– Ikuto!! – grito e ele não demora a aparecer no jardim onde eu me encontrava e me pega no colo.
– Deu certo? – ele pergunta me colocando na cama.
– Sim, mas isso me deixou cansada.
– Ela está perto de nascer, esperava o quê?
– Que você dormisse ao meu lado, que tal? – ele me olha e suspira.
– E quem que me chamava de pervertido mesmo? – tenho certeza que meu rosto foi coberto por um blush natural.
– No que raios está pensando?! – grito e jogo um travesseiro nele.
– Opa. Parece que a rainha ainda tem força. – ele coloca o travesseiro atrás das minhas costas novamente – E se você conseguiu acompanhar minha linha de raciocínio, quer dizer que não é muito diferente de mim. – ele diz e fico calada e ele abre um sorriso vitorioso.

Ah, sim. Vocês devem estar se perguntando “desde quando esses dois tem uma relação tão íntima?”, essa é fácil. Se você voltar algumas páginas atrás desse meu diário, irá achar uma página de título “Gato Coruja”, é a partir de lá que nossa relação começou a mudar. Eu não faço ideia do que eu fiz para ele ou o que ele tem em mente, mas eu estou me considerando a pessoa mais sortuda do mundo por ele ter começado a ficar tão carinhoso. Outra coisa, ele começou a dormir comigo a meu pedido. É engraçado, eu sinto as orelhas de gato dele se moverem e ele costuma dormir com a mão em minha barriga, sentindo a nossa filha.
Foi a mesma coisa naquela noite, o problema começou as nove da manhã. Eu estava saindo do banheiro quando comecei a sentir fortes dores e senti um líquido descer pelas minhas pernas, ou seja, eu comecei a gritar desesperadamente.

– Qual o problema?! – Ikuto pergunta entrando no meu quarto e me ajudando a ir para a cama, mas logo notou uma quantidade razoável de água – Vou chamar a Nadeshiko.
– Mas ela está muito ocupada e... – ele beija minha testa.
– Se acalma. Ela prometeu que iria te ajudar nessa hora e pelo que já notei dela, aquela lá é de confiança. – me sinto um pouco relaxada e começo a repirar profundamente para me ajudar a continuar calma.

Nadeshiko não demorou a aparecer, logo ela estava no quarto na minha frente, Ikuto foi impossibilitado de entrar no local.

– Por que eu não posso ficar? – Ikuto pergunta sem entender.
– Você só vai atrapalhar! – Nadeshiko explica e o expulsa do quarto – Me desculpe por isso. – ela completa mais calma e vem até mim e coloca suas mãos sobre minha barriga – Kuru Kuru Kyawawa wawa. – ela diz e sorri – Isso deve resolver.
– Resolver o quê? – pergunto sem entender.
– Logo irá entender.

Apenas três horas, esse foi o tempo para eu escutar um choro feminino. Eu estava arfando, mas não demorou muito a eu conseguir me controlar e quando notei ela ainda tinha o tamanho de uma criança recém nascida.

– Ela já não deveria estar com o tamanho de uma criança de um ano? – pergunto sem entender e Nadeshiko me entrega a minha criança.
– Kuru kuru kawa wawa. – ela repete enquanto eu apenas observava aquele pequeno ser em meus braços.
– Então é para isso o feitiço... Como sabe desse feitiço? – pergunto olhando para ela agora.
– Amanhã, as dez horas. Esteja com suas malas prontas, deixe-as em casa e vá para a sala de reunião. – ela já estava com a mão na maçaneta da porta quando virou o rosto para mim – Acho que já chega de vocês brincarem de serem deuses. – ela suspira – Mas não ache que vou fazer algo mal, eu sou uma pessoa legal. – ela sorri e abre a porta indo embora.

Ikuto entra no quarto, pelo visto, se segurando para não correr e fazer algo imprudente.

– Ela tem uma adorável fragrância, uma que acalma o coração. – ele diz se sentando ao meu lado.
– Não tenho o olfato de um demônio, então não posso dizer nada. – comento sorrindo e lembrando do que meu eu do futuro disse – Que tal o nome Kaori?
– Um bom nome. – ele diz e a pega no colo – Ela não tem cheiro de demônio. Você ou a Nadeshiko fizeram algo? – ele pergunta estranhando.
– Ela fez uma magia que pelo visto tirou os poderes de meio demônio dela. – respondo e noto que estou me recuperando rápido, já sentia que podia me levantar e fazer algumas coisas.
– Isso é bom. – ele diz e se levanta – Não quer dar um banho na sua filha? – ele pergunta indo em direção ao meu banheiro.
– Um banho em família? – pergunto.
– Primeiro uma ducha, vocês duas estão todas ensanguentadas. – concordo com a cabeça e lembro que havia um banheiro maior naquela casa.
– Há outro banheiro aqui nessa casa, vamos usar o outro. – ele nada diz e vai indo com Kaori no colo para o outro cômodo.

E ali começava a minha vida de mãe, e o melhor, eu já não estava mais sozinha.