Strong escrita por Ana Flávia Furtado


Capítulo 8
Nada é durável


Notas iniciais do capítulo

Oooooi gente, peço desculpas pela demora, mas estive de férias e a escola voltou no ápice, prendendo-me totalmente, mas agora estou aqui e prometo voltar a postar normalmente... É, eu sei que é terça, mas quarta e sábado eu volto postando! Espero que ainda tenha gente aqui, porque eu não abandonei aqui e nem pretendo, vejo vocês nos comentários. Obrigada por tudo ;)



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No dia seguinte acordei cedo, meu pulso coçava muito e estava ficando incomodada com aquilo, mas ainda assim me vesti para visitar Bella. Fazia um calor insano neste dia e eu tive que colocar um blusão para esconder as cicatrizes, decidi que da próxima vez em que fosse fazer aquilo, seria em alguma lugar mais estratégico e menos visível.

O lado bom é que Bella morava umas duas casas depois da minha, então não passei tanto aperto com o calor. A casa de Bella não era nada simples, toda branca e delicada, um anjo feito com vidro estava em um vitral ao lado da porta e lindas rosas brancas enfeitavam o jardim. Hesitei ao tocar a campainha e assim que toquei, quis sair correndo e me esconder, claro que ela nunca gostaria de alguém como eu, eu nem mesmo era aceitável como colega.

Bella atendeu, mas por um minuto louco, eu achei que havia confundido as casas. A garota barbie que eu vira ontem era completamente diferente da que eu via agora, Bella vestia-se com uma camiseta de banda que eu não conhecia, usava calça jeans rasgada e manchada de tinta e seu cabelo loiro platinado, que ontem estava em um penteado maravilhoso, encontrava-se em um simples coque preso com um lápis velho. Ela não usava maquiagem e parecia bem mais confortável, já que seu sorriso parecia mais radiante, mas talvez fosse só pelo fato de que ela era bem mais bonita sem maquiagem alguma.

– Eu não acredito que você realmente veio! - disse estonteante, como se minha presença fosse mesmo algo bom e magnífico. - Por um minuto achei que você desistiria de vir e então eu ficaria triste por preparar um almoço para dois e ter que comer sozinha.

Eu sorri, não sabia ao certo o que falar. Eu me sentia tão inferior diante dela, ela era confiante, animada e não tinha o que temer. Ela gesticulou para que eu entrasse, parecia sem jeito com minha falta de resposta, mas ainda assim vinha sendo gentil.

Não pude deixar de me surpreender com o interior da casa, não era linda e arrumada como por fora, tinha seu toque refinado, mas a sala era um caos, porém, de certa forma, lindo. As paredes da sala eram coloridas de vermelho, verde e amarelo em grandes manchas, com alguns toques de azul e branco. O lustre era retorcido e maluco e dele pendiam alguns cristais, onde se lia palavras de incentivo e nomes, provavelmente de familiares e amigos próximos. Na parede da esquerda se encontrava um mural de fotos enorme, cobria tudo e relatava tudo, não apenas fotos da família e de Bella, mas de lugares e amigos. Em um canto havia uma árvore branca e nela havia recados escritos e no canto ao lado da televisão, havia gaiolas das mais diversas cores e tamanhos, não se via pássaro algum, havia folhas dentro de cada um com palavras, frases e textos escritos. Ao meu lado ficava o sofá e acima dele via-se quadros, sem ordem ou lógica, quadros de anjos, de guerra, de arte abstrata, era completamente sem noção alguma.

– Gostou? Eu quem fiz, quero ser artista, sabe? E minha mãe deixou eu fazer isso com um cômodo da casa, além do meu próprio quarto. - Ela deu de ombros, não parecia muito confiante se parecia bonito ou não.

– É maravilhoso… De cara parece uma coisa maluca, um caos, talvez o inferno, mas depois, quando você olha bem, é extraordinário. - Falei com sinceridade e ela sorriu ainda mais.

– Você só diz isso porque não viu o resto da casa, ela é tão branca, nova e sofisticada, que a minha sala fica parecendo um cortiço. - E então riu, e a risada dela era gostosa, o som não mudava em nada desde o tempo em que eu a conheci, era uma risada de criança, gostosa, que fazia você querer rir junto e foi exatamente o que aconteceu, eu comecei a rir, como não fazia há muito tempo… O que ela estava fazendo, o que quer que fosse, vinha sendo cativante. - Venha, vamos ver o resto da casa.

De fato o resto da casa era muito limpa e brilhante em comparação com a sala, mas esta tinha o seu toque maluco e perfeito em meio ao caos e eu acho que todas as pessoas devem ser assim, de alguma forma, por pior que esteja sendo a vida de uma pessoa, há sempre aquele toque de felicidade presente e que ninguém sabe ao certo se é para estar lá de verdade. Um pouco de loucura não faz mal a ninguém.

Ela colocou pratos na mesa e tagarelava sem parar, de alguma forma até eu me envolvia no assunto e nós conversamos e conversamos por horas, a comida esfriou e tivemos que esquentar novamente e nesse tempo, conversamos mais, colocamos o assunto em dia, conseguimos contar nossa vida desde que paramos de nos falar, bom, pelo menos ela, eu não havia contado sobre os cortes, sobre as internações, como eu me sentia, sobre eu no geral, contava uma parte ou outra que julgava interessante, mas ela parecia que não tinha problemas e contava histórias e mais histórias.

– Sua vida parece ter sido tão boa… - Ela disse quando começamos a ficar sem assunto.

– Vai por mim, a sua é bem melhor. - Constatei em voz alta.

– Acredite, não é… Apesar de tudo, não tenho presença dos meus pais na minha vida e, na maior parte do tempo, estou sozinha. - Nesse momento, desejei que a comida estivesse quente, para que eu comesse e não acabasse falando da minha vida. - E também teve um relacionamento antigo que eu ainda não superei totalmente, foi horroroso o modo como acabou e… - Mas nesse momento o microondas apitou e eu não soube qual era o terceiro problema, o que foi ótimo, porque eu evitava muita coisa se ela começasse a querer entrar no assunto “problemas que tenho”. - Oh! Está pronta, quero que diga se está boa.

Ela colocou novamente a comida, eu havia perdido o apetite, mas mesmo assim enfiei uma garfada na boca e me obriguei a engolir, era horrível e acho que ela percebeu minha careta.

– Eu sei que cozinho mal, mas pelo menos você foi sincera e não forçou um sorriso… Ainda tem comida que a empregada fez, porque nem eu mesma ouso comer a minha comida, é de matar. - Ela começou a rir e eu tive que concordar, era horrível mesmo.

Na troca de pratos, ela começou a conversar novamente e eu fiquei absorta com o assunto, tanto que não percebi que ela disse que estava calor e era melhor eu tirar o casaco, foi tão rápido quando aconteceu que ainda me lembro de tudo, ela colocou a mão na manga e esta, por sua vez, escorregou mostrando meus inumerosos cortes. Bella ficou espantada e me soltou na hora.

Levantei-me com pressa e a cara já fechada.

– O-o quê… Eu não… Alice, eu… - Ela tentava formular uma frase coerente, mas eu não me importava com o que ela ia falar, assim que comecei com os cortes tinha certeza que alguém, se visse, julgaria, não queria que essa pessoa fosse alguém do meu passado e que eu só havia reencontrado há um dia. Fui em direção a saída sem dizer nada.

– Espere! Qual seu problema? Isso não é solução… Por favor, espere! - Podia ouvir ela atrás de mim, eu estava quase na porta, ela parecia desesperada, culpada e preocupada. Mas é sempre assim, não? As pessoas nos fazem acreditar que se importam com algo que, na verdade, não faz diferença para elas.

– Alice! Por favor, eu não quis… - Mas eu não ouvi o que ela queria dizer, bati a porta da frente e senti algo se quebrando ao meu lado, não me importei e nem olhei para trás quando ouvi a porta se abrindo, apenas continuei andando. E pensar que eu havia esquecido tudo por um tempo.


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