Dias de Um Passado(quase) Esquecido escrita por Lexas


Capítulo 14
Prelúdio do fim de uma era




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Prelúdio do fim de uma era

Medo .
Muito medo .
Simplesmente ... medo .
Assustada .
Incrivelmente assustada .
Totalmente em pânico .
Um medo que crescia cada vez mais, dobrando, triplicando a cada segundo, sem que a mesma pudesse fazer qualquer coisa .
Estava fazendo frio, muito frio .
Não conseguia definir exatamente como sentia frio, tampouco tinha mentalidade suficiente para gerar uma explicação, apenas sentia frio . E, embora seu corpo estivesse sendo aquecido constantemente, ainda assim, sentia frio .
E novamente, a sensação de pânico, a mesma que ecoou pela sua mente nos últimos dias, atormentando-a continuamente, impedindo que a mesma conseguisse formar qualquer linha de raciocínio .
Coisa que foi quebrada, na verdade, destruída era a palavra que melhor se aplicava ao que houve .
Sua mente estivera  por um curto periodo de tempo, mas uma eternidade para a mesma, desativada . Totalmente desligada do mundo exterior, o que acabou refletindo-se na mesma, paralisando boa parte de suas funções motoras, deixando-a em um estado catatônico, para o desespero dos que a cercavam .
Instintivamente, queria expressar toda a sua gratidão, mas sequer entendia direito o que realmente aconteceu . Suas últimas lembranças eram de ver sua casa, seu adorável templo ser destruído, enquanto ela apenas observava sem poder fazer absolutamente nada .
Talvez ... talvez não passasse de um sonho, ou melhor, um pesadelo, um terrível pesadelo, o qual terminaria quando ela abrisse os olhos .
*          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *
Estava correndo . Estava correndo de forma desesperada, como se sua vida dependesse disso, mais do que tudo .
E dependia .
Não propriamente sua vida, mas uma vida dependia disso, mais do que nunca .
Sabia disso .
Não entendia como, apenas sabia .
Era uma aflição enorme que sentia, a qual crescia cada vez mais .
Ela olha para trás, durante breves instantes . Estava sendo seguida, e quase sendo pega .
Não podia desistir, tinha que continuar, nada iria impedi-la, nada .
NADA !
Seus olhos se fecham e se abrem em seguida . Não sentia mais o chão sob seus pés, como se o mesmo tivesse deixado de existir . Desesperada, se debate mais e mais, enquanto vai caindo . Não via nada ao seu redor, tampouco acima e abaixo . Nada, simplesmente nada . Uma escuridão total, a qual devorava toda luz que sequer se aproximasse do local aonde estava .
Sentia um medo cada vez mais crescente, devorando cada parte de seu ser, tomando-a por completo, consumindo-a e levando-a novamente àquele estado em que permaneceu por longos e penosos dias . Se abraçava, apertava cada parte de seu corpo, procurando um pouco de esperança, por menor que fosse . Por mais que a mesma demorasse a surgir, não desistia, acreditava inocentemente que algo aconteceria e tudo voltaria ao normal .
O milagre, aparentemente, aconteceu  .
Lá estava ela, no chão, observando-a . Parecia uma queda eterna, da qual ela nunca chegava ao fundo ... mas a simples visão dela reanimou-a por completo, reativou suas esperanças e expulsou seus medos .
A própria queda perdia seu sentido, era como se a altura estivesse em sua mente, não existindo de verdade . E se não fosse, não importava, ainda mais quando ela cai nos braços, naqueles quentes e aconchegantes braços .
- Okaasan ... 
Estava alegre . Estava chorando, na verdade . Sentia uma saudade explosiva que era multiplicava pelo seu medo, fruto dos últimos acontecimentos, mas tudo isso lentamente ia desaparecendo enquanto ela estava ali, abraçando-a e dando-lhe conforto . Um conforto que demorou demais para surgir, mas finalmente surgiu .
Pena que não foi na hora em que ela mais precisou, no momento em que mais sofreu .
Mas se alegrava só de estar ali, sentindo aquilo . Compartilhando a presença dela, aninhando-se entre seus braços .
Até que é obrigada a interromper aquilo, quando ouve algo .
Algo assustador .
Algo aterrador .
Algo ....
Um grito .
Não um mero grito .
Um grito de ... dor ?
Mas de onde vinha ?
Ela encara aquela mulher novamente . Como sempre, a face que recebia era de pura alegria, e dava o mesmo para ela, feliz .
Mas ... então ... de onde vinha aquele grito ?
E por que ele continuava ?
E por que ...
*          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *
- Okaasan !
Sua respiração estava mais pesada do que o normal . Seu coração disparava, numa seqüência cada vez maior . Suas mãos tremiam, mas tremiam tanto, que ela mal consegue controlá-las .
E sua cabeça doía  . Doía muito, como se o exército japonês estivesse marchando e usando sua cabeça como chão, ao som de mil pés se chocando contra a mesma, gerando um barulho ensurdecedor .
Suas mãos, levadas até sua cabeça, apertavam-na com uma força que a mesma desconhecia, no intuito de tentar isolar tal sofrimento, o qual aumentava mais e mais .
Pequenos ruídos eram proferidos pelos seus lábios, pois os mesmos não tinham sequer forças para gritar .
Suas mãos escorregam, apoiando-se em um grande cobertor que a cobria, ao passo que sua respiração - ainda pesada - , vai retornando lentamente ao seu ritmo normal, e sua cabeça para de doer .
Parecia um pesadelo ... foi um pesadelo ... ERA um pesadelo . Os últimos instantes, as ultimas horas, os últimos dias ... só não enlouqueceu por completo por que sua mente não tinha capacidade suficiente para conceber o que realmente houve .
Ela para, ficando totalmente imóvel e em silêncio . Seu coração para de bater como um despertador, seguindo seu ritmo normalmente . Sua respiração já havia retornado ao seu ritmo, a dor já havia sumido, apenas a mesma continuava em silêncio . Menos de um minuto depois, ela abre os olhos . Ainda estava assustada, na verdade, apavorada ... mas estava um pouco mais calma . Sentia um medo enorme dentro de si, mas já não tinha tanta vontade assim de correr desesperadamente do mesmo .
Olhando ao redor, percebe que estava em um quarto , deitada numa cama . Uma cama que não era a sua, por sinal .
A mesma sente um aperto no coração ao se lembrar disso . Pensara que fosse um sonho, ou melhor, um terrível pesadelo, mas agora tinha certeza de que não . Tudo o que houve foi real, terrivelmente real, assustadoramente real . Seu templo, aquelas pessoas, o que as mesmas fizeram ...
Ela pisca rapidamente por diversas vezes, como se tivesse se lembrado de algo . Havia se lembrado de que ... não estava sozinha . Estava acompanhada no templo, junto de ... de ...
- Akira !
Seu amigo . Seu grande amigo . O que houve com ele ? Será que estava bem ? Ou será que ...
Outro aperto no peito . Os acontecimentos retornavam a sua mente, clareando sua memória mais e mais . Não sabia como, mas sentiu que algo de ruim aconteceria com aquele lugar, que algo de ruim estava se aproximando, sensação a qual cresceu mais ainda quando os viu . Se seu amigo não tivesse tirado-a de dentro do templo, estaria morta, pois provavelmente não teria forças ou coragem para sair dali de dentro e fugir .
Ele ... ele havia distraído-os para que ela fugisse ... ele ... ele ...
Ele havia dito para ela fugir, e a mesma, assustada, o fez , deixando-o para trás . Havia olhado para trás, a ponto de vê-lo cercado, chutando um deles ... mas sabia que ele não podia contra todos . Talvez, se ela tivesse ficado lá, talvez ...
Ela se ergue da cama, caminhando em direção a porta e fazendo um esforço enorme para não chorar . Ao olhar para seu corpo, percebe que estava vestindo uma roupa larga – bem maior do que seu manequim, por sinal – a qual era constituída de uma bermuda que na verdade quase cobria suas pernas, e um top que atingia parte de sua barriga .
Mas nem lhe passou pela cabeça o fato de que tais roupas não pertenciam a sua Okaasan .
Roupas ... seu templo ... seu lindo templo ... o templo aonde seu bisavô estava enterrado . Agora, maculado por outras pessoas .
Ela abre a porta, a qual dava para um corredor . A mesma caminha pelo mesmo, percebendo que haviam outras portas . Ao caminhar mais um pouco, dá de cara com uma escada, e percebe que estava no segundo andar daquela casa .
Ignorando por alguns segundos sua vontade de chorar e atendendo seus instintos de criança, ela sobe no corrimão da escada, escorregando pelo mesmo até o primeiro andar, apenas não dando um gritinho de alegria, como normalmente faria .
Tocando os pés novamente no piso, ela vai caminhando pelo local . Estava em um local com um sofá enorme de frente para a televisão, e dois sofás pequenos na lateral . Uma sala .
Uma sala muito familiar .
Podia jurar que já esteve ali outras vezes, mas não conseguia se lembrar .
Súbito, algo chama sua atenção . A mesma se vira, caminhando até uma parede, e fica parada ali, observando-a . Aquilo ... aquilo era ...
Ela continua parada, observando seu novo objeto de atenção,  ignorando por completo o mundo ao seu redor .
*          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *
-UÁÁÁÁÁÁÁ !!!!! – Ele abre seus curtos braços por completo, estica o corpo e continua bocejando . – ué, o que eu estou fazendo aqui no quarto ? – ele olha para suas roupas, e percebe que vestia uma roupa do dia-a-dia – e por que não coloquei o meu pijaminha ?
E mais do que isso ... por que sentia uma dormência enorme no corpo inteiro ? Aliás, como foi parar ali ? Lembrava-se vagamente de alguém tocando em sua cabeça, e em seguida uma vontade enorme de dormir havia surgido . Como era mesmo o nome daquela mulher , a okaasan de Megumi ? Ah, sim, Rei . Ela se chamava Rei .
Hmmm ... lembrava-se vagamente de Akira ter estado ali ... e tia Amy também ... e a okaasan de Akira, dona Makoto .
O que faziam ali mesmo ? Podia jurar que era algo importante, mas não conseguia se lembrar . Provavelmente deveria ter sido um sonho, pensava .
Mas que podia jurar que todas elas estiveram ali, podia .
Saindo da cama, rapidamente o mesmo abre a porta do quarto, saindo em um corredor . Ao passo que vai caminhando, percebe que a porta do quarto de sua Okaasan estava aberta .
Alguém esteve lá . Alguém estivera dormindo naquele quarto, pois ao voltar, o mesmo percebe que a cama estava desarrumada, mas quem faria tal coisa ? Afinal, sua okaasan a essa hora estava no trabalho, e ele havia ficado em casa para ... para ...
Para que ele ficou, mesmo ?
Tentava, mas não conseguia se lembrar . Tinha certeza de que era por causa de alguma coisa importante, mas não conseguia se lembrar .
Ignorando por completo seus pensamentos, o loiro corre, pulando no corrimão da escada .
- IIIUUUPÍÍÍ !  - gritava, enquanto escorregava pelo mesmo , chegando em alguns segundos até o andar debaixo .
Pra variar, a casa estava arrumada . O mesmo fizera isso, mas podia jurar que tia Amy e Makoto-san fizeram a maior bagunça por lá . E o que era aquela estranha marca na parede ? Será que andaram jogando algo nela ? Estava com uma estranha marca, parecendo uma rachadura ...
Minako-mama iria esfolá-lo vivo se chegasse e encontrasse isso .
Ele fixa os olhos na mesma, caminhando pela sala, ignorando todo o resto, até que bate cara em algo que o derruba . O mesmo abre os olhos o máximo que podia, tendo a maior surpresa do dia : diante dele, ou melhor, acima dele, havia alguém que não tocava o chão .
- SEU PERVERTIDO !!! – as únicas palavras que conseguiu entender, antes de um pé atingir-lhe a face, derrubando-o novamente .
- Ai !!!
- SEU TARADO ! PERVERTIDO ! PERVERTIDO ! PERVERTIDO !
Ele finalmente consegue segurar uma das pernas que o atingia, apenas para ser atingido pela outra perna .
- Ai ! Para de me chutar ! Para ! Para !
A mesma para, afastando-se , enquanto ajeita sua roupa .
Um pouco tonto, ele se ergue, entendendo menos do que antes . Mas o que foi aquilo ?
Com o rosto meio inchado, ele começa a prestar atenção em quem era, até que descobre .
- Megumi ? O que você tá fazendo aqui na minha casa ?
- Não é da sua conta, seu pervertido !
- Eu ? Pervertido ? Mas o que foi que eu fiz ? Foi você quem começou a me chutar e ...
- Não se finja se inocente, você olhou por debaixo da minha saia !
- Eu ? Eu tinha caído, apenas olhei para cima e te vi ...  e você não está de saia, me deve desculpas !
- Uma ova que eu vou pedir ! E mesmo de bermuda, eu vi a forma como você me olhava de baixo para cima, seu pervertido ! Pervertido, pervertido !
- Que culpa eu tenho se você resolveu ficar parada no meio do caminho e – ele para, prestando atenção no quadro que estava na sala . Ele, okaasan ... tia Amy, Makoto-san, um sacerdotisa- a okaasan de Megumi, lembrava-se – Akira, Megumi, Anchitka e Kinji – o que você estava fazendo ?
- Não interessa ! Eu estava tentando ver o quadro melhor !
- Não me interessa e em seguida você me diz o que estava fazendo ? Que tal aprender a estruturar melhor as suas frases ? – ele presta atenção no quadro novamente, observando que ele estava em uma altura além do seu alcance . Megumi havia dito que estava observando-o melhor ... mas onde estava o banco em que ela subiu ?
- Como você fez isso ?
- Isso, o que ? Se aproximar do quadro ?
- Me  aproximar do quadro, megumi . Me aproximar .
- Sabia que você é um chato ?
- Okaasan não pensa assim . E como você chegou lá encima ? Aonde subiu ?
- Subir ? Eu não subi em lugar nenhum, baka !
- Baka é você ! E como fez para chegar lá encima ?
- Eu subi, oras !
- Como ?
- Subindo, baka !
- Como assim, “subindo” ? O sofá está muito longe para você se apoiar nele, e não tem nenhum banco ou mesa por aqui, e eu me lembro perfeitamente de ter trombado com você enquanto olhava sem prestar atenção no que estava no caminho . Dá pra me explicar isso ?
Megumi cruza os braços e fecha os olhos .
- O que foi ? Ficou irritada ?
Sem resposta .
- Anda, eu te fiz uma pergunta . Sua okaasan não te ensinou isso, a não deixar as pessoas falando sozinhas ? – ele recua, preparando-se para receber um tapa da mesma, o qual não veio . – agora deu pra brincar de estátua, Meg ?
- Não me chame assim novamente – ela cerrava os dentes, ainda de olhos fechados – só por que somos colegas de classe e Minako-sensei tenha nos levado para passear, não significa que eu te dê essas confianças .
- Tá bom, não está mais aqui quem falou . O que está fazendo ?
- Tentando sentir Okaasan .
- Sentir ? Como assim, sentir ?
- Sentindo, baka .Okaasan está muito chateada, e triste, também . Mas acho que ela já esteve pior . Bem, vamos lá .
Shin pisca várias vezes rapidamente e em seguida arregala os olhos o máximo possível, não acreditando no que estava vendo  .
Megumi ...
Ela ...
Ela estava ... se afastando do chão ?
COOOL !
- Nossa ! Que truque legal ! Me ensina ! Me ensina ! Me ensina !
- Não dá pra te ensinar, baka ! Pelo menos, foi o que okaasan disse ...
- Ah , mas não seja egoísta ! É justamente o que eu queria para poder jogar basquete ! Os alunos mais velhos ficam falando que nós somos muito pequenos para isso, mas eles sempre deixam o Akira jogar ! Como é que ele consegue pular assim, tão alto ?  Como alguém de pernas tão curtas consegue fazer tal coisa ?
- Seu burro ! Ele é um joviano, tem mais força do que a gente ! É claro que ele vai conseguir pular mais alto, tonto !
- O que é um joviano ? E para de me xingar ! Se ficar assim, te boto pra fora de casa !
- Você ? E como pretende me obrigar ? Vai me bater, por acaso ?
- Tem sorte de ser mulher, do contrário, acabava com você em menos de um minuto !
Ele leva um chute na barriga pelo comentário, caindo para trás .
Mas o que deu naquela garota ? Tinha certeza de que andar com Akira a afetaria, mas não tanto assim .
Ele se ergue, percebendo que ela estava ainda mais afastada do chão, observando o quadro . Estava com as mãos unidas, suspirando para a figura .
- Escuta, por acaso você não tem nada melhor para fazer do que ficar me chutando ? Brincar de boneca, fazer comidinha ...
- Não enche ! Tenho mais o que fazer do que ficar dando atenção a um venusiano fracote .
- Quem é esse sujeito ?
- Que sujeito ?
- Esse venusiano do qual você falou . Venusiano ... é de Vênus, não é ? Cadê a nave espacial dele ? Será que é um Inca Venusiano ?
- Seu burro ! Eu tô falando de você !
- Quem, eu ? Mas eu não sou de Vênus, sou do Japão, mesmo .
- Tem certeza de que você é filho da Sailor Vênus ?
- Quem é a Sailor Vênus ?
- Esquece . É uma pena, mas algumas pessoas não herdam a capacidade dos progenitores .
- Como é ? Do que você está falando ?
- Que você é um inútil, Shin, só isso .
- Inútil ? E desde quando eu te dou essas liberdades pra ficar me chamando de Shin ? Meu nome é Shinnosuke !
- Eu te chamo do que eu quiser ! Não gostou ?
- Não ! A sua sorte é que você está ai no alto, senão ...
- Senão o que, Shin ? – ela cerra o punho, esperando pelas palavras dele .
- Senão eu te dava uma surra pra você aprender o que é bom pra tosse !
- Está me desafiando, frangote ?
- Só preciso de um braço pra te dar uma lição . Ou melhor, nenhum deles, já que você é mulher .
- É mesmo ? – ela toca o chão, descruzando os braços . Seu semblante estava diferente, tinha um sorriso malicioso na face – então eu quero ver se você cumpre com suas promessas, Shin . Quero ver, mesmo !
*          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *
Cansada .
Cansada e exausta .
Eram as duas palavras que definiam da melhor forma possível sua atual situação .
O dia havia sido , no mínimo, terrível . Começou sentindo dores estranhas, fora atacada por um suposto antigo inimigo, em seguida sofreu nas mãos de uma louca vestida de preto ....
... e para completar a cena, um rapaz, o qual aparecia e desaparecia sem que a mesma pudesse se dar conta, teimava de ficar no seu encalço, dizendo coisas que a mesma não compreendia .
Suas mãos continuavam picotando o alface, enquanto que o resto do jantar fervia no fogão .
E ainda assim, estava cansada . Fora um dia longo e penoso . Mesmo a cura psíquica de Rei não fora suficiente para recuperá-la por completo de sua exaustão . Na verdade, fora um milagre a mesma ter conseguido restabelecer o espirito de Makoto .
Death .
Um nome para ser lembrado .
Um nome para ser temido .
Ela havia lutado contra Makoto transformada . Seja quem fosse, no mínimo era uma adversária excelente . No mínimo, estava muito acima dos que atacaram o centro da cidade . O que a fazia pensar mais no assunto . Aqueles dois ... como era possível ? Pareciam pessoas normais, humanos normais ...  por que fizeram isso ?
Como fizeram isso ?
Como puderam ser capazes de fazer isso ?
Afinal, humano nenhum em sã consciência seria capaz de cometer tal ato, correto ? Até mesmo policiais e soldados, que em certas ocasiões tem permissão para tirar a vida de alguém se isso for para salvar a vida de outra, até mesmo estes não fariam aquilo, usariam isso em último caso .
Coisa que elas não fizeram com os youmas .
Tantos ... tantos deles que morreram . Tantos soldados ... tantos youmas . O que sabiam sobre eles ? Nada . O que entendiam a respeito daquele povo ? Absolutamente nada . Para elas, os mesmos não passavam de seres irracionais que atacavam qualquer coisa que se movia, por puro sadismo . Não passavam de bestas irracionais, pouco mais do que animais .
E pensar que a própria história já se encarregou de dar tal título a diversos povos .
Ela para o que estava fazendo, receosa . Tudo o que houve, tudo o que lhe aconteceu ... tudo aquilo ela mereceu, cada instante, cada momento, cada segundo, cada ...
- Está errada . Você não mereceu o que houve, nem merecerá, Mina .
Minako para o que estava fazendo e suspiro . De novo, não .
- Você não desiste, não é mesmo ?
- Tenho motivos de sobra para não desistir de você .
- Mesmo ? E quais seriam, garoto ?
- Pra começar, fazer você parar de me chamar de garoto ... Mina .
- Eu te proponho um trato . Pare de me chamar de “Mina”  e eu paro de te chamar de garoto, “Josh” .
- Aceito sua proposta, Minako . É esse o nome que usa, não é mesmo ?
- É o meu nome . Quais são seus outros motivos , se é que eles existem ?
- Simples . Quero te ajudar .
- Ajudar ? Ao que se refere ?
- Você está passando por graves problemas, Mina ... ko .
- Sim, eu estou ... pode me ajudar ? Pode impedir que esse banho de sangue tenha um fim ?
- Não é minha função . E eu me refiro aos seus problemas .
- Eu não tenho nenhum problema !
- Mesmo ?
- Bom ... tenho sim, um indivíduo irritante  que surge vez ou outra para me atormentar . Afinal de contas, quem é você ?
- Quem sou eu pouco importa, mas o que me importa é o seu estado de ...
- Pouco importa ? Surge de uma hora pra outra na minha vida e espera que eu confie em você ? Aparece e desaparece em minha residência, me desrespeita e ainda por cima exige confiança ?
- Você está bem mais madura, sabia ? Em outros tempos ...
- Cale-se ! Tenho coisas mais importantes para fazer do que perder meu tempo com você !
Por alguns momentos, ele se retrai, espantado .
Ela não era assim . Não agia assim .
- Tudo bem, Mina .
- Já falei para ...
- Se quer saber mais ao meu respeito, vai ter que deixar eu te chamar por esse nome, Minako . Meu nome é Joshua . Lanzorei Joshua, filho de Amistasi e Potifia, membros do clã Lanzorei .
Lanzorei . Por que esse nome lhe era ... familiar ?
Ou melhor ... por que esse nome latejava em sua cabeça ?
- E daí ?
- É, definitivamente, você não se lembra . Pelo visto, renascer aqui na Terra apagou completamente todas as suas memórias .
- Renascer ? Espere um instante ... você ... você é um ...
- Renascido ? Não, não sou  .
- Então ... o que você é ?
- Isso eu vou te revelar na hora certa . Por hora ... creio que Shinnosuke precisa da sua ajuda ...
- Como ? Shinnosuke ? O que sabe sobre – ela se cala ao ouvir um grito, seguido de um pedido de socorro – céus !
- OKAASAN !!!!!!
No momento em que houve o grito, Minako corre para a sala, desesperada .
Agora, não . De todos os momentos, de todas as ocasiões, não poderia ser agora que viria um ataque inimigo . Não agora, com suas amigas dispersas e com problemas até o pescoço .
Felizmente, não foi nem metade do que esperava . Ela coloca a mão na boca, surpresa com o que estava diante de seus olhos .
Megumi .
De pé , e totalmente recuperada, inclusive, com um sorriso vitorioso nos lábios .
Vitorioso ?
Seus olhos percorrem toda a sala, a procura de algo . Não demora muito para ela encontrar seu filho ... bem debaixo de Megumi . Na verdade, a mesma estava com os pés nas costas dele .
- Filho ! – ela se aproxima  – o que houve ?
- Okaasan ! Essa ... essa ... essa bruta !Ela me bateu ! Buááááá !!!
- Minha jóia  .... – ela o retira do lugar aonde estava, abraçando-o – okaasan já chegou, tudo bem ? Não precisa ficar triste, tá ?
- Snif ... ela ... ela me deu um chute na barriga e ... e depois ... depois bateu com a minha cara na parede, daí eu fui reagir , então ela pegou meu braço e torceu ele, eu falei para ela parar de torcê-lo, mas ela me chamou de fracote e me deu uma banda . Eu me levantei na hora e fui dar o troco, daí ela esticou a perna dela lá no alto igualzinho ao Akira e chutou a minha cara, e quando ela foi chutar de novo eu segurei a perna dela para ela não ficar fazendo isso de novo, por que dói muito, foi então que ela começou a me dar um monte de socos e eu cai no chão, e ela ainda pisou nas minhas costas !
- Que culpa eu tenho se você não soube se defender ?
- Megumi ...
- Glup ! O-o-ohayo, Minako-sensei !
- Por que você fez isso, Megumi ?
- Por que ... por que ... por que ele me ameaçou !
- Ameaçou, é ? – ela encara Megumi com um dos olhos fechados, fazendo uma expressão de “você fez arte, menina” . – Shinnosuke – ele se ergueu no mesmo instante. Geralmente ela o chamava de Shin-kun, Shin-chan e, muitas vezes, de jóia . Não que não gostasse de ser chamado pelo nome completo, mas quando ela o fazia, era um mal sinal – isso é verdade ? Você a ameaçou  ?
- Claro que não, foi ela quem me chutou e ...
- Shinnosuke ...
- Mas ... mas eu tô falando a verdade !
- O certo é “estou falando a verdade”, Shinnosuke . E você sabe muito bem que está mentindo .
- Mas ... – Era algo que não tinha saída . Ela sempre sabia quando ele não estava falando a verdade, ou toda . Sempre . Não sabia como ela fazia isso, não entendia como, mas não fazia a menor diferença para o mesmo saber ou não – eu ... eu ... tá, eu disse que iria dar uma surra nela e botar ela para fora de casa e ...
- Por que disse isso ?
- Por que ela me chutou ! Tirou sarro de mim e ainda ficou me xingando ! E eu não aceito isso, ainda mais na minha casa !
- Você está certo em se sentir ofendido – ela afaga seus cabelos – mas violência nunca é uma boa alternativa, filho . Nunca . Use sempre a cabeça antes de agir, procure sempre a alternativa que gere menos conflitos .
- Entendi, Okaasan .
- "timo . Está de castigo .
- O que ? Mas por que ?
- Por ter ameaçado uma moça, oras ! – ela franzia a face, encarando-o – onde já se viu, ameaçar bater em uma moça, ainda mais em uma tão bonita quando Megumi ? – a mesma se torcia toda, orgulhosa pelo comentário de Minako – Se ela fosse sua namorada, você não iria bater nela, iria ?
- Namorada ? Bleargh !
- Seu bobo ! – ela apertava o nariz de Shin, ao passo que o erguia e o girava na sala, de maneira bem rápida – Vai me dizer que não acha ela uma menina muito bonita ?
- Não ! Ela é uma chata e feiosa ! – ele dava a língua para Megumi, mas estava protegido por Minako, sem poder ser atingido pela mesma .
Minako expressava um leve sorriso . Era até engraçado pensar assim . Dez anos . Já estava com dez anos . No entanto, ainda eram dez anos . Sua repudia ao namoro era simplesmente pelo fato de que, enquanto os hormônios não começassem a agir, veria qualquer colega de escola apenas como uma colega, e nada mais .
Certas coisas nunca mudavam .
E como ele estava ficando bonito . Muito bonito, na verdade . Como Amy havia dito, se continuasse assim, seria melhor comprar outro telefone e outra secretária eletrônica só para guardar as mensagens dele .
Ela mal se dá conta quando começa a girar o mesmo MAIS rápido do que o normal .
Ele continuava rindo . Sempre ria assim, quando ela o pegava e o girava daquela forma – engraçado como ela podia girar uma pessoa de maneira bem rápida . Rápida, mesmo . Nem mesmo tia Amy e Makoto-san conseguiam girá-lo assim, com tanta velocidade .
E ela nem se deu conta que estava fazendo isso . Fazia tempo desde que utilizara sua agilidade e velocidade acima da média para algo assim tão ... corriqueiro .
Aquilo era tão divertido .
Toda a sua vida, todos os momentos felizes que teve ao lado dela ...
Não queria mais nada . Se o mundo acabasse ali, estaria feliz, pois teve uma vida ao lado dela .
Uma vida alegre e feliz, ao lado da maior mulher da sua vida .
De relance, ele olha para cima, quando vê aquilo .
Novamente .
A luz .
Aquela luz .
Era forte, muito forte . Mais forte do que qualquer coisa do que já tinha visto .
E o frio . Voltava a sentir aquele frio . Não era em seu corpo, era algo muito, mas muito mais profundo .
Sentia-se como se estivesse congelado ! E molhado . Encharcado !
E em meio  a escuridão .
Abraçava-se com seus braços e encolhia seu frágil corpo para resistir àquela situação .
E resistia, dia-após-dia, noite-após-noite .
Sem saída . Sem alternativa .
As vezes, o frio aumentava, outras vezes, diminuía, mas ele sempre vinha .
Sempre .
Eis que, de repente, algo surgiu diante dele .
Algo enorme .
E brilhante .
Não sabia o porque, nem como ... mas sentiu-se compelido a seguir na direção daquilo . Atingi-lo . Alcança-lo .
Abraçá-lo .
E foi o que fez . Seus frágeis braços enlaçaram o que tinha visto, prendendo-o com toda a força .
E a coisa reagiu : Devolveu o abraço, com todas as forças que lhe restavam .
Ele simplesmente não entendia ,tampouco tinha maturidade suficiente para compreender . A única coisa que sabia é que estava em sua casa, no colo de sua Okaasan, no meio de um gostoso abraço, o qual ela devolvia com enorme vontade . Ficaram assim por mais de cinco minutos, enquanto que Megumi foi até a cozinha, deixando-os sozinhos .
Mãe e Filho .
Ele não queria largar . Se fosse possível, ficaria ali, abraçando-a pela eternidade .
- Okaasan .
- Sim, minha jóia ?
- Vamos ficar juntos, não vamos ?
- Claro, meu amor .
- Vamos ficar sempre juntos, não vamos ? – ele perguntava, ao passo que continuava abraçando-a .
- Vamos sim, meu lindo . Eu juro .
- Jura ? – ele a apertava mais, dando um sorriso .
- Sim, meu amor, eu juro . Sempre vou estar contigo, sempre . Nunca vamos nos separar, aconteça o que acontecer . Não importa o que aconteça, sempre estaremos juntos . Eu nunca vou te abandonar . Aconteça o que acontecer, esteja onde estiver, eu sempre estarei com você, sempre estarei do seu lado, filho – agora era ela  que o apertava com igual força, e ele retribuía .
- Okaasan – ele encostava docemente sua cabeça no ombro da mesma, e em seguida lhe dá um beijo na face – eu gosto tanto da senhora . Eu te amo, Okaasan .
- Eu também, Shin-kun . Eu também .Aconteça o que acontecer, sempre estaremos unidos . Sempre – ela o coloca no sofá – mas por hora, fique sentado aqui, e não  OUSE tocar no chão, entendeu ? – a mesma fazia uma cara de furiosa .
- Mas ...
- Seu castigo, lembra ? Vai ficar sentado ai até eu mandar você sair . MEGUMI !!!
- Pode falar, sensei !
- Você também – ela pega Megumi e a coloca sentada no sofá – fique ai e não saia enquanto eu não mandar .
- Mas eu não fiz nada !
- Você reagiu , poderia ter me chamado . Não quero saber de vocês dois brigando, ok ?
- Hi !
- "timo ! Fiquem ai sentados e não se levantem . E nada de ligar a TV !
- AAAAAHHHHH !!! – os dois haviam ficado desanimados . Desse jeito, a única coisa que poderiam fazer seria conversar um com o outro .
- Viu só o que você fez, Shin ?
- Eu ? Você estava me batendo e a culpa é minha ?
- É, sim ! Era só não ter gritado que ela não vinha !
- Tá pensando que eu sou seu saco de pancadas particular, é ?
- Se prefere ver as coisas por esse lado ...
- Por sua causa, agora ficaremos aqui até o jantar ! Espero que esteja satisfeita !
- Ai ....
- Nem vem, é tudo culpa sua !
- Minha ? Você é quem não cumpriu sua promessa !
- Não foi justo ! Você ... você ... você ...
- Sou apenas uma garota indefesa, Shin .
- Uma ova !Sabia que você ia acabar aprendendo alguma coisa com o mané do Akira !
- Não fala mal dele !
- Falo , sim ! Dei meu lanche para ele dar um jeito naquele brutamonte da sexta série que estava pegando no meu pé, e na hora H ele sumiu ! Covarde !
- Não o chame de covarde ! Ele é um grande herói !
- Herói ? Por que ?
- Por que ele desobedeceu tia Makoto e foi me salvar !
- Salvar, é ? tá conta outra .
- É sério ! E olha só a confusão em que você nos meteu !
- Eu ? Você quem começou me batendo !
- Mas você me desafiou !
- Como é que eu iria saber que você sabe lutar ? Andou tendo aulas com Akira ?
- Não, foi a minha Okaasan quem me ensinou ! – ela abria um sorriso de orgulho para Shinnosuke o qual continuava encarando-a – é sempre bom saber se defender quando um TARADO está por perto !
- Tarado ? Eu não fiz nada !
- Você me olhou por baixo !
- Mas você está de bermuda !
- Mas você é maldoso ! Aposto que queria se aproveitar de mim ! Aposto ! Tarado ! Tarado !
- Ai ... Okaasan, por favor, não poderia me colocar de castigo em outro lugar ? – sem resposta .
- Não adianta, você não ouviu ?  Ela quer que fiquemos aqui . E tudo isso por que você resolveu gritar ... hunf !
- Ah, então é assim ? Pois me aguarde, eu ainda vou te dar o troco ! Isso não vai ficar assim, entend ...
TRIM ! TRIM ! TRIM ! TRIM !
- Nào vai atender o telefone ?
- Eu ainda não terminei de falar o que eu tinha para falar !
TRIM ! TRIM ! TRIM !
“Oi, aqui é a Minako” “E aqui é o Shin”
(Voz de ambos) “Você ligou para a residência dos Aino ! Após o bip, deixe o seu recado !”
“E se for você, Akira, onde é que você estava naquele dia ? Eu te dei o dinheiro do meu lanche pra você assustar aqueles garotos da outra sala e você    sumiu ! Eu quero o meu dinhero de volta !”
“Shin, não é dinhero  que se fala, e sim dinheiro.”
“Ops ! Desculpa, Okaasan !”
“Diga bip, Shin !”
“Biiiip !!!”
“Foi longo demais, Shin . Eu vou te mostrar . É assim que se faz : Bip .”
- Shin, que secretária eletrônica mais idiota ! De quem foi a idéia ?
- Foi minha, e okaasan gostou !
- Até que enfim ! – ambos ouviam uma doce voz no telefone, embora pela entonação, fosse claro que a pessoa estava gritando ! – Minako, cadê você ? O que houve ? Por que não me responde, droga ? Vou viajar e quando volto, descubro que andaram metralhando seu bairro ! O que está acontecendo, prima ? Eu sei que você está me ouvindo, não se finja de surda, sua ingrata ! Isso é jeito de tratar a própria prima ?
- Alô ? – Shinnosuke tirava o telefone do gancho – residência dos Aino, quem deseja ?
- Até que enfim ! Pelo visto, quem espera sempre descansa !
- Na verdade, o certo é “quem espera sempre alcança” .
- Ah, não ! Era só o que me faltava ! Escuta, Minako está ?
- Quem deseja falar com ela ?
- Diga que é a prima que quer falar com ela .
- Prima ? – ele coçava a cabeça, confuso . Desde quando sua okaasan tinha uma prima ? – OKAASAN, TEM UMA MOÇA AO TELEFONE QUERENDO FALAR COM A SENHORA !!!
- TRANSFIRA PARA A COZINHA, MINHA J"IA !
- Só um instante, dona . – ele aperta um botão, transferindo a ligação – OKAASAN, JÁ TRANSFERI !
- OBRIGADA, MEU ANJO !
- Bem, agora deixa eu terminar o que estava falando antes do telefone ter ...
Ele nem teve a oportunidade de continuar, pois ouviram um grito vindo da cozinha . Ambos esticaram suas orelhas o máximo que podiam e tentaram se concentrar na conversa .
- Ah, então é assim, é ? Eu aqui, toda preocupada com você, e é assim que você me trata, sua engata !
- É Ingrata, Ishitar ! INGRITA !
- Que seja ! E você não muda nada !Continua a mesma boba de sempre !
- Eu sou boba ? Ora, veja só quem está falando ! E você, que quase desmanchou o noivado com o Hoshi só por que o Jack teve uma briga com a esposa  e te procurou para consolá-lo, e como sempre, acabou confundindo as coisas , hein ? O que deu em vocês dois ? Ele achou que você ainda o amava e estaria ali sempre que ele levasse um chute da esposa, ou você queria reviver o passado, viver uma aventura romântica com o cara que te largou depois de dizer que estava com você por que estava procurando dentro de você uma outra mulher, e que de repente, depois de uma briga com a esposa, ele jogaria tudo para o alto e voltaria atrás, para te buscar em seu pégaso é leva-la para o paraíso ?
- O que ? Isso é trapaça ! Jogo sujo ! Pior você, que dispensou o coitado do Afonso !O pobrezinho ficou tão abalado ... e pensar que ele fez tudo direitinho, detalhe por detalhe . Te paquerou, te convidou para jantar à luz de velas, te respeitou durante todo o tempo em que estiveram juntos, sem ao menos cogitar a hipótese de levá-la para a cama, ficou ao seu lado quando você chorava, quando você ria, passeava com você, sempre inventava novas formas de dizer que te ama ... e você simplesmente diz  “não” quando ele te pede em casamento ?
- Ahhhhh !!!! Vá a merda, Ishitar ! – ela estava realmente irritada, e não era pra menos . Festas, comemorações, passeios, encontros ... sempre que se encontrava ou falava com a prima, acabavam discutindo, pelos mais variados motivos ! – tenho mais o que fazer !
- É, estou vendo . Eu aqui, que nem uma tonta, preocupada com as noticias que li no Jornal, achando que você estava passando por problemas, e é assim que me trata ? Ou melhor, como sempre me tratou, né ? Nunca me convidou para nenhuma das festas de aniversário do Shin-chan ! Pra nenhuma ! E também nunca compareceu as festas de aniversário da Seiza e do Hoshi Junior ! Nem se deu ao trabalho de pedir para alguém levar o Shin-chan até lá, ou apresentá-lo aos primos !
- Ishitar, passar bem ! – ela bate o telefone, bufando . Já perdera a conta de quantas vezes ela e a prima discutiram .
Era só o que lhe faltava para terminar o dia . Só isso ! Como estava nervosa ! Como estava irritada !
Na sala, os dois pequenos estavam surpresos e assustados . Surpresos por que nunca haviam visto Minako assim, tão irritada . Mesmo quando faziam arte, seja em casa ou na escola, eles nunca a tinham visto assim, desse jeito . Nunca .
E também estavam assustados . Não conseguiam entender ou compreender o que estava acontecendo, como estava acontecendo e por que estava acontecendo ... mas estavam sentindo algo , dentro deles, algo ao redor deles, algo percorrer cada canto da casa . Se não estivessem tão surpresos com o linguajar de Minako, talvez percebessem o quanto a atmosfera do local havia ficado pesada, e que parecia que uma enorme quantidade de sentimentos , como a ira, o ódio e o rancor, estavam espalhados pela casa .
Se não estivessem surpresos demais para perceberem isso .
- Nossa ... dessa vez você ficou irritada pra valer, Mina ... ko . Muito irritada ! Já ouvi falar de pessoas que não gostam uma da outra, irmãos que não se falam, parentes que não vão a um evento por que outro parente estava lá ... mas não acha que  vocês estão passando um pouquinho da conta ? Não acham que já estão um pouquinho crescidas para ficarem agindo assim ?
- Não ouse me dirigir a palavra, seu assassino !
*          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *
- Nossa ... como ela estava irritada ... por que ela estava assim, Shin ?
- Sei lá ! Nunca vi ela tão furiosa assim, nem mesmo quando eu tirei um dez em francês e escrevi “10” pelas paredes da casa ...
- Fez isso ?
- Bom ... eu estava empolgado, horas !
- Tá . Quem é essa mulher, essa tal de Ishitar ?
- Não conheço . Nunca a vi .
- Se você tivesse deixado o telefone fora do gancho, talvez desse para escutar a conversa das duas, e não apenas os gritos de Minako-sensei . Será que são parentes ?
- Não sei . Okaasan nunca falou muito sobre isso, e eu também não perguntei . Mas não muda de assunto !
- Shin, mas você é uma mala, mesmo ! Não vai desistir ?
- Só se você me ensinar a voar ! – ele abriu o maior sorriso que ela já tinha visto .
- Ensinar ? Mas como você acha que eu vou te ensinar a – uma idéia maliciosa surge em sua cabeça, e ela resolve não desperdiça-la – ok, Shin, se parar de me encher, te ensino a voar .
- IUPIIII !!!
- Fica quieto ! Se Minako-sensei ouvir, vai ser o fim !
- Tá bom, mas ... espera um pouco ! Ela disse que não podíamos sair daqui ! Droga !
- Ela disse que não queria que a gente tocasse o chão, lembra ? Mas não falou qual chão ...
- É ? E como vamos sair daqui ? Voando ?
- Já que perguntou ...
Ele fica impressionado . Mais uma vez ela estava fazendo aquilo, voando . Como, ele não sabia, mas o corpo dela cruzava a sala com uma graça enorme .
- Anda, vem comigo .
- Vai me carregar ?
- É o jeito – Shin pega nas mãos dela e as segura com força, ao passo que ela vai cruzando a sala em uma velocidade bem mais lenta .
- Uau ! Nossa, que demais !
- Demais pra você ! Como você é pesado ! Tem que fazer um regime !
- Que ? Está me chamando de gordo ? E você ?
- Shin – ele percebe que ela estava em uma altura bem maior do que antes – quer que eu te largue daqui, é ?
- Glup ! Não, não ! Mas você não se cansa quando carrega sua okaasan ?
- Eu não carrego ela, seu bobo ! Ela sabe voar sozinha ! E pode fazer muito mais coisas do que eu ! Okaasan é demais, inigualável ! Só com a força do pensamento, ela pode voar, ler as mentes e curar as pessoas ! É a Senshi mais forte que existe !
- O que é uma senshi ?
- Tem certeza de que é filho de Minako-sensei ?
- Claro que sou ! Tenho até registro, quer ver ?
- Deixa pra lá . Vamos para o segundo andar, onde ninguém vai nos atrapalhar .Anda .
- Mas não posso andar, estou sendo ...
- Esquece  . Venusiano idiota ...- lentamente ela vai carregando-o para longe da sala . Se tivessem permanecido ali por mais algum tempo, teriam ouvido gritos ...
*          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *
- Assassino ?
- Você é um assassino ! Seu monstro assassino !
O mesmo não sabia se ficava triste ou alegre . De certa forma, ela estava se soltando, colocando pra fora seus verdadeiros sentimentos ... mas por outro, não lhe agradava as acusações dela .
- No que você baseia tais acusações ?
- E ainda pergunta ? Seu cínico ? Nega que matou a sangue frio Olho-de-águia ?
- Quem ?
- Nào se faça de desentendido ! Refiro-me ao homem que você matou agora há pouco !
- Não matei nenhum homem . Na verdade, nem tenho como fazer isso .
- Porco ! – ela lhe dá um tapa, mas o mesmo nem recua, apenas vira o rosto – como consegue ser tão frio assim ? Tirou uma vida e ainda quer me dar lição de moral ?
- Mas do que diabos você está falando ? Afinal de contas, quem é esse tal Olho-de-Águia ao qual você se refere ?
- Hoje . Mais cedo . No beco . Eu e você . Olhos-de-Águia . Incinerado vivo . Nega isso ?
- Ah, sim . Agora estou me lembrando .
- .....
- .....
- .....
- .....
- .....
- .....
- .....
- .....
- ..... e então ?
- Entào o que ?
- Por que o matou ?
- Hmm, para salvar sua vida, está de bom tamanho ?
- Nào preciso que me salva ! Eu podia tê-lo acalmado se você não o tivesse exterminado !
- Na verdade, o máximo que conseguiria seria destrui-lo, mas acho que você acabaria afugentando-o .
- Como é ?
O jovem fica calado durante alguns segundos, fitando-a . O mesmo não acreditava que ela estava fazendo aquele tipo de pergunta .
- Mina ... ou Minako, como preferir ... como é possível matar ... algo que nem ao menos está vivo ?
- .........
- .........
- .........
- .........
- ......... como é ? Mas ... mas de que diabos você está falando ? Como assim, não estava vivo ?
- Aquela coisa não estava, simplesmente . Na verdade, aquilo não vivia, e sim, existia .
- Eu não compreendo ... aquele era Olho-de-Águia . Eu o conheci . Tenho certeza de que era .
- Tem certeza ?
- Os olhos, o cabelo, o rosto ... era ele ... tenho certeza de que era !
- Aquilo não era Olho-de-Águia, seja lá o que for isso .
- Então ... o que era aquela coisa ?
- Um espirito .
- Espirito ? UM ESPIRITO ?!?!?!?
Ela cruza os braços, encarando-o . Definitivamente, aquele rapaz estava brincando com ela .
Aquilo não era um espirito ... não poderia ser um ...
E além do mais, Olho-de-Águia estava vivo . Em verdade não o vira desde que  o mesmo se revoltou contra Nehelenia, mas mesmo assim .... mesmo ... assim ...
- Certo ... digamos que eu acredite nisso ... o que ele faz aqui ? Ou melhor, como ele se tornou um espirito ? Eu me lembro muito bem dele, tinha um corpo, algo que pudesse ser apalpado . Como poderia ter se tornado um espírito ?
- Talvez ele sempre tenha sido um ...
- Impossivel . Ele nunca foi um .
Com um sorriso no rosto, o rapaz cruza os braços, encarando-a .
- Nunca ?
- Nunca . Lutei contra ele em tempos passados . Isso é impossivel !
- Sendo assim, só resta uma alternativa, Mina .
- Qual ?
- Ele não era Olho-de-Águia . Outro espirito, quem sabe ... mas não Olho-de-Águia . Deve ter sido invocado por ...o que foi ? – ele a fita, percebendo o olhar dela . Não precisava ser um venusiano para sentira as emoções a flor da pele que ela emitia, e perceber o olhar de pura desconfiança da mesma .
- Você parece saber bastante a respeito disso . – ela falava com desdém e enorme deboche .
- Eu aprendi com você, lembra ?
- Comigo ? – ela pisca rapidamente e fecha o rosto em seguida – garoto ... isso já foi longe demais . Nào me lembro de você, nunca nos encontramos em toda a minha vida . Não o conheço, não confio nem um pouco em você, e sua presença me assusta . Tenho crianças aqui e vou pedir apenas uma vez que se retire de minha residência .
- Como quiser, Mina – ele dá as costas para ela, e começa a se dirigir até a sala – apenas ouça uma coisa : se esse tal de Olho-de-Águia nunca foi um espírito, então o que nos atacou realmente era um espírito .
- Saia daqui .
- E não é verdade que eu o matei . Meu fogo não é exatamente fogo, sabe . São chamas espirituais. Pra falar a verdade, são poucas as coisas que eu posso fazer contra outra coisa que não seja um espirito .
- Saia já daqui !
- O que eu fiz, na verdade, foi fazer aquele espirito abandonar aquela forma e assumir uma forma bem mais fraca . Desse modo, ele foi obrigado a se retirar para o lugar de onde veio, do contrário, teria sido destruído por completo .
- Você é surdo, por acaso ?
- Obviamente, você deve estar se perguntando como esse espirito veio até você , não é ? Bem, em verdade os venusianos tem um elo bem forte com o mundo espiritual, mais do que qualquer povo . De certo modo, amadurecem mais rápido, vêem o mundo e as suas mudanças com mais naturalidade . Em verdade existem outros seres que tem a capacidade de contatar espíritos usando a força de sua alma, mas não como os venusianos . Tal povo tem um vinculo fortíssimo com os espíritos, sabia ? São empatas espirituais, na verdade . Diferente de empatas psiônicos, cujo poder empático vem da mente, nos espirituais o poder vem da alma . Claro, isso é um mero detalhe, afinal de contas, só um venusiano poderoso poderia convocar um espirito forte o suficiente para atacar alguém poderoso como você . Em outras palavras, um venusiano que manipule as forças da criação e da destruição .
- Fora daqui, seu ... criação ? Força da destruição ? Mas ... mas ... do que você está falando ?
- O alfa e o ômega, o principio e o fim, a vida e a morte, o tudo e o nada , o dia e a noite ...
Mas do que ele estava falando ? Como assim, forças da criação e da destruição ? Associar tais coisas ao principio e ao fim, a vida e a morte, era algo tão subjetivo ...
Mas ... ele disse .... vida e morte ? Tudo e nada ? Dia e noite ?
Será que ...
- Essas tais forças ... quer dizer ... elas são forças ... contrárias ?
- Vejo que está compreendendo, Mina .
- Por que me chama de Mina ?
- Por que era assim que eu te chamava, lembra-se ?
- Definitivamente ... não . Por que forças contrárias ?
- Por que não se suportam, embora também não possam permanecer afastadas . Uma não vive sem a outra, e uma não tolera a outra . Separadas, elas criam,  unidas, se anulam .
- Separadas, elas criam, unidas, se anulam ...  forças da criação ... forças ... da ... criação ... mas ... será que ... então ... força da criação ... força da criação .... !!!!!
- Entendeu ?
- Luz ? Você quer dizer ... luz ? O que dá a vida, o que permite o desenvolvimento da vida ... espere um pouco , não acha que isso é um tanto quanto subjetivo ? Não pode fazer sentido !
- Na vida que você leva, o que faz sentido ?
- ...... mesmo assim, se a luz é a força da criação, então a força da destruição é ... é ...
- Trevas . Escuridão .
- Isso é absurdo ! Por que Luz e Trevas ? Por que não o Vácuo no lugar das trevas ? Por que não a luz das estrelas e a escuridão de um buraco negro e ... e ...
- Percebeu o que você acabou de dizer ? Viu só ? O que eu quero não é te dar uma aula de filosofia no momento, apenas te dar um toque, só isso .
- E sobre o que seria ?
- Como você já deve ter percebido, esse espirito foi invocado por um poderoso empata .
- Mas ele me atacou, como pode ser um espirito ?
- Por si próprio, ele não pode fazer tal coisa, mas pode ser energizado pelo poder de quem o invocou .
- Ele controlava as sombras, assim como Olho-de-Águia ... e o fogo, também .
- É um mero detalhe . Na verdade, um truque muito bem feito .
- Espere um pouco . Está dizendo que alguém invocou um espirito maligno, deu a ele, além de novos poderes, a aparência de um antigo inimigo ? Isso até que pode fazer sentido, mas ... com que propósito ? Por que não fez o mesmo com minhas amigas ?
- Não percebeu ? Quando fui atingido pela aura daquela mulher, desapareci por alguns instantes . A propósito, como conseguiu escapar ?
- Aura ?
- Aura . Alma . Essência . Espirito . Como preferir chamar . Como escapou ?
- Agora que perguntou ... eu ... não me lembro direito  . Antes eu me lembrava, mas é como se tivesse esquecido . Só me lembro de estar sentido toda aquela coisa me envolvendo, tentando me corromper, aquela coisa ... doentia, tentando me dominar ... não sei, eu .... acho que algo dentro de mim combateu aquilo .
- Se você realmente fez isso, então aquele espirito só serviu para te distrair .
- Faz sentido ... minhas amigas estavam tendo problemas perto dali .
- Suas amigas ? Quer dizer, as demais princesas ?
- Princesas ? Ah, sim , as senshis . Por que a pergunta ?
- Deixa pra lá . Preciso me atualizar na primeira oportunidade .
- E pelo o que fiquei sabendo, fui atacada pela mesma pessoa que as atacou . Talvez estivesse planejando vir atrás de mim de qualquer jeito .
- Ela tem medo de você, Mina . Enfrentar as você e as demais senshis ao mesmo tempo não devia estar em seus planos .
- Medo de mim ? Mas .... mas ... por que ela teria medo de mim ? Eu não lhe fiz mal algum, nunca ousaria fazer tal coisa ...
- Não do que você fez, mas do que poderia ter feito e ....
- FORA DAQUI !!!! SAIA DAQUI, SUA ...SUA ... COISA !!! QUEM VOCÊ PENSA QUE É PARA ENTRAR NA MINHA CASA E FICAR ME ACUSANDO ? SOU UMA PROFESSORA,  NÃO UM MONSTRO ASSASSINO !!! SAIA !!! SAIA !!! SAIA !!!
- Como quiser, Senshi da vida e da criação . Mas tornaremos a nos encontrar . A gente se cruza por ai, koibito .
Ela piscou por um segundo, e no instante seguinte, ele não estava mais diante dela, como se nunca tivesse estado ali .
Estranho, ela pensava .
Muito estranho .
Ele simplesmente sumiu quando ela ordenou que ele fosse embora . Por que isso não aconteceu antes ?
Ou melhor ... por que só agora ? Por que só depois de muita insistência o mesmo desapareceu ?
Não era a primeira vez que isso acontecia . Nas outras vezes em que deu de cara com ele, o mesmo desaparecia depois de um tempo, como se algo que ela fizesse o afastasse, mas ele tornava a voltar, e não demorava muito para isso .
Canalha ...
Como tinha coragem de fazer aquilo ?
Como teve coragem de acusá-la ? De fazer insinuações sobre sua pessoa ? Justo ela, que havia se recusado a lutar, que se resguardou para não ferir mais ninguém, justo ela ...
Ela vai caminhando pela cozinha, puxando uma cadeira e apoiando-se na mesa .
Que dia .
Teve náuseas na parte da manhã, sofreu queimaduras leves por causa de um “suposto” espirito, fora “engolida” por um jorro de escuridão e podridão, restabeleceu o equilíbrio do espirito de sua amiga, teve várias visitas de um sujeito estranho que aparecia e desaparecia de uma hora para outra ....
Ela sente uma leve dor de cabeça ao pensar no mesmo . Não sabia quem era, tampouco como adentrava em seu recinto com a maior facilidade e desaparecia de igual forma .
Mas o que a deixava mais irritada ainda, era o fato de que, por algum motivo, o conhecia .
Quem era ? De onde viera ? E por que sempre falava como se conhecesse seu passado ?
Um youma, talvez ?
Isso explicaria muita coisa, mas não tudo . Ele saberia do que houve anos atrás, mas nada antes disso .
Anos ... atrás ...
Ela toca sua barriga, remoendo-se intimamente . Ainda podia sentir aquilo atingindo-a, perfurando e rasgando sua carne, retalhando-a por completo ... e jogando na sua cara os seus atos .
Seus atos, seus crimes ... todos frutos de uma adolescência inconseqüente, na qual agiu “em nome do amor” para um bem maior, e muitos inocentes tiveram que pagar pelo seu erro com a própria vida .
Aqueles seres ...
Aqueles youmas ...
Aquele youma ...
Sua barriga dói . E de novo . E de novo  . E de novo . Quando se dá por si, estava no chão, se contorcendo . A mesma segura o pé da mesa, apertando-o para suportar aquilo . Ela trinca os dentes, segurando um grito que clamava por liberdade, até que ele cessa, e ela, com relativo esforço, se ergue .
Outra vez, não .
Minako arfava, enquanto ajeitava sua roupa . Só havia sentido tal dor uma vez, apenas uma vez ...
Ela passa a mão por debaixo da camisa, exatamente no local da dor .
Nada . Simplesmente nada . Nenhum corte, nenhum inchamento, nenhum vestígio da origem da dor, nada .
Mas ela sabia o motivo, sabia o por que da dor vir exatamente dali . Se perguntava por que não sentia a mesma dor em outras partes do corpo, até . Mas o mais curioso era que, mesmo anos depois daquilo que acabou por mudar sua vida por completo, seu corpo ainda doía, como uma cicatriz profunda para que ela não se esquecesse do passado .
Dolorosamente suas memórias retornavam, desde o momento em que despertou, passando pelos dias em que agiu como Sailor V, como encontrou aquelas que seriam suas companheiras , como as salvou daquele general do Reino Negro ...
... como matou tantos e tantos youmas antes e depois de se unir a elas, a maneira como ceifou suas vidas, o sofrimento que causou a tantos que estavam ali simplesmente por que não tinham nenhuma opção . Simplesmente cumpriam ordens .
Soldados, serventes ... tantos youmas mortos ... tantos representantes de um dos povos mais antigos da face da Terra dizimados, quase levando ao total extermínio aquele povo . Em verdade não duvidava que o sangue deles corresse pela veia de muitas pessoas pela face da Terra, uma vez que a raça humana, com suas diversas raças, se miscigenou abundantemente ao longo dos séculos, gerando variações genéticas tão abundantes que em muitos casos era dificil detectar sua origem . Mas, mesmo assim, era um crime contra um povo, talvez comparável até com o crime contra os Judeus na metade do século passado .
Mas ... será que era tão difícil assim deixar o passado para trás e seguir em direção a uma nova vida ?
Ela era humana . Não exatamente em alma, mente e espirito, mas em suas escolhas .
Tinha as habilidades de uma venusiana, os poderes de uma, as características de uma, embora ela tentasse esconde-las e nega-las na maior parte do tempo ... mas eram suas escolhas, não suas habilidades, que a tornavam uma humana .
Seu filho ... seu lindo e amado filho ... como ela queria contar a ele ... revelar ao mesmo sobre seu passado, sobre o que ela realmente fazia antes de tudo isso começar ... mas como ? Dizendo que era uma guerreira renascida que quase dizimou uma raça inteira ?
Suas amigas eram uma prova disso, de como elas não estavam preparadas para tal coisa . Akira e Megumi tem crescido ouvindo histórias das grandes guerreiras, dos grandes povos do passado, e pelo que pôde perceber em Amy, a mesma estava tremendamente assustada com o fato de que, mais cedo ou mais tarde, seus filhos desenvolveriam uma certa curiosidade sobre sua origem, e a mesma não estivesse pronta para explicar isso .
A grande verdade, ela pensava , a grande verdade nisso tudo ... era que nenhuma senshi da atualidade estava pronta . Nenhuma delas estava pronta para ser mãe de primeira viagem, tiveram que aprender a duras penas a dor da responsabilidade que carregavam .
E ainda assim, até os dias de hoje, continuavam tendo que aprender muitas coisas, assim como ela .
Como esperar, então, que estivesse apta a contar tudo para Shinnosuke, se ela sabia que nenhuma delas estavam prontas ? Mais uma vez, Makoto e Rei eram a maior prova disso . Elas viviam contando para as crianças sobre os feitos do passado, e sobre o pouco que lembravam de suas vidas anteriores .
Mas elas estavam cometendo um erro crucial, o de ignorar a cultura de cada povo . A mesma se recusava a acreditar que os Jovianos e os Marcianos eram apenas um povo guerreiro, que só sabia lutar, lutar e lutar . Recusava-se a acreditar nisso . Um povo não poderia se erguer somente disso . Um ponto de observação eram os mercurianos, conhecidos como um povo bastante intelectual, voltado para o conhecimento . Quantas obras de artes esses povos produziram antes de desaparecerem ? Duvidava que Júpiter, apesar de ser o planeta guardião de uma aliada tão poderosa e com uma força tão destrutiva, tenha se erguido apenas pela luta . Muitas coisas se resolvem sem que um dedo sequer seja erguido . Com certeza esse planeta deve ter tido seus poetas, escultores, dramaturgos, artistas, inventores, intelectuais, escultores, políticos, descobridores, desbravadores, revolucionários e toda gama de diversidades culturais que já surgiu e ainda há de surgir na Terra, e não apenas guerreiros, generais e fazedores de armas, como muitos deveriam estar pensando .
No entanto, um dia – e com a adolescência chegando, ela imaginava que esse dia estava cada vez mais próximo – as crianças iriam ficar curiosas, iriam se perguntar se a guerra era apenas a única coisa que seus povos conheciam ... e suas mães não saberiam responder, pois só se lembravam de seu povo como guerreiros poderosos, e nada mais . Nunca haviam pesquisado suas origens além de suas memórias, o que, além de deixá-las em uma situação constrangedora com as crianças, causaria um certo desapontamento por parte das mesmas, por perceberem que talvez suas progenitoras não tivessem tanta certeza de tudo o que diziam .
Por hora, ela não se sentia pronta, não se sentia capaz de contar a seu filho sobre o que ela fazia . Não sem ter o conhecimento necessário para saciar sua curiosidade – não toda, pois ninguém sabia de tudo – e não deixá-lo desapontado com isso .
Por enquanto, estava feliz em ser apenas uma humana, uma professora com uma bela casa e um lindo filho para criar, sem grandes preocupações como salvar o mundo, apenas se sua jóia estava tirando boas notas e ...
Ela apura seu olfato, sentindo aquilo . Queimado . Algo estava queimando !
Ela se vira, olhando para o fogão . A mesma desliga o fogo na mesma hora, e tem uma decepção enorme com o que encontrara . Passara tanto tempo divagando sobre os últimos acontecimentos, que se esquecera por completo da comida, a qual havia queimado por completo .
- Hmmm ...é, acho que vou ter que tirar as crianças do castigo para jantarmos fora ...
*          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *
- Acho que não foi uma boa idéia ...
- Para de chorar, seu medroso !
- Mas ... mas ... tá muito alto !
- Para de chorar ! Todo dia eu e Okaasan descemos de uma altura vinte vezes maior do que isso, senão mais ! Medroso !
- Eu não sou medroso !
- Não ? Então posso te soltar ?
Eles olham para o lugar aonde estavam . O segundo andar da casa . Realmente não havia desobedecido sua Okaasan, afinal de contas, não haviam encostado no chão ... da sala . Ele observava o primeiro andar, e a distância até ele .
A principio ficou empolgado com o fato de Megumi prometer que iria ensiná-lo a voar, mas não considerou de imediato alguns riscos . Ela ainda o segurava, sendo que era a única coisa que o impedia de cair daquela altura .
- Espera ! Espera ! Você ainda nem me ensinou !
- Mas é assim que você irá aprender ! Pássaros não ensinam seus filhotes a bater as asas, eles os empurram do alto da árvore para que os mesmos aprendam por instinto .
- Não sou um pássaro !
- Nem eu, mas veja só, estou voando !
- Como é que você faz isso ?
- Okaasan me explicou ! Okaasan me explicou ! – ela bate palmas, como uma menininha orgulhosa por ter aprestado atenção em uma aula e estivesse apta a ensinar, quase derrubando Shin no processo – eu faço isso com a força do meu pensamento !
- É ?
- Claro ! Anda, pense em voar, mas faça isso com todas as forças !
- Mas ...
- Puxa, Shin ... que medroso que você é !
- Não sou medroso, mas ... mas ... me ensina antes !
- Tá bom, tá bom ! Para de chorar ! – ela o carrega para o piso, soltando-o – bem, faça o seguinte : estique os braços .
- Assim ?
- É, assim . Agora, bata eles, assim .
- Desse jeito ?
- Isso ! Perfeito, Shin ! Acabou de ser aprovado no “Curso de Vôo Relâmpago da Megumi-chan ! Satisfação garantida ou seu dinheiro de volta!!!”
- Mas eu não te paguei ...
- Sem problema, depois você me paga . São cinco dólares por aula .
- O que ? Cinco ? Dólares ? Que absurdo ! Não tenho tudo isso !  E mesmo que tivesse, não te pagaria nem metade !
- Ah, é ? Pois então arrume outra professora de vôo, por que eu não trabalho de graça ! E te garanto que não vai encontrar outra por ai, não ...
- Tá, tá ! Eu te pago assim que tiver ! E agora, o que faço ?
- Suba no corrimão .
- Pronto. E agora ?
- Pule .
- Pular ? Espera um pouco, melhor treinarmos mais um ...
- Sem chance ! É agora ou nunca !
- Mas eu vou me machucar todinho ! – o pequeno a olhava em pânico, com cara de choro .
- Para de ser medroso, eu já te ensinei a voar, só precisa ter mais confiança em si mesmo !
- Mas ... mas ...
- ANDA LOGO !!! Você é um homem ou é um rato ?
- Sou um homem ! – ele salta, batendo desesperadamente os braços .
A queda não era tão grande assim, apenas alguns metros entre o primeiro e o segundo andar, mas suficientes para machucá-lo de verdade . O mesmo continua batendo os braços, percebendo tarde demais que ainda não estava apto para realizar tal tarefa ...
*          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *
Quente . Muito quente .
E brilhante .
A luz ... a luz ... novamente, a luz ... como sempre, apesar de sentir que aquela era a primeira vez .
Segurava-o ternamente, com amor, carinho , dedicação e piedade .
Apertando-o .
Abraçando-o .
Protegendo-o de toda e qualquer ameaça externa, lutando por ele, sofrendo por ele , caminhando por ele .
E o apoiando . Mais do que isso, lutando pela sua vida, coisa que o mesmo já não tinha mais forças para fazer . Não depois da chuva da noite anterior que o atingiu por completo, uma  vez que o mesmo não conseguira abrigo .
Ela chorava .
Por que  ?
Estava ferida ? Talvez . Seus olhos lacrimejavam, mas não eram de dor, e sim de tristeza .
Ou seria alegria ? Alegria por tê-lo encontrado, coisa sentida por ambos ao mesmo tempo, como se ele tivesse sentido tal sentimento e o mesmo tivesse sido sentido por ela e refletido nele .
Mas ... quem era  ?
Não sabia .
E também não importava . Sabia que tal pessoa estaria ali para apoia-lo, para ajudá-lo, para garantir que o mesmo tivesse uma vida , um nova chance . Em verdade estava esgotado, estava um trapo humano, mas iria se esforçar, iria dar o seu melhor para sobreviver, não por ele, mas pela pessoa que o salvou .
Mas, mesmo assim, seu sorriso era belo . Belo, triste, vivo, sofredor ... e singelo .
Mas tal pessoa chorava . Chorava sem parar, mais e mais .
O que houve ? Por que isso ? Era algo tão triste para deixar tal pessoa em tal estado ?
Por acaso ela se assustou com o mesmo ? Era isso, ele deveria partir para não deixá-la triste novamente ?
Suas ações nem chegam a ser executadas, quando os braços dela o enlaçaram de forma poderosa, mal permitindo que o mesmo se movesse .
Um abraço quente e aconchegando . Carinhoso e inesquecível, até .
Quem seria, afinal de contas ?
Quem ?
Mas como era quente seu abraço ... seu carinho ... seu amor ...
Por que isso ? Por que se perguntava sobre isso ? Por que esses sonhos ?
Não entendia . Não compreendia seu significado . Tinha uma vaga lembrança daquilo, uma vaga memória . Tempos maus, tempos difíceis, nos quais ele estava sujeito a todo tipo de sorte, boa ou má .
Quando o frio da noite o afligia, o calor do dia o castigava, a discriminação dos demais o açoitava e a fome o torturava .
Até o dia em que ela chegou, acolhendo-o, carregando-o até seu lar . Depois disso já podia morrer, pois morreria feliz . Havia ganho tudo, sem ter que dar nada em troca .
Amor, carinho, educação, respeito, dignidade ...
Simplesmente tudo, ela lhe dera tudo .
E não havia pedido nada em troca .
****
Ele abre os olhos, confuso .
O que era aquilo ?
Era tão quente !
Era ... era uma "anja" !
 Instintivamente ele a abraça, sentindo um calor enorme ao fazer isso .
Estava ... estava se sentindo bem . Muito bem .
Mas ao mesmo tempo, sentia medo . Um medo muito grande e , de certa forma, de um modo que ele não sabia como explicar ... não sentia o medo . Como se o medo que percorresse seu corpo , sua alma e sua mente não fosse propriamente seu, mas de outra pessoa, como se alguém estivesse sentindo um medo enorme, e compartilhando com ele tal sensação .
Mas ... quem ?
 Que pessoa ? De onde vinha ?
E como podia sentir que não era dele, como sabia que não estava se confundindo com tal coisa ?
E por que sentia um calor enorme envolvendo-o, como se o estivesse segurando, protegendo-o de toda e qualquer tipo de coisa que pudesse vir a feri-lo ?
- Shin-kun ! Shin-kun ! Shin-kun ! - shin-kun !
- Hã .... ano ?
 Outra surpresa, estava no colo de sua Okaasan, e a mesma o abraçava - ou apertava ? - com unhas e dentes, como se daquilo dependesse a vida dele .
-  Shin-kun, Daijobu ?
- Okaasan ? Anooo ... o que houve ?
- Se eu não tivesse pego você, teria se machucado, Shin-kun ! Podia ter quebrado o braço, as pernas ou ambos !
- Que é isso, Okaasan ! só ia me machucar um pouco !
- Não fale como se não fosse nada ! - ela o apertava mais ainda, e ele percebia um certo nervosismo sendo transmitido pelo seu olhar - Não quero que você se machuque !
- Anoo ... desculpe . É que eu ... bem ... gomen, Okaasan .
- Por que fez isso ?
- É que a Megumi disse que ia me ensinar a voar e ...
- Ela disse é ? Megumi – ela olha para o alto, encarando a marciana no segundo andar . Tudo bem que era uma criança, mas aquilo havia sido uma brincadeira de muito mal gosto . Certo,  levando em conta o tamanho, peso e massa corpórea de seu filho, dificilmente ele se machucaria tanto . Algumas escoriações, uma dor nos musculos ... um braço destroncado, mas isso com muito, mas muito azar ... mas não deixava de ser uma brincadeira de muito mal gosto – isso não se faz, sabia ?
- Glup !
- E nem pense em correr, mocinha ! Não pense que vai escapar de ... de ...
Ela fica congelada durante alguns instantes, criando uma atmosfera de puro silêncio no local . – Shin-kun, vá se trocar . Megumi, vá se lavar, meu filho tem algumas roupas que podem servir em você .
- Vamos sair, Okaasan ?
- Sim, minha jóia . Vamos jantar fora . Okaasan teve alguns problemas com a comida .
Ele desce do colo dela, subindo as escadas, ao passo que Megumi corre até o banheiro . Ela fica ali, parada no primeiro andar, parada .
Estava preocupada, e bem mais do que o normal .
Isso por que, no momento em que olhou para cima para repreender Megumi, ela viu uma luz . Uma luz forte, muito forte, mesmo .
Forte e quente .
Mais do que a sua .
- Problemas ?
De novo, não .
- Agora que você chegou, sim . Garoto, o que eu faço para me livrar de você definitivamente ?
- Aceitando o que precisa ser aceito, só isso .
- "timo .
- Está muito preocupada, pelo visto . Alguma coisa ? Talvez essa estranha luz acima de você, sabe .
- Está vendo isso ? Consegue vê-la ?
- Sim . E pelos mesmos motivos que você .
- Pode senti-la ? Percebe o quanto é poderosa ? Ela é .... é ... e mais forte do que a minha luz !
- Mais ... forte ? – ele a olha, curioso – não me parece . Estou vendo uma luz pulsando, mas ela não é mais poderosa do que a sua, é bem mais fraca, na verdade . Deve ter se enganado .
- Sei muito bem o que estou vendo ! Tenho certeza disso !
- Eu não duvido que esteja certa . Nem um pouco . Afinal, os venusianos sempre tiveram uma ligação com o mundo espiritual muito intima . Pelo visto, estamos vendo a mesma luz, mas você está vendo algo mais, não é mesmo ? Bem, quanto a isso, não há muito que eu possa fazer, a não ser tomar cuidado . Pode ser um aviso, um presságio ... ou algo parecido .
- Afinal de contas, quem é você, Joshua ?
- Ora, não me reconhece mais, Mina-chan ? Não se lembra do seu Koibito ?
*          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *
Finalmente o dia estava terminando .
Aquele com certeza seria um dia memorável para todos, durante muito tempo .
Fazia tempo desde que não trabalhava tanto assim em um período tão curto de tempo . Não que não estivesse acostumado com isso, pelo contrário . A redação do jornal era uma correria do inicio ao fim, desde o primeiro dia em que ele fora trabalhar lá .
Mas que as vezes ele tinha a leve sensação de que algo estava acontecendo além da costumeira confusão da sociedade humana, disso ele tinha certeza .
Pra começar, tinha a estagiária . SUA estagiária, sobre a SUA supervisão, seguindo as SUAS ordens, ajudando-o em SEU  trabalho .
A cidade estava em um tremendo alvoroço, um bando de malucas começou a lutar na frente de uma escola – a qual, a propósito, os filhos de conhecidas suas estudavam – todos eram levados para uma delegacia, sendo libertos de lá, como se nada tivesse acontecido ... e onde diabos estava a estagiária em uma hora dessas ? Onde estavam os dados a respeito daquelas mulheres que ele havia pedido para a mesma buscar há dias?
Dias atrás havia comentado com a mesma a respeito de alguns dados guardados nos arquivos do jornal, os quais eram razoavelmente antigos . Eram uma série de reportagens a respeito de fatos estranhos ocorridos anos atrás, em que o planeta – e, em especial, o Japão, e mais especificamente, Tóquio, e pra ser ainda mais especifico, o bairro Juuban – sofreu supostas “invasões alienígenas”  e fora protegida por um grupo de mulheres vestidas em roupas hiper-curtas . As tais Sailors .
Mas a grande verdade era que ele vivera esse momento . Era um adolescente quando vivenciou tais fatos . A maioria das pessoas , como sua estagiária, deveriam ser criancinhas muito pequenas naquela época, e portanto não se lembravam direito dos detalhes, mas ele sim . Provavelmente alguns colegas de trabalho mais velhos também, assim como seu chefe, mas aparentemente não estavam dando muito atenção ou ligando os fatos .
Mas essa era a verdade . Recolheu relatos de testemunhas, inquiriu policiais, verificou marcas no local do incidente ...
Pena que se  atrasou um pouco .  Coisa que fez em horas, poderia ter feito na metade do tempo com sua auxiliar cobrindo outros pontos . Ela poderia ir tirando o maior número possível de informação dos policiais enquanto ele corria atrás de fontes, ou então poderia , junto com o fotógrafo, tirar fotografias da cena, enquanto ele tentava localizar algum felizardo que estava passando com uma camera por ali na hora .
Com sorte – e quebrando bastante a cabeça – ele conseguiu bastante material . Se tivesse a chance de comparar os dados atuais e as fotos com as fotos de anos atrás, teria provas concretas de que algo estava acontecendo – e, quem sabe, dar uma ajuda ao governo para que possam agir antes que as coisas piorassem, o que sempre acabava acontecendo quando as Senshis lutavam – e TALVEZ seu chefe não o demitisse e ele não tivesse que tentar uma vaga em um tablóide .
Mas onde diabos estava essa garota ? Dias atrás pediu para sair cedo, dizendo que seu Otousan estava passando mal, e o mesmo, embora não tivesse acreditado muito, a dispensou . Agora, no momento em que ele mais precisava dela, a mesma sequer aparece ao trabalho ?
Iriam ter uma longa conversa depois .
Mas talvez algo tivesse acontecido com a mesma, talvez algo grave . Talvez o estado do Otousan dela tivesse agravado e ela estivesse com a cabeça a mil por hora, e nem tivesse pensado em ligar para o mesmo . Talvez estivesse passando mal e se esquecera de ligar avisando que faltaria ...
Sejam quais fossem os motivos, ela merecia uma chance de se explicar . Era uma moça esforçada, dedicada e atenciosa . Fazia Jornalismo na Universidade de Tóquio, o que por si só já era uma grande coisa, diga-se de passagem . Ou talvez o ritmo de estudo-trabalho a tivesse deixado exausta . Lembrava-se disso quando fora um estudante daquela univesidade . Estudar, trabalhar, arranjar tempo para cuidar de sua namorada ...
Pensando bem, era cuidar de sua namorada, trabalhar e arranjar um tempo para estudar ...
É, iria dar um desconto para a moça . Afinal, era uma estagiária e, ao contrário do que muitos diziam, de que “estagiário é sub-forma de vida” , a garota estava ali para aprender .
Mas chega de ficar pensando nisso, agora tinha que conversar com uma das últimas testemunhas .
Parado em frente ao portão da escola, ele aguarda pacientemente até ver o homem que vinha em sua direção . Pela sua cara, parecia exausto .
Hmmm ... ele é novo . Muito novo . Devia ter a idade de sua assistente .
Aliás, agora se lembrava, Minako dava aula nessa escola . Esse rapaz deveria ser um professor-em-teste, um professor substituto .
E pela cara, parecia que resistira arduamente a um longo dia, temendo pelo próximo .
- Com licença ? – ele aborda o rapaz que acabara de atravessar o portão – boa tarde, posso tomar um pouco do seu tempo ?
- Pois não ? Quem é o senhor ? O que deseja ?
- Meu nome é Mitsukai Roger, repórter, muito prazer . Importa-se de me ceder um pouco do seu tempo, senhor Fuyutsuki ?
- Sim, me importa . Tchau .
- Espere, espere, espere ! O que acha de ...
- Olha aqui, moço ... já me basta ter sido interrogado pelos policiais e ter que agüentar os outros professores rirem de mim, não venha torrar o pouco de paciência que eu ainda tenho .
- Bem ...
- O que foi ? É surdo ? Não me enche o saco, tô cheio, já passei da conta ! Me deixa em paz !
Ai, ai . Pelo visto, esse daí seria difícil, muito difícil .
- Esqueça, tudo bem ? Já vi que você não está com muita paciência para falar, não é mesmo ?
- Com certeza !
- Então, esqueça a entrevista – ele guarda seu bloco de anotações na bolsa e a caneta – não quero tomar do seu tempo se o senhor não se sente bem, ok ?
- É bom mesmo ! Já me fizeram de tudo hoje, tudo !
- E eu não sei ? Tem idéia da confusão que foi hoje ? A calmaria de sempre no jornal, sabe . Assaltos,  assassinatos, fotos de crianças desaparecidas, anúncios de casas ... tudo na mais perfeita ordem . E eis que , de repente, um monte de malucas aparece em frente a essa escola aqui e resolve colocar suas diferenças em dia, com resultados catastróficos – ele aponta para a rua . Alguns postes estavam caídos, outros os fios estavam cortados, algumas placas impediam a passagem por outras ruas, alguns prédios possuíam andares com os vidros totalmente quebrados ... – e o meu dia vira de cabeça pra baixo ! E eu que pensei que essa seria uma semana tranqüila, veja só .
- Concordo com você . Concordo plenamente . Achei que estava com sorte ao substituir a professora, mas não imaginei que, dentre todas as possibilidades, eu acabaria com a pior de todas .
- Sem contar que tem o mala do meu chefe, cobrando uma reportagem decente sem muita enrolação e ... – Roger desabotoa o botão da gola de sua camisa e afrouxa um pouco sua gravata – escuta ... tá a fim de beber alguma coisa ?
*          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *
-  E foi isso . Anos estudando, um pouco estagiando e ganhando experiência, trabalhando em várias seções, e cá estou eu, em frente a uma noticia que seria capaz de me enviar direto para o tablóide mais próximo !
- Que fria, hein ! – o rapaz terminava de saborear sua bebida, limpando um pouco a boca – já não sei qual é pior, a minha ou a sua . E eu ainda tenho que aturar aquelas crianças ...
- Se você gosta da coisa, então se dedique, se esforce, e os problemas não significarão nada .
- É o que eu tenho feito ... mas ultimamente a professora-titular tem me usado para cada coisa ...
- Lembro-me quando comecei . Era o jornal da faculdade, muito divertido, por sinal . Pena que o reitor vivia no nosso pé, as vezes vetava algumas matérias nossas . Era um trabalho muitas vezes duro, sabe . Ter os próprios alunos, colegas de classe contra você, isso é algo muito chato . Felizmente não foram todos .
- Hmmm ... desculpe perguntar, mas ... do que você está falando ?
- Ah, perdão . As vezes eu me esqueço de que muitas pessoas não sabem disso . Sabe, naquela época havia um reitor do qual o nome agora me escapa, mas acontece que ele era muito, digamos assim, “protetor”  com a universidade . Se pudesse manter o nome dela limpo, dane-se o que os demais pensassem . Quantas vezes edições inteiras do jornal foram recolhidas por causa dele ... ainda bem que tinha o professor Seo pra dar uma força pra gente .
- Seo ?
- Nekomi Seo, foi um professor meu na faculdade .
- Seo ? Nekomi Seo ? Refere-se aquele que tem sido um dos melhores reitores da Universidade de Tóquio nos últimos vinte anos ?
- É, esse mesmo . Foi bem merecida a “promoção” . Ouvi dizer que ele não ficou cheio de si depois disso, como acontece com algumas pessoas . Mas continuando ... deixa eu ver, como vou te contar isso ... bom, o jornal sempre bateu de frente com o reitor, sempre . Mas houveram alguns incidentes estranhos por lá, sabe . Pessoas encontradas desmaiadas nos mais diversos locais, nas horas mais impróprias .
- Período de provas ?
- Essa foi boa ! Bem, ele usou isso como desculpas, e até recolheu alguns jornais nossos falando sobre isso . Pode imaginar o que aconteceria se essa noticia vazasse ? Sabe, escolas, universidades, centros comunitários ... é um fato que em muitos desses lugares há o consumo de drogas, desde a pessoa que é uma dependente total, até aquela que usa apenas para se distrair um pouco – ele toma mais um gole da cerveja – mas o estranho era que nenhum deles tinha algo assim no seu histórico e, cá entre nós ... os alunos tem segredos entre si, não acha ? Segredos que não contam para professores, claro . Mas houve um acontecimento estranho, qual chamou a atenção de muitos alunos .
- Hmmm – Fuyutsuki bebia deliciava-se com outro – engraçado você saber de tudo isso – outro gole – por que está me contando isso ?
- Só comentando algumas coisas que acontecem por trás dos  corredores, sabe . Você está estudando e dando duro para ser um professor, não é mesmo ? Eu não o sou, mas se quer uma dica ... lembre-se de que você já foi um aluno, portanto, quando for tirar alguma conclusão a respeito deles, pense no que faria no lugar deles .
- Eí, boa idéia ! Agora já sei onde errei ! Aqueles pré-adolescentes só respeitam aquela professora loira ! Fale mais, fale mais sobre isso, o que aconteceu de estranho ?
- Bem ... é sobre um desaparecimento sabe .
- De que tipo ?
- Daqueles que causam problemas . Sabe, as pessoas já estavam até se acostumando com os desmaios, os quais eram mais freqüentes . Estavam até achando que era uma droga que aumentava a capacidade intelectual das pessoas, veja só . Mas não acharam tão interessante quando encontraram o corpo de uma garota dentro do armário em que eram guardadas as bóias usadas na piscina . A menina havia desaparecido no inverno , e como foi um inverno bem forte naquele ano, a piscina ficou interditada para todos, e a equipe de natação teve que providenciar um outro local para treinos . Quando o corpo da mesma começou a cheirar, foi ai que resolveram averiguar . Finalmente haviam descoberto onde estava aquela menina . Depois disso o reitor não conseguiu abafar o escândalo e foi afastado . Outro reitor foi colocado em seu lugar, mas este não durou muito e Seo assumiu .
- Hmmm ... espera um pouco ... acho que você não está falando a verdade ... na verdade, acho que você não está falando nenhuma verdade .
- Faz diferença ? Talvez as pessoas realmente estivessem usando uma nova droga que causasse esses desmaios, talvez um dos editores do jornal não fosse com a cara do reitor e sempre aproveitasse toda oportunidade para difamá-lo ... ou talvez a menina que morreu fosse uma caloura desiludida que estava desesperada por não conseguir fazer amigos e se entregou às drogas, e acabou experimentando mais do que suportava . Que diferença faz ? Não há nada registrado, e o que havia sido, já virou poeira cósmica há muito tempo, e tal coisa deve ter virado uma “lenda urbana”  de Toudai , de modo que estou contando para você, mas não tenho como provar . Até tenho ... mas para que ? Melhor deixar como estar, não acha ? Muita gente já sofreu,  e é verdade que não podemos apaziguar o sofrimento da família daquela garota ... mas se ao menos serve de consolo, Seo tem feito um ótimo trabalho . Pelo que andei ouvindo falar, os casos de venda de drogas são praticamente nulos por lá, o consumo de bebida alcóolica nas dependências de Toudai também . Não que lá tenha se tornado o lugar perfeito, mas algumas pessoas se esforçaram para remediar um pouco a situação .
O rapaz termina com seu copo e, no instante seguinte, enche-o novamente, tomando um pouco .
- Eu, hein ... que história mais estranha ... parece até com a daquelas malucas .
- As Sailors ?
- Exato ! Um bando de malucas lutando de mini-saia e ... aliás, cara ... aquela Sailor de saia vermelha ... cara, que pernas que ela tinha !
- Mesmo ? Hmmm ... devia estar por perto par ver isso .
- Você perdeu !Aquela outra de Saia verde, teve uma hora em que ela saltou e cravou os dedos na parede da escola e ficou presa lá ! E a forma que ela mantinha as pernas ... o pouco que sua saia cobria ... hmmm ... olha, pena que eu era mais novo na época e não pude aproveitar direito ... mas aquelas Sailors estão mais gostosas do que antes ! Aquela altona de saia verde usava uma saia que cobria bem menos do que devia . Eu não sabia se me assustava ou se me apaixonava por ela na hora . E a de saia vermelha ? Teve uma hora em que ela fez uma cara de má ... deliciosa . Gostosa, tesuda, avião . Maravilhosa . Deusa .
- É, eu me lembro delas, também . Mas, por problemas técnicos, não posso nem pensar nelas .
- Pois devia e ... se quer um conselho, tome um cuidado .
- Sou repórter, lembra ? Tomo cuidado sempre .
- É melhor tomar mais . Aquelas loucas são perigosas .
- O que houve ? Mudou de opinião ?
- Nunca mudei . Mas eu me lembro muito bem das coisas que elas acabavam destruindo . E afetando, de certo modo .
- Tem raiva delas ?
- Raiva, não . Preocupação . Não consigo viver sabendo que há pessoas por ai fazendo o que elas podem fazer de uma hora pra outra .
- Lembro-me vagamente delas . Na verdade, minha atenção estava mais voltada para minha parte hormonal, entende .
- Sei . Eu também estava mais preocupado com outra coisa . Para mim, era uma coisa fantástica . Parecia um sonho, pessoas com super-poderes andando por ai, quem nos desenhos animados e nas histórias em quadrinhos .Elas pulavam entre os prédios, voavam, disparavam coisas coloridas, salvavam a cidade e lutavam pelo amor e pela justiça ... mas todos nós acabamos crescendo e vendo-as com outros olhos . E você também, imagino . Cada um acaba percebendo que elas não são tão heroínas assim . Percebe que, se elas podem nos salvar, também podem nos ferir quando quiserem . Tinha uma que disparava uma névoa, não me lembro direito do nome ... já imaginou ela fazendo isso, atirando aquela coisa contra algumas pessoas ? Ou melhor, já imaginou ela disparando isso em uma grande avenida, ou uma encruzilhada ?
- Nem precisa dizer, já imaginei o estrago .
- E tinha uma outra que, acho que se chamava Sailor Marte ... ela disparava fogo pelas mãos ! Mas o que é isso ? Tem idéia do perigo que é essa mulher  ?
- Posso imaginar . Mas não acha que está sendo um pouco pessimista ?
- Pessimista ? PESSIMISTA ??? Cara, eu estava dando aula quando a Sailor Júpiter saltou em direção a escola e cravou os dedos na parede, ficando pendurada enquanto uma doida com uma foice atacava ! Em vez de sair logo dali, ela ficou e acabou sendo atingida e ficou presa em uma espécie de redoma escura, algo assim . Sabe o que ela fez ? A doida começou a usar aquele poder elétrico dela dentro da redoma, e explodiu aquilo por dentro . Foi uma idéia bem criativa, tenho que admitir ... MAS SERÁ QUE ELA SE ESQUECEU DO LOCAL EM QUE ESTAVA ? E se aqueles raios se espalhassem e atingissem a fiação local ? E as crianças que estavam na janela ?
- É – Roger maneava a cabeça – isso realmente foi muita irresponsabilidade dela . Ao menos, não atingiu ninguém .
- Não ? Não atingiu ninguém ? Olha, isso não fez diferença, por que ela fez de novo ! Aquela doida com uma foice deu um superpulo e a Sailor Júpiter lançou um ataque contra ela que causou um curto-circuito na rede elétrica de várias ruas próximas ! Foi pura sorte os cabos que se arrebentaram não terem atingido ninguém ! E quando aquela outra que disparava fogo chegou ...
- Espera um pouco – ele tomava o copo da mão do rapaz – o que acha de me explicar isso do começo , só pra eu entender isso direito ?
*          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *
Fim da tarde .
Mais um dia de expediente, mais uma noite que chegava .
No fim, até que conseguiu bons resultados .
Ouvir os fatos narrados por aquela rapaz foram bem interessantes . Em verdade, já havia falado com outras pessoas – as quais relataram diferentes pontos da cena – mas ele tinha um ponto de vista mais interessante, afinal, estava praticamente de frente para o evento .
Mas sua opinião sobre as Senshis era deveras interessante . Por mais que agissem como heroínas, ainda assim não representavam o governo ou a força de defesa da cidade, e além disso, ainda havia o risco . As pessoas , da mesma forma que ficavam à mercê do auxilio destas, também ficavam à mercê de suas mudanças temperamentais . E se uma dessas se irritasse ? Ficasse furiosa ? Imagine a destruição que poderia causar .
Realmente, a julgar pelo modo que o rapaz descrevia assustadoramente a Sailor Marte, não duvidava que ele suspeitasse que ela fora a responsável pela destruição do templo Hikawa .
Rei ...
Aquilo o lembrou dos últimos acontecimentos . O ataque ao bairro Juuban, o incêndio do templo ... muitas coisas estranhas estavam ocorrendo naquele local .
Pensando bem, em toda a cidade . Ainda estavam removendo os escombros do centro de Tóquio . O número de vitimas fora enorme .
Mas o mais estranho era a total falta de evidências . Muitos diziam que foi um ato criminoso de autoria da Al Qaeda ou algum outro grupo fundamentalista, outros, que um terremoto pegou todos .
Mas a grande questão é que as pessoas ainda não conseguiram repostas para aquilo . Até mesmo os sobreviventes não sabiam descrever direito o que aconteceu, apenas que, de uma hora para outra, carros explodiam, eram arremessados contra outros e mito mais .
E agora, a escola .
O mesmo se dirigia rapidamente para a redação do Jornal . Tinha que correr, revelar fotos, redigir textos ...
... e aproveitar para analisar a fita ao seu lado . Fora muito esperto em carregar um gravador . Convencer aquele rapaz a falar não fora tarefa fácil . Pena que chegou tão tarde, o mesmo já estava cheio de ser feito de palhaço por outros colegas de profissão que riam do que ele contava .
Pelo visto, iria ficar até tarde naquele dia . Ainda bem que havia telefonado anteriormente para sua sogra para que a mesma buscasse seus filhos na escola, evitando que o mesmo tivesse uma senhora dor-de-cabeça no futuro . Só faltava ligar para sua esposa ... novamente . Afinal, o que houve ? Por que Amy não respondia ? Ligara para casa, para o celular ... nada !
Telefonou para o celular de Makoto, inutilmente . Por algum motivo que ele não compreendia, o mesmo não dava sinal .
De qualquer forma, havia algo que ele devia fazer, algo que precisava fazer .
Roger puxa seu celular, e começa a teclar os números . Se sua memória estivesse boa, era esse o de sua estagiária .
Queria ter ligado antes, mas o dia fora tão corrido, que mal se lembrara disso, ou tivera tempo . Bem, seria agora . Estava preocupado, melhor saber como ela estava, e o que houve para ela não responder o dia inteiro . E como a mesma havia lhe dado esse número de emergência para o caso dela não poder ser encontrada ...
Um toque . Dois toques . Três toques . Atende .
- Alô ? Alô ? Alô ? Naru, aqui é o Roger, tudo bem com você ?
*          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *
- Ela é linda, não acha ?
- Desde o primeiro momento que a vi . Ela é muito especial .
- O que será que vai acontecer com ela ? Será que vai resistir ?
- Acha que o tempo se encarregará dela ?
- Talvez . Se por um lado ele é ótimo para curar as coisas, ele também é ótimo para se esquecer das coisas .
- Algumas coisas não se esquecem tão facilmente, Seo . As vezes, elas são tão fortes, que se mantém por séculos, milênios, até, a espera de uma oportunidade, uma chance de retornar e reclamar tudo o que lhe fora tomado . Tudo do qual fora privado por tanto tempo, durante muito tempo . Acho que ela pode ser comparada a essa universidade . Será que ela vai desaparecer ? Talvez sim, talvez não . Mas, mesmo que ela seja reduzida as cinzas ... será aqui que ela permanecerá – ela aponta para sua cabeça – e aqui também – a mesma aponta para seu peito – e não só por mim, mas por todos que acreditam nela . Essa universidade significa muito para muitos, Seo . Muitos .
- Já faz tempo . Muito tempo desde que conversei com Meijin pela última vez . Eu ... eu estava preocupado . As crianças estavam seguindo em frente com o plano desde que encontrei o canalizador . Mas o meu medo era enorme . Foi então que percebi, sabe ... nunca fui um servo muito bom . Eu era bondoso demais com eles . Sempre fui . Acho que por isso poupei muitos deles dessa missão, deixando-os de fora para o futuro . Mentira . Estava preocupado . Estava morrendo de medo de que eles encontrassem as Senshis, de que tivessem um terrível fim . Fico imaginando o que teria ocorrido com Maki se eu não tivesse ido até lá e ... alô ?
“- Alô ? Boa tarde ?”
- Boa tarde, com quem eu falo ?
“- Boa tarde, meu nome é Roger, gostaria de falar com Nekomi Naru .
- Este é um telefone de emergência e – ele para, lembrando-se de que Naru estava inconsciente a uma hora dessas – perdão, em que posso ajudá-lo ?
“- Sou do mesmo jornal que ela, sou seu supervisor . Ela não veio hoje nem comunicou o motivo de sua ausência . Tentei entrar em contato com a mesma o dia inteiro, mas não consegui .”
- Ela está passando mal . Foi acometida de cólicas e não se sentiu muito bem o dia inteiro .
“- Bem, então eu desejo melhoras para ela , senhor .. ?”
- Seo . Nekomi Seo .
“- Nekomi ... Seo ?!?!? Professor Seo, é o senhor ?”
- Perdão, mas eu  o conheço ?
- Mitsukai Roger, turma de Jornalismo, terceiro período . Lembra-se de mim ?”
- Perdão, mas ... não .
“- Imaginei isso . Bom, aproveitando, parabéns pela sua promoção, professor Seo . O senhor mereceu se tornar Reitor . Fiquei sabendo que o senhor fez um ótimo trabalho . As brigas, as confusões, os incidentes ... fiquei impressionado ao saber sobre isso ! O senhor é muito competente e dedicado a esse local para conseguir tanto, professor .”
- Obrigado ... Roger . Tenho me esforçado, embora os resultados nem sempre me agradem .
“- Sempre modesto, professor . Esse é o professor Seo que eu conheço . Bem, se me dá licença, terei que desligar . Foi muito bom conversar com o senhor . Se me dá licença ...”
Clic !
- Quem era ?
- Do mesmo local de trabalho de Naru .Seu supervisor . Estava preocupado com a mesma .
- Entendo .
- Se ela não fosse tão cabeça dura ...
- Ela fez aquilo apenas por você, Seo . Ao contrário daquela mulher, ela tinha em mente os perigos que envolvem cada um de nós, inclusive ela . Foi muita estupidez ela ter confrontado as Senshis, e sua filha tinha isso em mente . E sinceramente ... não acho que ela se importe tanto com os objetivos de Meijin . Antes sim, mas agora ...
- A lealdade dela é dirigida apenas a mim, é isso que você quer dizer ?
- Entenda como quiser . Nada me tira da cabeça que ela foi até lá apenas para impedir que tudo pelo qual você lutou fosse por água abaixo . Nada mesmo – ela cessa seus comentários, observando o céus . Como estava belo . A noite caia maravilhosamente . – chegou a nossa hora, Seo . A hora que Meijin tanto esperava chegou, o momento pelo qual ela tem aguardado durante todo esse tempo .
Ele maneia a cabeça, fechando os olhos .
Séculos . Milênios, na verdade .
Muito tempo havia se passado .
Muito tempo, mesmo . Mais do que alguém poderia suportar .
Finalmente a grande hora, o grande momento pelo qual  Meijin Aguardou através dos séculos chegou .
E nada poderia impedir isso . Nada nem ninguém .
O grande Rei, príncipe Endimyon, estava aprisionado . Justamente aquele que lhe representava maior perigo estava imobilizado . Sua estranha esposa, a qual possuía um nível de poder maior do que os humanos normais, também . Não sabia quem a mesma era, tampouco não compreendeu o por que da dama de preto insistir para que a mesma fosse colocada sob extrema vigilância ... mas aquilo também não fazia a menor importância .
Sailor Júpiter, Mercúrio e Marte não representavam perigo aos seus reais objetivos . Mesmo que pudessem encontra-lo, pouco poderiam fazer contra a dama negra, ainda mais em sua atual situação, e uma vez que a única que realmente poderia representar perigo para a mesma - embora não soubesse disso – estava fora de combate, segundo sua aliada, nada poderia impedi-lo . Na verdade, as Inners Senshis não apenas não tinham nada a ver com isso, como também não lhes dizia respeito . De todo tipo de criatura que poderia atrapalhá-lo, elas eram as que menos tinham a ver com o assunto .
Talvez um pouco, mas não o suficiente para intervirem .
Mas, de qualquer forma ... estava preparado . Tudo estava seguindo conforme o planejado, apesar do que houve até então .
Meijin retornaria .
Era a grande hora . O grande momento .
E nada, nada poderia impedir isso .
*          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *
“It’s My Life” ....
- Gozado ... sempre me vi cantando essa música, nos meus últimos momentos . Tinha sonhos, brincava as vezes com a idéia ... mas não deixava de ser engraçado . As vezes, sonhava que estava no céu para ser julgado, e enquanto o livro da vida que continha tudo o que eu havia feito era lido, eu cantava essa música .
“It’s My Life ...”
“It’s My Life ...”

*********
- Lembra-se disso, Yuji ? Claro que se lembra .
- Sim, eu me lembro ... mas você canta muito mal !
- E você, não ?
- Ah, mas eu tenho algo que você não tem .CHARME !!!
- Vai sonhando ...
- Eí, não me menospreze ! Ainda vai me ver cantando !Você vai ver só, vou fazer tanto sucesso quanto Hayashibara-sama !!!
- Ai você cai da cama e acorda, não é ?
- Estraga prazer !
- Bom ... ao menos você pode sonhar . E com licença, que o meu horário de almoço já está terminando e tenho que voltar ao trabalho . Com licença ...
- Té mais .

*******
- Nossa ! Chipre, que redação linda ! Meus parabéns !
- Brigado, mano ! Sensei também me elogiou !
- É ? Que bom ! Vambora, isso merece uma comemoração ! Shoten, tô meio sem grana então vou tirar da tua carteira, ok ?
- Como é ? Eí, não mexa nisso !
- Perdeu, cara . Perdeu .

*******
- Fique ai, Miki . Não venha, fique ai .
- Mas ... por que ?
- Isso não é pra você . Fique ai .
- Não é justo, todos nós ...
- Justo ? Miki, o que tem de justo nisso ? Shoten, diga alguma coisa !
- Mana, eu não quero que você suje suas mãos, ok ?
- Sujar ? É só isso o que vocês pensam de mim ? Sou tão filha dele quanto vocês ! Quanto cada um de nós ! Se é para fazer isso, que façamos todos juntos ! Nenhum culpando o outro ou a culpa ficando somente para alguns ! Todos !

*******
- Ai ! Ai ! Ai ! Ai ! Ai !
- Seu tonto ! Eu disse pra não empinar a bicicleta ! Viu só o que você ganha por ser teimoso ?
- Ai, ui ! Desculpa, Sumire-mama ! Desculpa ! Eu prometo que não faço de novo ! Mas faz parar de doer, por favor !
******
Lixo . Puro e simplesmente ... lixo . Não havia nada de útil ali . Nada . Em verdade era uma surpresa ter descoberto tais coisas a respeito de seus inimigos, mas a mesma não dava a mínima para isso naquele exato momento . Era puro lixo .
Ela abre os olhos, observando o céu . A noite se aproximava rapidamente, mas para ela, tal luxo não existia . Não com muito o que fazer pela frente .
Estava dividida . Dividida entre a alegria e a tristeza . Acabara de receber o segundo maior presente de toda a sua vida . O primeiro foi quando sua princesa nasceu . O segundo foi quando ela renasceu .
Sua linda ... sua princesa ... seu amor ... seu carinho ... seu tesouro ... seu afeto ... sua alegria ... seu orgulho ...sua benção ... sua dádiva ...
Mas também sentia medo . Um medo que nunca havia sentido antes, e de uma forma que chegava a assustá-la .
Por pouco, quase a perdeu . Quase .
Mas embora quase tenha acontecido, sentiu a agonia de perder a única coisa que importava para a mesma . Só ela e somente ela, e nada mais .
Os dias em que vagou em claro pela cidade, a procura de algo que a fizesse esquece-la ... os momentos em que chorou incessantemente , tentando superar aquilo ... tudo em vão . Nem seu orgulho de guerreira poderia ser abalado, pois já havia sido despedaçado ao falhar em proteger quem mais amava .
Sua filhinha ...
Ela esteve prestes a morrer . Vislumbrou a morte, esteve cara-a-cara com a mesma, e sobreviveu .
Não sem cicatrizes, infelizmente .
Pois, naquele instante, naquele momento em que suas mentes tornaram a se unir, ela finalmente compreendeu tudo, cada ponto, cada detalhe . A tristeza da mesma, a dor que ela sentiu ao ver seu lar destruído ... o medo que teve ao ver aquelas pessoas ... o pânico tremendo que sentiu a ponto de mal ter forças para fugir – pudera, estava tão assustada que nem lhe passou pela cabeça ir até a outra extremidade daquele morro e saltar, descendo a encosta suavemente como ambas faziam as vezes – e a tristeza que ela sentia por ela mesma . O medo que a pequena teve ao sentir que sua okaasan estava se afastando mais e mais, a solidão que sentia ... e a ausência .
Uma sempre pode sentir a outra .
Duas mentes ligadas, uma poderosa união que tornava mãe e filha em irmãs de corpo e mente .
Uma enorme confiança compartilhada , uma alegria sentida, um sentimento de satisfação que uma sentia apenas por saber que a outra estava ali, simplesmente existindo .
Os medos que possuíam, as alegrias ...
Tudo compartilhado .
E o medo da solidão, também . O medo e a agonia ao sentir que aquela que mais ama havia, de alguma forma, se afastado tanto que não poderia mais senti-la . Como se uma barreira maior do que a distância interferisse com isso .
Justamente o que a deixava mais intrigada . Sempre fora capaz de sentir sua filha . O que havia sido tão poderoso que havia cortado a ligação de ambas ? Mesmo triste, deveria ser capaz de sentir a agonia da filha .
Teria ela , em um momento de extremo desespero, criado instintivamente um escudo mental tão poderoso que bloqueou tal acesso durante esses dias ?
Seja o que for, não estava mais lá, não sentiu nada em sua filha quando a encontrou, além de seu estado mental em frangalhos .
Mas agora estavam juntas novamente . E isso a deixava feliz . Deixava-a enebriada com a sensação de ter sua princesa de volta .
Mas também lhe trazia preocupações .
E agora ? O que fazer ? O que seria de ambas ? Seu antigo lar, o templo Hikawa, estava reduzido a cinzas, a menos do que nada, e ela era a autora da mesma .
Mas não se arrependia .
Como sacerdotisa, tinha a obrigação de lutar contra as forças do mal, os espíritos malignos e o que mais surgisse .
E aqueles ... aqueles .... eles haviam atacado o templo . Haviam maculado solo sagrado ameaçando a vida de uma inocente .
Ela tinha sua obrigação . Tinha uma missão a cumprir .
Tinha que purificar aquele lugar .
E foi o que fez .
Embora, no fundo, não negasse que naquele momento fora tomada por uma raiva tremenda, de modo que queria destruir tudo e todos que estivessem ao seu redor .
Ela se deita no chão, observando o céu . Em outra época, estaria ali com sua filhota, contanto as estrelas e tentando adivinhar aonde estavam os planetas . Muito espertinha, lembrava-se .
O que faria agora ? Reconstruiria o templo ? Como ? Não havia sobrado nada . Nada de nada . Em verdade possuía uma razoável quantia no banco, mas esta não seria suficiente para reconstruir tudo . Não chegaria a um décimo do que foi um dia .
Mas seja o que fosse, com certeza não seria o templo Hikawa . Este já não existia mais . Fora destruído . Seu tempo acabou .
Era o fim do templo do fogo . E ao contrário da fênix, não renasceu das cinzas .
Por outro lado, as trevas haviam encoberto o templo por um curto período de tempo, mas o mesmo conseguiu vencer tal provação .
Ela continua observando o céu . Como estava bonito . E a lua, então, estava bela como sempre . Na verdade, reluzia mais do que o normal , como se quisesse chamar a atenção de todos e roubar a noite só para si .
A lua ...
- Usagi, onde está você quando mais precisamos ? – ela murmurava tão baixo que nem ela conseguia ouvir – tá certo que você sempre foi uma tonta, mas pelo menos, sempre conseguia animar a gente, nos piores momentos .
Que hora para aquela tonta inventar de viajar com o marido ! Justo agora ... se ao menos Luna e  Ártemis estivessem com eles ...
O que era uma incógnita . Até hoje nunca conseguiram descobrir o que houve com seus velhos companheiros . Muitos anos se passaram desde o dia em que ambos simplesmente sumiram . Minako chorou muito, lembrava . Ela era muito apegada a Ártemis . Na verdade, as vezes ele parecia tratá-la como uma filha .
Mas agora não era nem o momento nem a hora para ficar se remoendo pelo  passado . Tinha coisas muito mais importantes para fazer e ... e ...
Ela arregala os olhos, surpresa . A lua ... uma ... uma sombra enorme lentamente começava a se projetar sobre ela, bem lentamente .
Um eclipse !
Mas ... de onde surgiu ? Até onde sabia, não se lembrava de terem anunciado um ...
Não se lembrava ? Mas ... do que ela estava falando ? Havia passado os últimos dias na rua, chorando e se remoendo pela sua incapacidade, os quais poderia ter aproveitado para tentar analisar e extrair algo de proveitoso das memórias que havia retirado daquele sujeito na escadaria do templo, o qual fazia agora ...
Não, não era assim uma surpresa tão grande esse eclipse .
Eclipse . Súbito ... repentino ... coberto ... noite ... escuridão !
Ela se ergue rapidamente, observando aquilo .
Aquilo ... aquilo era um sinal !
Agora sim ela sabia o que fazer .
Se bem que aquilo era estranho . No momento em que estava começando a se recuperar, aquele sinal veio . Sempre fora atenta a sinais e presságios, mas aquilo ... a posição da lua e dos planetas ...
Ela estende sua mão, gerando uma pequena chama sobre esta, e começa a observá-lo .
Sim, era verdade . Era possível .
Sempre teve intimidade com o mesmo , assim como sua filha . E agora o mesmo cripitava ao brilho do eclipse .
Ela contempla aquela chama em sua mão, dançando, queimando ardentemente como o fogo da eternidade, mantendo-se ali apenas pelo seu desejo, seguindo seu comando .
Ela se vira, ainda sentada, e atira a chama para frente  .
Exatamente aonde estaria o antigo templo .
Pronto . Estava feito . Agora tinha assuntos mais importantes a tratar .
Novamente ela cruza as pernas e fecha os olhos . Hora de voltar ao trabalho .
E novamente aquilo . Lixo, puro lixo . Não que não fosse um pouco interessante, mas não lhe acrescentava nada .
Kléb, era o nome dele . Troncando a primeira letra por outra, tinha-se o nome de alguém que havia falecido recentemente [W1] .
Sua vida, suas tristezas, seus triunfos ... isso pouco lhe importava .
Em verdade era curioso descobrir que aquele sujeito tivera uma vida de verdade, uma infância . Saber que havia freqüentado a escola, tido amigos, brincado com outras crianças ... mas até ai, já haviam lutado contra pessoas que eram totalmente humanas . Não era uma grande novidade .
Kléb . Nekomi Kléb . Nasceu em Tóquio . Viveu e morreu na mesma cidade .
E, no entanto, não descobria nada de útil dele .
Ele ainda estava vivo, pensava . Em estado vegetativo, mas vivo . Talvez não fosse uma má idéia fazer-lhe uma visita ...
Melhor não . O local deveria estar cheio de seguranças a essa hora, e não teria tempo o suficiente para extrair algo do que sobrou da mente dele .
Por hora, melhor se contentar com as memórias que havia extraído dele, filtrá-las e tentar descobrir algo de útil .
Pelo menos, era o que esperava .
Mas não era fácil . Havia muita coisa . Muita coisa, mesmo .Descobrir alguma pista, alguma dica que a ajudasse ...
Já era uma surpresa descobrir que tipo de pessoa era aquela . Nekomi Kléb . 18 anos . Vestibulando . Ocasionalmente fazendo alguns bicos para conseguir algum dinheiro, entre tantas outras coisas .
Mas ... havia algo ali . Algo estranho .
Aquele homem .
Freqüentemente ele aparecia nas memórias dele, acompanhado de uma outra mulher . Não conseguia visualizar a mulher corretamente, uma vez que a sua imagem sempre ficava trêmula, mas aquele homem estava bem visível .
O mesmo que encontrara na delegacia, que havia ido buscar aquele espirito de porco .
Quem era ele ? O rosto não era familiar . E também não se parecia com nada do que enfrentou antes . Na verdade, tinha uma expressão serena, até . Poderia dizer muitas coisas, menos que ele era alguém perigoso .
Mas as aparências muitas vezes enganam . Quantas vezes os generais do Reino Negro não se disfarçaram de pessoas comuns ? E os youmas, que podiam se camuflar para não serem reconhecidos ?
Na verdade, a maioria de seus inimigos podia fazer tal coisa, se disfarçar, se camuflar .
Então, sendo assim .... o que eram aquelas pessoas ? Não havia tido nenhum sonho estranho ultimamente, o que era algo estranho . Sequer tivera um mal pressentimento .Seria por causa do templo ? Será que, prevendo seu próprio fim, o templo perdera seus poderes, e resolvera aceitar seu destino, sem que a mesma pudesse vislumbrar uma ultima vez o que estava por vir ?
O fogo não estava agindo para a mesma como de costume . Parecia até que ... que ... um presságio ? Seria isso ?
Então ... a falta de sonhos ... os presságios que não vinham ... o fogo se recusar a responder aos seus apelos ... era um sinal ? Significava que o templo Hikawa havia atingido o seu cume, e agora iria cair ? A começar com uma invasão, culminando com o fim da inocência de uma criança e sua total destruição ...
Não ... não era possível ... recusava-se a acreditar nisso . O templo, seu lar ... fadado a ser destruído ...
Por que ... por que ?
Tantas as vezes em que se reuniram lá ... os momentos que passaram juntas ... as confusões que passaram no templo ...as brigas ... as discussões que ela e Usagi viviam tendo ...
Tudo ficava em segundo plano . Até os inimigos que enfrentaram lá . Por que não era apenas um templo . Para elas, era um ponto de encontro, uma toca, uma base, aonde muitas vezes se encontraram, mesmo que fosse apenas para se sentarem ao redor de uma fogueira e contar fofocas .
- Sayonara, templo Hikawa – ela proferia aquelas últimas palavras, ainda de olhos fechados . Não tinha tempo para chorar, para se lamentar . Tinha que resolver outros assuntos, cuidar de coisas muito mais importantes, mas pelo menos, ainda tinha tempo para uma última reverencia para aquele lugar, cuja destruição marcou o fim de uma era .
E o começo de uma nova .* *          *          *          *          *          *          *
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- Grrrrrr ....
Ela continuava caminhando pela sala . Já havia se levantado, sentado novamente, levantado de novo ... chegou até a ligar a televisão, para a surpresa de seu acompanhante . Fazia sentido .
A mesma havia deixado muito para trás, muita coisa, mesmo . De certa forma, não a culpava . Afinal, se perguntava se, de outra forma, ela, ela faria o que estava fazendo .
- ONDE ESTÁ AQUELE IDIOTA ?!?!? – ela chutava a mesa que estava ao seu lado, espatifando-a .
- E eu vou saber ? Não foi você quem localizou as Senshis ? Por que não faz o mesmo com ele ?
- Não me provoque, verme – ela se aproximava de Maki, fazendo-o encarar aqueles olhos – não pense que me agrada ficar aqui dentro a espera dele . Nem um pouco .
- Também não me agrada ficar aqui ao seu lado, mulher . Não sei por que, mas sua presença tem me dado náuseas nos últimos momentos . – ele se vira, passando a mão na cabeça da ruiva que estava deitado no mesmo sofá que ele – ainda bem que ela estava dormindo . Ainda não entendi direito o por que de você ter feito isso com ela, porra !
- Olha o linguajar, seu mal educado !
- Eu falo do jeito que eu quiser e bem entender !
- Sabia que você tem uma língua grande demais para a sua boca ?
- É ? E o que cê vai fazer ?
- Posso tirar de você bem mais do que você daria de livre e expontânea vontade ...
- Eu sabia ! Sua vadia ! Sua vaca ! Sua puta ! Você fez, não fez ? Você fez ! Como teve coragem de ter se alimentado dos nossos ?
- Não me faça rir, Maki – ela segura-o pela gola – você sabe tanto quanto eu o que todos nós tivemos que fazer por Meijin . Sabe muito bem . Por acaso se esqueceu que tanto você quanto todos os seus “irmãos”, o qual o tolo do Seo adotou como “filhos”, aceitaram de livre e expontânea vontade que eu mexesse em suas almas ? Por acaso se esqueceu de que todos sabiam desde o começo o que era preciso fazer para livrarmos Meijin de seu sofrimento e lhe devolver o que lhe era de direito ? Por acaso se esqueceu que no principio vocês fizeram muitas vitimas, e quando perceberam que alguns não conseguiriam dar prosseguimento a isso, me solicitaram para que eu manipulasse a alma de vocês para que não hesitassem ? Realmente eu fiz isso, Maki ... mas foram vocês quem pediram . Vocês aceitaram de livre e expontânea vontade, lembra ? Claro que alguns não precisaram ... alguns que eram guerreiros por natureza, que aceitavam de cara suas responsabilidades e se dispunham a aceitar suas conseqüências . Como essa ruiva . Ela se ofereceu de livre e expontânea vontade, só para que eu não utilizasse o poder que havia reunido para me curar . Admirável isso . Muito leal da parte dela . Queria ter conhecido-a em outra época . A garra dela é admirável . Curioso alguém como ela ter sido designada para ser a guardião pessoal de Seo, incumbida de protege-lo com sua própria vida .
- Não mude de assunte !
- Ah, claro . Maki ... acha mesmo que eu desperdiçaria aquilo ? Yuji, Aruma ... Shoten, Miki ... todos eles ... as auras de todos eram muito mais poderosas do que a dos humanos normais . Muito mais . Ter me alimentado do espirito de Sailor Júpiter adiantou e muito nossos planos, mas eles deram sua contribuição .
- Mesmo assim ...
- Não ouse, Maki . NÃO OUSE !!! Acha que apenas sua vida é um inferno ? Não se engane, todos estão sujeitos a isso . Não pense que está acima de todo sofrimento humano, por que você não está ! Conhece minha história, não conhece ? Ah, claro, você conhece sim .Na verdade, uma vez que é o “filho”  mais velho de Seo, conhece perfeitamente a história .
E como não ? Lembrava-se perfeitamente . Como se tudo tivesse começado ontem .
Seo havia vislumbrado-a de longe . Mas não o suficiente para que ele não a reconhecesse .
As palavras dele estavam marcadas em sua mente, e ficariam ali até o fim dos tempos .
E a mesma não estava sozinha, estava acompanhada . Muito bem, por sinal .
Mas seu “pai” pouco precisou fazer . Um encanto, um feitiço ... simplesmente, nada . O simples fato dela tê-lo visto foi suficiente .
E como . Afinal, aquilo já era esperado . Ele, e somente ele, estava apto a fazer isso, e ela o reconheceria apenas em olha-lo .
Por que isso era algo prescrito há eras e eras .
- Lembro-me bem, sua vaca psicótica ... mas você não tinha esse direito ! Eles deram suas vidas de livre e expontânea vontade ! Poderia ter deixado-os descansar em paz .
- Sei, como os mendigos, bandidos e o resto da escória da sociedade que todos  mataram, não é ? Diga-me, Maki ... no que somos melhores do que eles ? No que eles são, ou melhor, foram ? Se você quer que eu assuma a culpa de alguma coisa, então culpe-me por ter manipulado a alma de seus “irmãos” a ponto deles terem feito aquilo tudo sem remorso . Se eu não sinto ? Talvez . Mas eu aceito minhas obrigações, na verdade, ao contrário de você, não fico usando minhas obrigações como desculpa para fazer qualquer coisa . Assim como seu Otousan .
As palavras da dama negra, a qual Sailor Júpiter apelidou de “Death”, estavam tão cobertas de razão que bateram em seu peito, penetraram em seu coração e rasgaram sua alma .
Era isso o que Seo sentia ? Era por isso que ele passava até então ?
Não restava dúvidas . Seo, mais do que todos, tinha uma enorme responsabilidade . Mais do que isso, uma lealdade ferrenha aos desejos de Meijin . Ele mesmo duvidava que tivesse  tal lealdade, mas Seo era um fervoroso servo .
Mas ele também era humano, pensava . E, além disso, muitos o consideravam um grande sábio . As crianças nunca haviam entendido o por que de seu Otousan não querer que sua alma fosse manipulada, mas ele havia percebido .
Seo simplesmente não queria se omitir nesse ponto . Não queria  e não podia . Afinal, de certa forma, ele era o mandante, o líder da equipe . Ele reuniu todos . Ele encontrou o canalizador . Ele ordenou os ataques .
E se fosse assim, que ele fosse o único totalmente consciente para sentir na alma o peso de seus atos .
- Seo ...
- Não pense que eu não sinto o que ele sente ... não pense que ele não sente o que eu sinto ... mas nós dois tomamos nossas decisões, optamos por esse caminho . O que acontecerá depois não pertence a nós, mas cumpriremos com nossas obrigações .
- Mas ... eu ... eu não compreendo ... por que você ... por que fez aquilo ... com elas ?
- Eu não tive escolha, Maki . Nenhuma . No exato momento em que coloquei os olhos em Seo, tudo aquilo veio até mim . Sensações, sentimentos, dores, pesares, alegrias, tristezas, memórias ... tudo . Finalmente eu soube quem eu era, pela primeira vez em minha vida . Mas elas estavam ali ao meu lado . Viram aquilo . Eu realmente queria ter deixado-as escapar, seguirem suas vidas em paz, mas eu não podia . Queria ter resolvido isso sozinha sem ter colocado-as nisso, mas não tive escolha, tive que fazer aquilo com elas .
Ela descruza os braços, caminhando novamente até a sala escura . Maki a segue, entrando no aposento . A escuridão tomava conta do local, com exceção de algumas partes . Ele a observa, caminhando e passando bem próximo da prisão de Mamoru, o qual estava deitado de costas . Aparentemente quando Seo o jogou contra as próprias grades, ele se feriu bem mais do que imaginava . Não tinha nem forças para reclamar, como sempre .
- Não se preocupe, Principe Endimyon . Não se preocupe . Isso vai terminar em breve, muito em breve . – ela continua caminhando, seguindo em direção a uma estranha arvore . Era grande e possuía uma copa majestosa, mas o que mais lhe chamava a atenção era a face de uma mulher dentro da arvore . Na verdade, os braços saiam do tronco, e parte do seu torço também . Era como se a mulher tivesse sido  parcialmente absorvida pela árvore, basicamente . – E você ? – ela tocava na face da loira – Por que ? Por que ? Por que não acabou comigo quando teve chance ? Por que ? Eu estava vulnerável, sua tonta . Vulnerável ! – ela fecha os olhos, recordando-se do que houve . Havia sentido um poder muito especial nas proximidades e, contrariando as ordens de Seo, foi atrás, encontrando  o senhor e a senhora Chiba . No exato instante em que os viu, sua mente travou, como se tivesse dado de cara com fantasmas do passado . Estava estirada no chão, agonizando por algo que não compreendia, até que ela se aproximou . Podia tê-la atacado ali, dado um fim a ela, mas não o fez . – Você sempre tem que ser boazinha e compreensível, não é ? Podia ter dado um fim a mim naquela hora ! Podia ter evitado muitos problemas para suas amigas, mas você não age assim, não é mesmo ? Sempre piedosa e caridosa ! Mal conseguiu reagir quando eu me levantei e ataquei os dois . Mas você tinha que ter feito isso, não é ? Tinha que ter afetado minha alma com seu modo de agir, com seu jeito de olhar e ajudar as pessoas, não é ? Pois foi isso que você ganhou, no fim das contas, e não haverá nada que você poderá fazer . Nada ! Sua tola luta pelo amor e pela justiça se resumem a isso, Usagi . Contemplo o que você conseguiu, no fim das contas .
- M- m .... m... ma ...
- Que ? Ainda consegue falar ?
- M ... m ... ma ...
- O que quer fazer, Usagi ? Por acaso não está pensando em se transformar, está ? Esqueça, isso é impossível ! Mesmo que estivesse com seu Broche Lunar, ainda assim nada poderia fazer ! Seo a prendeu em uma armadilha poderosa da qual não conseguirá escapar ! Essa arvore vai continuar prendendo-a até te sugar por completo, entendeu ? – ela toca na face da mesma, que estava caída – antes eu não te matei por que algo me dizia que era pra te deixar viva, mas agora ... veremos . Vamos ver até onde isso irá, o quanto poderá ir com isso .
- M ... m... m ...
- O que foi ? Quer dizer alguma coisa ?
- Acho que ela não poderá falar se você continuar interrompendo-a .
- Como se ela pudesse dizer algo que fizesse diferença, Maki .
- M ... Ma ... Mamo ... chan ...
*          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *
- Estava te esperando .
- Ohayo, Okaasan .
- Ohayo, filho . Vai subir, ou prefere ficar ai na escada ?
- Eu ...
- Suba . vamos, suba . Não vou te bater, se é isso o que te preocupa .
Ainda com o rosto virado, ele sob os últimos degraus da escada, e pisa no teto .
Ele sabia que ela estaria ali . Era seu lugar preferido de ficar , no telhado da casa . Fora que dali ela poderia ver qualquer pessoa que se aproximasse .
De qualquer forma, também era um ótimo lugar para se encurralar alguém . Um passo em falto e a pessoa sofreria uma dolorosa – e humilhante – queda .
- Okaasan, eu ... eu ...
- Sente-se, Akira .Temos muito o que conversar . Sente-se .
Com a cabeça abaixada, ele se senta ao lado dela .
Estava com medo .
Estava apavorado .
Mas o pior de tudo era que sequer conseguia entender o por que disso . Agiu errado, sabia disso . Foi contra as ordens dela, disso não duvidava . Mas tirando isso ... o que ? Enfrentar a ruiva ? Certo, ele não era páreo para ela, mas ... não fora para tais coisas que sua okaasan o treinara ? Para saber se defender quando fosse necessário ?
- Okaasan, eu ... eu ... – ele colocava as mãos sobre as pernas, apertando-as com força – eu errei feio com a senhora, eu  ... eu desobedeci a senhora e – ele fechava os olhos . Pela primeira vez, seu coração sentia um enorme aperto pelo que estava prestes a dizer – eu te desrespeitei, também . A senhora só queria me ensinar, e eu não dei a mínima para a senhora ... eu ... me desculpe .
- É só isso o que tem a me dizer ? Não vai tentar defender o seu lado da história ? Não vai se gabar do que fez, de ter entrado no templo e salvo Megumi, o que, a propósito, falhou em fazer ? Ou então, comentar sobre a fantástica luta que teve contra a ruiva, e que por um acaso do destino, você perdeu ?
- Mas eu ...
-  Quieto ! Que tal me falar sobre todos os inimigos que encontrou no templo e que você achou que poderia dar conta ? Quantos eram ? Quatro ? Dez ? Vinte ? Vamos, o que foi ? Para onde foi todo esse ímpeto ? O que houve com toda a coragem de agora há pouco ? Deve ter sido muita coragem, ainda mais para ir contra o plano de três Senshis, as quais eram muitos mais experiente do que você, o que me lembra que você não tem nenhuma experiência ! O que o fez julgar que podia fazer algo melhor do que nós três ? O que te fez pensar que poderia encontrar uma solução melhor do que a proposta pela Sailor Mercúrio , hein ? Vamos, Akira, diga . Não fique ai parado, defenda seus direitos . Reclame, grite, rosne para mim, se quiser, mas defenda seu ponto de vista, diga por que achou que poderia fazer nosso trabalho melhor do que nós mesmas, vamos !
- Não, eu não podia . Nunca poderia fazer isso – ele continuava com a cabeça abaixada, segurando um choro .
- E a ruiva ? O que foi ? Foi atrás dela por que viu eu e Rei segurando-a, não ? Não prestou atenção quando ela arrancou as telhas do telhado da escola e as atirou em nós ? Foi tão burro que não se perguntou como ela fazia isso ? O que houve, pensou que ela fosse como um dos meus outros alunos, que você poderia derrotar facilmente com sua técnica ? E se não pudesse, apelaria para sua “pequena” força, foi nisso que pensou ? Tem uma força pouco maior do que uma pessoa normal, e já se acha o maioral ? Doeu muito ? Ela varreu a rua com a sua cara, não foi ? Aposto que a única coisa que queria naquela hora era morrer, não era ? Queria que ela acabasse com o seu sofrimento, não é mesmo ? Vamos, Akira . Me faça ficar quieta ! Me mande calar a boca ! Faça eu engolir cada uma das minhas palavras, vamos ! Não foi você mesmo quem disse que eu não estava sendo justa ? Pois bem, mostre por que eu não estou sendo justa com você, vamos ! VAMOS !!!
- Okaasan ... me ... me desculpe, eu não fiz por mal, eu só queria ...
- O que você queria, hein ? Se exibir ? Mostrar para todo mundo que era capaz, era isso que você queria ? Que podia acabar com todo mundo ? Vamos, erga o rosto e me encare como fez na casa de Minako, vamos ! O que foi ? Para onde foi a sua valentia agora ? É assim que age o poderoso guerreiro de Júpiter ? É só isso que sabe fazer, ficar com a cabeça abaixada ouvindo eu dizer o que eu quiser e bem entender a seu respeito ? Vamos, garoto, reaja ! Diga alguma coisa, vamos ! Me encare ! Me desafie ! Faça o mesmo que fez na casa de Minako, vamos ! VAMOS !!!
Na altura do campeonato, ele não conseguia pronuncia um única silaba, a única coisa que era ouvido era um principio de choro, o qual ele não conseguia mais segurar .
Começou com um lamento baixo, bem baixo . Segundos depois, o mesmo crescia cada vez mais ao passo que ele segurava com força suas pernas e as lágrimas continuavam escorrendo de seus olhos .
Mas ainda assim, era um choro bem baixo, o qual só não terminava em uma gritaria por que o mesmo tentava se segurar mais ainda . Mas não conseguia  . Sentia como se uma lança tivesse atravessado seu peito e arrancado seu coração, e o mesmo estivesse vivo para ver seu coração bater diante dele .
Coisa interessante para se pensar quando se tem apenas dez anos de idade .
Sentia-se no fundo do poço, como se tivesse levado a pior pancada de toda a sua vida .
Embora a mesma não tenha sido tão longa assim ...
Sabia que fizera besteira . Sabia disso, desde o momento em que decidira ir ajudar sua amiga .
As Senshis haviam tomado uma decisão, e a ele restava apenas ficar em casa, aguardando .
Era o plano que todas concordaram – ou quase todas, visto que tia Rei parecia irritada . – mas ele não .
Se bem que ... onde ele entrava nessa história toda ?
Desde quando a opinião de um menininho, de um mero aprendiz tinha algum valor diante de três guerreiras bem mais experientes ?
Podia não ter, mas ainda assim, era a sua opinião .
Infelizmente, já não tinha mais forças para dizer isso .
Queria se erguer e dizer para Makoto o que sentia, que se a vida de sua amiga estivesse em perigo, pouco importava para ele desobedece-la um milhão de vezes . Que era preferível desonrar sua sensei do que ficar de braços cruzados enquanto sua amiga ficava a mercê de todo tipo de perigo .
E era o que faria . Estava decidido a se erguer e dizer para a mesma tudo isso . Botar para fora o que sentia, como fizera da outra vez . Não faria isso para desafia-la – embora soubesse que soaria assim – mas para defender seu ponto de vista .
Ele a encara e abre a boca, pronto para colocar para fora tudo aquilo que estava sentindo .
- Okaasan, por que é tão ruim assim eu ter ... ter ...
Akira para de falar, observando-a . Mantinha uma expressão séria em sua face . Bem ao contrário da expressão que vira mais cedo, em que a mesma parecia imensamente furiosa – e estava, ele se lembrava – mas agora, estava apenas séria, como se estivesse pensando em algo .
Mas ... tinha alguma coisa errada .
Não entendia muito bem, mas qualquer um que olhasse para Makoto naquela hora, diria que havia algo errado .
Na verdade, ela estava séria demais para a ocasião . Mais séria do que o normal .
O que houve com o choro, com os gritos de tristeza, de preocupação ? Ela deveria estar derramando algumas lágrimas, não deveria ? Afinal, mulheres eram bem mais sensíveis do que os homens, correto ?
Correto ?
Silêncio . Ele a olhava, preocupado . Não acreditava que sua okaasan fosse tão fria assim, não acreditava, mesmo . A mesma que sempre se divertira com ele, os momentos que passaram juntos, que aproveitaram juntos ...
O que houve para, de uma hora para a outra, ela ficar assim, tão ... tão ... fria ?
Ela não era assim . Nunca fora assim . As vezes dava uma bronca nele – e o mesmo nunca reclamava, pois sabia que merecia – um puxão de orelha e, bem raramente, um castigo ... mas ... mas ... ela estava totalmente fria, como se fosse uma estátua .
Talvez o pior castigo que ele podia receber .
O silêncio .
A palavra que mais o castigava, aquela que não era pronunciada .
A dúvida do que estava por vir .
O medo do passo seguinte .
A insegurança sentida diante da situação desconhecida .
Ela o estava torturando assim , totalmente calada . As palavras que estavam prestes a abandonar seus lábios morreram ali mesmo, enquanto uma agonia gerada pela falta de palavras dela ia aumentando gradualmente .
Ela permaneceu assim em total silêncio por longos e penosos minutos, deixando-o cada vez mais agoniado com aquilo, sem saber o que viria em seguida .
- Filho – ela quebrava a própria barreira de silêncio que havia imposto há pouco – e se algo de ruim te acontecesse, algo pior do que aconteceu ? Como eu ficaria ? Como eu me sentiria ?
- Mas, Okaasan ...
- Como eu ficaria, Akira ? Como ? Como acha que eu me sentiria ao descobrir que você foi morto, hein ? Achou que ela não te mataria  ?
- Mas eu ... eu só queria ... só queria detê-la . – sua voz soava bem baixo e com um principio de choro – não queria que a senhora ficasse de mãos abanando depois da luta que teve em frente a escola, ainda mais depois de todo o trabalho que teve ...
- Mentiroso ! Fez aquilo por que estava cheio de si, isso sim !
- Mas, okaasan ...
- Não minta pra mim, Akira . Não minta ! Assumir erros e encarar as conseqüências dos mesmos não é algo tão ruim assim !
- Eu ... eu ... eu queria detê-la e ...
- Você queria era me imitar, não é ? Me viu lutando e quis fazer igual, fazer jus  ao sangue que corre em suas veias, isso sim ! Por acaso acha que os Jovianos eram guerreiros burros ? É isso o que você pensa ?
- Mas ... mas ...
- Filho ...
- Tá bom, eu ... eu ... eu estava superconfiante, queria por a prova tudo o que me ensinou, queria ... queria ...
- Não te ensinei a ser um idiota ! – ela demonstrava uma feição bem mais séria do que o normal – Nem um pouco ! Foi pura burrice ter feito aquilo, e se não fosse por Amy, estaria morto ! MORTO !!!
- ME DESCULPE ! EU ERREI, ME DESCULPE, POR FAVOR, OKAASAN !
Ela abaixa a cabeça, olhando para baixo, enquanto que com os dedos tocava no telhado .
Outra seção de silencio, só que desta vez, o mesmo é quebrado pelo som de uma telha se espatifando no chão .
- Desculpas não adiantam, Akira . Não nesse caso, tampouco em situações como essa . E como eu me sentiria ? Como você acha que eu ficaria tendo que enterrar você, filho ? COMO VOCÊ ACHA QUE EU FICARIA ?!?!?! – nesse exato instante, ela se soltou de vez, permitindo-se ao luxo de chorar . Na altura das coisas, ela segurava Akira pelos ombros, apertando-o .Em seguida, ela o enlaça e o abraça com todas as suas forças, cobrindo-o por completo – filho, como acha que eu me senti quando Amy me contou o que houve ? Hein ? Acha que eu não tive medo ? Que não fiquei preocupada ? Eu fiquei assustada, Akira . Em pânico ! Totalmente desesperada por saber que por um breve instante, eu não te teria mais ! – ela continuava chorado no ombro do mesmo – não faça isso de novo !
- Eu ... eu ... eu ... desculpe, Okaasan, desculpe . Eu não queria te fazer chorar, me desculpe por ser um estorvo para a senhora .
- Filho, você não é um estorvo – ela enxugava as lágrimas, recompondo-se – você é a melhor coisa que aconteceu na minha vida . Mas eu tenho medo, Akira . Muito medo . Tenho medo de que algo de ruim te aconteça , e seu Otousan  vai ter motivos de sobra para vir até aqui me condenar, dizendo que eu não o criei corretamente !
­ - Aquele sujeito não é meu Otousan ! Nem um pouco ! Se fosse, não teria abandonado a senhora, deixando-a para enfrentar tudo sozinha ! É um irresponsável que não enxerga nada além do próprio umbigo ! Por favor, Okaasan .... eu ... me desculpe, por favor, eu ... eu ...
- Entende agora o que eu senti quando soube do  que aconteceu ?
- Sim, eu entendo .
- Mesmo ? Tem certeza ? Akira ... você sabe o que nós passamos, não sabe ?
- Claro !
- Mas compreende isso ? Filho ... tem noção dos seus atos ?
- Mas ... eu ... eu fui até lá e ... eu salvei ela, quer dizer, Minako-sensei nos salvou e ...
- Por que você fez isso ?
- Por que Meg-chan é minha amiga !
- Mesmo ? Não foi por que você quis ir até lá ?
- Claro que não !
- Não é o que eu acho .
- Mas,  okaasan !
- Não te passou pela cabeça que não poderia dar conta de tudo ?
- Eu não queria lutar com eles, queria só tirar ela de lá ! Qual é o problema ? O que há de errado nisso ? Sei que desobedeci a senhora e que me achei mais capaz do que as Sailors, mas ... mas ... a senhora queria que eu ficasse aqui em casa enquanto minha amiga corria perigo ? Não posso aceitar isso !
- E quanto a Rei ? – ela olhava duramente para ele – o que me diz dela ? Ela é a Okaasan de Megumi, e mesmo assim, foi conosco – claro que isso não durou muito tempo, pensava . – Você acha que tem mais direito do que ela de sofrer por Megumi ? Acha que sofreu mais do que ela ? Rei pensou bem na situação e resolveu acatar a decisão de Amy, pois concluiu que a mesma tinha razão . Mais do que isso, sabia que nós não tomaríamos uma decisão sem pensar nos riscos . Mas você não deu a mínima pra isso, Akira . Foi até lá, achando que sabia mais do que nós, ignorando minha ordem e ainda por cima – ela balança o rosto, encarando-o – colocou a SUA vida em risco . No momento em que percebemos o que estava prestes a acontecer com o templo, sabia que não podia dizer que sentia o mesmo que Rei sentia, que compreendia sua dor, não podia . Mas quando eu soube o que você fez, senti uma enorme dor  no peito . Desmoronei por dentro, fiquei em frangalhos . Fiquei imaginando o que houve, o que quase aconteceu contigo .
- Okaasan ... eu ... me desculpe, eu ...
- Até quando vai ficar se desculpando ? O que está feito, está feito . Não pode mudar o passado apenas com desculpas . Não pode mudar o que eu senti, Akira . Não pode . Eu fiquei muito preocupada quando te vi na casa de Minako, ainda mais quando Amy me contou o que aconteceu . Mas quando Minako me contou sua parte da história ... eu fiquei desesperada . Você quase morreu enfrentando aquela ruiva, mas foi salva por pouco por Amy . Mas ... e o templo ? O que teria feito ? E se Minako não tivesse surgido , o que faria ?
- Mas ... mas ... é minha .... amiga .
- E você acha que eu não sei ? Que eu e Amy não sabemos dos seus sentimentos ? Dos sentimentos de Rei ? O que acha que eu sinto quando a Megumi ? Acha que eu não senti nada quando achamos que ela estava morta ?
- .....
- Filho ... você ... você é muito importante para mim . Como acha que eu vou me sentir se algo te acontecer ? Como acha que eu fiquei quando soube que algo poderia ter te acontecido ?
- Triste ?
- Em pânico  . Você ... você é a única coisa que eu tenho de importante nesse mundo, filho . É meu único tesouro, a única coisa que realmente me importa .
- Okaasan .... por favor, me desculpa, não chora, por favor ... por favor ... eu sei que ele nos abandonou, mas por favor ...
- Não, filho ... ele não nos abandonou ... ele me abandonou . Se ele tivesse chegado a te conhecer, se tivesse visto você quando nasceu, ele não teria te abandonado . Mas isso não aconteceu . Seu progenitor foi um covarde, um medroso que não hesitou em me abandonar, em me deixar para trás . Eu me enganei, eu errei feio ao ter confiado nele .
- Okaasan .
- Sim ?
- Eu .... eu queria ... queria te fazer uma pergunta .
- Pois faça .
- A senhora não gosta dele ... e nem eu . Nunca o conheci, mas não consigo gostar de alguém que fez tanto mal a senhora, mas ...
- Filho ... lembra de todas as vezes em que passeamos, brincamos, nos divertimos ?
- Claro !
- Pois bem ... eu sempre procurei não ter segredos com você, sempre fui o mais sincera possível contigo . Não posso exigir o mesmo de você, mas ficaria muito feliz se você não tivesse medo de me fazer alguma pergunta ou se abrir comigo .
- Mas, quer dizer ... é uma coisa boba, sabe  . Bem ... é ... o que foi que a senhora viu nele ?
- Como ? – ela franze o cenho . Mas que tipo de pergunta era essa ?
- É que ... bem, a senhora fala tanto mal dele ... se ele não tinha nada de bom, como pôde gostar dele ?
- Eu amei seu Otousan, filho . Amei do fundo do meu coração, do fundo da minha alma . Adorei estar com ele, abraçando-o, curtindo cada momento . Ele não era perfeito, assim como eu não sou . Mas ele também tinha seus méritos . Mas eram suas qualidades e seus defeitos que o faziam único, que me encantaram . Mas ele falhou . Não deixou que suas qualidade suplantassem seus defeitos no momento em que eu mais precisei . No fim, só minhas amigas e Miyamoto-sensei me apoiaram . Nem mesmo meu Otousan e minha Okaasan me apoiaram, mas eu não os culpo . Nunca os culpei, na verdade . E você sabe o porque , não sabe ?
- Sei – ela percebe o quanto ele estava chateado em tocar nesse assunto – a senhora vivia arrumando problemas para eles ...
- Pois é . Eu era uma arruaceira na escola . Sempre arrumava confusão . Era pessoa certa na sala do diretor . E sempre estava de mudança . Pelo menos naquela época, as escolas transferiam alunos problemáticos para outras escolas . Cheguei a estudar em um monte de escolas em todo o Japão, até vir parar em Juuban . No fim, tudo isso aconteceu, Minako, Rei, Amy, Usagi, Mamoru e Miyamoto-sensei me apoiaram . Meus pais estavam muitos tristes comigo, desgostosos com a filha rebelde que se perdeu no mundo, segundo eles . Mas eu não os culpo . Apenas colhi o que plantei . Felizmente Miyamoto-sensei me ajudou . Na verdade, a pessoa de quem eu menos esperava apoio .
- O senhor que te deu esse dojo , não é ?
- Bem lembrado . Em situações como essas, um ou outro professor costumam arrumar um quarto para a aluna ou aluno se hospedar, em caso de necessidade . Mas ele não fez isso . Ele deixou o dojo aos meus cuidados, entregou a escritura a mim – na verdade, havia deixado a escritura do terreno no nome de Akira, tornando-o dono do lugar, mas era melhor não revelar tal coisa ao mesmo por enquanto, pois haviam coisas que nem ela sabia explicar – e se despediu . Não esperava isso dele . Sempre achei que ele me visse como uma aluna que precisava de ajuda, uma aluna que precisava aprender a controlar seus impulsos, a se auto-controlar, mas nunca imaginei que ele me visse assim, como uma ... uma ... uma filha .
- Mas por que o dojo se chama “Coração da Tempestade” ?
- Isso eu irei te explicar quando você tiver idade suficiente para entender .
- Mas eu entendo !
- Não na minha opinião .
- Droga !
- Acalme-se, mocinho . Ainda não terminamos com isso .
- Tudo bem, a senhora está certa . Eu errei feio, achei que era o todo-poderoso, que podia com qualquer um . Admito meu erro . Admito e assumo . Não precisa nem me colocar de castigo, por que eu já aprendi a minha lição .
- Está de castigo .
- Droga !
Ela cruza novamente as pernas, ficando totalmente em silêncio .
Estava preocupada . Muito .
Onde estava Rei ? Por que ela não entrava em contato ?
A mesma esteve sumida durante dias, segundo Amy . Tempo suficiente para uma pessoa cometer uma loucura .
Mas esse não era o maior dos problemas . O que mais a preocupava era o fato da mesmo ter sumido novamente ... por completo .
Como, ela não compreendia . Não entendia . Não concebia tal coisa . Rei havia sumido , como se tivesse perdido seus poderes, e não pudesse se sentida novamente . Como tal coisa era possível, isso ela não compreendia .
E Minako ... essa continuava a mesma de sempre . Não mudou nada, nadinha de nada . Achou que os últimos acontecimentos a libertariam, mas de nada adiantou .
Pior, achou que isso quebraria aquela coisa que Minako lançou nela, mas não adiantou nem um pouco . Se isso tivesse acontecido, já teria contado há muito tempo para suas amigas o que ocorria com ela .
Sentia-se uma traidora, na verdade . Mas ... o que podia fazer ? Como explicar para elas que simplesmente não sentia a menor vontade  de contar o que aconteceu com Minako para que a mesma ficasse assim, tão “pacifista” ? Como explicar que queria contar, mas todas as vezes que tentava, faltava-lhe vontade para tanto ?
Que coisa ! Fogo no templo, visita ao Reino dos Youmas, briga na escola, prisão ... os últimos dias haviam sido muito corridos . Mal se lembrava da última vez em que deitou-se tranqüilamente, na verdade, Faziam dias que não sabia o que era uma cama – ela olha para Akira, o qual a abraçava e encostava a cabeça nela – ou dava um pouco de atenção ao filho .
Ela o observa calmamente . Estava grande, muito grande . Dez anos . Dez longos e divertidos anos . Dez anos de sua vida . Da sua e da dele .
Ela havia mudado bastante . E aprendido também . Aprendeu com a vida, com suas amigas, e com ele . Ninguém está pronto para ser Okaasan de primeira viagem, e ela não era exceção . Por mais que as vezes achasse que soubesse o suficiente para cuidar dele, sempre se deparava com algo novo .
Quando ele era recém-nascido, quando aprendeu a andar ... a primeira palavra – divertia-se lembrando-se disso – as travessuras que pareciam não ter fim, as janelas quebradas por causa de alguma arte com os colegas, o dia em que retornou da escola orgulhoso por ter lido corretamente sua primeira frase, os competições escolares em que os pais participavam com os filhos – outra lembrança feliz e muito engraçada . As vezes ela e Rei pareciam as crianças, ao invés de seus filhos, ainda mais na corrida de sacos, em que elas acabavam passando na frente de todo mundo e chegando a fazer as crianças suarem para as acompanharem, pois as mesmas se recusavam a perder uma para a outra . – as reuniões de pais, em que os responsáveis compareciam – seu filho não era um superdotado ou algum tipo de gênio, disso ela sabia . Nesse quesito, era um aluno normal, mas o que a deixava orgulhosa era o fato de que ele se esforçava para manter uma boa média . Uma das características que ela mais admirava nele, seu esforço e sua dedicação– e tanta outras coisas .
Ela percebe, pelo canto do olho, que ele apontava para o céu com o dedo . Sabia o motivo : ele estava tentando localizar os planetas .
- Akira, onde está ...
- ... ali – ele aponta – Júpiter está ali, Okaasan . - Ele estava certo, ela sabia disso . Seu filho sempre soube apontar Júpiter, sempre soube exatamente sua posição, mesmo quando não estava visível no céu . Estranho era saber que tal coisa só acontecia com Júpiter, não com outros planetas . – um dia eu irei até lá, Okaasan . Irei até Júpiter, encontrarei o castelo ... e a Arena Joviana !!!!!
- Arena ? Filho, de novo com essa história ?
- Mas okaasan ...
- De novo com essa história ? Foi só um sonho, esqueça .
- Ah, não ! Eu não ! Eu sei que está lá ! Sei que ela existe !
- É ? E como sabe disso ? Tem provas ?
- Bem .... a senhora confirmou que houve um castelo em Júpiter !
- Claro ! Sou da família real Joviana, lembra disso, meu principezinho ? – ela fazia cócegas na barriga dele, fazendo-o se contorcer de risos – não me lembro muito bem dos detalhes, mas lembro-me bem de que havia um castelo, aonde a família real morava . Eu, o rei e a rainha, os príncipes ...
- “Príncipes” ?
- Pensei que História fosse sua matéria favorita ... era uma sociedade monárquica, lembra ? Governada por um Rei e a Rainha . Serenity era a soberana da  federação de planetas conhecida como Milênio de Prata, mas cada planeta ainda possuía sua família real .
- Quer dizer que a senhora tinha primos ? Irmãos ?
- Sim .
- Mas agora eu tô curioso, Okaasan ... se as Senshis vinham da família real ... o que acontecia com os membros que não eram selecionados ?
- Muita coisa pode ser feita com eles . Você é esperto, vai pensar em algo .
Ela sorri ao ver a cena . O mesmo estava de braços cruzados, quase emburrado, como se estivesse pensando profundamente naquilo .
Passaram-se alguns minutos, até que ele quebra o silêncio .
- Por que só princesas podiam ser Sailors ?
Que ? Mas que tipo de pergunta era essa ? Não era o que esperava ouvir . Na verdade, não estava pronta para responder tal coisa .
Isso por que não tinha  uma resposta . Não toda .
- Hmmm ... boa pergunta , mas eu não sei muito bem – ela percebe o olhar de desapontamento dele, na mesma hora . Que tal perguntar alguma coisa mais fácil ?
- Por que só a família real podia gerar Sailors ?
Outra pergunta que ela não sabia responder . Que droga ! Por que foi dar corda a ele ? Agora se sentia uma completa idiota, por falta de uma palavra melhor .
- Hã ... passo ! Filho, dá uma folga ! Só está me fazendo perguntas difíceis !
- Minako-sensei não se importa muito com isso ...
- Mas eu não sou ela – ela fica repentinamente preocupada com a comparação, mas volta a pensar no que dizer a ele – me faz uma pergunta mais fácil, anda !
- Hmmmm .... Okaasan, me diz uma coisa ... como é que as Senshis conseguiam defender sozinhas todo o Sistema Solar ?
- As Inners Senshis, Sailor Vênus, Sailor Mercúrio, Sailor Marte e Sailor Júpiter defendiam  a família real lunar, e as Outers Senshis, Sailor Saturno, Sailor Plutão, Sailor Netuno e Sailor Urano defendiam o sistema de ameaças exteriores . – ela para e pensa no que acabara de dizer . Realmente faltava algo, na verdade, palavras para explicar a ele alguns detalhes mal explicados, que agora vinham a tona, refrescando sua memória . – mas essa sua pergunta me chamou a atenção para outras coisas, sabe . Todo um sistema não poderia ser defendido por apenas alguns guerreiros . É impossível . Ninguém deixaria uma região assim aos nossos cuidado . Na verdade, duvido muito que apenas a Sailor Mercúrio protegia o planeta Mercúrio .
- Quer dizer que haviam outros guerreiros ?
- Eu não disse isso ... apenas disse que achava difícil tanto ser protegido por tão poucos . Imagino que, se eu sou uma Senshi, então é possível que outros membros da família real possam ter ocupado alguma função .
- Sailors Senshis ?
- Nào sei . Não sei mesmo . Mas cada Sailor tinha um planeta para representar . Talvez houvessem outras equipes de guerreiros, os quais representavam os planetas . Mas não me lembro do nome . Poderiam se chamar de qualquer coisa, sabe . Cosmo Knights, Star Knights, Amazon Avengers, Dragon Kishis, Noble Kishis, Destiny Kishis, Sailor Knights ...
- Sailor Knights  ? Eu, heim ...
- O que foi ?
- Não sei ... é que agora me passou pela cabeça uma equipe formada por homens, inversa as Sailors . Mas acho que não iria pegar bem esse nome, não .
- Mesmo ? E se essa equipe existisse, que nome seria melhor para ela ? Corsário Knights ?
- Não, Pirate Knights .
- Por que Pirates ?
- Hmmm ... por que ... hmmm ... talvez ... hmmm ... esse não fosse o nome original deles, mas ... hmmm ... alguém ... as pessoas ... elas passassem a chamar eles de Pirate Knights por algum motivo ! Talvez por terem feito alguma coisa, talvez por se diferenciarem das Sailors ... talvez por não se darem bem com elas ... é isso ! Seriam os mocinhos, mas seriam uma equipe que nunca havia se dado bem com as Senshis ! Por isso se chamariam Pirate Knights, já que os marinheiros são inimigos dos Piratas !!!
- Hi, hi,hi ! Filho, você tem uma imaginação ... imagino que tenha criado um nome para outras equipes, não é mesmo ?
- Ah, ia dar muito trabalho ficar criando nomes ! Por que não chama logo todo mundo de Sailor ?
- Acho que iriam faltar planetas, sabe .
- É mesmo, Okaasan . Não há planetas suficientes, mesmo que unam o Sol a Terra e Nêmesis . Hmmm ...
- No que está pensando ?
- A nossa princesa, ela ... ela é a Sailor Moon, não é mesmo ?
- É sim, por que ?
- Bem, é que eu acabei de pensar uma coisa a respeito dela, sabe . É que ... sei que parece estranho, mas ... se existe uma Sailor que representa a lua do planeta Terra ... por que não uma Senshi que represente uma lua de outro planeta ? Tipo assim, por que não uma Senshi que representa uma lua de Júpiter, gerando assim a Sailor Europa, por exemplo ?
Ela o olha , surpresa . Muito perspicaz da parte dela .
Demais, até . Na verdade, ela não sabia como, mas podia jurar que alguém, no passado, já havia comentado com ela a respeito de haver Sailors para todas as luas do Sistema Solar ...
- Isso realmente faz sentido, filho . Mas nesse caso, teríamos um grande exército . Um exército muito grande, na verdade . O sistema solar tem mais de setenta luas, se me lembro bem . Mas há uma falha em seu raciocínio .
- Eu sei . Se tal exército de Sailors realmente tivessem existido ... por que o Milênio de Prata caiu ?
- O Reino Negro tampouco Metallia teriam forças suficientes para enfrentar a Rainha Serenity e um exército desse porte .
- Será que elas morreram antes disso ?
- Sinceramente, acho que essas Senshis Lunares nunca chegaram a existir  .
- Senshis Lunares, Okaasan ? Tipo  ... Lunar Senshis ?
- É ... até que seria um nome interessante ... E acho que você ficaria uma graça vestido de Sailor Io, Europa ou Calisto ! Megumi faria muito sucesso com um modelito de Sailor Fobos, sabe .
- Eí ! Sem essa de Lunar ! Eu vou ser um Inner ! Vou ser o Sailor Júpiter !
- Claro que vai – ela dá um sorriso debochado pelo canto do olho – sem sombra de dúvida que vai .
Ela olha para as escadas, percebendo três pessoas se aproximando . Não demora muito para reconhece-las : Minako, Shinnosuke e Megumi . Aparentemente a menina já estava recuperada . Mas o que Minako viera fazer ali ?
- Miau !!!!
Esse ... isso que ela ouviu ... um miado ... mas ... seria possível ?
- Miau !!!!
Será que eles voltaram ?
- Miau !!!!
Mas de onde vinha esse barulho ?
- Hã, Okaasan ...
- Pois não ?
- É que, bem ... eu trouxe um amigo pra te conhecer .
- Amigo ? E onde ele está ?
- É ... ali – ele aponta para baixo . Ainda assim ela não consegue vê-lo e salta, caindo bem em frente a sua porta  ... dando de cara com um cesto de roupas e um gatinho enrolado no mesmo . Devia ter algumas semanas de vida, talvez alguns meses .
- Akira ! O que eu falei sobre animais em casa ?
- Mas – ele salta também, caindo bem ao lado dela – não é minha culpa !
- Não ?
- Não, não é ... quer dizer, é sim, mas não foi por querer, eu ... eu estava andando e ... eu estava chutando tudo o que eu encontrava pelo caminho, daí esse gato apareceu na minha frente  mas eu não o vi, chutei ele e continuei andando . Depois eu parei pra ver umas flores e a moça deu o gato pra mim, dizendo que eu tinha que cuidar dele por que eu o machuquei e ...
- Já chega, não precisa mais explicar nada . E essa agora, era só o que me ...
- Akira !!!!!
Ele arregala os olhos ao ver aquilo .
Não conseguia acreditar, seus olhos não podiam estar lhe pregando tal peça .
Megumi .
Sua amiga Megumi .
Sua adorada amiga Megumi .
- Meg-chan !!!!
- Akira-chan !!!!!
Ambos correm um em direção ao outro, abraçando-se bem forte, como se tivessem se visto há séculos .
Makoto desfaz por alguns instantes seu semblante de recriminação .O mesmo ainda estava de castigo, mas por hora, que ele aproveitasse esse momento com a amiga que conhecera desde pequena . Todos haviam ficado muito abalados com o que houve, mas por hora, que ele aproveitasse esse reencontro . Não era nenhuma bruxa para negar esse momento a ele .
- Akira ! Você está bem ! Eu fiquei preocupada !
- Eu também, Meg-chan ! Que bom que você está bem ! Pensei que você iria ficar dormindo para sempre, mas parece que Minako-sensei te trouxe de volta !
- Eu não sei se foi ela ... eu senti Okaasan antes de acordar ... acho que ela estava lá ... me ajudando ... eu ...
- Mas ela estava lá ! Eu a vi ! Você precisava ver, ela curou meus ferimentos , os de Minako-sensei e os de Okaasan ! Tia Rei foi incrivel !
- Ela estava lá ? Mas ... mas ... aonde ela está ? O que houve ?
- Eu não sei, não a vi depois .
- Eu ... eu ... – ela se atira nos braços dele, derramando lágrimas em seus ombros – Akira, eu senti tanto medo ! Tanto medo ! Obrigada, muito obrigada ! Você ... você foi me salvar, obrigada ! Obrigada ! Obrigada ! Você foi muito corajoso, Akira ! Mais do que qualquer pessoa !Obrigada , muito obrigada – ela continua abraçando-o, ao passo em que estala um beijo em sua bochecha .
- Akira ... será que você poderia me ensinar alguns golpes ? Essa daí é uma bruta ! Foi só eu falar uma coisa que ela veio pra cima de mim, bancando a maioral ! Devia é estar brincando de boneca, ao invés de bater nas pessoas !
- SHINNOSUKE !!!!!
De onde estava, Makoto supria um riso, ao passo que Minako se aproximava dela . Era até gostoso de ver tal cena . No fim das contas, Megumi era igualzinha a sua Okaasan . Igualzinha, sem tirar nem por nada .
NA verdade ... Megumi era idêntica a Rei, em todos os aspectos, até tinha o mesmo temperamento . Alguns iriam jurar que eram gêmeas idênticas de idades diferentes, que ela era um clone de Rei, devido a semelhança assombrosa .
Mas no fim, era divertido ver aquilo . Mesmo sendo crianças um pouco diferentes, ainda assim, eram crianças .
- Já conversou com ele ?
- Já . Dei uma dura nele e ele aprendeu a lição .
- Tem certeza ?
- Tenho .
- Só espero que não tenha sido dura demais , ou ele pode acabar aprendendo a lição bem demais, Makoto .
- Algumas pessoas precisavam aprender uma lição, sabe ...
- Isso foi uma indireta ?
- Foi uma diretíssima , Minako ! Diretíssima ! Não sabe como eu estou me sentindo !
- Claro que sei .
- Não, não sabe . Sinto-me uma traidora, querendo compartilhar com Rei e Amy o que te aflige, tudo pelo qual passamos, mas não conseguir simplesmente por não sentir vontade . E tudo isso é sua culpa !Por que fez isso ?
- Já se passaram tantos anos, Makoto ... e nós já discutimos isso antes diversas vezes . Sabe muito bem que eu nunca quis fazer aquilo, que aconteceu por acidente ...
- É, eu sei ... mas você nunca se preocupou em aprender como desfazer, não é ?
- Não fale como seu eu tivesse tido prazer com aquilo .
- Não acho, Minako . Nem um pouco . Mas tome cuidado . Nada fica escondido para sempre, mais cedo ou mais tarde os segredos são descobertos, as vezes da pior forma possível, e nem mesmo seu poder empático pode impedir isso .
- O dia que isso acontecer ... então eu estarei pronta para pagar pelas minhas decisões . Não irei negá-las, irei assumi-las, mesmo sabendo o que possa acontecer – ela caminha até Akira, o qual ria de Megumi perseguindo Shin, e o mesmo estava correndo desesperadamente da marciana, como se sua vida dependesse disso .
- Ohayo, Minako-sensei !
- Ohayo, Akira . Tem passado bem ?
- Hi .
- Vejo algo diferente em você . Está um pouco mais radiante, na verdade, diria que algo o deixou mais curioso .
- Nada demais, juro .
- Entendo . Quanto ao que ocorreu no templo ...
- Eu ... eu ... – ele abaixa a cabeça, temeroso . Outra vez, não . Primeiro sua okaasan, a mulher que ele mais respeitava, agora Minako-sensei, uma das que ele mais admirava – eu fui muito ...
Ela maneia a cabeça . Podia ver o estranho brilho de sua aura, a qual mudava frequentemente de intensidade nas últimas horas . Muita coisa para sua cabecinha .
- Akira ... eu não vim te julgar .
- Não ?
- Não . Acredito que sua Okaasan já fez isso . Eu quero te dar uma coisa, na verdade .
Ela se abaixa, ficando na mesma altura que ele, ao passo que toca em seu pescoço . Ele fica parado enquanto ela prende algo nele, e se afasta depois .
Ele olha para aquilo, curioso .
Era um cordão . Um cordão com elos em forma de coração, os quais seguravam um pedaço maior de metal achatado em forma de coração.
Um pingente ?
Seria para ele colocar uma foto ali dentro ?
Ou já haveria uma ali ?
E se houvesse ... qual seria ?
- Por que ... ?
- Akira – ela se abaixa, aproximando-se do mesmo – eu sei que você desobedeceu sua Okaasan, que foi impulsivo, prepotente, que se achou muito forte . Sei também que foi atrás daquela mulher, por motivos que eu não quero comentar, mesmo podendo sentir os sentimentos das pessoas .
- A senhorita pode fazer isso ?
- Posso, mas deixemos isso para outra hora . Você ainda tem muito o que aprender . Muito o que se desenvolver . Vai dar muitas cabeçadas, disso tenho certeza . Vai errar muito, cometer muitos deslizes ... mas não se culpe por isso . Não totalmente . Faz parte do nosso desenvolvimento errarmos . Eu fiz muita besteira no passado, sua okaasan também, e todas as outras . Até mesmo a princesa, veja só . O que quero dizer é que errar é o que nos faz aprender, é o que nos ensina e nos prepara para a vida . Ninguém está livre de errar, Akira . Ninguém . Todos somos falhos, e por mais que tentemos nos aperfeiçoar, ainda assim continuaremos falhos . Por que são justamente essas falhas que nos tornam únicos . Você fez muitas coisas que não deveria ter feito, desobedeceu sua okaasan e deixou todas preocupadas nos últimos dias ... pense nisso, Akira .
- É, eu sei disso .
- Mas tem mais uma coisa . É uma coisa muito, mas muito importante . Acima de tudo, você foi sincero . Sincero consigo mesmo, com seus sentimentos . Foi atrás do que queria, desobedeceu Makoto, mesmo sabendo que estava errado . Seguiu seu instinto, o que batia em seu coração . Mais do que tudo isso, Akira ... uma vida fora salva .
- A senhora salvou Megumi . Nos salvou . Eu não fiz nada, não tenho capacidade para ...
- Você o fez, Akira . Ou nós, se preferir . Em verdade eu cheguei e os tirei de lá, mas você conseguiu o tempo necessário para que Megumi permanecesse viva . Eu cheguei pouco depois do templo desmoronar . Se você não tivesse tirado sua amiga de lá de dentro, ela estaria morta . Pense no que realmente aconteceu . Você fez muita coisa errada ... mas por outro lado, uma vida foi salva . Ou duas, se preferir contar dessa forma . A vida de Rei praticamente havia desmoronado depois do que houve, não podemos nos esquecer .
- Mas ... eu ... eu não entendo, Minako-sensei ... eu desobedeci Okaasan ... eu me achei mais do que as senshis ... eu .... eu a desrespeitei ...
- Como eu disse ...  você agiu segundo o que acreditava ... da maneira que fora criado e educado . Não fique se culpando eternamente por isso, viva o erro, experimente-o e aprenda com ele . Particularmente falando, você foi muito impulsivo e imprudente, Akira . Arriscou duas vidas, a sua e a de sua mãe . Ela dedicou muito de si a você . Mas também reconheço seu mérito .
- E esse pingente ? Tem alguma coisa dentro dele ?
- Tem sim ... mas você vai descobrir o que é na hora certa, ou melhor ... alguém vai descobrir o que é na hora certa ...
- AAAAAAAAAHHHHHHH !!!!! – ambos se viravam, interrompidos pelo grito de Megumi – Akira ! Que gatinho lindo ! Que lindo ! Lindo !
- É, eu sei, eu encontrei ele na ...
- Dá ele pra mim, dá ? Ah,dá ele pra mim ! Dá ! Dá !
- Mas ... mas onde você vai cria-lo ?
- Okaasan vai arrumar o templo, posso senti-la determinada a fazer isso !
- Hã ... tá bom . Eu cuido dele enquanto isso . Então agora ele é seu, ok ? Ele está um pouco ... aham, machucado, mas daqui há pouco ele fica bom . A propósito, o nome dele é Herochi .
- HEROCHI NADA ! A PARTIR DE AGORA ELE SE CHAMA SAITO !!!! NÉ, SAITO-KUN !!!!! – ela sorria, ao passo que abraçava fortemente o gato .
            - MIIIIIAAAAAUUUUUUU !!!!
Continua ...

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