ? Apenas tenho objetivos diferentes, simplesmente .
— Do tipo ... ?
— Pra começar ... levar você até as nuvens !
— Joshhhhmmmmmmmmmm !!!!! – a mesma mal pode falar, quando seus lábios são selados pelos do rapaz na qual estava encima .
Abraçando-o, ela devolvia o beijo, apaixonadamente, delirando com a língua do mesmo que passeava pelo interior de sua boca .
— Hmmmm – ela o apertava mais, visto as pequenas ondas de prazer que sentia – hmmmm – sua língua se enlaçava com a do mesmo, formando um nó lingüístico que futuramente acabaria causando problemas a mesma – HHHHHHHMMMMMMMMMMMMM !!!!! – ela estava enlouquecendo, surpresa com o fato de haver alguém que não fosse do seu povo capaz de beijar tão maravilhosamente assim ...
Ela dá uma mordida em seu lábio inferior quando sente ele tocar sua perna e começa a passear com a mão despreocupadamente até a coxa . Parando ali, ele começa a move-la por toda a extensão desta, seja na altura do joelho, seja bem próximo ao que ela achava o limite .
Ainda bem que ela havia colocado uma roupa mais adequada, ele pensava . Era um pouco complicado fazer aquilo com ela usando uma roupa de princesa, sendo que a mesma não poderia ser amassada ...
Inana apóia as mãos no peito do mesmo, ao passo que sua língua segue pela face de Josh, lambendo suas orelhas e as mordiscando ocasionalmente, até que ela emite um pequeno grito de prazer, ao sentir que as mãos dele estavam fazendo-a sentir uma coisa crescer dentro de si, ainda mais quando as mãos do mesmo ultrapassavam os limites impostos – impostos para aquela ocasião e lugar obviamente . Já haviam se esfregado bem mais do que agora, mas normalmente, Não estavam em um local longe de tudo e de todos, sem nada para impedi-los de cruzar os limites estabelecidos .
— Josh – ela segura a mão dele, a qual já estava apertando sua bunda – melhor ... não ... irmos ... tãolongeassimjáqueestamos ...
— Sozinhos ? Sem o risco de sermos atrapalhados ?
— SIM !!!
— Algum problema nisso ?
— Todos ! Pra começar, você nem é o meu namorado .
— Não ?
— Bom ... não oficialmente . Ainda não te apresentei para os meus pais .
— Mero detalhe . Podemos resolver isso agora e ... o que foi ? – ele a encarava, percebendo que ela havia virado o rosto quando ele comentara tal coisa . – algum problema ?
— É que ... bem ... eu não sei .
— Tem medo da reação deles ?
— Não, claro que não . – ela dá um sorriso – é só um medo bobo, mesmo .
— Já sei, é por que eu não sou da nobreza, certo ? Sem problema, é só eu matar um dragão que esteja invadindo o castelo, daí eu ganho o titulo de cavaleiro, espero um pouco até subir de posto e ...
— Seu bobo ! – ela lhe dá tapa no ombro – não aprendeu nada conosco, não ? Nem parece que está aqui há anos e anos !
— Ah, claro que aprendi ... mas até hoje eu me surpreendo com vocês . Mas eu adorei esse lance de amor, sabe .
— Ainda bem . Ia demorar até aparecer um dragão ...
— Posso convencer alguns colegas a invadir o castelo, sabia ?
— A guarda os deteria . Melhor, eles seriam impedidos a quilômetros antes do castelo ...
— Ah, claro ... como esquecer a capacidade inata da raça para perceber as emoções das pessoas ? Grande ... – ele vira o rosto, olhando para o chão, e no momento seguinte, a observava, linda, bela, sedutora – te amo, sabia ?
— Ainda pergunta se eu sei que me ama ?
— Desculpe ... mas eu não tenho poderes empáticos, sabe . Se pelo menos tivesse uma empatia psíquica ...
— Engraçadinho !
— Mas eu te amo, sabia ?
— Nunca duvidei . Sempre pude sentir todo o seu amor, lindinho .
— Pena que eu não posso sentir suas emoções, mas tudo bem .
— Por acaso estou sentindo uma pontinha de inveja ?
— Ah, por favor ... querida ! As vezes eu me sinto em desvantagem, sabia ? Ta certo, posso decifrar o que está passando pelo brilho de seus olhos, pelo seu modo de agir, pelo seu temperamento ... mas nào posso sentir EXATAMENTE o que você está sentindo . E não gosto da idéia de ocultar de você o que sinto .
— Que lindinho ... sabe ... eu ... eu ...eu vou adorar ligar minha alma na sua, sabia ?
— Mesmo ? Está falando sério ?
— Totalmente . Joshua ... eu te amo . Até o fim da alma . Sinto uma desejo imensurável de estar contigo, sentir seu calor, seus braços me envolvendo, seus lábios nos meus ... tenho me sentido cada vez mais feliz ao seu lado, e quero poder compartilhar isso contigo, da mesma forma que meu pai faz conosco . Mal posso esperar para que nossas almas entrem em plena sintonia .
— É isso o que quer ? Mesmo ?
— Totalmente . E isso é algo que fazemos apenas com aqueles que realmente amamos, meu bem . Somente com os que amamos . De certa forma, todos os membros de uma família compartilham de uma ligação de almas, sabe . E tem o ... ah, você sabe muito bem disso . Estudou sobre nós, aliás .
E como . Dentre as coisas que ele aprendeu dos venusianos, era sobre a Ligação, a sintonia de almas .
Como era fascinante aquele povo, os venusianos . Em seus estudos, havia aprendido sobre o planeta de sua amada . Seus modos, sua cultura, seus aspectos ... chegou até a ficar momentaneamente apaixonado por uma bela moça que conheceu, vitima daquele estranho dom dos venusianos para fascinar as pessoas, outro dos motivos para as pessoas os chamarem de guerreiros do amor . Aparentemente eles tinham uma espécie de dom especial que atraia outros pessoas, gerando um fascínio impressionante, deixando as pessoas impressionadas por tal ser .
 Em verdade eles eram conhecidos como os maiores sedutores que já existiram, mas curiosamente eles não faziam tal coisa com a pessoa amada, ou melhor, com um semelhante. Era verdade que a capacidade deles de atrair as pessoas não funcionava com os mesmos, e eles se valiam de seus próprios meiospara  isso. Um detalhe curioso era que dois venusianos que compartilhassem algum tipo de amor poderiam fazer seus espíritos, almas ou seja lá o nome que receba, entrarem em sintonia. Não era algo como um elo psíquico que um telepata poderia manter com outra pessoa, era algo mais... intimo. Muito mais intimo. Como a ligação compartilhada entre uma mãe e o filho na barriga. Em todos os sentidos, quando isso ocorria, os dois eram um. Haviam histórias sobre médicos venusianos que criavam elos emocionais com seus pacientes para curarem danos psicológicos, mas isso era uma lenda, afinal de contas, uma vez que havia um outro tipo de ligação, o criado por uma família, era improvável existirem doenças psicológicas, e as mesmas que viessem a existir teriam pouco tempo de duração . .
Mas aquilo era possível entre venusianos e não venusianos, mas para tanto, seria necessário uma forte ligação entre ambos. Uma forte ligação e uma confiança enorme. Justamente por que, quando dois venusianos entravam em sintonia, ambos desativavam as travas que sua alma carregava. Tal ato era automático e até fácil de se fazer para seres acostumados a sentir as emoções com mais facilidade do que os outros. Ele mesmo já  vira venusianos compartilhando tal experiência uns com os outros..
Mas ele  não era uma venusiano. Não estava acostumada a abrir sua alma para os outros. Tal coisa era algo muito difícil por dois motivos: em primeiro lugar, venusiano algum poderia sentir o estado da  alma de outra se pessoa se a mesma estivesse fechada. Geralmente eles precisavam tornarem-se confiáveis pela mesma, para então sentirem seu espírito. E em segundo, ele era  oriundo de um povo que, em sua maioria, era formado por guerreiros . Teve uma surpresa enorme quando aquela mulher que lhe deu aulas a respeito da cultura venusiana lhe forneceu explicações a respeito de algumas raças específicas. Ela havia dito que os mercurianos são as criaturas que os venusianos consideram os mais difíceis. Não que não tenham uma alma, mas sim que eles instintivamente guardam suas emoções e as trancafiam de tal forma que alguém com capacidades empáticas só conseguiria sintonizar com ele se o mesmo permitisse e ainda assim inconscientemente, uma vez que essa característica estava impregnada em toda a raça.
— Inana ... você ... você é linda .
— Adoro ouvir isso vindo de você ... mas estou preocupada . Seu pai vai acabar tendo um infarto . Meu pai vai mandar os guardas me procurarem !
— Não se preocupe . Meu pai está desesperado, mas se esquece de que os alunos de intercâmbio só chegarão em , vejamos ... cerca de uma hora e meia .
— É mesmo ! – ela bate as mãos – tinha me esquecido disso ! E a serva me apressando . – ela sela os lábios dele novamente, sufocando-o – você merece um prêmio, Josh ! – ela afunda o nariz no peito do mesmo, roçando-o .
— Eí !
— Algum problema ? – ela sorria – não se preocupe, eu aviso quando passar da conta .
— Mesmo ? – ela toca novamente nas nádegas dela, e naquele exato momento, ela sente como se algo dentro dela estivesse crescendo, querendo sair .
Ela se delicia novamente com outro beijo melado, ao passo que sentia a mão dela acariciando-a, tomando-a .
— Josh, eu ... eu ... está indo bem, mas ... mas ...
— Não vou te machucar .
— Não é isso, é que ... eu ... eu queria compartilhar esse momento ... com você ... mas ... eu ...
— Está com medo ?
— CLARO QUE NÃO !
— Mesmo ?
— Eu ... um pouco . Josh ... eu tenho um pouco de medo . E receio, também .
— Do que, mais exatamente ?
— Eu ... eu não sei . Sinceramente, não sei .
— Uma venusiana que não consegue perceber suas próprias emoções ? Isso é novidade !
Ela dá uma risada forçada, coisa que ele percebe na hora .
Tinha algo estranho acontecendo .
Sua doce Mina ... havia algo de errado com ela .
Mas ... o que ?
Desde o primeiro dia que a conheceu, se achou um sortudo por poder estar na companhia da princesa ... agora, ele se achava o homem – ou adolescente, por assim dizer – mais feliz do planeta . E tudo isso por que a amava, de corpo e alma . Totalmente . Perdera a conta de quantas vezes dissera para a mesma . “Eu te amo . Eu te amo . Eu te amo . Te amo . Te adoro . Amo você . És a minha deusa . Minha rainha . Minha estrela da manhã, da tarde e da noite . Minha inspiração . Meu Sol, minha Lua . Minha soberana, rainha do meu coração, ditadora do meu destino” . Já havia dito de tudo para ela . Tudo . E mesmo assim, sentia que nunca poderia dizer com palavras tudo o que sentia pela mesma .
Como ? Como explicar, como formular uma frase que interprete os sentimentos de uma pessoa ? Não era a toa que as vezes os venusianos pareciam tão misteriosos . Não era fácil falar das belezas da alma, era algo para ser feito de forma simples, não com frases pomposas e pré-selecionadas .
Adorava aquele povo  . Aprendeu a amá-lo, aquele povo incrível, tão afetuoso com os seus, e capaz de ser com os demais . Sua sociedade era incrível, seus costumes, belos .
Mas ... algo incomodava sua bela Inana ... algo que ele talvez não pudesse descobrir tão facilmente o que era . Muito provavelmente por que não deveriam haver palavras para explicar, para expressar , para formular frases que explicassem o problema .
Claro, se ele fosse um venusiano, seria muito fácil descobrir tal coisas, mas ele não era . Na verdade, tinha enorme orgulho do que era . Amava aquele povo, mas não negava suas origens .
Claro que ele não queria força-la a fazer nada, pelo contrário . A simples presença dela lhe dava uma belíssima sensação – culpa do povo dela, lembrava-se . De alguma forma, ele estava totalmente suscetível para o poder da mesma de manipular as emoções alheias . Não que ela o fizesse de livre e expontânea vontade, mas já se vira sentindo-se extremamente bem, sendo que há pouco estivera triste, e que tal coisa acontecera não por que ela estava manipulando suas emoções diretamente, mas por que ela o confortava com sua própria alma, abraçando-o e acariciando- o .
Que coisa fantástica . Literalmente, aquele povo amava os seus de corpo e alma . Já havia ouvido falar de outro povo com tal capacidade, mas não tinha muitos detalhes a respeito disso .
Sendo assim, ele tinha que fazer as coisas da moda antiga ...
— O que foi ?
— Eu não sei ... acho que ... não estou pronta . Desculpe .
— Não há por que se desculpar – ele a olhava ternamente, acariciando seu rosto – só de tê-la comigo já basta . Estar contigo, compartilhar sua presença ... rir ao seu lado, aprender ao seu lado ... é mais do que suficiente para fazer eu me sentir especial, Mina .
— Josh ... – ela o olhava com os olhos lacrimejando . Aquilo praticamente parecia uma declaração de amor .
Parecia, nada ! Tinha todo jeito de declaração de amor !
Ele toca no queixo da mesma, aproximando seu rosto mais e mais, até que seus lábios se tocam . De alguma forma, pareciam se atrair, como se não quisessem se separar .
Pena que não podia sentir o fundo da alma dela, pensava . Mas compreendia o que ela sentia .
Insegurança .
Inana estava insegura .
Mas com o que ? Será que ela não acreditava no que ele disse ?
Ou não acreditava no que a mesma sentia ?
Ou então ...
— Está curioso, não está ? Está cheio de dúvidas, tomado por perguntas que querem eclodir, não é ?
— Quero te ajudar ...
— Nem eu mesma sei qual é o meu problema . Apenas ... sei lá ... me sinto estranha aqui, ao seu lado, ficando enebriada ao sentir essas emoções tão belas que você está me enviando ... e não tenho como retribuir . Me sinto terrível fazendo isso contigo .
— Mas você faz isso, lembra ? Quantas vezes fez eu me sentir alegre, apagou minhas mágoas, me encheu de alegria, aumentou minhas esperanças ...
— Estava apenas manipulando suas emoções, nada mais . E você sabe muito bem disso . Mas isso não é nada comparado com a Ligação , tampouco com a Sintonia .
— Você parece bem mais informada do que de costume ...
— Burro, burro, burro ! – ela balançava a cabeça, com um sorriso de desaprovação – pobre estrangeiro, será que em tantos anos não aprendeu o suficiente sobre nós ? Os venusianos SEMPRE estão ligados a alguém, Joshua . SEMPRE ! Desde o momento em que somos concebidos, até o momento em que deixamos de existir . Quando estamos no ventre de nossas progenitoras, e ela sente nosso brilho, nossa aura . Quando brincamos com nossos irmãos, e nos divertimos igualmente, justamente por que é uma alegria compartilhada . Quando nos apaixonamos ... seu pai sabe disso, com certeza . Mas parece que você se apegou apenas a alguns detalhes ...
— Eu – ele fica levemente corado – desculpe, não queria duvidar da sua capacidade .
— Tudo bem . O fato de você conhecer sobre nossa natureza é uma alegria tremenda . Muitos acreditam ...
— A maioria, você quer dizer .
— Certo, a maioria das pessoas acredita que os venusianos são os guerreiros do amor devido a sua beleza . Mas você já sabe muito bem que não é só por isso, não é mesmo ?
— Claro ! Mas tem uma coisa que eu não entendi direito ... os venusianos nunca foram considerados grandes guerreiros, digo, muitos não achavam quem eles poderiam produzir grandes guerreiros ... o que os fez pensar o contrário ?
— Josh ... conhece a lenda da Grande Arena ?
— Arena  ?
— É, a grande Arena Joviana .
— Devo ter estudado algo a respeito ... mas realmente não me lembro muito bem .
— A Grande Arena de Júpiter . O lugar em que todos os Jovianos se reuniam para praticarem seu esporte predileto : lutar . Lutar, lutar, lutar, lutar ... e lutar ! É uma coisa fascinante desse povo . Não lutam por vitórias, para provarem que são melhores, para dizer que são mais poderosos ... eles lutam por que, de maneira simplista ...
— Sentem prazer em lutar . Duelam pelo prazer do combate . Claro que eu sei disso .
— A antiga arena ... o palco das maiores batalhas da história de Júpiter ... lá, qualquer joviano poderia lutar usando o máximo de sua capacidade, sem o medo de ferir de maneira mortal seu adversário .
— Hã ? Como é ? Que história é essa ? Como assim, não pode matar ? Como isso é possível ?
— Não conheço bem essa parte da história . Talvez mágica, talvez outra coisa . Mas acredito que tenha tido o dedo de Zeus .
— “O” Zeus ? O poderoso ? O grandioso ?
— O inigualável . O maior guerreiro de todos tempos, o incrivel, o onipotente, a lenda ..
— Agora, eu estou pasmo . Continue .
— Segundo a lenda, Um certo dia, durante a disputa pelo cargo de guardião e representante do planeta ...
— Guardião ? Uma Sailor ?
— Sim ... antigamente, cada planeta tinha sua forma de escolhar suas Senshis . Em Júpiter, você deveria desafiar a pessoa que ocupava o cargo, e isso só em determinado tempo, e se vencesse, se tornaria a nova Senshi de Júpiter . Claro, esse costume caiu com o tempo, cabendo apenas a família real tal privilégio .
— Jura ? Quer dizer que qualquer um poderia ser a Sailor Júpiter ?
— Exatamente . Papai me contou uma vez que uma escrava chegou a ser a Senshi de Júpiter, mas depois de um tempo você percebe que isso  é uma história para impressionar crianças . Continuando, numa época muita distante, estava sendo realizada a disputa pelo posto, até que uma coisa no mínimo curiosa aconteceu : Três pessoas adentraram na Arena, e segundo a história, uma delas era a Sailor Vênus . Algo incrível, por sinal .
Três ? Espera um pouco ... “Quando três ou mais pessoas se unem de corpo e alma por um objetivo em comum, nada é capaz de detê-las” ... foi daí que surgiu esse velho ditado do seu povo, é ? E por que entrarem lá foi algo incrivel ?
— Bem, lindinho ... segundo a lenda, foi daí que surgiu esse ditado, mesmo ... e  as regras não eram assim, tão simples . Você não podia ir entrando lá como se fosse o dono da casa, haviam alguns detalhes quanto a isso . Mas ela entrou lá . Entre uma coisa e outra, uma coisa marcante foi o fato de que aquele que era considerado o melhor candidato para o posto de Sailor Júpiter fora derrotado em segundos .
— Pela Sailor Vênus ?
— Não ... por uma das três pessoas, mas não era a Sailor Vênus . Muitos dizem que eram venusianos, outros, quem eram acompanhantes de outro planeta . Mas a questão é que o Joviano fora derrotado em poucos segundos, e por uma das raças consideradas mais “fracas”, sabe .
— Mais “fracas” ? Um momento ... está caindo em contradição ! Primeiro diz que achavam que era de venus, depois de outro planeta, e você fala como se sobesse quem realmente era .
— Mas não sei, lindinho . Apenas acho mais interessante imaginar que era um nativo de Vênus que fez isso . Haviam aqueles que diziam que “mercurianos e venusianos só servem para fazer número” . Que marcianos são “Jovianos mais fracos e de temperamento estourado”, e toda aquela baboseira de generarisar as raças que você vive dizendo e tudo mais . Mas a questão é que, embora muitos ainda questionem, a maioria diz que era um guerreiro de vênus, ou guerreira, nunca souberam explicar .
— Uma bela história para incentivar crianças a não julgarem as coisas pela primeira aparência, certo ?
— Bom, foram justamente os Jovianos que espalharam a fama que nós temos de não ser apenas sedutores, de que também sabemos surpreender as pessoas gerando grandes guerreiros .
— Mina ... me diz uma coisa ... olha ... não tem nenhuma coisa errada nisso ai, não ? Quer dizer ... a Arena e as Senshis não são de períodos diferentes ? Como é possível que ...
— Como eu disse – ela o silencia com o dedo – é uma lenda ... ou como você mesmo disse, uma história para incentivar as crianças, não é ? Claro, Pelo que me consta, a Arena possuía um registro detalhado de todas as lutas realizadas nela, e talvez tal coisa possa ser confirmada ... isso, se você estiver disposto a encontra-la, claro .
— Prefiro me ocupar com outra coisa ... – Josh sela seus lábios novamente, levando-a a loucura desta vez .
— Hmmmm – ela acompanha o movimento de sua língua, deliciando-se com a presença dele – hmmmm – apesar de ainda sentir um sentimento de culpa, de achar que estava traindo-o por suas almas não estarem ligadas – hmmmmm – afinal, isso já deveria estar acontecendo, certo ? Ela o amava do fundo do coração, confiava plenamente nele . O que faltava ? Em verdade tinha uma ligação espiritual com a família real ... com seu pai e sua mãe ... mas não era a mesma coisa, não era algo como se envolver plenamente com um parceiro, um companheiro que iria estar ao seu lado até o fim dos dias . Além do mais, um venusiano pode ter uma ligação com um número quase infinito de pessoas ... mas sua alma só poderá entra em sintonia com uma e somente uma pessoa, e nenhuma mais além desta .
— Minha Inana ... minha doce princesa de Vênus ... minha estrela do amanhã ... meu Sol, Minha Lua ... Meu universo ... razão da minha existência ... sentido da minha vida ... eu te amo .
— Nunca duvidei – ela sela os lábios dele novamente, com um beijo potente, o qual só realçava mais e mais o amor que ambos sentiam um pelo outro .
****
Como sempre, o dia estava belo e radiante . Ao menos, para ela .
Ela sempre amou seu planeta, o mundo aonde nasceu . Sempre o adorou do fundo de sua alma, mas nos últimos tempos, passou a amá-lo mais ainda .
Tudo graças a sua cultura  .
Ela estava amando . Do fundo de sua alma .
E, mais do que isso, se sentia amada .
E para completar sua alegria, nada impedia isso . Nada poderia ficar em seu caminho .
Afinal, seu povo era um dos poucos em que eles poderiam casar com quem quisesse, sem nada estar no caminho de ambos .
Quer dizer, havia um porém : ambos deviam se amar . Parecia uma regra um tanto besta em relação a duas pessoas que iriam se casar ... mas, para os venusianos, isso significava estar unido de corpo e alma com a pessoa, estar partilhando de uma Ligação muito, mas muio forte, a qual iria se tornar uma Sintonia .
E hoje era um ótimo dia para se divertir . A começar pela data, na qual a família Real Marciana estava visitando o planeta. Pelo visto, o empenho de Joshua e do senhor Amistasi estava dando resultados, ou pelo menos chamando a atenção de outras pessoas . O Rei de Marte estaria ali mais tarde para conversar com o senhor Amistasi sobre vários assuntos, em especial sobre o desenvolvimento e sobre os estudantes que estavam morando temporariamente ali, e que durante o período de férias retornaram para casa trazendo uma bagagem cultural invejável para muitos . E o mesmo valia para os estudantes de Vênus que estavam fazendo um intercâmbio cultural em Marte .
Obviamente, o senhor Amistasi ficaria a tarde toda ocupada – e com um sorriso de um lado ao outro – o que lhe daria a chance de passar um tempo com seu lindinho .
—Pare, por favor – ela dá a ordem para o dirigente da carruagem, e o mesmo para a condução .
— Princesa, ainda não chegamos .
— Eu sei, mas quero fazer o resto do trajeto a pé . Não quero chamar muita atenção . – ela olha para um espelho de mão, ajeitando o cabelo e a roupa que uma das servas lhe emprestou . Não era fácil conseguir roupas mais “simples”, mas pelo seu lindinho, tudo era válido .
Ela desce da carruagem, fazendo um sinal para o dirigente aguardar naquele local . Lentamente ela vai caminhando e vira a esquina, cruza a calçada e continua andando .
Como era bonito aquele lugar . Seu planeta, seu adorável mundo . Em todo lugar, em todo canto ....
Não lhe passava despercebido o fato que uma ou outra pessoa a reconheciam . Claro, não estava usando roupas condizentes com sua posição, mas era impossível passar sem ser reconhecida . Em meio aquela chuva de “bom dia, princesa”, “como tem passado” e “precisa de ajuda”, ocasionalmente alguns cidadãos vinham se ajoelhar diante dela .
Felizmente, não foi o que aconteceu dessa vez .
Lá estava . Geralmente ela os procuraria na embaixada – em visita oficial, obviamente – mas era fim-de-semana, e normalmente os encontraria em casa .
TOC,TOC !
— Pois não – a porta se abre e uma mulher abre a porta – em que posso ajuda-la ... hã ?
Inana segurou um riso, imaginando a cara de surpresa da senhora Lanzorei . A mesma não imaginava vê-la ali .
Potifia a encarava como se tivesse nascido uma segunda cabeça em Inana . No que seu filho fora se meter ? Certo, havia sido uma adorável surpresa quando ele disse que tinha uma namorada, havia sido uma surpresa ainda maior quando ele disse que essa pessoa era a princesa – a mesma duvidou no inicio, claro, mas não riu nem um pouco quando ele a apresentou – não que nunca tenha visto pessoalmente a princesa Inana, mas diante da situação ...
E justamente com quem estava ali naquela hora ...
— Senhora Lanzorei ? Senhora Lanzorei ? Tudo bem com a senhroa ? Senhora Lanzorei ?
— Hã – ela balança a cabeça, acordando daquele estado em que estivera – princesa ! O que faz aqui ?
— Vim visitar seu filho, senhora Lanzorei . E por favor, não precisa me tratar assim . Pode me chamar apenas de Inana, ou – ela dá um leve sorriso – de Mina .
Potifia cruzava os braços, franzindo o cenho . No que seu filho fora se meter ?
E o pior de tudo era que ela era cúmplice .
— Senhora Lanzorei ? Senhora ?
— Bem ... tudo bem, prin ... Inana . Pode entrar . Meu marido e meu filho estão lá dentro conversando com uma visitante .
— Se estiver incomodando ...
— Em absoluto ! Venha, só preciso falar com meu marido e ele me “empresta” o Josh por alguns minutos .
***
— Também é um prazer ter a sua presença aqui . É uma honra tê-la conosco .
— Obrigada . – ela terminava de tomar uma dose de chá, sorrindo para ele e para o rapaz que estava ao seu lado – Também é um prazer estar aqui, senhor Lanzorei .
— Por favor, a senhorita me deixa encabulado dessa maneira . Sou apenas um humilde servo, não é mesmo, Joshua ?
— Claro – ele concordava automaticamente com o pai . Sabia perfeitamente que aquele era um grande momento para o “seu velho”, então, nada de gracinhas .
— Estou aqui apenas como uma compatriota, senhor Lanzorei . Seus esforços em representar nosso povo tem sido muito apreciados, devo lhe dizer .
— Se me permite dizer, milady, temos tido grandes resultados . Os jovens que tem retornado para Vênus depois de um período em Marte tem voltado tremendamente satisfeitos . Temos acompanhado o desenvolvimento de nossos compatriotas por aqui, o relacionamento deles com o povo daqui . Como sabe, diversas famílias se ofereceram para aloja-los, e o retorno cultural sido enorme .
— Perfeitamente, senhor Lanzorei . Temos tido um resultado igualmente satisfatório em Marte .
— Não tão satisfatórios quanto aqui, mas igualmente proveitoso – Josh se manifesta – tenho mantido contato com a embaixada venusiana em Marte, e eles tem apresentado ótimos resultados .
A moça o olha curiosa . Amistasi suava frio, convencido de que o filho havia sido descortêz com ela .
— Ah, claro ! – a jovem dava um sorriso amável para Joshua – como não pude perceber ? É seu filho, senhor Lanzorei ?
— Sim, ele é meu ...
— Hmmm – ela o encarava . Por alguns instantes ele ficou encantado pelo olhar penetrante dela, aquelas duas jóias que pareciam estar devorando-o só de vista – Você é Joshua, não é mesmo ?
— Sim, princesa . Lanzorei Joshua, ao seu dispor .
— Muito prazer, Joshua . Meu pai me contou a seu respeito . Ele me disse o quanto você é talentoso e dedicado ao relacionamento entre ambos os povos .
— Só cumpro com o meu dever, milady . Esse humilde servo sempre está pronto a servi-la – ele faz uma comensura, curvando a cabeça e o torço levemente e erguendo-se em seguida .
— Perdão, Joshua ... mas eu imaginava que você fosse mais velho . Não imaginei que alguém tão competente fosse tão ... tão ...
— Jovem ?
— Moço .
— A oportunidade surge das maneiras mais estranhas possiveis, princesa . Aprender sempre é algo bom . Soube que a senhora tem representado nosso amado planeta em diversas reuniões .
— Mesmo ? – ela demostrava um sorriso ainda maior – sinto-me honrada que esteja a par disso . Não faz muito tempo que tenho representado o Rei, e são poucos que sabem disso .
— Gosto de estar bem informado .
A essa altura, Amistasi já havia percebido que havia sido jogado para escanteio pelo seu filho ... seu próprio filho ! Justamente aquele que era um grande momento, em que ele recebera a visita da princesa de marte, ela é presa pelo charme dele .
Mas o que é que ele tinha de tão especial assim para atrair princesas ?
— Mesmo ?
— Sim . Tenho estado a par das reuniões, apresentações e convenções que milady tem ido .
— Hmmm – ela coloca a mão no queixo, continuando encarando-o com aquele olhar – Vejo que você não deve nada a sua fama, Josh .
— Sou apenas um servo esforçado, princesa . Nada mais .
— Tem planos para o futuro ?
— Como ?
— Você ... você é filho do embaixador ... é seu auxiliar, secretário ... e tem bastante conhecimento sobre a cultura venusiana .
— Também tenho conhecimento sobre a cultura Lunariana, princesa .
— Mesmo ?
— É meu hobby . Gosto de estudar e conhecer os hábitos e demais aspectos culturais dos demais povos . Se me pemite comentar, há dois meses atrás estive em Netuno estudando mais sob aquele povo .
— Mesmo ?
— Sim, e eu ... hã, perdão . Acho que estou fugindo do motivo de sua visita – ele olha de lado, percebendo o olhar fuzilante de seu pai .
— Por favor, continue – ela segura em suas mãos, sorrindo – você é uma pessoa interessante, Joshua . É de pessoas como você e seu pai que nós precisamos em nosso planeta, interessados no desenvolvimento cultural e no convívio com os demais povos . Costuma visitar outras culturas, certo ? Tem algum conselho para me dar ? Descobri que usar um discurso feito para Marcianos em uma platéia de Uranianos pode ser extremamente desastroso ...
— Compreendo – Amistasi arrega-la os olhos e se prepara para “cortar a bola” de seu filho, mas se detêm, percebendo que esse também era o momento dele . Realmente, quando alguém pedia conselhos a seu filho sobre como se portar em diferentes culturas, ele não perdia a chance e ia até onde podia . – bem, magestade, tal coisa é mais simples do que a senhora imagina . Como sabe, da mesma forma que nosso povo faz comentários as vezes desagradáveis de outros povos, os mesmos o fazem dos nossos . Sei que é difícil, mas tente não ficar nervosa diante em uma reunião com representantes de várias nações, cada um deles com suas peculiaridades e manias . Mesmo que pareça estranha, seu modo de agir é algo totalmente natural em seu mundo de origem . Veja os venusianos, por exemplo . Eles são muito afetuosos . Extremamente afetuosos, na verdade . Seu conceito de familia não está apenas na semelhança sanguinea, mas na ligação com a alma – ele dá um breve suspiro, lembrando-se de sua amada – e eles também tem uma forma diferente de ver o mundo, pois o vêem com outros olhos . Muitas vezes isso é tratado como um descaso com assuntos mais urgentes, mas acredite, eles não são assim . Os alunos que tem vivido aqui tem aprendido isso a cada instante . O mesmo pode ser dito de outros povos, como os netunianos, saturnianos, mercurianos ou nemesianos . A senhorita tem apenas que tomar cuidado com o local em que pisa , e poderá evitar alguns embaraços .
— Psiu !
Amistasi se vira, percebendo que sua esposa estava na porta, chamando sua atenção . Mas o que era tão importante para ...
Ele sinaliza, dizendo que não era uma boa hora, mas ela insiste .
— Com licença – ele se ergue, embora percebesse que sua futura soberana estava mais interessada em Joshua do que nele . – O que foi, querida ? Agora estou ocupado, a princesa ...
— Não tira os olhos do nosso filho, já sei .
— Ora, não sejamos ...
— Querido ... ao contrário de você, eu não esqueci de como eu agia quando tinha a idade dele . Só um cego não perceberia que a nossa princesa o esta analisando detalhadamente .
— O que me lembra ... ele deve ter puxado esse charme do pai, sabe . Eu devia ter tentado seduzir a rainha quando era mais jovem, isso sim .
— Por falar em realeza ...
— O que foi ?
— A namorada dele está aqui .
— Ah, sim . Como se eu já não tivesse problemas suficientes .
— Ora ... qual é o problema ? – ela perguntava com uma expressão de desentendida no rosto .
— Problema ? Bem ... por acaso a herdeira do trono venusiano estar se relacionando com o filho de um embaixador marciano é um problema ? Espero que não . Bom, pelo menos com o futuro dele eu não preciso me preocupar, vejo que o garoto está bem servido .
— Ami ! – ela dá um tapa no seu ombro .
— Eí ! Vai com calma, meu bem ! Só estou preocupado com ele !
— Não acho que seja só isso .
— Está certa ... não é incomum alguém por aqui se apaixonar por um estrangeiro ... há pessoas aqui que não são totalmente venusianas, eu sei ... mas o fato de ser a filha do rei me deixa com uma pulga atrás da orelha, . E não venha jogar na minha cara que o importante é que eles se amam, disso eu sei muito bem, não passei esses anos todos aqui vendo a grama crescer, conheço muito bem a cultura deles . Só estou imaginando a confusão que isso vai dar . Posso até ver as manchetes em Marte : “membro do clã Lanzorei se aproveita da herdeira do Reino Venusiano para ascender socialmente da maneira mais rápida e fácil ”. Nosso Rei vai amar ouvir isso . O líder da nossa linhagem, meu primo, vai precisar de sedativos.
— Mas você vai apóia-lo, não vai ?
— Claro que vou . eu adoro esse garoto, Potifia . Adoro . Não é um rebelde, sei que, embora alguns atos dele possam ser interpretados como rebeldes, sei que ele tem bastante razão por trás deles . Achei que era uma afronta quando ele trouxe essa garota aqui, dizendo que a amava e tudo mais ... mas quem sou eu para dizer isso ? Eu o trouxe para conhecer uma cultura totalmente nova, com valores diferentes dos de nossa terra . Não podia esperar que isso não o afetasse . Estaria menosprezando tudo o que ele aprendeu aqui, isso sim . Joshua tem imenso orgulho de tudo o que aprende e consegue aplicar em sua vida, que tipo de pessoa eu seria desrespeitando sua caracteristica mais marcante ?
— Sabia que isso foi uma das coisas mais bonita que você já disse a respeito dele ?
— Shh ! Não quero que ele me ouça dizer isso ! Vai que ele escuta, vai pensar que só falta eu chorar , ou pior, que estou perdendo a sanidade . Anda, cadê a minha “futura nora de bolso-cheio” ? Bem que ele podia jogar esse charme pra cima da nossa princesa, seria bem menos desastroso .
— Está aqui atrás de ... Inana ? Mina ? Princesa ?
— “Mina” ?
— É o apelido pelo qual ele a chama .
— Maravilha ...
— Inana ? Inana ?
— Puxa, Josh, posso te chamar de Josh ? Isso é incrível ! Não imaginei que os mercurianos pudessem ser tão interessantes assim ! Sempre achei que eles fossem uns chatos, sabe . Vou passar a prestar mais atenção agora .
— Vai adorar, princesa . E vai se divertir também .
— Sabe, Josh ... é realmente de alguém como VOCÊ que EU preciso do MEU lado, sabe . Alguém experiente, que conheça alguns aspectos úteis dos outros povos membros da Confederação de Planetas . – ela estava segurando suas mãos, apertando-as e com o rosto bem mais próximo do que antes . – uma pessoa descontraída, que saiba entender e explicar os aspectos culturais sem ser chato, e que saiba se relacionar com as pessoas ao seu redor com enorme simpatia . Meu pai acha que eu devo aprender por conta própria, mas tenho certeza de que se eu apresentasse o seu nome, ele ficaria imensamente interessado e convencido de que é de alguém como você que eu preciso ao meu lado, sem contar que ele também ouviu falar de você .
— Hã ... bem ... princesa, eu ... eu estou honrado, não sei o que ...
— OI, LINDÃO !!!!
Joshua nem se mexeu, continuou parado quando aqueles dois braços vieram por trás, passaram pelo seu pescoço e o enlaçaram, acompanhados de uma doce e adorável voz melodiosa, a qual culminou em um beijo estalante em sua bochecha .
Já a princesa de Marte estava com os olhos arregalados, observando a cena . Aquela garota que estava diante dela, abraçando aquele rapaz ...
— Boa tarde, a quem devo a honra ... ?
— Muito prazer, meu nome é Inana . Gosto de cultivar flores e de música clássica, minha cor favorita é amarela, já tenho compromisso – ela roça o nariz na bochecha de Josh – sou musa nacional, inspiração para muitos e aprendiz-de-guerreira nas horas vagas .
Ela quase deu uma risada, lembrou de onde aquele nome :  era o mesmo nome da princesa de Vênus, a princesa Inana, a qual tivera a honra de encontra mais cedo . Naturalmente a semelhança era um mero detalhes, pois a garota se vestia com roupas comuns demais para ser uma princesa .
— Prazer, Inana .
— Pode me chamar de Mina, em carne, osso, beleza invejável e nem um pingo de modéstia, ao seu dispor !

— Aham ... eu ... eu irei deixar os dois a sós !
— Obrigada !
A mesma se ergue, caminhando até a saída, até que para e se vira .
— E, Josh ... minha proposta ainda está de pé . Meu pai reconhece um talento nato de longe, e eu também . E ainda não desisti de você – ela dá um leve sorriso, despedindo-se dele e passando pela porta – obrigado por tudo, senhor Lanzorei . Mais tarde meu pai virá visita-lo, e tenho certeza de que ele vai adorar a companhia de sua família , e de seu filho . Senhora Lanzorei, um bom dia para a senhora .
— Eu a acompanharei, princesa – ambos dizem ao mesmo tempo, seguindo-a até a saída .
— Você é maluca, sabia ? – ele sorria pelo canto do rosto para Inana .
— Sou louca por você, isso sim .
— Sabe quem era aquela moça ?
— Uma paqueradora de quinta categoria, isso sim ! Estava dando encima de você descaradamente ! E na frente do seu pai, onde já seu viu !
— Encima de mim ? Não exagere, por favor !
— Lindinho, eu reconheço quando tem alguém dando encima do que é meu , ouviu ? E aquela sirigaita estava definitivamente pisando aonde não devia .
— Mina – ele a olha seriamente, e ela percebe que passou da conta .
— Ta bom, ta bom, esqueça o que eu disse, desculpe por ter chamado a “sua princesa” de sirigaita . Melhorou ?
— Sim . Melhorou . Por acaso eu desrespeitei a princesa de Vênus alguma vez ? – ele sorria maliciosamente para ela .
— Não ... e se continuar assim, nunca vai ter essa chance, lindinho . Anda, vamos ver se o seu pai já despachou aquela sirigaita marciana .
— Mina !
— Brincadeirinha ! Acho que ele vai ficar um pouco irritado dessa vez . Quer que eu o acalme um pouco ?
— Hã ... não, obrigado . Ele ficou possesso quando descobriu que você fez isso da última vez com ele, lembra ?
— Foi a sua mãe que pediu, sabia ? Ele estava tão extressado que ela praticamente inplorou para eu acalma-lo ...
— Lanzorei Joshua – aquela voz grossa adentrava na sala . As coisas iriam “esquentar” por ai .
— Hã ... oi, pai . Inana veio me ver .
— Sim, eu percebi . É uma honra recebe-la, princesa – e não lhe escapava o fato dela estar agarrada no pescoço dele . – e Joshua ... aconselho que você pare de ficar seduzindo princezinhas indefesas . Sei que é seu “hobby”, mas não acho que o irmão da princesa de Júpiter vai gostar disso quando ambos vierem nos visitar em algumas semanas para averiguarem como anda esse programa de intercâmbio entre planetas e se ele mesmo funciona . E algo me diz que ele virá acompanhado de uma das princesas de Plutão, sabe .  Alguns amigos comentaram comigo na festa de aniversário da sua prima que ambos estavam enamorados, e acho que ele não vai gostar de ver a mesma encantada por você, fora, é claro, que eu me pergunto se o que temos é vai dar para comprar cola o suficiente para colar seus ossos depois que ele terminar com você ...– ele dava um sorriso bem sério, indicando que dicididamente alguém ali passou da conta .
— Hã, pai ...
— Nem me venha com histórias, garoto . Tampouco com uma de suas explicações . Sua sorte é que a princesa gostou de você, do contrário, estaríamos tendo uma longa conversa .
— Senhor Amistasi, por que só ele ganha uma bronca ? Eu atrapalhei a visita daquela sirigaita que estava dando encima dele na maior cara de pau, e bem na sua frente, senhor . E a senhora Potifia também percebeu . Por que só o meu lindinho leva bronca, heim ? Por que ? Por que ? Por que ? Não é justo só por que eu sou uma princesa ! Nem sou a princesa de vocês, então posso levar bronca também ! Anda, senhor Amistasi ! Anda !
— Com todo respeito, princesa ... mas já disseram que a senhorita tem uma língua enorme ?
— Já ! Papai e mamãe vivem dizendo isso ! Não tenho culpa se gosto de ser sincera !
— Percebi .
Naquele exato momento, Amistasi fez uma nota mental, para registrar aquilo em seu relatório a respeito dos venusianos, algo que se esquecera de registrar antes : venusianos falam EXATAMENTE o que pensam, não tem medo ou vergonha de dizer o que querem dizer . São extremamente sinceros, de modo que se algum deles quiser mandar você “à merda”, ele vai mandar você “à merda”, sem um pingo de remorso , tampouco vai segurar isso dentro de si . Deve ser por isso que sempre estavam sorrindo, ele imaginava . Afinal, não ficavam segurando nenhuma raiva ou rancor dentro de si ...
Coisa que seu filho havia registrado em seus próprios relatórios, ele lembrava . Era parte das caracateristicas  que vinha no pacote cultural de cada raça, de cada povo . Muitos consideravam os venusianos como um povo desrespeitoso e imprudente, especialmente por causa dessa característica deles de dizerem o que estão sentindo .
Não que isso seja um problema ... para eles . Afinal, é o mundo deles, não é um problema se todos são assim . O problema é quando entram em contato – ou melhor, conflito – com outros povos, outras culturas .
Mas como era bom lembrar ... venusianos em fase de amadurecimento .
Segunda nota mental retirada diretamente do diário de Potifia : curiosamente, venusianos amadurecidos conseguiam controlar – ou melhor, balancear – essa mania de dizerem o que querem , como se a idade lhes trouxesse um pouco de sabedoria ou algo parecido . Não que eles perdessem em definitivo uma de suas maiores marcas, a de falar sempre o que tem vontade de falar, mas é como se o amadurecimento os afetasse um pouco, seja diminuindo essa vontade de dizer o que querem, seja avisando-lhes com antecedência que certas coisas não deveriam ser ditas, ou puramente controlando-os mais um pouco, o que ela acreditava, pois embora mais velhos, tal caracteristica estava sempre impregnada nos venusianos . Um dos maiores mitos sobre os venusianos que eles desvendaram quando chegaram em Vênus fora a respeito da suposta “burrice” dos venusianos . Muitos os consideram como um povo sem cérebro, formado apenas por imbecis que diziam coisas idiotas nas horas mais impróprias, ou capacidade nata para dizer as maiores besteiras no pior momento possível .
Em verdade eles não eram os maiores gênios do sistema solar, como os mercurianos, mas estavam longe de serem idiotas . Afinal, uma vez que crianças e adolescentes venusianos dizem o que tem vontade sem nem ao menos parar para pensar nas conseqüências, também correm o risco de proferirem muitas palavras pouco sábias ...
***
— E então ? Como eu estou ?
— Hmmm ... – ele a olha de cima à baixo . O laço no peito a deixava bastante chique, e a minisaia era algo bem tentador, ainda mais levando-se em conta o quanto de suas pernas apareciam .
Será que a rainha Serenity nunca percebeu esse detalhe ? Quer dizer, um grupo de guerreiras que luta usando uma mini-saia ? Trajes diminutos ? E quando iam lutar , os inimigos prestavam atenção nelas, ou em suas pernas ? Realmente, ele já vira moças nem um pouco decentes usando roupas com mais pano do que o uniforme das senshis ...
— Que foi ? – ela coloca as mão na cintura, curiosa .
— Hmmm ...
— Lindinho ?
— Quando nos casarmos, poderia usar essa roupa na noite de núpcias ? Prometo que lavo e passo ela para você usar quando for trabalhar !
— Quem disse que eu vou me casar com você ? – ela continuava com as mãos na cintura, olhando para o lado – Você é um plebeu, um estrangeiro, eu sou uma princesa, a futura soberana do planeta Vênus .
— Lembre-se de que há outras pessoas na família real que discordam ...
— E daí ? Isso não muda o fato de que meu sangue é azul, enquanto que o seu é vermelho-latão . Serei prometida a algum nobre venusiano . Um duque, um conde, um marquês ... ou algum gostosão da família real, que é bem melhor ! Um primo de primeiro ou segundo grau, quem sabe . Afinal, temos que manter a família no controle, sabe ...
— Hmmm ... quando você for rainha ... não teria uma vaga de capacho ofici ... digo, de jardineiro ?
— Lamento, mas a vaga já está prenchida . Sabe como é, o pai do pai do pai do pai do pai de  Ishullanu serviu ao pai do pai do pai do pai do pai do meu pai, e desde então toda a família dele possui algum membro que tem a responsabilidade de cuidar do jardim .
— Quer dizer que ele é um escravo ?
— Claro que não ! Ele é remunerado pelo seu serviço, mas tal responsabilidade é passada de pai para filho .
— Ah, sim . Por um momento, achei que ele fosse um escravo .
— É ? Chegou a encontrar algum em outro lugar ?
— Nos tempos atuais, não ... mas é sabido que em tempos passados eram comum o uso de escravos em diversos planetas .
— Nunca houve nada assim em Vênus ! – ela bate os pés, determinada – não cometemos esse tipo de barbaridade !
— Calma, não estou acusando ninguém, só disse que tal prática já foi muito usada, e não somente pela nobreza . Na verdade, até pouco antes da fundação da federação de planetas, do Milênio de Prata, tal prática era usada . Mas nesse período, a maioria dos escravos eram filhos de escravos, ao contrário de antes .
— Antes ? Como assim ?
— Você sabe ... bom, planetas diferentes ... reinos diferentes ... ideologias diferentes ... interesses diferentes ... se até mesmo em seu próprio planeta você pode encontrar conflitos, por que não entre planetas ? Em verdade muitos prisioneiros de guerra acabavam virando escravos . E tal “moda” era usada em vários locais do sistema, do Cinturão Solar até Nemesis . Com o tempo, esses frutos das guerras entre os planetas se tornavam bem úteis, sabe . Pelo que estudei, houveram épocas em que cargueiros inteiros partiam para o comércio de escravos .
— Mesmo ? E eles ? O que faziam a respeito ? – ela coloca a mão no queixo, parecendo curiosa e ao mesmo tempo preocupada .
— Haviam escravos para os serviços forçados, mas eles haviam parado com tal prática há muito mais tempo, e os “escravos familiares”. Eram que nem  Ishullanu, a diferença era que não eram pagos . Geralmente pertenciam a uma pessoa, mas uma família podia ter um conjunto de escravos os servindo . Logicamente, os filhos de tais escravos também eram escravos e, por conseqüência, propriedade de seu dono .
— Mas eles nunca se revoltavam ?
— Como eu disse, nesse ponto eram muito parecidos com Ishullanu . Alguns estavam na família há tantas gerações, que lhes eram uma honra servir a uma família muito influente ou poderosa, como acontecia em alguns casos .
— Honra ? – ela estava indignada – que honra há em servir incondicionalmente, sem que tal coisa seja uma opção sua ?
— Era uma sociedade diferente, Mina . Bem diferente . E esse tipo de escravo muitas vezes era considerado como um membro da família . De certo modo, alguns se tornavam governantes de uma casa, ou até uma propriedade, seguindo as ordens de seu dono, tendo as vezes muita autoridade .
— Mas ... mas ... e se alguém os machucasse ? Ou os matasse ? Ou ...
— Escravos eram considerados como cidadãos de segunda-classe, Mina . Era muito comum isso, e tal coisas não é incomum em nossa sociedade atual . Geralmente cidadãos de segunda-classe são tratados, ou melhor, equivalem a mobília : cara ou barata, ninguém leva mais do que uma bronca , ou até uma surra em determinados casos, por destruí-la .
— O que ? Como é ? Destruir ? Quer dizer ... mas ninguém tomava partido deles ?
— Não . A não ser que o autor do mal seja alguém que não seja seu dono . Acredite, são pessoas que comem, bebem, vestem-se e tudo mais, e o dono não vai gostar que um qualquer bata nele ou o mate, no mínimo vai exigir explicações por isso . E se o escravo for muito querido, daqueles que tem bastante autoridade e que os donos gostam muito dele, pode ter certeza de que um simples pagamento não será suficiente . Mas esses escravos são um em mil, obviamente . E como nem tudo era um mar de rosas ...bom, sabe como é, ser propriedade de alguém não é tão bom quanto pode estar parecendo ...
— O que quer dizer ?
— Bem ... parta do principio de que você, sendo uma escrava, não tem direitos . Tampouco alguém para te proteger, somente seu dono que não irá gostar que danifiquem seu “investimento”, exigindo talvez outros escravos como pagamento . Como a história nos conta, haviam donos que eram extremamente cruéis : alguns marcavam com brasa suas posses, outros os faziam travalhar forçadamente, alguns os usavam como saco de pancadas, alguns eram vitimas freqüentemente de maus-tratos ... sabia que no planeta Terra, se uma escrava tivesse olhos mais bonitos dos que os de sua dona, a mesma poderia furar os olhos da escrava ?Fora os abusos sexuais, claro . Afinal, algumas escravas tinham atrativos que fariam algumas princesas morrerem de inveja .
— Nossa, que coisa ... mas não mude de assunto ! Quem disse que eu quero me casar com você ?
— Bem ... agora que a minha bela princesa foi nomeada Senshi de Marte, meu rei decidiu que seria extremamente útil ela ter um servo leal ao seu lado para instrui-la diante de situações problemáticas, em especial agora que irá passar bastante tempo na capital Lunar, sabe . Ele acredita que se ela se tornar rainha um dia, irá precisar que alguém com certo grau de cultura esteja ao seu lado para apóia-la, compreende .
— Hmmmm ... aquela sirigaita continua dando encima de você, como sempre !
— Por que a raiva ? Afinal, não foi você quem disse que não iria se casar comigo ?
— Eu não disse isso, seu bobo ! Eu disse “quem disse que eu irei me casar com você”? – ela avança, abraçando-o e estalando um beijo bem longo nele, um dos quais só reforçava a união que as almas deles compartilhavam – estava falando sério quando a estar ao lado dela ?
— Faz diferença ? Se bem que seria uma oportunidade de ouro para estar ao seu lado .
— Hmmm – ela encosta sua testa na dele, encarando-o docemente – sabia que as vezes você diz coisas lindas ? E isso que você tem, hmmm ...
— Isso o que ?
— Sua aura . É linda . É maravilhosa . E muito, mas muito excitante . Posso sentir o fogo que corre pelas suas veias só de olhar esse brilho ao seu redor, gostosão .
— Hã, Inana ... Mina ...
— Vai ficar só me olhando ? Sei que sou linda de morrer e que muitos pretendentes já se mataram por mim, o que me lembra que até hoje não entendo como fui recusar venusianos gatissimos para ficar com você ... mas gosto de muito mais do que ser só observada, sabe .
Ele toca seus lábios novamente, estalando sua língua dentro da boca dela, massageando a mesma de maneira estonteante .
— Nada mal, mas estou decepcionada por se tratar de um ser “mui caliente”.
— Sabia que anda muito ...
— Sabe qual é a melhor parte de nossas almas estarem unidas para sempre ? Se eu sentir prazer, você sente também . Se eu sentir tristeza, você também . Se eu sentir um desejo enorme de ...
Ela não tem tempo de terminar, pois o mesmo a empurra contra a parede e aperta sua coxa, hora delicadamente, hora com força . A mesma ronrona, mordendo o pescoço do mesmo e encravando as unhas em suas costas, ao passo que ergue sua coxa ao toque da mão dele .
Ele tem uma leve surpresa ao sentir aquilo . Havia ficado superexcitado, mas como ,se mal havia começ ...
Ah, sim. Estavam ligados . A excitação que ela estava sentindo enquanto ele tateava seu corpo estava sendo compartilhada, havia se esquecido .
Era algo interessante .
E perigoso, se mal controlado . Significava que ele sentiria seu prazer e o prazer dela . E vice-versa . Agüentar tais sensações poderia ser muito para alguém não acostumado . Como os venusianos suportavam tanto ?
Ele toca na base dos seios dela, enquanto que seu dedo indicador toca na ponta de seus mamilos, rodeando-o . Ele sente algo crescer dentro do mesmo, explodindo, como se quisesse tomar todo seu corpo . O mesmo se torce um pouco quando ela leva sua mão até a virilha do mesmo e começa a massageá-lo .
A velha Mina de sempre ...
Totalmente peralta, a mão que estava nos seios passa por debaixo da camisa, e em seguida cobre por completo um dos seios dela, e a outra mão segue livremente pela coxa dela, arrancando da mesma movimentos involutários e pequenos gemidos .
Ele sente um leve aperto no estômago quando ela aperta a bunda dele, massageando-a, ao passo que enfrega o nariz em seu peito . Ela sente seus sentidos explodirem quando uma das mãos cobria cada célula de seus seios, apertando-os hora levemente, hora com certa brutalidade, e quando a mão que passeava despreocupadamente pela coxa tocava nas nádegas dela e as apertava marotamente, arrancando-lhe gemidos cada vez maiores .
Nessa hora ele agradecia do fundo do coração pela rainha ter escolhido um uniforme tão curto para suas guerreiras .
Ambos estavam indo à loucura, e nem tinham sequer começado direito . Já haviam feito isso antes, ele já havia dado um amasso nela, mas sentir seu prazer e ao mesmo tempo o prazer dela era algo totalmente novo . Corriam o risco de se esgotarem por completo em poucos segundos, se não aprendessem a desvendar o corpo um do outro .
Em um ímpeto, ele leva novamente a língua até os lábios dela, e chega a prender a língua da mesma . Nesse momento ela sente um calor crescente, o qual tomava conta de seu corpo . Quando se dá conta, percebe que o corpo dele estava quente, e a temperatura aumentava ainda mais, de modo que, se continuasse assim, ele iria acabar queimando-a apenas com o toque de seu corpo .
Mas ela não se importava, nem um pouco .
— Com licença, alguém poderia me informar onde fica a sala das senshis – a moça para, espantada com a cena – mas ... mas o que vocês dois pensam que estão fazendo ?
Diante do grito – extremamente familiar, na verdade – Joshua larga Inana e se recompõe, ao passo que ela ajeita sua blusa, arruma sua calcinha e ajeita sua saia . Quando termina, percebe que estava curvado, fazendo uma reverencia .
— Bom tarde, princesa . É uma honra encontra-la por aqui – ele a encarava com o sorriso mais amarelo do mundo .
— Mas – definitivamente não era isso que ela esperava ouvir dele – mas ... eu ... hã ... Inana ... aonde fica a sala de reuniões ?
— Por ali, siga o corredor até o final e vire a esquerda, depois vire a direita, é a terceira porta . – a mesma respondia, terminando de ajeitar seu laço .
­- É .... hã ... ok – ela tinha um olhar duro para Inana – e não se atrase, ok ? Temos que decidir o futuro das senshis hoje . Bem ... até daqui há pouco – ela se afasta, irritada com o fato de que não conseguira pensar em algo para dizer diante daquilo que vira .
— Será que alguém já deu um amasso nela com a mesma usando essa roupa curta de senshi ?
— Josh ...
— Sabe ... quando ela tiver uns vinte anos ... vai ficar maravilhosa usando essa saia curta .
— Pode olhar à vontade, lindinho ... só não pode tocar . Terá que se divertir comigo, por enquanto . Bom, eu tenho que ir . Te encontro mais tarde .
— Assunto confidencial ?
— Confidencial ? Querido, entenda uma coisa ... eu não tenho segredos para você, entendeu ? Não devem haver segredos entre nós, e você tem honrado sua parte, e bem . Hoje iremos decidir o futuro da equipe, em especial a liderança .
— Mesmo ? Alguma favorita ?
— Sim, a “sua” princesa .
— Mesmo ? Acho que você tem mais chances .
— Querido ... meu amor ... minha alma gêmea ... compreenda uma coisa, sim ? Temos agido em conjunto há algum tempo, e de certo modo, compartilhamos de algumas opiniões . Pudemos observar cada uma em ação em situações diferentes, e agora iremos decidir quem irá liderar a equipe e, na minha opinião, ela é a mais capacitada .
— Mas por que você não pode ser a líder ?
— Cada uma terá um certo tempo para falar, para opinar e convencer as demais .
— "timo, você pode vencer nisso .
— Acredite, ela seria uma líder melhor do que eu . Não menosprezo a mim mesma, apenas sei que cada um tem uma função na equipe .
— Mesmo ? Bom, então me prometa uma coisa ? Quando entrar lá ... não fale com elas como se apoiasse ela . Não se você não tiver plena convicção nisso . E se não tiver ... acredite em si mesma .
— Que pergunta tola ... claro que eu prometo . Não estou entregando os pontos, apenas fiz um comentário . A gente se encontra depois, lindinho .
— Ok . Tenho certeza de que será maravilhosa lá dentro .
E ela foi . Incrivelmente maravilhosa e inigualável .
***
Em um único e rápido movimento ela se ergue, assustada .
A mesma olha ao seu redor, não enxergando nada naquela escuridão toda . Ela olha para seus braços, percebendo que estavam molhados . Todos o seu corpo estava encharcada de suor . Respirava de forma tão pesada, que começou a sentir uma tontura, a qual a deixava totalmente desnorteada .
Sem entender direito o que acontecia, ela fica totalmente em silêncio, tentando tomar o controle de seu corpo . Seu coração começa a diminuir o ritmo, até que bate em seu ritmo normal, ao passo que seu corpo vai se normalizando .
Mas ... aquilo ... aquilo foi tão real ... ela ... ela ...
Não ... não ... não podia ser ...
— Conseguiu lembrar de tudo ... Inana ?
Seu coração dispara, quase passando pela boca .
Ela torce seu pescoço, virando-o lentamente .
Não ...
Seus olhos se fecham, e uma pequena lágrima se forma no canto de seus olhos .
Não ...
Ela se segurava para não gritar, para não perder o controle por completo .
Não ...
A mesma abre os olhos, o encarando por completo, chorando .
Ele não . Não ele . Não aquele ... aquele rapaz . Aquela pessoa .
Aquele que um dia jurou dividir sua vida com ela .
Ela coloca a mão no peito ao sentir uma dor enorme vinda dele . Sentia como se seu mundo estivesse prestes a desabar, como se uma tristeza ainda maior invadisse seu ser .
A mesma suava ainda mais, desesperada com o que acabara de descobrir, com o que lhe fora revelado .
Josh ... Josh ...
— Josh ... Joshua ... querido ...
Seu peito batia mais forte, junto com uma sensação que tomava seu corpo, explodia no peito e se expalhava por cada canto de seu formo, como se quisesse consumi-la do principio ao fim .
— Oi, Mina . É bom te ver novamente . De novo .
Mina ... Aino Minako ... princesa Inana ... Mina ...
Era estranho, ele a havia chamado de Inana ... de Mina ... soava tão ... tão ...
Familiar .
Estranhamente familiar, ou melhor, familiar não ...
Agradável .
Minako para de divagar, quando finalmente se dá conta do que estava acontecendo .
Estava em sua cama, suando frio .
Mas era estranho, pois sentia um estalo na espinha, junto de um pesar em sua respiração, acompanhada de uma tremedeira em sua mão .
Ela segura a mão com a outra, apenas para sentir uma coisa estranha parecer passar daquela mão para a outro, seguir até o braço, o torço e se espalhar por todo o corpo .
Subia como um míssil pelo seu pescoço, descia até seus pés como se fosse chumbo em direção a Terra . Espalhava-se pelos seus braços como água formando nascentes, batia em seu peito como uma bomba, reunindo todas as suas forças para explodir e dar um fim àquilo tudo .
Ou um começo . Toca em seu peito, atinge sua mente, espalha-se pela sua alma, alimenta seu corpo .
Ela leva a mão até seus lábios .
Era algo ... diferente , que começara a sentir .
Um pouco de medo, misturado com nervosismo e necessidade ... anseio ! Desejava algo, e muito, mas tinha medo daquilo, das conseqüências .
Começa a pulsar . Estalava em seu corpo, preenchia cada parte de seu ser, tomava-a por completo .
Desejo .
Estava desejosa de ... estar com alguém .
Mas era tão estranho . Tinha experiência em analisar e detectar emoções, suas e de outros, mas ... de alguma forma, embora estivesse sentindo aquilo em seu corpo, desfrutando dos beneficios daquelas sensações ... sentia que aquilo não era seu, não havia nascido ali, dentro dela .
Ela vira a face, encarando Josh novamente, o qual estava sentado em uma cadeira, com a cabeça abaixada .
Medo . Um medo muito grande, era o que ele sentia . Medo de que as coisas não acontecessem como ele tanto desejava, como tanto imaginava que fosse acontecer . E ao mesmo tempo, um desejo enorme, o qual não conseguia mais ser reprimido, que fora contido por tempo demais, e o mesmo já não suportava .
Minako arregala os olhos, ao constatar o que estava acontecendo ali ... com ele ... com ela ... com ambos .
Ela ... ela estava sentindo o anseio e o desejo dele ... como se fosse um sentimento próprio, como se fosse ela quem estivesse sentindo isso !
— Q-quem é você ? – as palavras se libertavam quase que inaldiveis em seus lábios .
— Joshua . Lanzorei Joshua . Mas isso você já descobriu, não é mesmo ?
— Joshua ... oh, Joshua ... meu ... Joshua ... não compreendo ... o que é isso ... o que é tal coisa que bate no meu peito ? Por que eu sinto tal coisa ? E por que isso aumenta quando eu olho para você ? Não posso entender ... não consigo compreender ...
Ela se ergue da cama, ficando no outro canto do quarto . Joshua podia sentir um medo enorme naquela momento, e percebera o terror que havia invadido os olhos de Minako .
— Mina, por favor ... não tenha medo . Eu estou aqui para te ajudar . Por favor, confie em mim !
— Confiar ? Como ? Você ... você surgiu em uma vida de uma hora pra outra, e agora eu estou sentindo uma vontade enorme de pular nos teus braços ! O que você fez comigo ? – ela abaixa o tom de voz, lembrando-se que Megumi estava dormindo em seu quarto – o que você fez ?
— Eu não fiz . Você não fez . Nós fizemos .
Nós . Que coisa estranha para se dizer . Algo havia acontecido com eles, disso tinha certeza . Algo que havia deixado marcas . Lanzorei Joshua ... Joshua ... Josh ... filho de Amistasi e Potifia ...
Uma enchurrada de lembranças invadia sua mente, algumas doces, outras amargas . Alegres e tristes . Acolhedoras e revoltantes .
Mas eram lembranças . E muitas delas eram inigualáveis, em especial as de quando ela estava ao lado dele, passeando, se divertindo ...
As vezes em que ele adentro no palácio, quando ele escalou a torre ... quando fizeram um piquenique ... quando ele a apresentou aos seus pais ... quando ela o apresentou aos seus pais ... a cara de embaraço de Joshua quando sua irmã dava encima dela, assim como em todos os namorados que ela tivera – e ela fazia o mesmo, lembrava-se – aquele dia em que flagrou a princesa de Marte dando encima dele ... e quando ela os flagrou em um momento intimo ...
Na altura do campeonato, ela enrubrece . Um calor crescente e contagiante se espalhava rapidamente pelo seu corpo, ao passo que seu coração batia cada vez mais rápido . E mais rápido . E mais rápido . E ainda mais .
Ela leva a mão aos seus lábios, surpresa com aquilo . Era como se algo adormecido há milênios tivesse acabado de despertar, para a sua total surpresa .
Mas ainda assim, era confuso . Não estava acostumada a ter suas próprias emoções manipuladas . Nem sempre . Precisava colocar os pensamentos em ordem, tentar entender o que era aquilo . Sem dar nenhuma resposta, ela abre a porta de seu quarto, ao passo que caminha até a sala e senta no sofá, jogando a cabeça para trás .
Era estranho, muito estranho . E complicado .
Fazia e não fazia sentido . De uma hora para outra, sentia-se tremendamente apaixonada por aquele rapaz, como se estivesse pronta a entregar a sua vida a ele . Como se ela fosse dele, e ele, dela . Suas vidas unidas, marcadas por toda a eternidade, compartilhando cada momento, não tendo segredos um para com o outro, desfrutando cada instante, amando-se a cada minuto .
Mas isso não fazia sentido . Há pouco mal o conhecia, não tinha o menor interesse nele, não passava de uma pessoa abusada e irritante, fruto de sua imaginação, e agora ... agora ...
Ela desejava com todas as suas forças que ele fosse real .
Unia suas mãos, e se houvesse algo entre elas, seria esmagado . Seu coração batia aceleradamente, de maneira descontrolada, e sua respiração aumentava .
Mas o que era isso ? Por que o desejava tanto ? De onde vinha tamanho carinho, afeto ... amor ?
Paixão ?
Desejo ?
Não entendia, não compreendia . Sentia-se uma tola, uma incapaz por não saber compreender o que se passava com ela, igual a ultima e única vez em que tal coisa aconteceu, em que ela perdeu o controle de si mesma .
Por isso ? Os ataques, o incêndio, a escola ...
Isso tudo de uma só vez, perturbando o delicado equilíbrio, destruindo o rumo que ela havia dado a sua vida, dela e de seu filho .
Nem se deu conta quando começou a chorar, quando as lágrimas escorriam pelo seu rosto, tomadas por uma tristeza ferrenha .
O passado sempre voltava . De um jeito ou de outro, ele sempre voltava . E com força total, atingindo-a da maneira mais dolorosa .
Ela tentou de todas as formas, com todas as suas forças, esquece-lo . Tentou se esquivar, esconder, tomar novos rumos ... mas ele voltou .
Aqueles dias de um passado esquecido haviam retornado . Não, não dias de um passado esquecido ... quase esquecido ... e que agora estava vindo a tona .
Por que não podia ser uma simples mulher ? Era Aino Minako, dona de casa, professora e mãe . Era pedir demais ? Por que suas amigas não podiam cuidar da situação ? Por que ela tinha que ser envolvida nisso ? Por acaso não tinha o direito de escolher ? Será que teria que ser uma senshi sem opção ?
Por que ? Por que ? Por que ? Por que ? Por que ? Por que ?
Qual era o problema nisso tudo ? Apenas queria uma vida normal, longe de guerras, uma família ... o que havia de errado nisso ? Fora a princesa de Vênus quem fizera o juramente perante a rainha Serenity, e não a humana Aino Minako !
Por que ? Por que ? Por que ?
— Okaasan ? Tudo bem com a senhora ?
Ela tem uma leve surpresa quando vê seu filho parado diante dela, sonolento .
— Filho ...
— Por que a senhora está chorando ?
— Eu estou bem, filho . Vá dormir .
— Não consigo, Okaasan .
— Por que, minha jóia ? O que aconteceu ? – ela o pega e coloca no seu colo – teve um pesadelo ?
— Não, Okaasan, mas ... eu ... eu achei que a senhora estava triste, só isso .
— Triste ? Eu ? – ela enxugava as lágrimas – mas como pode saber disso, meu tesouro ?
— Eu não sei ... apenas senti que a senhora estava triste, e resolvi procura-la . A senhora estava tão irritada por causa da brincadeira que eu e Megumi fizemos, que achei que a senhora estava triste por causa disso . Me desculpe, Okaasan – ele a abraça ternamente, com todas as suas forças – por favor, eu prometo que não faço isso de novo .
Ela não tinha palavras para expressar, pois naquela hora, mesmo que momentaneamente, tudo o que sentia havia se afastado . A única coisa que sentia era algo diferente . Algo frágil e singelo, que tinha a incrível capacidade de atingir as estrelas . Uma coisa que batia em seu peito, só que de forma carinhosa, com o único objetivo de confortá-la . Suas dores fluíam, como se fossem uma ilusão .
— Você sempre esteve comigo, não importando o que viesse a acontecer, querido .
— Okaasan ...
Lágrimas retornavam, de pura alegria, mas ela não se preocupava em conte-las, pois em seu intimo, sabia que as lágrimas de hoje são o orgulho da eternidade .
— Tudo o que você precisa é amor, Okaasan – o menino lhe beija na testa carinhosamente, derretendo o coração dela . - Eu acredito que todos nós podemos, que todos temos o direito de sonhar . A senhora me ensinou isso, e eu sempre vou me lembrar de cada coisa que me ensinou . Eu quero fazer como nas histórias que me contou, quero alcançar e agarrar o futuro incontável, e mesmo que o mundo seja coberto pela escuridão, eu sei que o brilho das cores do arco-iris que existe no meu, no seu  e no coração de cada pessoa, torna tudo possível, Okaasan .
— Eu ... – seus olhos estavam prestes a desabar . Aquela fora uma das coisas mais belas e doces que sua jóia havia dito em sua curta vida ... coisa que ela havia ensinado para ele ...- minha jóia ... você se lembra ... quando eu disse ... que tudo o que você precisa é amor, lembra ? – a mesma tornava a aperta-lo com todas as forças – eu também acredito, meu tesouro ... acredito no poder de sonhar ... acredito que cada um de nós não só pode, como tem o direito de alcançar e agarrar o futuro incontável, e que não há sonhos que não possam tornar-se reais – ela afaga o cabelo dele, sorrindo deliciosamente, sendo acompanhada por ele .
Por um momento, por um breve e curto momento, nada mais existia, nada mais importava . Sentia a enorme felicidade de seu filho e, de alguma forma inexplicável, ele sentia a sua . Nada mais era importante, o mundo poderia encontrar seu fim a partir dali . E se era um pensamento egoísta, que se dane, pois um sempre apoiaria o outro . Um sempre estaria com o outro, até o fim dos tempos . Nunca estariam sozinhos, por maior que fosse a distância .
Sempre .
— Obrigado, filho .
— Eu também te amo, Okaasan .
Seu peito pulsava mais . Shinnosuke era pequeno demais para compreender, mas ela sentia exatamente a sensação que cada palavra dele causava em seu corpo .
Ele também devia estar sentindo, mas não devia se importar . Para ele, era apenas a alegria de estar junto de sua Okaasan, a importância dela em sua vida, e a importância do mesmo na vida dela .
— Não fique triste, Okaasan . Eu não tenho braços fortes o suficiente, mas eu sei que um dia a senhora encontrará quem os tenha .
— Shinnosuke ...
— Obrigado, Okaasan . Obrigado por tudo . A senhora é a melhor pessoa que eu já conheci . A maior mulher que já existiu . A senhora é maravilhosa – os olhinhos azuis dele lacrimejavam enquanto a encaravam – eu estou muito feliz por ter a senhora como Okaasan, Minako-mama .
— Filho ... meu filho ... meu precioso ...
— Desculpe não poder ajuda-la . Vou falar com o tio Roger, talvez ele conheça um amigo pra te apresentar . Mas tem que ser bonito que nem a senhora, do contrário, não aceito ele como Otousan, ok ? – seus olhos brilhavam, trasmitindo para Minako as mais belas, puras e singelas emoções que ela já teve a chance de experimentar .
— Tudo bem, filho . Se algum dia encontrar alguém que você ache que está a altura de ser seu Otousan ... traga-o para eu conhecê-lo  .
Eles se abraçam, e ficam ali por bastante tempo . Mais do que ele podia suportar, e acaba cochilando ali, com a cabeça encostada no ombro dela . Com todo cuidado,ela o carrega para seu quarto, ajeitando-o na cama e dando-lhe um beijo de boa noite .
Ela já se sentia bem melhor . O mesmo não compreendia, mas acabou transmitindo para ela algo tão doce e puro que acalmou a sua agonia e aplacou sua confusão .
Ela retorna para a sala, estando bem mais tranqüila, tentando colocar os pensamentos em ordem . Algo precisava ser feito, algo precisava ser resolvido .
E ela sabia muito bem como faze-lo .
— Josh ...
— Estou aqui – ela olha para a cozinha, e ele surge dela, caminhando em sua direção, sentando-se no sofá à sua frente – sente-se melhor ?
— Sim, mas ainda estou confusa . Meu filho ...
— Eu sei, ele te confortou . Tentei fazer isso, mas ele chegou primeiro .
— Eu tenho dúvidas, Josh . Muitas .
— Todos temos, Mina . Todos temos . Por mais que nos esforcemos, ninguém sabe de tudo, Minako .
— Me chame de Mina ... por hora . Eu ... eu me sinto melhor ouvindo você dizer isso .
— Que tal se acalmar antes de começarmos ?
— Já estou calma, Josh .
— Estamos Sintonizados, lembra ? Sinto um nervosismo crescente dentro de mim, e sei que não vem de mim, embora eu sinta como se fosse meu .
Ela abre a boca para protestar, mas fecha os olhos, concentrando-se . Precisava ignorar todo o nervosismo, deixar aquilo de lado .
Naquele instante, ela se agarrou a tudo que acabar de passar, a tudo o que havia compartilhado com seu filho, e conseguiu eliminar aquele nervosismo .
— Obrigado, Mina . Obrigado mesmo . É impressionante a pureza de uma alma infantil, não é mesmo ?
— Sim . Então ... eu sou a princesa Inana, não é mesmo ? E não me venha com essa de que eu me lembrei de tudo, quero deixar as coisas bem claras .
— Correto . Princesa Inana, herdeira do trono venusiano, a última Sailor Vênus da Federação de Planetas que se tem conhecimento . E a líder das Senshis, claro .
— Como isso é possível ? Como eu me tornei a líder das senshis ? Sailor Marte era uma excelente estrategista . Sailor Saturno era uma das mais poderosas . Sailor Mercúrio era capaz de tomar decisões lógicas e pensar calmamente mesmo em situações de pressão . Por que eu ?
— Existem pessoas e pessoas em um grupo . Os fortes, os intelectuais, os astutos ... mas ser um líder não é apenas ter poder ou grande capacidade, não é mesmo ? É preciso muito mais do que isso . Atitude, posição, liderança, capacidade de organizar o grupo, de gerar o respeito mutuo entre todos ... acredite, Mina ...
— Você havia me dito isso, eu me lembro . Me lembro muito bem .
— Próxima pergunta ?
 - Sim . Por que está aqui ?
— Para te ajudar . Você precisa de ajuda, e eu não vou ficar em paz comigo mesmo se não te ajudar .
— Está aqui só por isso ?
— Por hora, sim . Ainda bem que desceu, não é algo para ser conversado diante da princesa .
— Princesa ... quer dizer que sua missão principal é proteger a princesa, correto ?
— Como ?
— Serenity, lembra-se ? A rainha Serenity, e ela tem uma filha, a princesa Serenity, a qual também voltou a vida . .
— Sim, Mina, eu a conheço ... mas não vim aqui para isso . Estou aqui para discutir assuntos mais importantes do que o Antigo Reinado .
— Mais importantes ? Referia-se então a Megumi ? Veio para protegê-la ? É isso ? – ela cerra os olhos, encarando-o – veio para estar ao lado da menina, assim como fez com a mãe dela ?
— Mina, Mina, Mina ... acredite, a princesa está muito bem protegida, se quer saber . Meu interesse é em você, por hora .
— “Por hora” ? Josh ...
— Sabe que eu não estou mentindo . Pode sentir o que eu sinto com a maior facilidade do mundo . Não tenho segredos ou pudor algum diante de você, Inana . Nenhum mesmo .
Minako cruza as pernas, cada vez mais confusa . Era como se, de alguma forma, não conseguisse duvidar do que ele dizia, como se sentisse uma enorme sinceridade em suas palavras . Mas como era possível ?
Não sabia a resposta ... mas conhecia a pergunta .
— Lanzorei Joshua ... o que é a Ligação ?
— Como ?
— O que é a Ligação ?
— Eu não entendi, Mina .
— Você disse que estamos ligados, e eu me lembro de algo chamado Ligação ... o que é isso ?
Agora era a vez dele arregalar os olhos, como se um terceiro olho tivesse surgido na testa de Minako .
— Algum problema ?
— TODOS ! Você é uma Venusiana ... que história é essa de “o que é Ligação” ?
— É o que eu quero saber, oras . Por que ?
— Por que ? Ora, por que – ele maneia a cabeça, não conseguindo acreditar que ela havia dito isso, que a princesa de Vênus, a bela, simpática e amável princesa de Vênus lhe fizera tal pergunta . Uma Venusiana que não sabia o que era a Ligação ? Era algo realemtne dificil de se acreditar . – Minako, me desculpe, mas um nativo do planeta Vênus perguntar para um estrangeiro o que é a Ligação, é o mesmo que eu perguntara para você qual é a técnica que eu uso para executar a respiração .
— Ninguém sabe de tudo, Joshua . Ninguém .
— Exato, mas da mesma forma que uma criança não precisa que lhe ensinem a respirar, uma venusiana não pergunta o que é a Ligação, já nasce fazendo .
— Mesmo ? – ela apoia a cabeça na mão, cujo cotovelo estava apoiado na perna – pois bem, a princesa Inana era uma venusiana, eu sou apenas uma humana que retorna ao corpo dela quando me transformo . Não sei o que é essa tal de ligação, e mesmo que eu a pratique, não tenho a menor idéia, da mesma forma que uma pessoa pode passar a vida inteira realizando a respiração sem nem ao menos saber que a executa . E como sou a única venusiana por aqui, vou precisar de uma aula rápida – ela sorria para o mesmo, incentivando-o a ir em frente .
— Certo ... ok, me desculpe, eu realmente estava surpreso, não achei que você tinha esquecido de ...
— Quer parar de enrolar ? Eu agora estou curiosa, explique de uma vez !
— Tudo bem . Passei anos e anos morando em Vênus, aprendendo com seu povo, estudando sua cultura e colocando-a em prática na minha vida . Em outra oportunidade posso lhe explicar a respeito de seu povo, sua cultura, sua história, suas artes e tudo mais, mas vamos nos concentrar nos pontos mais importantes . Por um determinado periodo de tempo, a mãe está intimamente ligada ao bebê, através do cordão umbilical . Em várias culturas é dito que isso proporciona uma ligação intima entre ambos, de forma que a mãe pode sentir os problemas da criança no útero, e suas tristeza as vezes pode afetar o desenvolvimento dela . Certo, isso é uma ligação a nivel humano, um compartilhamento temporário . Claro, muitas vezes isso reflete na criança fora da barriga, como em casos que a mãe deseja ou não a criança . Pois bem, os venusianos tem uma vantagem, um dom racial, sabe . Eles tem uma intima ligação com o mundo espiritual e tem uma facilidade enorme para perceber as emoções das pessoas . Há relatos de pessoas com tais caracteristicas, as quais recebem os nomes de empatas .
— Quer dizer que eu sou uma empata ? Então ... eu tenho poderes psiquicos ... como Rei ?
— Não .
— Então, como algo assim é possível ?
— Realmente existem pessoas assim, que podem fazer muitas coisas com a força da mente . Erguer objetos, voar, sumir e aparecer em outro lugar, ler mentes, alterar e compreender as emoções das pessoas ... esses últimos são conhecidos como empatas . Empatas psiquicos . Acontece que os venusianos são empatas por natureza, uma habilidade racial, igual a força gigantesca dos jovianos, ou a capacidade intelectual dos mercurianos . Mas eles não são psiônicos . Sua empatia não é baseada na mente, é baseada na alma . Empatas psiquicos atacam a mente para afetar a alma . Empatas espirituais pegam um “atalho” e afetam diretamente a alma . Tomam o caminho mais rápido .Claro que isso é um resumo, afinal, os espirituais tem uma gama de vantagens enormes sobre os psiquicos, mas não vamos discutir isso agora . Imagine o seguinte : um povo inteiro capaz de sentir as emoções, os estados de espirito das pessoas, capaz de ler a alma de seus semelhantes . Imagine um povo em que a sinceridade é algo muitissimo apreciado, a capacidade de se conciliar com os outros é algo fincado nas origens de sua cultura . Imagine um povo que não tem medo de se abrir com os seus, de permitir que semelhantes compartilhem de sua alegria . Esses são os venusianos, muita vezes tratados como molóides sedutores . Agora imagine uma venusiana grávida . Não será apenas o cordão umbilical, ela literalmente vai sentir a criança dentro de si, a alegria do feto, as tristezas dele . E a mesma sentirá isso vindo da sua progenitora .
— Isso é a Ligação Venusiana ? Incrivel ! Não achei que ...
— Essa é a Ligação Venusiana ... existe algo ainda mais ... impressionante do que isso ... eu irei explicar para você depois .
— Algo mais impressionante ? É possível ?
— Sim . Mas como eu dizia ... tal caracteristica desse povo reflete um afeto enorme pelo próximo, pelo semelhante, pelos familiares . Alguns gestos que em algumas culturas poderiam ser considerados como provocativos, são considerados normais nessa cultura .
— Por exemplo ?
— Imagine uma linda moça limpando a boca de um rapaz que estava suja com um pouco de doce em público .
— Acho que eles deveriam ir para um local mais reservado para isso .
— E seu eu dissesse que são irmãos ? Acredite ... venusianos são muito afetuosos . Podem ser sedutores, mas com os seus, com os que amam, são muito, mas muito afetuosos, sem medo de expressar seu afeto em público, independente do que as pessoas ao redor digam . E são sinceros, uma caracteristica marcante do povo .
— Sim, eu sei ... lembro-me disso muito bem .Os venusianos podem sentir as emoções das outras pessoas ... mas eles podem ter uma forte ligação de afeto com seus familiares .
— Sim, como vocês dois .
— Vocês ? A quem se refere ?
— A você e ao seu filho, lógicamente .
— Shinnosuke ? Mas ele ... ele ?
— Como eu disse ... familiares . A ligação é muito mais do que eu mero laço sanguineo . É um laço de almas . Entenda ... venusianos sempre estão ligados a alguém . SEMPRE ! Um irmão, um filho, um pai ... um amigo ... qualquer um . E se você perceber uma pessoa ligada a um venusiano, pode ter certeza de que esse venusiano considera essa pessoa como um irmão, como um membro de sua familia, como alguém a quem ele confia a própria alma .
Ao fim da explicação do mesmo, ela estava de boca aberta .
O que acabara de ouvir era algo no mínimo explêndido .
Que cultura incrivel essa, a dos venusianos . Uma cultura baseada na ligação familiar ... no afeto entre elas ... era praticamente um sonho, em que cada membro da familia teria uma noção do que outro estaria sentindo ... irmãs se divertiriam brincando de boneca de maneira igual ... primos jogariam bola e sentiriam a mesma alegria da vitória ... pais compreenderiam melhor os sentimentos dos filhos ... filhos respeitariam mais os pais ...
Era um sonho, um sonho que parecia virar realidade, mesmo que em outra época .
— Quer dizer que Shinnosuke sabe quando eu estou irritada ? Ou triste ? Ou alegre ?
— Sim . Ele pode sentir . Da mesma forma que você sente o estado de espirito dele, mesmo que ele esteja bem longe de você . Geralmente cada membro da familia tem uma ligação em menor ou maior grau com os membros da familia, mas geralmente todos tem uma ligação fortissima com a matriarca . Os filhos e o pai ... geralmente é assim, mas não é a regra oficial, apenas é mais comum algo desse tipo . Afinal, é a primeira ligação que a criança tem, e os pais se unem, sintonizam suas almas para formar uma nova familia . Claro que já ouvi falar de casos em que a ligação era mais forte com o pai, mas foram poucos casos .
— Sintonizar ?
— Uma outra ligação . Na verdade, é a mesma ... só que mais forte . Muito mais, se é que tal palavra pode ser usada .
— Sintonizar ... eu ... eu já ouvi essa palavra, mas não consigo me recordar, digo ... é como se uma névoa estivesse em minha cabeça ... ou algo estivesse obstruindo os meus pensamentos ...
— Minako – ele se aproxima, sentando-se ao lado dela – isso nós fazemos ... com aqueles que amamos ... lembra-se ?
Uma bomba explodiu em seu peito . Era como se algo, na parte mais funda de sua alma, tivesse despertado, como se um furacão que clamava por liberdade há tempos finalmente tivesse achado o caminho para fora .
A ligação de Almas . A Sintonia de Almas . Muitas vezes confundidas pelas pessoas ... mas bem claras pelos venusianos .
Os venusianos sempre estavam ligados a alguém, desde o principio . Mas em plena sintonia, isso era algo bem mais complicado . E demorado, as vezes .
Eles eram grandes sedutores por naturezas, maravilhosos amantes, inigualáveis nas artes do carinho . Mas seus talentos eram usados única e exclusivamente para com “os outros”, aqueles que compartilhavam de sua presença ocasional .
Mas, para aqueles que amavam, e somente para aquele que amavam até a última parte de suas almas ... eles reservavam algo especial, mas muito especial mesmo .
A sintonia .
A plena sintonia .
Muito mais do que a Ligação em que eles podiam ter uma ligaçõ afetiva com seus familiares .
Muito mais, pois na sintonia, um venusiano faria sua alma entrar em plena sintonia com a alma de uma pessoa .
Já não existiram dúvidas, tampouco medos ou segredos entre ambos, pois um sentiria EXATAMENTE  o que o outro sentisse, como se fosse um sentimento próprio . Se um chorasse, o outro também choraria pelo mesmo motivo . Uma alegria sentida, um sentimento compartilhado . Um beijo compartilhado, uma alegria duplicada . Um sentimento de conforto que nascia em alguém, seguia para o companheiro e retornava com força total .
Era a chance de ter com um companheiro um tipo de compreensão que nunca poderia ser imaginado, o parceiro perfeito, que sabia exatamente o que você sentia, que compartilhava exatamente de suas dores, de suas alegrias, de suas tristezas . Um ato em que eles uniam seus espíritos com as pessoas que amavam, tornando-se apenas um com ela . E isso somente se um confiasse totalmente no outro, a ponto de abrir todas as suas defesas da alma, o terreno proibido .
No fim, se tornavam uma pessoa só . Duas mentes com consciências separadas, mas com emoções unidas . Dois corpos isolados, mas com almas compartilhadas e mescladas . Tão mescladas, que as auras de ambos iriam brilhar na mesma sintonia, no mesmo padrão .
Josh apenas a observa, enquanto a mesma ruminava as informações de cabeça abaixada . Mais um pouco, e ele iria conseguir o que queria, iria finalmente ...
Ele não teve mais tempo .
Ela pula encima dele, derrubando-o no sofá e em seguida ambos estavam rolando pelo chão da sala, se beijando, se amando como nunca, ou melhor, como há muito tempo não faziam .
Estavam ligados .
Sempre estiveram .
Suas almas ... elas ... elas estavam ligadas ... plenamente ligadas ...
Como estiveram um dia, em outra vida .
Ele queria afasta-la, terminar de conversar com ela . Mas não conseguia . Por alguns instantes, ele se deixara levar pelo sentimento de reencontrá-la, pelo desejo de estar ao lado dela, depois de tanto tempo .
Eram só um .
Ela ainda estava surpresa, mas ignorava parte disso ao sorver a presença dele, o brilho de sua alma . Sentia que não fora algo que ele ou ela fizeram, e sim o que ambos  fizeram . Sentia isso, lembrava-se exatamente do momento em que ele havia se oferecido por inteiro a ela, e ela a ele .
Embora em sua alma, era algo que se remexia em seu peito, como uma for desabrochando .
Na verdade, era como uma estrela prestar a nascer, espalhando seu brilho por todo o universo .
Não . Não nascer . Renascer .
E o melhor ... o desejo ... a alegria de estar ao lado dele ... ela sentia exatamente a mesma emoção batendo no peito dele, em sua alma .
O momento mágico em que entraram em plana sintonia ... a alegria que ambos sentiram ...
A alegria de dois corpos, apenas uma alma, de ter uma emoção totalmente compartilhada por ambos ... de que embora sejam dois, na verdade eram só um .O que um sentia, o outro sentia, uma alegria, dois sorrisos, um beijo melado e apaixonado, um desejo e sentimento de amor sentido por ambos em igual intensidade, nem menor, nem maior .
O calor no peito de Minako . O calor no peito de Joshua . E daí ? Ambos sentiam como se fossem apenas um .
E eram .
Ela rolava, saciando-se dele, de sua presença, sentindo o toque de sua aura, encarando-o simplesmente . Perdera a conta de quantas vezes apenas o encarava, saciando-se apenas de seu toque . Seu espirito estava bêbado com a comunhão que haviam gerado, enlouquecendo-se como nunca, o que  era verdade .
Na verdade, aquilo não era o nascer de uma estrela, e sim o renascer . Como antigos amantes que, depois de muito tempo, finalmente haviam se encontrado .
E que nada no mundo poderia separá-los, nada .
***
Duas horas .
Havia ficado ali, saciando-se do brilho da alma de seu amado por duas horas . Duas longas e prazeirosas horas .
A mesma se ajeitava, arrumando a roupa que estava toda amarrotada, sentando-se no sofá . Um sorriso enorme estava em seu rosto, de uma face a outra .
Minako estava feliz .
Pela primeira vem em muito tempo ela se sentia amada, em um nível que há tempos nunca experimentara .
Já tivera paqueras, já tivera namorados ... mas nunca algo daquele tipo .
Josh, por outro lado, estava sentado em outro sofá, olhando para o lado . Sua roupa não estava amassada ou desarrumada, pelo contrário, estava impecável .
Ela não deu a minima para isso, mal podia esperar para abraça-lo, para estar ao seu lado novamente .
— Josh – ela se ergue e se senta ao seu lado .
— Pare, Mina . – havia uma certa melancolia em sua alma – por favor, pare .
— Mas ... por que ? Josh ... koibito ... o que houve ? O que te aflige ? Não está sozinho nisso, meu amor  Seja o que for ... iremos superar isso juntos . Você veio atrás de mim, me seguiu até em outra vida ... por favor, não guarde essa enorme dor dentro de si .
— ...
— Koibito ? Koibito ?
— Céus ... eu não acredito ... eu simplesmente não acredito !
— Josh ... o que houve ? O que te irrita tanto assim ?
Ele a encara, esforçando-se para desfazer aquela expressão de ira, falhando miseravelmente .
Mas a bela expressão dela era maravilhosa . Apesar de estar mais velha, ela não deixava de ser linda .
Mas estava ligado a ela . Poderia simplesmente não dizer, poderia dizer que não era nada, mas ela continuaria sentindo que havia algum problema com ele .
Infelizmente ... estavam ligados .
— Droga ... maldição ... eu ... eu ... eu falhei . Eu falhei, Inana . Justo quando eu deveria ter feito tudo corretamente, eu falhei .
— Falhou com o que ? Diga-me o que é, irei ajudá-lo, querido . Seja o que for, sempre irei apoiá-lo .
— Eu falhei, Inana . Falhei feio, e justamente com a pessoa mais importante para mim .
— Mais importante ?
— Sim ... você .
— Mas ... você não falhou ! Disse que sempre estaria ao meu lado ! – ela estava um pouco apreensiva, sentindo na alma o sentimento de fracasso dele -  está aqui ao meu lado, me confortando ... me ajudando ...
— Por favor ... não faça isso ...
— Isso o que ?
— Tocar em mim ... por favor, não ...
— Algum problema em abraçar minha alma gêmea ? – ela sorria amavelmente, ao passo que ele estava prestes a desabar em um choro .
A principio ela pensou que fossem os hormônios . Pelo visto ele retornou a vida bem depois dela, e o estado emocional dele deveria estar em frangalhos .
Mas a verdade era bem pior .
— Inana ... por favor, você tem que me desculpar ...
— Eu não te desculpo, Koibito ... eu compreendo o que está passando ... nunca vou te condenar de nada, ouviu ? Nunca . É tão bom estar ao teu lado ... sentia tua presença . Quando você apareceu e eu não te reconheci ... as vezes em que apareceu em seguida, tentando fazer eu lembrar de quem você era ... é tão bom tê-lo ao meu lado ... eu tenho me sentido tão solitária ... tão ... tão ...
— Está vendo ? É disso que eu estou falando . Não ... não era para isso acontecer, Mina . Por favor, pare por isso, por favor – ele derramava lágrimas, e ela sentia batendo em seu peito uma vontade enorme de soltar as lágrimas que se formavam nela, mas por ele, ela se segurava .
Apenas por ele, e mais ninguém .
Minako coloca a mão no ombro dele, transmitindo pela ligação que suas almas partilhavam amor e confiança, deixando claro que seja qual fosse o problema, iria superá-lo juntos .
— Não me toque ... por favor ... por ... favor .
— NÃO ! – agora era ela quem levantava a voz – por todos esses anos eu sempre te esperei  . Sempre ! Não sabia como, mas sentia que minhas paqueras, meus namoros e encontras não eram completos, como se algo faltasse, alguma coisa que eu só poderia encontrar naquele que era o dono da minha alma ! Tantas vezes eu quase me entreguei por completo a alguns, quase me uni para sempre com outros, mas não consegui, pois de alguma forma, eu sentia a falta de alguém, e esse alguém é você, Joshua ! Você, cujo amor sempre esteve ecoando no meu interior, clamando, pedindo para ser encontrado ! Você que esteve ao meu lado quando eu me tornei uma senshi, dando apoio e conforto para aquela tola iniciante, a qual veio a se tornar a líder das senshis por que tinha um companheiro que sempre a apoiaria, sempre . Eu não vou me afastar de você, tampouco irei permitir que algo nos separe, ouviu ? Não importa qual seja o seu problema, ele não ficará entre nós, nem agora, nem nunca !
— Inana – ele a encarava balançando a cabeça, enquanto parava de chorar . Fora uma das coisas mais bonitas que ele havia escutado de sua amada depois de tanto tempo . Uma das coisas mais belas, capazes de fazê-lo desistir de tudo o que havia planejado . – nós não podemos ficar juntos, Inana . Isso é ... é ... impossivel .
— Nada é impossivel quando duas pessoas se amam . Nem o infinito é o suficiente para mantê-las separadas . Quero ficar junto de você ... me casar com você ... ser sua esposa ... chamá-lo de meu marido ... amá-lo, respeitá-lo ... compartilhar com você cada momento da minha vida, hoje, amanhã ... e sempre .
— Não, Mina ... nós não podemos fazer isso ... eu não posso compartilhar minha vida com você por que  – ele para e suspira, sentindo uma enorme dor no coração pelo que iria a dizer -  eu estou ... morto .
Josh sentiu um grande arrepio . O arrepio dela . O arrepio que ela sentira ao ouvir as palavras dele .
Morto .
Morto .
Morto ... ?
Impossivel . Não era posssivel .
Não podia ser .
Lanzorei Joshua, sua alma gêmea até o fim dos tempos, não podia estar morto .
Ele estava ali, bem ao seu lado, em carne e osso . Ela sentiu seu toque . Ela o tocou . Era adorável, relaxante e extasiante . Sabia disso . Havia sentido isso .
O mesmo estivera ao seu lado na batalha final em que ela havia defendido a capital lunar do ataque de ... de ...
— Não ... diga ... diga que isso é uma brincadeira, por favor – o tom de voz dela havia diminuido consideravelmente, quase que sumindo .
Ele balançava a cabeça . Havia falhado de maneira terrível . Tinha aparecido com um propósito, e não era o que estava fazendo . Tinha que faze-la entender quem era, mas estava fora de cogitação se aproveitar disso .
— Joshua ... Josh ... Koibito .... p-p-por favor ... d-d-diga que ... não ... é ... verdade ...
Ele nem precisava responder . Uma vez que ela sentia exatamente o mesmo que ele sentia,  podia extrair as respostas dele sem a menor dificuldade .
— Não – a voz dela aumentava – não – seu desespero era visivel – NÃO !!!!!
Ela se joga encima dele, tentando conter seu desespero no corpo do mesmo .
Não acontece .
Pelo contrário, ela atravessa o corpo dele como se o mesmo não estivesse ali  .
— J-Joshua ? – havia uma enorme dúvida em sua voz, como se dúvidasse do que estava acontecendo .
— Perdão ... eu passei da conta ... achei que conseguiria ... achei que seria capaz de levar as coisas, mas me enganei ...
— Mas ... por que ? Joshua ... koibito ... POR QUE ?!?!? – sua voz soava cheia de tristeza, e lágrimas que ela não conseguia controlar escapavam – POR QUE ?!?!? NÃO PODE SER VERDADE ! NÃO PODE SER ! NÃO PODE SER !
— Sim, é – ele respondia com enorme pesar – infelizmente, sim . Como é possível isso se você me abraçou, me beijou ? Não fizemos nada disso, Mina . Não tivemos nenhum contato fisico . Todas as vezes, eu te abraçando, você rolando no chão ... foi apenas você . Ao menos, fisicamente . Da minha parte, apenas minha aura .
— Não ...
— Sou um espirito, Mina . Não renasci como você . Ao contrário de muitos, eu não estava na capital lunar durante a última guerra .
— Mas não pode ! Não pode ! Não é justo ! Você devia ter renascido ! Devia !
— Me desculpe ... me desculpe, mesmo . Todas as vezes em que me abraçou, na verdade estava abraçando um espirito com a sua aura, e nada mais do que isso . Quando rolamos no chão, era apenas você quem estava rolando, e sua aura tocando em mim produzia cada sensação que teve .
— Isso não pode ser verdade ... não pode ... não pode ... NÃO PODE !!!!!
— Lamento .
A reação da mesma era inesperada : ela ergue a mão e dá um forte tapa nele, jogando-o para fora do sofá . Com a força do golpe seu “corpo” é arremessado contra a mesa, no entanto, seu “corpo” a atravessa, confirmando suas palavras.
Caido, ele sentia uma leve dor em seu rosto .
Ela ... ela havia atingido-o diretamente ! Havia usado sua aura para causar-lhe dano espiritual !
E o mais impressionante era que ela não havia percebido isso antes, que fizera tal coisa nas outras vezes em que se encontraram .
Mas tinha sua lógica . Ela estava fazendo aquilo instintivamente .
Seus olhos começam a lacrimejar, tomados por uma enorme tristeza . Algo forte e depressivo, que preenchia cada parte de seu ser .
Mas aquilo não era dele . Era de Mina . Ele sentia exatamente a tristeza dela, o sofrimento que passava e, mais do que nunca, repetia para si mesmo que havia falhado .
Havia falhado terrivelmente .Tanto que não se conteve e permitiu que aquelas lágrimas escorressem, mesmo sabendo que não eram lágrimas de verdade .
Mas as dela, sim .
Qualquer um que encarasse aquela mulher naquele instante teria uma dor enorme com a visão, seguida de um sentimento de culpa .
Coisa que ele havia evitado por muito tempo . Muito tempo, mesmo .
Aquele momento estava guardado em sua memória, aquele dia que viria, o instante em que teriam que se confrontar, serem sinceros consigo mesmos novamente .
— Você é cruel – havia um choro em sua voz – muito cruel, Josh-chan ! Você ... você ... eu não esperava isso de você !
— Me desculpe, Inana, eu ...
— Por que me tortura, Joshua ? – ela estava mais próxima, rangendo os dentes – Por que me tortura ? POR QUE ?!?!?
— Por que eu te amo, Mina . Só por isso .
***
Passara as últimas horas chorando, encarando vez ou outra o rapaz .
E com uma dor enorme no peito .
Por diversas vezes havia encarado a pia e a faca que estava nela, sentindo uma vontade enorme de enterra-lá em sua garganta, só para resolver aquele problema de uma vez por todas .
Mas ela não coneguia . De alguma maneira, não coneguia . Como se algo, uma força inexplicável a impedisse de cometer aquele ato por amor .
Amor . Pura e simplesmente, amor .
Quanto a ele ...o mesmo se culpava, se odiava por não ter sido capaz de resolver aquele problema, aquela situação delicada . Era algo tão simples, só precisava romper a sintonia que a alma de ambos compartilhavam .
Romper, não ... destruir ! Cortar todos os elos emocionais que um possuía com o outro .
Algo muito sério e complicado . Um verdadeiro crime para seres como ela, capazes de compreender as emoções melhores do que qualquer outra pessoa .
No entanto, Inana não tinha capacidade para tanto . Era verdade que um empata podia manipulas as emoções alheias, mas destruir uma emoção por completo era algo bem mais complicado de se fazer . Na verdade, nem Minako em sua vida anterior como princesa Inana , no auge dos seus poderes empáticos, tinha poderes para tanto .
Nem mesmo o rei e a rainha, usando sua empatia combinada, gerada através da Sintonia que as almas de ambos compartilhavam .
Havia um porém, claro . Inana o amou há milhares de anos atrás . Ficaram separados por muito tempo . O corpo não era o mesmo, mas a alma sim, e para ela, o tempo não importava .
O que significava que ambos se amariam até o fim dos tempos . Algo que ele não podia permitir . Não podia suportar vê-la carregando esse fardo . E se havia a menor possibilidade de acabar com isso, ele não hesitaria em usá-la .
Ele se permitiu ficar em um estado de total frieza, ignorando o que sentia por ela . A maior condenação que poderia suportar, na verdade . Mas isso seria suficiente para diminuir ainda mais a ligação que possuiam, a qual já estava bem fraca .
Agora dependia dela . Ela teria que querer esquece-lo, ignorar os sentimentos que sentia por ele, deixando a Sintonia tão fraca, mas tão fraca, que ela poderia ser realmente desfeita .
Não, desfeita não . Destruida . E muito mais do que isso . Não se fazia algo assim sem consequências . Não era como cortar o cordão umbilical existente entre mãe e filho .
Era algo bem mais grave . Em momentos como esse, ele se odiava por ter estudado tanto a respeito da cultura venusiana . Seria bom ser ignorante em alguns assuntos, pelo menos não sofreria tanto .
— Aino Minako .
 Sem resposta .
— Aino Minako .
Ainda sem resposta .
— Estou falando contigo, senhorita Aino Minako !
— Meu nome não é Minako ! É Inana ! Lanzorei Inana, casada com Lanzorei Joshua,  filho de Lanzorei Amistasi e Lanzorei Potifia, do clã Lanzorei !
Sua surpresa não dura sequer um segundo . Minako cai no chão, surpresa com aquilo . Havia ... havia levado um tapa dele !
Um tapa ? De um espirito ?!?!?!?
Joshua a encarava, com uma expressão de repreensão . Era um espirito . Um espirito atacando uma venusiana . Atacando a alma de uma venusiana e derrubando-a com a surpresa do ataque, puramente isso e nada mais .
— Levante-se, Minako .
— E-U N-Ã-O M-E C-H-A-M-O A-I-N-O M-I-N-A-K-O !  Meu nome é Inana, princesa de Vênus !
— Não ! Você não é Inana ! Tem tudo o que ela tinha, o poder, as habilidades ... parte de seu conhecimento, algumas memórias ... mas não é ela ! É uma venusiana, tem uma forte ligação e intimidade com o mundo espiritual, devia saber disso ! Inana morreu naquele dia em que a capital lunar fora invadida, sem questionamento ! Essa é a vida de Aino Minako, não de Inana !
— Por que me tortura, Josh ? – ela chorava – Por que ?  O que eu fiz para merecer isso tudo ? O QUE ?!?!?!?!?  é por caua do meu passado como senshi, é isso ? Veio cobrar de mim por todos os meus pecados, pelo povo que exterminei ?
— Por que é tão dificil assim para você entender que eu só quero te ajudar, Minako ?
— Mina ! Mina ! Me chame de Mina ! Por que não pede para eu te entregar minha cabeça para você numa bandeja ? Se isso te fizesse feliz eu faria, Josh ! EU FARIA !!! Eu desisto de tudo por você, tudo .. mas por favor, não me peça para te esquecer ! Me bata, me humilhe, me fira de todas as formas possiveis, mas não assim ! Minha alma te pertence, como pode pedir algo desse tipo ? Como pode pedir tal coisa de sua própria esposa ?!?!?
— Não somos casados !!!
— Somos, sim ! Quando nossas almas deixaram de estarem ligadas para ficarem em plena sintonia, nós nos casamos, lembra ? Não tem nada a ver com o casamento mundado, e sim pelas leis do meu povo, do povo que você estudou, lembra ? Quando nossas almas ficaram unidas pela eternidade ... é o mesmo que nós nos casarmos ! Nos casamos no momento em que nossas almas asumiram, consentiram, entenderam e compreenderam a única verdade : um confiava no outro plenamente, sem a menor exitação – ela diminui o tom de voz, um pouco mais calma, mas ainda chorando – você lembra ? Lembra-se disso, não é mesmo ? Sim, claro que se lembra . Tanto que esta jogando isso na minha cara agora . Tem idéia do que está fazendo, Josh ? Eu joguei tudo para trás ... eu abandonei meu passado ... eu abdiquei da minha herança ... e para que ? Para você ... para que a minha alma gêmea viesse e me obrigasse a relembrar de tudo . Você ... você entende ? Claro que entende ... a dor que eu senti ... tudo o que eu passei quanto tive que encarar na própria alma toda a dor que eu casei ... por favor, não faça isso comigo ... não me obrigue a esquece-lo, por favor ... por favor ... por favor ...
— Minako ... Inana ... Mina ... por favor, não faça isso ... não se torture ... não me torture . Tem idéia do quanto isso é ruim para mim ? Sim, você tem ... eu também sinto seu sofrimento ... dói infinitamente só de pensar nisso .... mas você está viva, e eu , morto . Não posso te ajudar . Não posso substituir um homem de verdade, tampouco te abraçar .
— E isso faz diferença ?
— Mortos não te aquecem na noite fria, Minako .
— E daí ? Posso sentir tua aura, e tu pode sentir a minha . Posso sentir seus sentimentos como se fossem os meus . Alegria, tristeza ... amor  ira ... saudade, anseio, solidão, paixão, agonia, desespero, amor ... quando tu encostas em minha aura, sinto-me fervorosamente amada, ou melhor, ainda mais amada . Que diferença faz o toque fisico para mim ?
— Está vendo isso como Inana, não como Minako . Inana morreu, é Minako quem tem que levar uma vida aqui na Terra, cuidar do filho, educar crianças na escola ... Minako, não Inana . E eu não estarei aqui para sempre . Por isso estou te pedindo tal coisa .
— Não me peça uma coisa dessas .
— Eu não pediria, se não soubesse o quanto isso está te atrasando . Enquanto estivermos unidos, você nunca será capaz de amar . Nunca . Os anos passarão, as décadas e os séculos, já que com sua constituição venusiana, é capaz de viver durante séculos e séculos ... mas nunca amará novamente . Irá se jogar nos braços de um ser morto, alguém que não tem capacidade de lhe dar o que você precisa, de tratá-la da maneira que merece . Tantas e tantas vezes se verá atraida por outros homens, pessoas honestas, seguras, que se esforçam para mostras que você é a pessoa com que gostariam de passr o resto de seus dias, mas no grande momento, você irá recusar, por que estará insegura, o que sente por mim será como uma corrente presa na sua alma . Mas você já passou por isso, embora não soubesse o motivo, não é mesmo ? Como era mesmo o nome daquele rapaz que era apaixonado por você ? Orin ? Sume ? Nicholas ? Ah, claro, como eu pude me esquecer ? O nome dele era Afonso, lembra ? Vocês saiam muitas vezes . Se amavam, eram apaixonados ... até o dia em que ele a pediu em casamento e você recusou, lembra ? Disse que não se sentia pronta, que não estava certa a respeito do que sentia por ele ... tudo por causa da nossa sintonia . Não me leve a mal ... não estou dizendo que ligar a sua alma com a de outra pessoa seja uma coisa ruim, pelo contrário, é a chance de ter um companheiro que você jamais imaginou, o de um sentir exatamente o que o outro sente e poder te ajudar de uma maneira ainda melhor para resolver seus problemas ... mas não nesse caso . Você poderia ter se casado com ele, lembra ? Poderia ter sido bem mais feliz, tido uma vida maravilhosa ... teria até anulado a sintonia que possuía comigo e criado uma outra com Afonso, poderosa e permanente . Iriam compartilhar de um grau de compreensão maior do que uma pessoa comum pudesse imaginar . No entanto, não foi o que aconteceu, não é ? Pois é . Esse garoto ... essa criança que está contigo ... ele poderia realmente ter sido filho de você e Afonso, não ? Seria o primogênito, provavelmente seguido de outros, uma menina, talvez . Margarida seria um belo nome ...Shinnosuke e Margarida ... tudo perdido ... uma vida perdida, a sua .
Ela queria gritar, queria sair dali e mandar meio mundo para o inferno, mas não teve a oportunidade .
— OKAASAN ! OKAASAN ! OKAASAN ! – o pequeno corre pela sala em sua direção e a abraça – OKAASAN ! Tudo bem com a senhora ? Está tudo bem ?
— Minha jóia – ela segura as lágrimas enquanto acaricia a cabeça dele – tudo bem com você ? O que houve, estava sem sono ?
— Eu tive medo, Okaasan ! Sonhei que a senhora estava triste, muito triste ! – ele a aperta ainda mais – achei que tinham machucado a senhora, pois estava chorando, estava muito, mas muito triste, mesmo, Okaasan ! Tudo vem com a senhora ?
— Tudo, minha jóia ... Okaasan está bem, viu ? – ela o ergue, roçando seu nariz no nariz dele e encostando a cabeça dele em seu ombro, abraçando-o ternamente – eu estou bem .... foi só uma coisa que me chateou, mas estou bem – e aproveitando que Shinnosuke não estava olhando nos seus olhos, ela se permitia algumas lágrimas escorrerem, ao passo que encarava Josh ali, na sua frente . Ainda bem que Shinnosuke não podia vê-lo . Ainda bem .
— Dói muito, não dói ? Sei que dói ... é algo impensável o que eu estou fazendo ... nunca, em toda a história de Vênus ou de outro planeta, se tem noticia de algo parecido, de alguém pedindo para que seja desligado de outra pessoa . Mas eu faço isso justamente por que te amo . Você foi a melhor coisa que já aconteceu comigo em milhares de anos . No dia em que você renasceu ... no dia em que você agiu como Sailor V pela primeira vez, eu dei um sorriso de onde estava . Estava feliz, vendo-a como era, alegre, cheia de vida, sempre atrás de um rapaz boa pinta ... essa era você . Mas, muito mais do que isso, são caracteristicas de Aino Minako . Inana era alegre, malandra, cheia de vida ... caracteristicas que você também possui, mas por si mesma, não por causa dela ... por favor, por mim ... faça isso .
Sem resposta . E a mesma estava satisfeita por saber que Shinnosuke não podia ouvir aquilo .
— Vem, filhinho . Vem dormir comigo .
— Por que isso, Okaasan ? Eu ... eu ainda acho que a senhora está triste ... muito triste !
— Eu sei, minha jóia ... Okaasan está triste ... muito triste, mesmo . Em apenas alguns instantes, eu conheci o Céu e o Inferno, experimentei a alegria e a tristeza ...
— A senhora vai ficar melhor ?
— Espero que sim, meu anjinho . Espero que sim .
***
Em outra ocasião ela estaria furiosa, tomada por uma ira suprema . Bufaria até o fim dos tempos, espumando e lançando sua fúria em todos os que estivessem em seu caminho .
Em outra ocasião qualquer pessoa que cruzasse seu caminho teria o desprazer de provar toda a fúria que ela poderia gerar em uma situação como aquela . Paises seriam devastados, civilizações inteira seriam exterminadas, mundos seriam destruidos .
No entanto, acontecimentos recentes acalmaram seu estado de fúria extrema a qual passara os últimos dias . Mesmo contra a sua vontade, seu corpo desfaleceu, permitindo que uma necessidade que lhe fora negada finalmente acontecesse .
Ela dormiu .
Seu corpo se espreguiçava naquele chão duro e frio, volta e meia se encolhendo como uma criança .
Em ocasiões como esta, seu corpo estaria terrivelmente dolorido, vitimando-a com um torcicolo infernal, gerado pelo terreno inadequado em que passara a noite .
Tal coisa estava acontecendo, mas ela ignorava isso, justamente por que seu corpo estava totalmente descansado .
Havia dormido . Havia descansado contra a sua vontade . Em sua vingança, ignorou por completo os limites de seu corpo, vagando pelas ruas frias da cidade sem permitir que seu corpo descansasse .
Mas ela havia dormido .
Esticando seu braço, ela dobra a coluna, colocando seus ossos no lugar, sentindo um leve incomodo pelo corpo, o qual era substituido pela sensação proporcionada pelos raios solares que tocavam em seu corpo .
Abrindo seus olhos, a mesma confirma o local aonde passara a noite : o templo Hikawa . Ou melhor, o antigo templo, purificado pela sua ira .
Sua completa ira .
Dobrando seu corpo ela se senta no chão, bocejando um pouco . De certa forma, parte de seu nervosismo havia desaparecido, e ela conseguia organizar de forma melhor suas idéias .
O que houve ?
O que ela fez ?
O que faria dali por diante ?
O templo, sua casa ... ele estava destruído . Nada havia restado, nem mesmo o bosque que havia ao redor . As àrvores foram reduzidas a pouco menos do que cinzas, muitas das quais estavam ali há gerações .
E ela as destruiu, em um acesso de fúria . Uma fúria que não fora capaz de controlar . Deveria, mas não conseguiu .
O que mais viria ?
O centro da cidade fora destruído . Pelos estragos que viu, levaria algum tempo, e uma grande verba seria gasta .
E ela, o que faria ?
Sem casa, sem familia, sem templo ... nada, não tinha simplesmente nada .
A essa altura as obras para a reconstrução do centro já haviam começado, e sem sombra de dúvida seria necessária uma verba extra vinda do governo, de modo que seu templo seria deixado em segundo plano .
Em verdade os templos eram do governo, afinal, não podiam viver apenas das doações .O governo também contribuia, fora que além de um templo religioso, costumava ser um ponto turistico muito famoso, seja de pessoas de outras regiões, seja de estrangeiros .
Mas agora ela não tinha nada . Não tinha sequer um teto para morar .
De pé ela observava a vista da cidade, do alto de onde outrora fora um dos mais antigos templos xintoístas de Tókyo .
Templo Hikawa . Templo do fogo . Embora inesperado, tivera um fim apropriado, consumido pelas chamas da purificação .
E agora ? Poderia o mesmo se reerguer ?
Não . O templo Hikawa era passado . Fora grandioso, mas agora não existia mais . Muito mais do que um terreno, do que um bosque, do que um templo, era a essênsia do mesmo que fora maculada, mas felizmente ela pôde livrar a essênsia do local de um destino pior .
Lentamente ela vai caminhando pela propriedade, aproveitando o tempo que tinha . Em alguns minutos alguns investigadores estariam ali – coisa que estavam fazendo todos os dias – em busca de novos indicios de um incêndio criminoso, de algum crime, de corpos ... qualquer coisa .
Algo que infelizmente nunca iria acontecer .
Ela para próxima de onde era um jardim, um belo jardim que era cultivado pelo seu falecido avô . Rosas, lirios, petúnias ... não era o mais bonito, não era o maior, não era o mais famoso ... mas era um belo jardim que seu avô cultivava desde muito tempo, antes mesmo dela ter vindo até Tókyo para morar com ele .
Chegando no jardim, cinco passos à esquerda, dois para a direita, três para a frente .
O local exato aonde seu avô havia sido enterrado . Justamente aquele que a havia acolhido por duas vezes . Primeiro quando ela viera morar com ele ... e anos depois, quando ela havia retornado para casa desiludida e com uma criança no colo .
Seu avô ... como era triste pensar nele assim, sendo vítima de seus erros . As vezes sabia ser rabugento, viva dando encima de suas amigas, mas ... era seu avô . O que lhe dera casa, comida e moradia durante anos e anos, e até depois de sua partida ela sabia que ele olhava por ela .
Como ele e Megumi se davam bem ... ele adorava brincar com ela, cuidar dela, ensinar coisas a ela ... dizer que ela era igual a mãe, em especial no quesito “geniosa”...
Uma lágrima cai de seus olhos, descendo até onde era a lápide dele . Totalmente destruida, também .
— O senhor sempre dizia que os piores demônios são os que habitam dentro do homem ... cumpri com meu dever, vovô ... detive os demônios, como o senhor teria feito se estivesse conosco ... infelizmente nosso lar fora destruído ... eu ... vovô ... eu prometo ... prometo que isso não ficará assim, vovô ! Esse templo ... ele voltará a ter a glória que teve no passado, não ... maior ! Sob as cinzas do templo Hikawa, construirei um novo templo, o qual será indestrutivel, e seu nome ecoará pelos séculos e séculos ! – ela cerrava o punho, olhando para o chão – mas antes ... eu tenho que fazer uma coisa, vovô ...
Rei se vira, caminhando até onde ficava a entrada do templo e para . Ela olha para a direita, como se tentasse encontrar algo, até que fita um ponto em comum .
Ela anda, e alguns passos depois vira para a direita, como se estivesse percorrendo um caminho traçado em sua mente, o que não deixava de ser verdade .
Ela para, observando o chão . A cor dele estava horrivel em alguns pontos, o que explicava o motivo da pericia não ter encontrado aquilo . Na verdade, ainda não haviam retirado muita coisa dali, esperando encontrar provas .
Nem mesmo chegaram perto do antigo alcapão que ficava no quarto de seu avô . A escada que levava até ele deixara de existir, mas o alçapão, não . Ela observa bem aquilo, percebendo pequenas e quase imperceptiveis alças derretidas .
Na verdade, as alças anteriormente eram conectadas a um dispositivo que era ativado junto com o dispositivo uma escada, mas com o fogo, aquilo fora a única coisa que havia sobrado .
Puxando a tampa com um certo esforço, ela abre o local, revelando uma pequena escada .
Rei se agacha e entra, descendo as escadas lentamente, ignorando que a qualquer momento agentes da pericia poderiam aparecer ali, e que os guardas de que haviam ficado ali para vigiar o local – os quais ela havia prontamente colocado para dormir – poderiam acordar a qualquer momento .
Menos de um minuto depois ela toca o chão . Ela ergue o dedo criando uma pequena chama no mesmo, iluminando o local .
Aquilo lhe trazia velhas lembranças . Parecia mais um quarto subterrâneo, se não fosse por um mero detalhe : não haviam camas . Em seu lugar, haviam estantes, ferramentas ... e armas . Muitas armas .
Sempre havia se perguntado de onde seu avô havia adqurido aquele estranho hobby para com armas . Nuchakus, Wakisakis, Katanas, Balaços, maças, sabres, braçadeiras ... aquilo possuía um pequeno arsenal de fazer inveja a qualquer colecionador, fora o fato de que aquilo estava em perfeita conservação . Realmente seu avô se dedicava àquilo, arrumando e preservando aquelas armas . Muitas dali tinham séculos de idade, e algumas chegavam a brincar com um monte de livors de história .
Claro, o hobby havia surgido dos seus tempos de viagem, antes do mesmo firmar moradia no templo . E pensar que ele fora um grande mestre do Kendô, um mestre do battoujutsu, a ponto de ter sido condecorado tanto no Japão quanto na América, em uma viagem que fizera até lá quando mais jovem, em que fora condecorado grand-master nível 8 por lá .
Rei puxa uma kodachi que estava presa na parede . Era uma arma bem feita e ornamentada, uma reliquia, na verdade .
Algumas armas “nasceram” para serem empunhadas por certas pessoas, ela lembrava-se das palavras dele . Ele havia ficado surpreso quando ela encontrou a wakizaki de uma Katana, a qual na verdade estava escondida em sua bainha, sendo que o mesmo demorara três anos para encontrá-la, e mesmo assim, por puro acaso ... e ela o fizera quando era uma simples menininha, o que o impressionou .
Bons tempos aqueles , em que ela e ele se divertiam, em que o mesmo ensinava para ela a beleza de sua arte .
Era isso que era . Muito mais do que punhos se chocando contra outros corpos, muito mais do que armas cortanto carne e corpos pelo caminho, aquilo era uma arte .
Ela coloca a kodachi no lugar, observando ainda mais o local, prendendo seu olhar para a esquerda, aonde ficava a mesa de trabalho do mesmo .
Perdera a conta das vezes em que o vira ali, trabalhando, moldando suas próprias espadas .
“Velhos hábitos nunca mudam”, ela lembrava .
Até mesmo se surpreendeu no dia em que procurava sua filha, e se surpreendeu quando a encontrou ali, observando-o com a espada, polindo-a .
Ela puxa um pano que cobria a mesa, revelando uma bela Katana, a qual estava coberta de poeira . Com um pano ela vai lustrando a arma, lentamente devolvendo o brilho que a mesma possuira .
E era impressionante . Era a mais bela arma da coleção de seu avô . Tanto que, em vida, ele nunca permitiu que ela tocasse na mesma . Nunca .
Bem ... que ele a perdoasse, mas isso teria que mudar, ao menor por um dia .
Alguns minutos depois Rei sobe as escadas, sendo banhada pelos raios do Sol . A mesma se vira, puxando a tampa e fechando aquilo novamente . Passando a mão pelo local, ela puxa um pouco de poeira e cinzas, cobrindo as marcas do alçapão .
Rei olha para cima, encarando o céu por poucos segundos, até que o som de metal tocando o chão é ouvido .
Rei empunha a espada, segurando o cabo com a mão direita, e tocando a palma da mão esquerda na lâmina, sentindo-a, absorvendo as vibrações que o vento produzia nela .
Era algo maravilhoso, o canto da mesma, como se ela realmente estivesse viva .
E estava, segundo seu avô . Para muitos um pedaço de metal moldado, mas para poucos, um ser vivo .
Girando o corpo a mesma faz um corte vertical no ar, salta, gira o corpo no ar e toca o chão, girando a arma e empurrando a arma para trás, como se estivesse atacando um adversário que viesse pelas costas .
Nada mal . Nada mal mesmo .
Mas ... e agora ? O que fazer ?
Ela encrava a lâmina na chão, prendendo-a enquanto pensa . Dormir realmente foi bom . Ajudou a desvendar muito do que queria saber .
E mais do que esperava . Agora tinha a resposta para suas dúvidas, ao menos, parte delas .
Mas uma nova pergunta surgia : o que fazer  ? Teria coragem para seguir em frente com seu plano ?
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Rei vira o rosto, como se tivesse levado um susto . Aquilo ... aquilo ...
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O coração dela bate tão rápido que por pouca ela não o coloca para fora, e por menos não explode em seu peito .
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 A mesma dá um salto, felicissima ao ouvir a voz de sua pequena em sua mente . Sua pequena ... sua jóia ... seu tesouro ...
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Ela desiste diante da enxurrada de perguntas de sua filha em sua mente, permindo-se um luxo que segurou por muito tempo .
Lágrimas . Algums furtivas, contornando seu rosto, banhando e lavando sua face, felizes apenas por sentir a voz de sua filha em sua mente .
No passado se sentira sozinha . Fora um sufoco, sentiu-se totalmente abandonada quando perdeu o contato que tinha com Megumi, como se algo o tivesse obstruido . A principio ela se perguntou o que seria tão forte a ponto de bloquear o elo que elas tinham uma com a outra, mas tal dúvida fora jogada fora quando a mesma reencontrou sua princesinha de Marte .
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Rei dava uma risada mental, alegre ao perceber a alegria dela, a qual havia voltado .
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senhora poderia me emprestar algumas espadas do vovô para exibir . Achei que só a minha seria pouco .>>
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<< Ai !!! Brigada, Okaasan!!!! Está vindo para cá ? >>
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A voz da menina some, e no instante seguinte Rei se ajoelha . De seus olhos, lágrimas de pura felicidade jorravam  .
Mais do que nunca, ela estava feliz . Radiante de mente e explendorosa de alma .
Fora uma conversa rápida entre mãe e filha ... apenas algumas palavras ... uma rápida troca de mensagens através do elo que possuiam ... mas fez uma diferença enorme para ambas . Primeiro para Megumi, que sentia uma enorme felicidade ao saber que Rei estava bem, e também para Rei, cuja felicidade era saber que sua filha, seu bem mais precioso, vivia, existia . Algumas palavras, as quais eram muito comuns em um café da manhã ou uma das conversas que viviam tendo ... poucas palavras, fonte energizadora da alma .
Ela chorava, tomada por uma alegria contagiante . Mais do que a noite de sono, sentia-se totalmente restaurada, como se suas dúvidas tivessem sido sobrepujadas, e seus medos tivessem sido vencidos por completo .
Tudo graças a uma pequena troca de palavras, coisa que fez diferença para a mesma . Os momentos de agonia eram substituidos por alegria . Agora, poderia ir até o infinito, pois sabia que sua preciosa estava bem .
Para ela, nada era grande demais, nenhum esforço, nenhum sacrificio era grande demais, se fosso para sua doce criança .
Nem mesmo chorar, coisa que não fazia na frente de outras pessoas, nem mesmo de suas amigas, a não ser em casos extremos . Só sua princesinha a vira chorar por coisas simples .
Por ela, nada era demais . Nada .
Não podia permitir que algo de mal acontecesse com ela, tinha que protegê-la .- Rei segura o cabo da espada – durante os últimos anos, teve muito orgulho ao descobrir sobre suas origens, sobre o que fizera no passado, sobre o que era realmente ser uma marciana, muito mais do que um povo conhecido pelo seu temperamenteo explosivo  - ela se ergue, ainda com a mão no cabo, fitando-o – e muito mais do que isso, com imenso orgulho ensinou a sua filhinha a respeito de seu povo, suas tradições . Em verdade havia muito o que ela desconhecia, mas teria prazer em mostrar à sua princesa a maravilhosa “HERANÇA” que ela carregava – seus olhos brilham em tal intensidade, que se alguém se aproximasse, veria duas piras de fogo eclodindo dos mesmos – mas ainda tinha um longo caminho pela frente . Tinha que protegê-la . Megumi seria uma grande ... seria uma grande pessoa no futuro . Poderia ser ou não ser uma guerreira, mas seria uma pessoa grandiosa, tinha certeza disso . Era verdade que estava tomada pelo orgulho materno, mas ... e daí ? Era seu tesouro e pro inferno quem discordasse – uma pequena chama cobre seu braço, estendendo-se até a arma – mas teria que ter mais cuidado . Não podia permitir que sua princesinha se machucasse, jamais . Tinha que proteger seu tesouro, sua razão de viver . Hoje, amanhã – seu pingente surge em sua mão, e a mesma o ergue, ao passo que a outra mão segurava a espada encravada no cão – e sempre !
— PELO PODER DO CRISTAL DE MARTE, TRANSFORMAÇÃO !!!
O fogo ... a chama do infinito, o calor do renascimento ... as chamas que cobriam seu corpo, permitindo que a mesma mais uma vez retornasse por completo àquele que fora seu antigo corpo, ao da princesa de Marte .
A mesma arranca a espada do chão, fitando sua lâmina e erguendo-a, ao passo que os raios solares refletiam para seu rosto .
Um rosto diferente . Nem feliz, nem triste .
Apenas ... decidido .
Não sentia mais a fúria consumindo-a por completo . A mesma ainda existia, mas ela finalmente havia aceitado-a como parte de si .
Como uma marciana faria .
Como uma legítima mestra da guerra faria .
Ela gira a Katana, fazendo cortes no ar, girando o corpo e gerando uma melodia mortal com os movimentos . Como senshi, seus reflexos eram bem melhores . Agilidade, destreza ... sim, muito, mas muito superiores .
A mesma se abaixa e pega a bainha, prendendo-a em suas costas com uma alça que passava na altura do peito, e guarda a espada em seguida . No instante seguinte ela reverte, retornando as suas roupas normais .
Ela observa seu corpo, curiosa . Aparentemente a espada e a bainha não estavam mais lá . O que houve com elas ?
Será que a mesma havia ficado em sua roupa de senshi ? Se sim ... seria algo permanente ?
Ela pensa no assunto enquanto caminha, até que para há alguns metros das escadas, olhando para a esquerda aonde havia uma arvore ali . Uma bela arvore .
Na verdade, uma Sakura . Provavelmente uma das belas que haviam ali, segundo sua filha .
Ela dá um leve sorriso, lembrando-se do apelido que a mesma acabou ganho por acaso . Uma pessoa a havia visitado . Alguém que ela realmente não esperava ver novamente . No entanto, ela não perdeu a oportunidade de lhe apresentar sua filha, e com um sorriso de orgulho, a chamou .
Ela não havia respondido . Ficou procurando por ela por quinze minutos, até que resolveu usar seu elo mental para encontrá-la .
Justamente naquela árvore .
Era uma parte bem engraçada quando a chamou . Havia pedido para a mesma descer, dizendo que um conhecido estava ali . A resposta fora inesperada .
“Aqui não tem ninguém, só as cerejinhas !”
Sua filha era mais nova, mas a mesma não deixou de ficar possessa, decidida a subir na arvore e arrancar a mesma dali à força .  Claro, sua visita subiu na arvore e sua filha ficou conversando com ele durante longo minutos, até que desceram .
Cerejinha ... ele acabou por chamá-la pelo nome de cerejinha ....
No fim, acabaram se dando muito bem, levando-se em conta que nunca tiveram um momento com aquele .
Realmente, era uma pena . Ele poderia ter sido o pai que Megumi sempre quis . Infelizmente, seus problemas no passado acabaram por impedir tal coisa, e da pior forma possível .
Mas ... chega de ficar relembrando boas e más recordações . Tinha algo a fazer . Algo que não podia ser adiado .
O fim do jogo .
Ela descia calmamente as escadas do templo, observando os guardas que estavam desacordados graças a ela na noite anterior . Em alguns minutos despertariam, portanto o melhor a fazer era sair dali o mais rápido possível .
No entanto, se Rei tivesse se detido mais um pouco e tivesse olhado para os dois lado e observado as arvores que estavam na descida, as únicas ilesas até então, teria visto algo bem curioso .
Dois pares de olhos, um de cada lado das escadas, observando-a .
Olhos vermelhos, de uma tonalidade penetrante .
— A guerreira está totalmente desperta . Suas dúvidas foram deixadas para trás diante da ameaça eminente .
— Das cinzas a nossa pequena fênix renasceu como um dos mais explendorosos seres existentes . Sua fúria não foi dissipada, mas sim aceita como algo de seu próprio povo .
— Então está terminado . A menina se tornou mulher e guerreira, assim como já esperavamos . Não é uma guerreira completa, tem muito o que enfrentar e aprender, muito para acertar, muito para errar ... mas está no caminho .
— Será que nós podemos realmente ...
— Esse não é o primeiro inimigo que as senshis enfrentam, tampouco será o último . Um dia ela teria que caminhar com suas próprias pernas . No entanto, eis que surge um outro problema .
— Sim, a pequena dama . A princesa ainda não percebeu que sua primogênita não escapou tão ilesa quanto imaginava .
— Não poderemos ajudar a pequena dama em todos os momentos .
— Sei que não ... mas podemos pelo menos estar ao lado dela para lhe dar apoio quando ela cair ... e ela irá cair, sabe muito bem disso .
— Tem certeza disso ? É isso o que quer ? Ainda temos chance . Pode demorar cinco, dez, vinte ... mas é possível que um dia nós tenhamos outra chance . Outra chance com nossos semelhantes .
— Elas são minhas semelhantes . E você também . Nem mesmo no último momento você fraquejou .
— Você também não, não deu pra trás em momento algum . Quero que saiba foi uma honra ter te conhecido e estado ao seu lado por todo esse tempo .
— Eu também . Não quero uma outra vida que não seja esta, mas ... se algum dia viermos a ter uma segunda oportunidade ... quero ter a chance de te conhecer novamente .
— Eu também .
As vozes se calam, as vozes que Rei não ouviu por estar longe demais para tanto . Ela tem um estranho pressentimento e olha para trás, bem a tempo de ver, nas arvores que ficavam do lado da escada, um par de olhos vermelhos . E outro, do outro lado da escada . Ela os fita, e ambos pareciam encará-la até que, como uma vela atingindo o seu fim, ambose apagam .
Rei continua observando aquilo, tentando sentir o que era . Nada . Simplesmente nada . Sumiu por completo, como se nunca tivesse existido .
Mas agora não era hora para isso . Não tinha tempo para ficar divagando sobre aquilo, apesar de se arrepender de não ter perdido um pouco mais de tempo para descobrir o que era .
Pois agora, mais do que nunca, tinha algo pendente, algo que ela almejava, e muito .
O fim do jogo .
Continua ....

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