Walburga escrita por Ster


Capítulo 1
Capítulo Único - Mas o céu é infinito.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.



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O coração é um órgão que bombeia sangue, que te mantem vivo e de pé.

Às vezes ele entope, mas faz parte.

Walburga Crabbe Black sabia muito bem que um coração era cheio de arterias, sangue e carne, mas ela podia jurar que eu coração era vazio e gelado como uma pedra. E com sua idade avançada e suas mãos nodosas e trêmulas por conta do Parkinson, ela observava. Seus olhos eram grande e negros como a escuridão de uma câmara secreta. Viram tanta coisa que mesmo listando, jamais estaria completo. Ela passava as mãos pelas paredes da Mui Antiga e Nobre Casa dos Black e achava estar maluca quando ouvia passinhos rápidos pelo andar de cima.

Se ela fechasse os olhos com força, no canto da sala teria uma garotinho puxando o cabelo de seu irmão. Mas ela abria rapidamente, assustada pela manifestação acelerada de seu coração. Ele raramente dava sinal de vida, e ela só sabia que ele ainda estava ali com ela, porque continuava a bater incansavelmente.

Então ela se perguntava se valera a pena. Se tudo realmente valeu a pena.

– Mamãe? – sua mente, ao contrário de seu coração, a traiu. Prega peças nela, a coloca em memórias antigas e finge que estão acontecendo realmente. Walburga virou-se para trás a tempo de ver os dois garotinhos de sete anos. Um tinha o cabelo ondulado, formando cachos delicados nas pontas. Seu rosto era o próprio desafio, com o queixo erguido, o que o destacava do irmão, que tinha o rosto assustado e temeroso.

E ela se perguntava se valera a pena....

– Mamãe, você pode nos colocar na cama? – perguntou Regulus, esfregando seus olhinhos, sonolento. Sirius também estava com sono, mas ainda assim orgulhoso o suficiente para manter-se de pé e fingir que estava muito bem. Ela queria abraça-los. Senti-los. Mas ela sabia que se o fizesse, eles se dissipariam no ar como vento. Ela se perguntava se valera a pena... Ela se perguntava... Assentiu silenciosamente, e quando aproximou-se para pegar o mais novo no colo, ela o sentiu. E pegou na mão do mais novo, e juntos subiram as escadas.

É claro que valera a pena.

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Por mais que ela perguntasse, ninguém queria explicar o porquê de sua mãe ter se jogado de um penhasco. Não era algo incomum o boato de que os Crabbe são carrascos sem coração, que a bondade é algo que eles jamais ouviram falar, assim como uma alma. Frios, loucos e inconsequentes, era a descrição perfeita dos Crabbe.

Pollux Crabbe Black estava furioso.

Walburga sentia suas perninhas finas tremerem ao ver o pai andando furioso em sua direção. Ele era grande como um urso e também peludo como tal. Respirava forte e tinha pés tão grandes que ela tinha medo de que ele pisasse nela. Irma Crabbe viveu o suficiente para ter três filhos sendo Walburga a segunda mais velha. Então Pollux fazia o mesmo ritual todas as noites. Chegava em casa frustrado por algo no Ministério, fitava a foto de casamento dele e Irma, onde ele parece um monstro grande e indelicado ao lado da doce e frágil Irma, que parecia até mesmo temerosa e amedrontada ao lado de Pollux. Ele acariciava o quadro, o colocava sob a mesa e erguia sua varinha.

Primeiro era Cygnus.

Depois era Walburga.

Por último era Alphard.

Cygnus era sempre o que mais chorava após a tortura. Alphard chorava baixinho e em silêncio, mas Walburga sentia ódio. Ela contava os dias para ter uma varinha e matar o pai. Duelar com ele de igual para igual. Mas então arrependia-se de ter pensamentos tão horríveis e rezava para qualquer criatura superior, pedia perdão por ser uma garota tão ruim, pedia sabedoria e paciência para seu pai. Então ela preparava o jantar do pai. Um chá para Cygnus e Alphard.

E aceitava.

Porque ele estava certo e ela estava errada.

Por mais que ela não soubesse onde.

– Está na hora de se casar. – anunciou Pollux em uma noite. Walburga havia acabado de virar mocinha e não pode esconder aquilo, pois pensou que estava tendo uma hemorragia e morrendo. Não via aquilo nos livros, pois Pollux achava que mulheres não deviam estudar. Mulheres servem para procriar e obedecer ao homem. Quando Hogwarts chegou, Walburga chorava dia e noite pois viu seus irmãos irem e ela não. Mas a noite, quando Pollux finalmente desmaiava em sua cama e Cygnus estava em casa, ele ia até a cama da irmã e a ensinava tudo que sabia. Se não fosse pelo irmão, Walburga jamais saberia sequer ler.

– Casar? – questionou ela, baixinho, quase um sussurro. Falar em um tom normal era motivo para irritar Pollux Crabbe.

– Sente-se aqui. – ele deu batidinhas em seu colo e Walburga estremeceu. Alphard saiu da sala após o olhar do pai, porém lentamente ele olhou a irmã como quem pede desculpas. Walburga sentia cada membro seu dar espasmos de pavor. Ela sentou-se em seu colo, dura, pois parecia estar sentada em um toco de árvore. Ele acariciou suas costas lentamente, até a base, e parecia olhar o vestido da filha com curiosidade e desejo, mais especificamente no torso. – Eu tenho um ótimo pretendente para você. Preciso fazer isso para pagar pendencias pela morte de sua doce mãe. Consegue entender?

– S-sim.

– Escute bem, Walburga. – seus olhos eram os mesmo de Walburga. A diferença é que naquela época, os dela haviam brilho. Talvez esperança. – Você tem sorte de ter nascido mulher. Pois tudo que você pode ser é bonita. Uma linda tolinha. Essa é a sua função. Ser uma linda tolinha.

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No dia de seu casamento, Walburga quase sentiu alívio.

Mas ela sentia medo, tinha medo que Orion Black passasse a mão nela da mesma forma que seu pai fazia, e ela sabia que ele o faria. Tinha medo dele castiga-la como seu pai fazia. Ela fazia em sua mente planos mirabolantes de como escapar de minutos sob a ação de um crucio dado por seu marido. Ela seria sua serva, obviamente. Faria tudo que ele mandasse. Se mandasse que ela pulasse de um penhasco, ela faria de bom gosto.

Quem sabe assim não encontraria sua mamãe?

Quando Orion Black fez dezessete anos e finalizou Hogwarts, eles se casaram. Foram morar na Mui Antiga e Nobre Casa dos Black, um lugar que fazia as pernas de Walburga tremerem. Lá, apenas a Senhora Black vivia. Lucretia Black estava constantemente reclamando dos cachos grossos e rebeldes de Walburga, então a garota os prendia.

– Solte-os. – ordenou Orion na comemoração da cerimônia. Ela estava no vestido mais lindo que já tivera em toda sua vida e se sentia alguém. Pela primeira vez, ela se sentia alguém. Ela tocou o coque muito bem preso pela Senhora Lucretia e olhou o marido, indecisa.

– Agora? – perguntou ela, o mais inocentemente que podia. Orion era tão bonito... Mas até mesmo sua beleza a assustava. Ela estremecia de medo a cada toque, olhar frio e pesado ou sua voz grave e profunda. Ele mirou seus olhos acinzentados no coque e depois nos olhos escuros da esposa.

Solte-os. – repetiu ele. E Walburga obedeceu. Um sorriso debochado nasceu no canto de sua boca, torto e irônico. – Obediente. Isso é bom.

Isso é bom.

Foi o primeiro elogio de Walburga.

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Na mesma época em que Orion e Walburga se casaram, outro casal passou a morar na grande mansão dos Black.

Druella Rosier e Cygnus Black.

Ela sentia-se infinitamente melhor por viver perto do irmão que tanto a ajudou. Ele cuidaria dela caso Orion tentasse matá-la como seu pai tentou várias vezes. Ela finalmente estava livre de Pollux. Já na Mui Antiga e Nobre Casa dos Black, Walburga aprendeu coisas que nunca sonhou. Como, agora, ela era uma Senhora, assim como Lucretina. Tinha que portar-se como tal e também falar como tal. Tinha que aprender a dar ordens e castigos. Eles tinham um elfo doméstico, Monstro, e era ele quem faria os serviços domésticos.

– Ele é tão feio! – Druella tinha uma voz aguda e doce demais. Walburga tinha inveja de seus fios tão claros e lisos, de seus grandes olhos azul celeste e de seus dentes perfeitos. Ela parecia uma fada, uma veela. Era delicadamente bonita. Enquanto Walburga era rude e grande. Seus seios eram grandes, suas curvas eram violentas, seus cachos eram grossos e armados, seus lábios eram grossos e seu nariz era violentamente pontudo. Tudo nela era exagerado. E tudo em Druella era delicado.

– Ele não tem que ser bonito, meu amor, tem que ser eficiente. – cortava Lucretina, seca. Cygnus engolia seco ao lado da esposa enquanto a mesma corava, olhando para o marido e a sogra em olhares desesperados, em busca de apoio.

Pobre Druella, se dependesse do irmão de Walburga, jamais seria defendida.

Mas Walburga estava ocupada demais matando seu tempo livre lendo todos os livros presentes na grande biblioteca dos Black. Leria tudo que conseguisse, engoliria os livros, moraria na biblioteca se necessário. Absorveria toda a informação que o pai roubou dela. Aprenderia cada feitiço, cada poção, cada teoria. Seria uma das melhores bruxas de sua família.

Para ser uma Black, ela precisava estar à altura.

Mas sua vida não estava nada fácil. A noite, Walburga chorava silenciosamente enquanto Orion se satisfazia, puxando seu cabelo enquanto montava nela como se fosse um cavalo. Ela sentia dor e medo. Sentia muito medo quando ele a tocava porque aquelas mãos a lembrava a de seus pai. Quando apertava seus grandes seios, parecia seu pai o fazendo. Quando ele tocava sua intimidade, ela não podia deixar de lembrar o pavor que sentia quando seu pai também o fazia, sussurrando em seu ouvido que só não aprofundava pois ela tinha que ser pura para manter o nome da família.

Às vezes, quando Walburga se machucava em uma das noites e não estava pronta para satisfazer o marido, ele a torturava.

Era um costume dos Black.

Crucio.

Quantas vezes ela não vira uma varinha jorrar aquelas palavras em sua direção?

E seu coração explodia de ódio quando ela queria ser a pessoa a jorrar aquela maldita palavra.

– Torture-a. Bata nela. Mande nela. – ordenava Pollux a Orion. – Parece um elfo doméstico quando domada.

Mas Orion se limitava a sorrir forçado para o pai de Walburga. Era possível ver o nojo contido em seu rosto e Walburga se assustava em ver que já sabia tanto de seu marido. Talvez ele sentisse nojo de como Pollux aproveitava-se para tocar a mão da filha quando ela lhe dava uma xícara de chá. Ou como tinha desejo contido no olhar dele ao vê-la se mexer perto dele. Seu olhar sob o decote e as curvas.

Quando ela ia embora, ela quase chorava de felicidade.

Mesmo na frente de Orion, ela morria de medo dele ataca-la.

– Seu pai já tentou algo com você? – questionou Orion uma semana depois da visita de Pollux. Ela estava arrumando os livros na biblioteca quando notou o marido encostado na porta. Ele era charmoso, ela sabia disso pois as mulheres sempre suspiravam apaixonadas ao redor dele quando iam a algum evento do Ministério. Walburga corou violentamente e maneou a cabeça negativamente. – Além de burra, você é mentirosa.

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Cygnus estava chorando compulsivamente na biblioteca.

Walburga sabia porque. E percebeu que os soluços do irmão só aumentavam conforme as gargalhadas infantis de Druella aumentavam. No mês passado, Walburga entrou no quarto dos dois sem querer e viu uma guerra. Cygnus tentava estapear Druella, mas ela segurava seus dois braços com força, como um homem. Walburga quase caiu ao ver a delicada Druella lutando feito homem. Ela deu um soco no queixo do marido, que retribuiu com um chute em sua barriga. Ela foi para trás, com um gemido de dor. E quando ele voltou a ir em sua direção, com o punho erguido, ela o segurou e puxou seu cabelo com toda a sua força, fazendo Cygnus berrar de dor. Walburga fechou a porta rapidamente, apavorada.

Druella enfrentava o marido.

Ao contrário de Walburga, que apanhava calada.

– Vim de uma família com quatro irmãos, se eu não me defendesse, nem viva estaria. – dizia ela, com a maçã do rosto roxa enquanto mordiscava um morango. Ela falava baixinho, em tom confidencial, para que a velha Lucretina não ouvisse. – Eu amo seu irmão. Amo. Mas se ele tentar usar aquela varinha contra mim, eu mato. Ouviu? Eu mato.

– Entendi. – respondia Walburga.

– Eu tenho pena de você. Devia por limites em Orion, você não deve fazer tudo que ele manda. Você não é um elfo doméstico, entendeu? Você é a Senhora Black. Você é uma Black. Tem que ser tratada como uma. – Druella inclinou-se na mesa, revelando seu decote e seus seios fartos por conta da gravidez. – Aja como uma Black.

Mas ela não era corajosa como Druella, morria de medo de Orion. Mas ainda assim confidenciou a ela sobre suas dolorosas noites. Mas a Rosier riu tanto dos relatos que até ficou vermelha. Cretina, um apelido carinhoso que Druella dera a senhora Black, passou pela cozinha, vigiando as duas.

– Ah Walburga, você tem tanto potencial, mas é tão estúpida. Você é uma mulher ou um cavalo? Me responda.

– Uma mulher. – havia incerteza na voz de Walburga, mas Druella ignorou.

– Então você tem que agir como uma! Na cama, você manda nele. Hoje a noite, quando ele te virar de bruços, segure os punhos dele. Não deixe ele te controlar. É você que vai controla-lo. Monte nele, rebole, entrelace seus dedos nos dele e olhe no fundo dos olhos dele. – Walburga olhou Druella maravilhada.

– Como você sabe disso tudo?

– Minha mãe me ensinou. – sorriu ela. – E como sua mãe não está aqui pra te ensinar, eu ensino. Faça o que eu disse. Mande nele. Seja uma Black.

Quando a noite chegou, Walburga estava nervosa, porém determinada. Quando Orion se despiu e passou a mão na cintura dela, ela repreendeu os espasmos e os flashes de memórias ruins de seu pai. Acariciou o peito do marido, olhou pela primeira vez em um ano de casados, seu membro. Quando Orion tentou dominá-la, ela teve o punho forte.

– Essa noite não. – E Orion deitou-se na cama, imerso nos olhos negros da esposa que montou nele e cavalgou como se estivesse em um cavalo. Entrelaçou seus dedos no dele e olhou em seus olhos. Ela entendeu tudo que Druella disse. Ela sentiu o frio em sua barriga subir, sentiu os espasmos, mas eram prazerosos. E Orion parecia gostar, ele parecia gostar quando a acariciou carinhosamente.

Assim fora todas as noites depois daquela.

E quando Walburga de alguma forma desrespeitou Orion nos conceitos dele, e o mesmo levantou sua mão para ela. Ela o segurou firme e forte.

– Você não vai mais levantar a mão para mim. – sua voz era fria e grave. – Uma Black não apanha sem motivos.

E o marido sorriu para ela pela primeira vez.

– Demorou mas aprendeu.

E Orion nunca mais bateu nela.

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Pollux foi preso por assassinar mais de cinquenta trouxas.

Walburga ficou feliz, tanto pelas morte como pela prisão do pai. Trouxas. Era a única coisa que a fazia se sentir melhor, superior, especial e importante. Desde pequena, ela foi educada com a regra rígida do sangue. Ouviu milhares de histórias sobre bruxos derrotando trouxas e como sua raça era inferior. Na casa dos Black, não foi diferente. Lucretina infiltrou sua ideologia na cabeça dos moradores até o último dia de sua vida. Às vezes, Orion e Cygnus traziam trouxas para a casa e os prendiam no porão.

Druella gostava de torturá-los para fazer Bellatrix rir.

Walburga não achava engraçado como a bebê de Cygnus, mas torturava. Ela sentia prazer. Poder. Liderança. Era ela quem mandava agora. Agora ela era a dona da situação. A dona da varinha. Ela não era uma linda tolinha. Era uma bruxa.

– Vai com calma. – ordenava Orion. – Tem que sentir. Realmente sentir, entende?

Ela assentia, observando o marido.

– Precisa ir com calma, para saborear. Se for intenso demais, pode matar. Agora, se quiser enlouquece-los, precisa de cautela. – Orion a levou para todos os lugares mais influentes que existiam. Visitaram a Bulgária e juntos estudaram as mais antigas e poderosas magias do mundo bruxo. Magia das Trevas de verdade. Feitiços e poções que faziam atrocidades, promessas e encantamentos poderosíssimos e quase inquebráveis. Aprenderam e praticaram juntos, dois anos inteiros viajando atrás de informação.

Walburga nunca foi tão feliz.

Quando os dois retornaram a Mui Antiga e Nobre Casa dos Black, Bellatrix e Andrômeda eram as donas da casa. Duas menininhas engatinhando de um lado para o outro, orgulhando os pais profundamente. Walburga gostava da mais velha, Bella, mas não queria bebês. Não sabia ser mãe, então não podia ter bebês. Mas Orion não pensava daquele jeito, e não demorou muito para que lhe deixasse grávida.

Ela sentia aquela coisa se mexendo dela e morria de vontade de tirar. Queria aquilo fora dela o mais rápido possível. Tinha nojo, medo, não queria um bebê, simplesmente não queria. Mas não se atrevia a dizer isso a Orion, pois sabia que tinha que ter um maldito bebê. Manter o nome dos Black. Precisava manter o nome.

O sangue.

E ela sentia o bebê. Realmente o sentia. Quando um galho saia entre um que ligava seu nome ao de Orion naquela tapeçaria velha e encardida se formava delicadamente com o passar dos meses, ela tinha ciência do que estava acontecendo. E quando veio, ele mostrou-se um verdadeiro Black. Era um garotinho. Saiu rasgando a mãe aos berros de protesto, não parava quieto, agitado e parecia decidido a não calar a boca. Orion sorriu para ele e Walburga também, na empolgação do momento, afinal, seu marido raramente sorria.

Sirius Black foi o primeiro amor da vida de Walburga Black.

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Ela deitava-se na cama e ficava lá o dia todo com seu bebê.

Passava seus dedos em seus cílios pesados, observando seus olhos acinzentados igual aos de Orion, totalmente encantada em como ela fizera aquilo. Ele tinha seus cachos, seu nariz, sua boca, os olhos de seu marido... Era perfeito. Amava beijar seus dedinhos, sua bochecha lisa e naturalmente cheirosa. Não desgrudava dele um segundo sequer, nem para deixar Bella e Andie brincarem com o novo bebê Black.

– Com licença. – Walburga fingia estar dormindo quando via Bellatrix implicar com a curandeira que cuidava de Sirius nos primeiros meses. – Quero pegar o bebê Sirius no colo.

– Ele está dormindo, querida. – replicava a curandeira, sorrindo para a menininha de quatro anos.

– Não me interessa! Ele é meu! – e o pegava no colo. Andie acariciava seus cachinhos e Bellatrix ficava encantada, apenas observando a criança em seu colo.

Orion só pegou seu filho no colo duas vezes. Ele dizia que não queria, mas Druella disse que ele morria de medo de fazer algo errado, essa era a verdade. Quando viu seus grande olhos no filho, Orion sorriu pela terceira vez, que Walburga se lembre.

Seu marido sorriu apenas sete vezes em toda vida.

Quando ela se tornou uma Black; quando seu primeiro filho nasceu; quando viu seus olhos em seu primeiro filho; quando seu segundo filho nasceu; quando Voldemort apareceu; quando Sirius duelou por sua família em um natal; quando Voldemort detonou alguns membros Ordem da Fênix.

Walburga acha que ele também teria sorriso quando Regulus tornou-se um Comensal, mas ele não estava vivo para isso.

O segundo filho veio dois anos depois e era como se o DNA se Sirius tivesse se distorcido e invertido para que fosse o de Regulus. Nasceu rápido, quase indolor, um anjinho. Era silencioso, carinhoso e pouco social. Walburga queria uma menina igual Druella, que já tinha três, mas as coisas em sua vida nunca eram como ela queria.

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Sirius e Regulus eram totalmente diferentes.

O primeiro filho era uma praga. Dava um trabalho do inferno, mimado, arrogante, prepotente, gostava da indepedencia, nunca estava satisfeito com o pouco, sempre queria mais. Era inteligente, ágil e encantador. Walburga era apaixonada por ele, fazia todas as suas vontades, o que deixava Orion possesso. Ele gostava mais de Regulus. Era quieto, observador, tão inteligente quanto o irmão, mas era mais esperto que o ousado e impulsivo Sirius.

Nas brincadeiras, Sirius era o que aprontava e Regulus o que se machucava ou saia antes que algo desce errado.

– Sua menininha! – debochava Sirius. – Medrosa!

– Não me chame assim. – Regulus parecia magoado.

– Vai chorar? – ria Sirius em tom de desafio. Era intimidador, tanto que Regulus segurava o choro e erguia o queixo para o irmão enquanto voltava para dentro da casa. – Não vale chorar no banheiro, bobão.

Eles cresceram tão rápido que Walburga assustou-se quando teve que comprar o material de Sirius para Hogwarts. Ela sempre conversou com o filho sobre as amizades. Avisou que ele iria cair na Sonserina, e tinha certeza que faria muitos amigos influentes. Dizia que ele não podia se misturar com a ralé.

– Qual a diferença? Não é da mesma cor, mesmo tamanho, só não muda o nome? – o filho a deixou sem ação com aquele rostinho tão semelhante ao do pai. – Digo, quando nós morrermos, não vamos todos pro mesmo lugar? Qual a diferença?

E então Walburga lhe deu um tapa na boca.

– Eu já disse que se você se misturar, seu pai te mata. E eu também. É melhor não duvidar, Sirius, é melhor não duvidar! – contrariado, ele crescia a tromba e ficava emburrado a semana toda, sendo seco e ignorante com todos que tentavam amaciá-lo. Era tão seu filho, tão filho de Orion, que ela sentia orgulho.

Quando o seu menino entrou no expresso e não olhou para trás nem mesmo para se despedir, após o trem virar, ela teve que pedir licença e correr para o banheiro da estação, com uma desculpa lavada. Sua garganta estava trancada, seu coração havia parado de bater e encolheu-se tanto que por pouco não sumia de vez. E o bebê que ela passava o dia todo embalando em sua cama foi embora.

Ela nunca chorou tanto em toda sua vida.

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Uma guerra estava acontecendo, e ela já tinha um lado.

Mas era vergonhoso apoiar este lado tendo um filho que sujou a família. Maldita seja Druella que tem coragem de apontar seu dedo podre para Sirius sendo que sua filha casou-se com um sangue-ruim, um crime pior do que o de Sirius.

O primeiro Black a não ser a Sonserina.

– Ah, sempre tem uma primeira vez. – Walburga lembrava-se daquela frase do filho como se fosse ontem, uma justificativa para seu crime. Ela fitava o rapaz de dezesseis anos sentado a sua frente, comendo desesperadamente como se a comida fosse acabar a qualquer momento. Ela olhava para seu lado e via seu marido, aquele era seu filho mais velho. E a sua frente, a cópia do homem que se casara com ela. O nariz de Walburga se torcia naturalmente ao ver as roupas trouxas do filho.

– Você estava preso ou algo do tipo? Está me enojando. – Bellatrix era muito parecia com Walburga aparentemente. A única que puxou a delicadeza de Druella, fora Narcisa.

– Feche os olhos ou retire-se. – retrucava Sirius.

– Mamãe, Sirius comeu todo o purê! – estrilava Narcisa.

– Toma essa porra, engole! – Sirius jogou todo o purê no prato de Ciça. Druella olhou o sobrinho indignada.

– Não fale assim com ela, Sirius.

– O quê eu disse demais?

– A palavra com p. – Regulus rolou os olhos.

– Porra? – Sirius uniu as sobrancelhas, com duas coxinhas nas mãos, ainda mastigando algo. Aquele era o jantar de Natal. E Walburga mal pôde acreditar que foi a última vez que ouviu aquela gargalhada alta, que se assemelhava muito a um latido. A última vez que viu aqueles olhos intensos, a arrogância em cada poro do rosto do filho e nem seu humor natural.

Ele fugiu.

Olhou em seus olhos naquela mesa e a noite fugiu.

Fugiu.

Deixou-a para trás.

O homem se sua vida havia fugido.

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As mãos nodosas acariciaram os postêrs na parede.

Mulheres semi-nuas que não se mexiam.

Walburga estava confusa, não sabia direito em que ano estava. Olhou ao redor e se perguntou como deixou o quarto de seu bebê chegar aquele estado. Gritou Monstro e ordenou que lustrasse cinco vezes todo o quarto. Que lambesse o chão se fosse necessário. Ela sentia tontura e se apoiava nos móveis, confusa. Gritou Orion por toda a casa, onde estava seu marido?

– Meu menino vai chegar daqui a pouco para o natal. – Regulus aparecia na porta, e seu olhar era de pena. – Onde está seu pai? Ele disse foi buscar o presente do meu menino.

– Mãe... Papai morreu há muito. – Walburga não entendia as loucuras que o filho mais novo estava dizendo. – E Sirius se foi há quatro anos.

– Ora Regulus, não seja tolo...

– Você precisa das suas poções, vamos...

– É Natal, não preciso de poções! Quero ver meu vestido para esse réveillon de 73! – Regulus suspirava enquanto descia as escadas com sua mãe.

– Estamos em 1979, mamãe.

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FREIGHT TRAIN

O coração é um órgão que bombeia sangue, que te mantem vivo e de pé.

Às vezes ele entope, mas faz parte.

Walburga Crabbe Black sabia muito bem que um coração era cheio de arterias, sangue e carne, mas ela podia jurar que eu coração era vazio e gelado como uma pedra. Ela não sabia porque, ou em que momento de sua vida ela se perdeu. Talvez com a falta da mãe, abuso do pai ou a difícil vida que levou ao lado dos Black. Talvez seu filho esteja mesmo certo, talvez ele sempre esteve certo no fim das contas...

Ouvi dizer que os Black são loucos.

Ela era no fim das contas, não era? Mas ela sentia-se uma mãe amorosa e completa quando em sua mente perigosa, pegava seu bebê Sirius no colo novamente. Abraçava seu filho Regulus, que cuidou dela até quando pôde. Dos momentos dos quais ela não se lembrava, onde sua mãe a embalava e dizia o quanto a amava. E talvez, em todas as vezes em que Orion sorriu, especialmente nas que foram para ela.

Ela viveu o suficiente. Viveu sim.

É uma vida, pensava ela, daqui a pouco passa.

Mas o céu é infinito.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Acho que eu não deixei muito claro porque ela era tão paranóica... Mas eu só queria deixar fatos e vocês que tirem suas conclusões.
Me falem o que vocês acham dela.

MUAAAAAAAAAAAAAAAH ♥