Jogos Vorazes - O Retorno escrita por valverdegyy, Carol Pantaleão


Capítulo 4
Capítulo 4 - Vida "Nova"


Notas iniciais do capítulo

Heeeey guys, desculpem a demora! Falta de coragem e de criatividade dão nisso. Maaas, aqui está o capítulo fresquinho que acabou de sair do forno (eu realmente terminei de escrever agorinha) para vocês verem como sou legal... ENJOY!



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 - Rebecca Williams.

 A garota de cabelos loiros e olhos castanhos que está ao meu lado suspira. Lentamente, ela se encaminha ao palco com seu vestido laranja esvoaçante e seus saltos coloridos.

 O medo toma conta de mim. Ela tem a minha idade!

 As palmas da minha mão começam a transpirar no momento em que Paylor pega um novo papel. 

 - Ava Halter. – uma garota sai da fila das garotas de 12 anos.

 - Boa sorte! – ela sussurra para uma menina ao seu lado com um sorriso estampado no rosto.

 Ava parece o tipo de filha mimada e extremamente convencida. Pelo menos é o que seu sorriso e seu caminhar me dizem sobre ela. Emanando confiança com seus longos cabelos metade rosa e metade roxo se movimentando com a brisa, mantém a cabeça erguida enquanto se dirige ao palco. Usando um vestido pink bufante e um salto verde neon, ela sustenta uma expressão de quem realizou o desejo de sua vida.

 Não consigo disfarçar a minha repugnância diante de tal atitude.  É como se tivesse visto o futuro e soubesse que sairá vitoriosa... O mais bizarro é que não consigo ver a cor de seus olhos, como se fossem totalmente sem cor.

 - Roma Gottarge. – a garota à quem Ava tinha dirigido suas palavras levanta a cabeça. Mas não é ela quem sai da fila e, sim, a que está ao seu lado esquerdo.

 Roma tem olhos azuis e cabelos negros com mechas vermelhas, verdes, amarelas, rosas, roxas e azuis por todo o cabelo dando contraste com seu vestido preto, dourado e magenta. Descendo pela alça única do mesmo, há rosas de pétalas prateadas que terminam na cintura, marcada por um cinto preto. Seus saltos pratas são transparentes no salto, dando a impressão de que ela está flutuando.

 A garota que levantara a cabeça quando o nome de Roma fora chamado está inquieta, brincando nervosamente com suas mãos que estão atrás de seu corpo. Repetidas vezes ela as limpa em seu vestido branco e verde.

 - Sonea Gottarge?! – Paylor parece ter ficado confusa.

 Então a dona do vestido branco e verde vibra de alegria e corre, literalmente, em direção ao palco.

 Me espanto quando percebo que ambas são iguais, pelo menos de rosto. Espera, elas são gêmeas? Parece ser a única explicação para o fato de que as duas possuem a mesma idade.

 Sonea e Roma dão as mãos quando se encontram no palco.

 Assim como a irmã, a recém sorteada também tem mechas no cabelo, porém são todas azuis. Sua vestimenta é mais simples que a de Roma, sendo finalizada por uma sapatilha branca. Parecem ser o tipo que não desgrudam nunca.

 - Aniya Stebi. – os olhos de Paylor percorrem pela multidão.

 Um pouco mais a frente, uma garota loira com uma tiara neon que muda de cor sai da fila de 10 anos com seu vestido amarelo simples. Mesmo sendo um pouco longe de onde estou, não há como não enxergar seu cinto prata e sua sapatilha dourada. Por que as pessoas são tão extravagantes?

 Começo a reparar no meu próprio visual e me sinto como um peixe fora d’água. Enquanto muitos ao meu redor usam roupas chamativas, com excesso de brilho e muita purpurina, pareço mais uma garota que costurou suas próprias roupas. Me encolho um pouco dentro de minha jaqueta cinza.

 Quando acordei nesta manhã eu estava mais preocupada com a possibilidade de ser sorteada, de ir parar na arena. Não fiquei pensando em como as pessoas iriam reparar em mim quando meu nome fosse chamado. Por isso, me enfiei em um vestido estampado de flores laranjas e amarelas, coloquei uma jaqueta jeans cinza por cima e calcei meu coturno de caveira. Para completar, fiz trancinhas em algumas mechas do meu cabelo e as enfeitei com mais caveiras. Sim, eu gosto de caveiras. Pode até parecer um look razoável, mas as outras pessoas estão tão coloridas e cheias de vida em suas roupas pomposas que me sinto muito apagada no meio de tudo isso.

 Se eu realmente for escolhida, eu vou ser esquecida no meio de tanto glitter e cores fluorescentes, com certeza. O que significa zero patrocinadores para a Sam... Maravilha! Vai ser uma morte iminente! Reviro os olhos. Sou tão patética!

 - Samara Parker. – meu coração dispara ao mesmo tempo em que meu corpo trava. Não consigo me mexer!

 Enquanto tento ordenar a mim mesma para reagir, algumas pessoas do rol em que me encontro olham para mim. Alguém encosta no meu ombro.

 - O que está esperando? – uma menina sussurra no meu ouvido. – Ei, estou falando com você!

 - Samara Parker, por favor se dirija ao palco. – a voz de Paylor ecoa em minha mente.

 Vagarosamente, vou recuperando o controle de meu corpo e começo a caminhar para fora da fila.

 - Aí está você! – Paylor me fita com seu olhar duro enquanto vou ao seu encontro. O pior de tudo é que ela não é a única. Todos estão fazendo isso, Panem inteira está me assistindo. O pânico ameaça surgir e começo a hiperventilar.

 Por favor, não vá ter um ataque aqui, Samara! Estão todos te vendo, prestando atenção em você. Quer que seja assim a forma como irão se lembrar do momento em que foi sorteada? Tento me acalmar, mas parece inútil. De repente, me lembro das palavras de minha mãe.

“ [...]

 - Prometa que será forte [...] Que nunca desistirá, nem por um segundo.”

 Você prometeu; prometeu a ela que suportaria o que fosse preciso! Não pode desistir agora.

 Aos poucos, minha respiração volta ao normal. Começo a caminhar com mais confiança, com mais determinação.

 — Faço isso por você, mãe! – falo baixinho enquanto subo no palco e paro ao lado de Sonea.

 O sorteio continua e mal presto atenção a partir de então, me focando apenas na promessa que fiz a alguém que muito me amou.

 - Jessica White. – uma garota tão sem graça quanto eu sai da fila de 10 anos. Ela usa uma saia azul ciano sem muitas frescuras e uma blusa listrada de rosa e amarelo, todos em tom pastel. Seus sapatos são igualmente simples, com um pequenino laço na sapatilha branca. Possui o cabelo branco na altura do maxilar, propositalmente volumoso na parte de trás e uma franja maluca que foi cortada em diagonal. Isso mesmo! Pegaram uma régua e cortaram a franja da coitada em diagonal, fazendo com que a ponta maior termine no queixo. Assim, seu olho esquerdo está encoberto pelo penteado maluco. É, provavelmente, a maior extravagância que há nela.

 Quando ela se aproxima, descubro que estou errada! Há glitter em seu batom lilás e também em sua sombra bege. O que será que os pais desses pirralhos têm na cabeça?! Suas unhas estão cobertas de purpurina e uma, em cada mão, é laranja fluorescente.

 Ela para ao meu lado e percebo que me analisa pelo canto do olho.

 - Madelyn Damore. – ela sai do rol de 14 anos e caminha rapidamente em nossa direção, mantendo a cabeça erguida e um olhar sério. A analiso melhor quando se aproxima e imediatamente descubro que gosto dela.

 Com o cabelo castanho metido em um rabo de cavalo, Madelyn está usando short jeans preto, blusa branca e uma jaqueta roxa bem descolada, além de um coturno preto como o meu. Porém o seu possui detalhes rosa ao invés de caveiras. Talvez possa ser uma boa parceria. Tento ler os seus pensamentos olhando em seus olhos antes de ficar ao lado de Jessica, mas a única conclusão a que chego é que esta é uma garota misteriosa com um par de olhos cor de mel.

 Tá aí alguém que eu realmente quero conhecer! Sem mais, quero esta guria no meu time. Sorrio com o pensamento voltando a olhar para a multidão.

 - Que saco! Isso nunca vai ter um fim? – murmuro o mais baixo que posso, mas acabo atraindo o olhar de Sonea.

 - Está tão ansiosa assim para passar a faca nos outros? – seu sorriso malicioso me lembra Rafael, mas alguma coisa em seus olhos me diz para ter cautela.

 - Só quero dar o fora daqui! – reviro os olhos. Paylor chama outro nome. – Já parou para pensar que ainda restam 12 garotos para serem chamados? – olho mais uma vez em seus olhos. São de um azul incrível, quase no mesmo tom que suas mechas. Ao ouvir minha pergunta, ela dá um risinho baixinho e se vira para a frente. Qual a graça?

 - Jacqueline, não temos o dia todo! – Paylor está impaciente.

 Em seguida, uma garota ruiva e olhos cor de oliva se aproxima, com a cabeça baixa. Ela usa um vestido azul marinho, com detalhes pratas e sapatilha preta. Evidentemente, ela não queria estar aqui. Seu cabelo está trançado de uma forma tão confusa que não sei dizer onde cada uma das várias tranças que formam uma ainda maior, terminam. Pelos comentários entre Sonea e Roma, descubro que ela possui 11 anos. Pobre garota!

***

 Depois que a colheita termina, nos dirigimos para dentro de uma espécie de Edifício da Justiça.

 Normalmente, os tributos eram encaminhados para lá para se despedirem de seus amigos e parentes. Dessa vez, somos deixados em uma sala ampla, com comidas e refrescos.

 As portas se abrem.

 - Olá, tributos! – Paylor entra sorrindo. – Hoje é o fim de suas vidas “normais” e o começo de uma dedicada a sobrevivência. Vocês permanecerão neste salão por um curto período de tempo até que os últimos detalhes sejam acertados. Depois, serão divididos em três grupos de oito pessoas e cada um terá um mentor e uma mentora. – ela olha para cada um de nós e continua. – Quero que usem este momento para descansarem, se conhecerem e, claro, sintam-se à vontade para comer. Por enquanto, este é o único recado.

 Ela se encaminha para a porta e para repentinamente, voltando-se para nós.

 - Como nos veremos apenas em uma outra ocasião, quero lhes desejar bons Jogos Vorazes e que a sorte – ela dá um enorme sorriso. – esteja SEMPRE ao seu favor! – e se vai.

 Não havia passado muito tempo no decorrer da colheita, mas entendo o porquê da comida nesta sala. Estava perto da hora do almoço e era indispensável nos alimentar, afinal ainda temos muitas horas até sermos mandados para nossos quartos.

 - Ei, Sam! – Rafael vem até mim e nos abraçamos.

 Quando ouvi seu nome ser chamado, parte de mim pulou de alegria e a outra parte queria implorar de joelhos para que ele fosse poupado. A ideia de morrer era horrível, mas a hipótese de ver o meu melhor amigo morrer, de perde-lo... Era insuportável!

 - Isso não é justo! – digo assim que nos desvencilhamos. – Você não tinha que estar aqui, não mesmo!

 Ele me olha confuso.

 - Por que não? Não sou forte o bastante para sobreviver? – ele finge estar ofendido.

 - Não é isso, seu idiota! – dou um soco de leve em seu ombro. Sento-me no sofá mais próximo.  – Sabe, ao mesmo tempo que estou feliz por você estar aqui, estou triste. – olho no fundo dos seus olhos quando ele senta ao meu lado. – Só um de nós vai sair vivo, você sabe disso.

 - Eu sei... – ele segura a minha mão e me olha com ternura. – E vai ser você!

 - Esse é o problema! – as lágrimas começam a brotar nos meus olhos. – Pode ser que nós dois morramos, pode ser que um de nós saia vitorioso. E eu não quero ser a que vai viver. Seria horrível! Isso quer dizer que você morreria e eu não estou pronta para te perder. – ele sorri maliciosamente e o fuzilo com os olhos quando percebo o que está sugerindo. – Idiota!

 Me levanto bruscamente e vou até a mesa de muffins, pegando quatro: dois de baunilha e dois de chocolate.

 - Uau, parece até que não te alimentaram hoje! – ele surge ao meu lado.

 - Vai se ferrar! – pego um muffin de morango da mesa e jogo nele. Ele pega outro e joga em mim.

 - GUERRA DE COMIDA! – Mason Carrey grita e a baderna começa. Sim, essa peste foi sorteada!

 Sou atingida por bolos, pudins e outras espécies de guloseimas. Enquanto dou o troco, tento me recordar de cada um.

 Um garoto com cabelo e roupas em tons degrade de roxo de 9 anos é atingido por uma torta de amora. Frank Welckman. A garota que jogou a torta usa peruca azul clara, como a daquela mulher que sorteava os tributos do distrito 12, saia vermelha e uma blusa amarela de manga comprida com uma bota de cano alto listrada de branco e preto. Ela tem 10 anos e é irmã mais velha de um garotinho de 9 anos, cabelo castanho claro e de olhos castanhos, como os dela. Anna Mel e Thomás Espinoza. Ela fora atingida por um pedaço de bolo e está em um canto afastado da confusão junto com seu irmão enquanto reclama sobre como estragaram sua peruca e a tira para ver a porcaria que sua amiga capilar virou. Ela também possui o cabelo castanho claro.

 Perto de Rafael estão as gêmeas do mal fazendo de vítima Mason, meu arqui-inimigo de 13 anos. O garotinho que eu vi se agarrar a sua mãe depois do primeiro anúncio de Paylor se chama Arthur Dawson e possui 8 anos. O coitado está aterrorizado, escondido embaixo da mesa. Ao lado dele estão dois outros garotos da mesma idade: o mimado Leopold Melvin, com seu cabelo loiro lambido, terno branco e sapato social preto muito bem engraxado; e Ethan Preaker que parece ter sido vítima de uma mãe sem noção que o fez vestir uma calça vermelho sangue e uma blusa rosa bebê, junto com um tênis branco com cadarços que alternam entre as cores do arco-íris. Seus cabelos são castanho-claros como seus pequenos olhos arregalados que a tudo assistem.

 Kendl Lesley, uma pirralha de 9 anos, se junta as Gottarge e lambuza Mason com um manjar de ameixas. Quando o mesmo resolve revidar com gelatina colorida, acaba acertando não só ela, mas, também, Ava. Os cabelos de Kendl viram um grude, escurecendo ainda mais suas madeixas loiras. Seus pequenos olhos verdes estão arregalados e seu vestido colorido está arruinado. Ela sorri, depois de analisar o estrago e joga torta de coco como revanche. Mason abaixa e a torta atinge um garoto de 13 anos. Myron Darnell. Porém, ele não revida.

 Ele é um garoto muito bonito. Negro, com pequenos dreads pratas no cabelo, ele usa lentes douradas, calça branca, blusa verde escura com um casaco branco e chinelos brancos com detalhes em verde.

 Os irmãos Mike e Ayden Fletcher, de 11 e 10 anos respectivamente, começam a fazer uma pequena guerra entre si. Ambos possuem cabelo preto e olhos verdes. Usam roupas semelhantes: o primeiro usa calça jeans preta, uma blusa que é dividida na vertical por duas cores, sendo azul e verde fluorescente e tênis branco. O segundo usa calças jeans azul, blusa metade prata e metade dourada e tênis preto.

 Melissa Ruler, de 14 anos, Robert Hudson, de 12 anos e Junior Hernández, de 10 anos, são os únicos que não estão brigando. Na verdade, estão sentados em um sofá ignorando todos e conversando entre si. Com cabelos coloridos (vermelho, amarelo e verde, respectivamente), eles têm olhos cinzas e usam roupas de formas geométricas bizarras, todas com muita pompa e glamour. Todas extremamente berrantes, você quer dizer...!

 No momento em que vou jogar um bolinho em Mason, um bêbado loiro e com olhos cinzas entra no recinto.

 - MAS QUE PORCARIA ESTÁ ACONTECENDO AQUI? – atrás dele surge uma mulher com uma peruca tão extravagante quanto a de Anna Mel.

 - O que significa isto? – seu rosto se transforma em uma careta de frustração.

 Uma última torta voa e acerta a camisa amassada do maluco embriagado. Ele olha para a camisa e depois para Mason que foi quem jogou a torta.

 - Ops! – Mason dá um sorriso sem graça enquanto passa uma das mãos na cabeça. O clássico gesto de quem faz merda e se arrepende!

 - AH SEU MOLEQUE! – o estranho da camisa suja avança na direção do zé ruela, mas é impedido pela Cabeça de Algodão (vulgo a mulher de peruca).

 - Haymitch, você ficou louco? Não pode atacar o garoto! – ele parece ficar transtornado por não poder ceder aos seus instintos. - E quanto a vocês – ela volta sua atenção para nós. – que tipo de comportamento é esse? Nem parece que são civilizados!

 Todos ficam em silêncio e percebo que alguns abaixam a cabeça, o que parece acalmá-la.

 - Como já lhes foi dito, vocês serão divididos em três grupos de oito e...

 - Tenho uma pergunta. – Leopold sai debaixo da mesa, arrumando seu cabelo lambido. – Por que fui sorteado? Quer dizer, isto aqui foi claramente um erro. Eu sou de uma das famílias mais importantes desta cidade e exijo que isso seja tirado a limpo!

 - E desde quando vir de uma família importante te torna imune de ir para a arena? – Leopold fica ofendido. – Olhe ao seu redor, garoto. Acha que é só você que pertence a classe alta? Se toca, moleque! Estamos na Capital! Todos aqui valem mais do que aparentam. – Haymitch se serve de um líquido branco.

 Leopold fica mudo. Ouço algumas risadinhas e vejo Rafael se segurando para não gargalhar.

 - Não acha que já bebeu demais por hoje? – a mulher toma o drink de sua mão.

 - Eu não sou nenhuma criança, Effie! Por isso, se não se importa... – ele pega a bebida de volta. – Agora dá logo o seu recado para eu poder dar o fora daqui.

 Ela fecha a cara mais uma vez, porém se recompõe rapidamente.

 - Como eu dizia, vocês serão divididos de acordo com um sorteio prévio. – Haymitch lhe estende um papel. – Por favor, quando ouvirem seu nome deem um passo à frente. – ela limpa a garganta. - No primeiro grupo temos Jacqueline Lefrere, Rebecca Williams, Melissa Ruler, Kendl Lesley, Robert Hudson, Mason Carrey, Ethan Preaker e Leopold Melvin.

 Todos os que foram chamados fazem uma fila. Effie continua.

 - Seus mentores são Katniss e Peeta. Sigam-me!

 Ela sai com os tributos atrás dela.

 - Você deu sorte. – Rafael sussurra. – Conseguiu se livrar do Mason.

 - Agora tenho que torcer para que fiquemos juntos. Seria muito chato te ver apenas durante os treinamentos... – suspiro. Effie retorna.

 - Continuando... o segundo grupo será composto por Sonea Gottarge, Jessica White, Aniya Stebi, - um frio percorre a minha espinha. – Roma Gottarge, Ayden Fletcher, Junior Hernández, Myron Darnell e... – minhas mãos começam a transpirar. Por favor, a gente tem que ficar no mesmo time... Por favooooor! — Rafael Reflin.

 Arregalo os olhos e começo a hiperventilar. Não poder ser verdade. Ela deve ter lido errado. Isso não pode estar certo!

 - Sam, está tudo bem! – ele aperta a minha mão. – A gente ainda vai se ver nos treinos, okay?

 - Os mentores de vocês são Beetee e Enobaria. – Effie continua. - Por favor, me sigam!

 Dou um último abraço em Rafael e ele segue os membros de seu grupo. Sinto uma vontade incontrolável de chorar como uma criança que foi abandonada, mas consigo me conter. Só não sei por quanto tempo...

 - O restante vem comigo. – Haymitch sai e o seguimos.

 Meu grupo ficou composto por Ava Halter, Anna Mel Espinoza, Madelyn Damore, Frank Welckman, Mike Fletcher, Thomás Espinoza, Arthur Dawson e eu.

 Somos levados diretamente para o elevador e ao chegarmos no terceiro andar, local em que ficaremos pelos próximos dias, encontramos Johanna Mason largada no sofá assistindo tv. Até aqui esse nome me persegue!

 - Johanna, agora é com você!

 Haymitch some por uma porta. Um silêncio preenche a sala.

 - Ainda terá um desfile conosco? – os olhos de Ava brilham de excitação.

 - Não sei e, sinceramente, não vejo necessidade nisso! – Johanna se levanta. – Todo mundo aqui se conhece e é conhecido pelos outros. Os desfiles eram para que os habitantes da Capital conhecessem os tributos. A única coisa que sei é que vocês terão que ser muito carismáticos na entrevista, pois dessa vez quem irá fornecer os suprimentos serão os próprios distritos.

 Um murmúrio enche o ambiente. Pelo jeito como as conversas fluem, todos haviam se esquecido desse detalhe. Já que normalmente eram os distritos quem participavam dos Jogos, fazia sentido que a Capital fornecesse o necessário através de patrocínio. Mas agora que os papéis se inverteram, seria estranho se continuássemos como os principais patrocinadores; ficaria muito fácil para os queridinhos, filhos de pessoas importantes, receberem comida, armas, remédios e armadura (este último sendo bem raro).

 Parece que os planos de alguns mimados foi por água a baixo... Tal pensamento me deixa feliz e preocupada ao mesmo tempo. Significa que teremos de convencê-los de que valemos a pena.

 - Então, o que fazemos agora? – pergunto.

 - O que quiserem fazer. Podem conhecer o quarto de vocês já que seus nomes estão na porta. Detalhe: vocês irão dividir o quarto com um outro tributo.

 - COMO É QUE É? – Ava surta. – Vou ter que dividir o quarto com um DELES? – ela torce o nariz enquanto olha para o resto de nós.

 - Saiba que o sentimento é recíproco. – sorrio com desprazer.

 - ARGH! – Johanna revira os olhos. – Reclamar não vai fazer com que ganhem um quarto individual. Agora, por que não vão dar uma volta? Maldita hora em que aceitei ser mentora. – ela resmunga enquanto se afasta.

 Começo a analisar o lugar. As paredes da sala são cinza e o chão se parece com uma espécie de vidro preto. No centro, há dois grandes sofás amarelos, um tapete felpudo marrom escuro e uma televisão enorme pendurada na parede. Entre ela e os sofás, há uma mesa de centro de mogno e um belo lustre pende do teto. Ao lado esquerdo da sala, uma porta dá acesso ao elevador que nos trouxe.

 A porta a minha direita leva a sala de jantar. Nela há uma enorme mesa de vidro composta de dez lugares e um lustre pairando em cima. Também há algumas esculturas e quadros no ambiente, além de janelas gigantes que dão uma ótima vista do centro da cidade. Em um canto, uma escada leva até o nível de cima que descubro ser onde ficam nossos quartos. Me pergunto o que houve com os outros nove andares, visto que cada andar costumava ser dedicado a um distrito específico...

 Andando pelo corredor, leio os nomes que estão inscritos nas portas. Anna Mel Espinoza e Ava Halter. Frank Welckman e Mike Dawson. Madelyn Damore e Samara Parker. Arthur Dawson e Thomás Espinoza. Os meninos ficam do lado direito e as meninas do lado esquerdo.

 Entro no meu quarto.

***

 - ACORDA, SAMARA! – uma loira horrorosa está em cima de mim, me chamando.

 - Mas que porra é essa? – me esquivo de um Haymitch despenteado e com bafo de álcool.

 - Estou te chamando a horas, garota. Vamos! O jantar está servido.

 - Tá, já vou... – digo bocejando.

 Ele sai do quarto. Eu não havia percebido que tinha dormido até ser sacudida desse jeito. Nossa, que brutalidade! Minha alma deve ter saído do corpo e voltado várias vezes...

 Desço e encontro todos sentados a mesa e o jantar sendo servido por uma Avox. Para a minha tristeza, sou obrigada a me sentar de frente para Haymitch e pela primeira vez desde que fui chamada me sinto sozinha no meio de uma multidão. Começo a desejar que meu amigo estivesse comigo.

 - E então, ansiosos para o primeiro dia de treinamento? – Johanna pergunta.

 - Super... Mais ansiosa ainda para poder voltar para a minha cama.

 - Já não babou o suficiente? – Haymitch esboça um sorriso sarcástico.

 Frank e Mike dão risada.

 - Que nojo!

 - Você é um saco, sabia! – Anna Mel lança um olhar mortal para Ava Azeda que, por sua vez, mostra a língua. – Infantil!

 - Olha quem fala! Pelo menos não sou eu quem usa uma peruca ridícula. – ela rebate.

 Então, uma discussão começa. Ava e Anna Mel trocam farpas, enquanto Haymitch e Johanna tentam fazê-las parar e ao mesmo tempo reclamam. Arthur coloca um pouco de sua bebida laranja na boca e cospe em Mike que revida. Frank e Thomás estão fazendo uma pequena guerra de comida com os grãos de seus pratos. Madelyn observa a tudo horrorizada e eu, dou de ombros e começo a devorar tudo o que vejo pela frente.

 Caralho, até parece que nunca viu comida antes!

 - CHEGA! – Haymitch grita e levanta exasperadamente, esbarrando em um Avox que servia um líquido azul e derramando boa parte em Johanna.

 Ela o fuzila enquanto todos começam a rir, incluindo eu. Eles começam a discutir entre si enquanto o pobre Avox tenta desesperadamente reparar os danos.

 - PRA MIM JÁ DEU! – Johanna levanta e sobe as escadas, pisando duro. Seus olhos pareciam pegar fogo.

 - Parece que alguém se deu mal! – tento segurar a risada, mas um pequeno sorriso escapa dos meus lábios.

 - Por que não cala a boca?

 O olhar de Haymitch para em mim e me arrepio toda. Algo em sua expressão diz que se não fosse pelos Jogos ele voaria, sem sombra de dúvidas, no meu pescoço.

 - Vou dar o fora daqui! – me levanto, jogando o guardanapo na mesa e indo para meu quarto.

 Me jogo em minha cama e penso o que Rafael deve estar fazendo... Será que está tendo problemas?

 Como eu queria estar lá... com certeza tudo isso seria mais suportável.

 Madelyn entra.

 - Você deve estar sentindo muito a falta do seu amigo, né? – ela se senta em sua cama.

 Olho espantada para ela.

 - Oi?

 - Pelo jeito não se lembra de mim... – ela suspira enquanto deita de lado olhando para mim. - Somos do mesmo orfanato, mas nunca nos falamos. Mas admito que também não havia reparado em você até o dia em que Paylor anunciou que haveria esta edição. Me diz, vocês são tão próximos quanto eu acho que são?

 - Ele é como um irmão para mim. É tudo o que tenho. – ficamos em silêncio por alguns segundos. – Desculpa não ter te reconhecido... Pensando bem, me lembro de ter te visto algumas vezes, mas foi tudo muito rápido.

 Madelyn sorri.

 - Pelo menos você me notou. A maioria das pessoas nem olha para mim... – ela vira de barriga para cima, fitando o teto. – Está com medo?

 - Sinceramente, sim! Tenho medo de como as coisas serão daqui pra frente. Vinte e três de nós irão morrer e apenas um ficará para contar a história. Não quero ser esta pessoa.

 Ela me olha com curiosidade e mais alguns instantes em completo silêncio se sucedem. Penso no que se passa em sua cabeça; em como se sentiu quando perdeu sua família. Com certeza isso a abalou profundamente.

 Lembro-me de vê-la sempre sozinha, se afastando de todo mundo e preferindo a solidão como companhia.

 - Você não é de conversar com ninguém. – digo, observando-a. – Por que está fazendo isso agora?

 - Tem razão, não sou. Mas depois de tanto tempo me isolando, percebi que essa não é a melhor maneira de poupar sofrimento.

 - Sofrimento... Sei como é!

 - Bem, acho que é melhor irmos dormir. Teremos um dia e tanto amanhã. – ela se dirige ao banheiro e fecha a porta atrás de si.

 - Nem me fale...!

 Troco de roupa e me deito. Ao pegar no sono, tenho um sonho horrível.

***

 Estou em uma sala desconhecida na qual não há objetos, apenas uma porta em minha frente. Abro-a. Saio em uma rua cheia de corpos com rebeldes armados no alto dos prédios.

 Ouço alguém me chamando e viro, me deparando com meus pais vindo em minha direção. De repente, um tiro semelhante ao de um canhão estoura e vejo meu pai cair ensanguentado. Minha mãe começa a gritar e correr desesperadamente ao meu encontro. Um barulho se faz ouvir atrás de mim e percebo uma arma apontada para minha cabeça.

 Acontece tudo muito rápido e, quando dou por mim, minha mãe está caída no chão em seu leito de morte. Agacho-me para abraça-la e então, como num passe de mágica, ela some como tudo ao meu redor.

 Levanto minha cabeça e percebo que estou em outra sala. Nesta, não há portas visíveis. Um ruído no fundo do local chama a minha atenção. À primeira vista, não há nada. Quando forço minhas vistas, noto uma parede de vidro embaçada. Me aproximo na expectativa de enxergar alguma coisa, mas a névoa do outro lado é muito densa.

 Aos poucos, ela começa a desaparecer como se estivesse sendo sugada e consigo ver uma silhueta caída no chão. A pessoa ergue a cabeça e parece me ver. Com a névoa sumindo, vejo seu rosto. Seus olhos esverdeados se mostram confusos e aterrorizados enquanto o resto de seu rosto completa o quadro de desespero por estar carregado de pânico. Então ela arregala os olhos e tenta se levantar, gritando.

 Sua voz sai estridente e dolorosa. A parede de vidro abafa a maior parte de suas súplicas, mas ainda assim consigo ouvi-las mesmo sem entender a mensagem que tenta transmitir. Lendo seus lábios, vejo que ela clama por meu nome repetidas vezes.

 Por fim, cria forças e se levanta, correndo na minha direção. Ela começa a se jogar contra o vidro e soqueá-lo. Noto que é uma mulher com cabelos castanhos acobreados, usando um longo e belo vestido branco. Do nada, uma faísca surge no chão, se transformando em chamas que engolem tudo o que veem pela frente.

 Quando a mulher se depara com o fogo, arregala ainda mais os olhos que se encontram com os meus. Se debatendo mais ainda, ela grita enlouquecidamente meu nome. Então as chamas a consomem e em questão de segundos, ela desaparece.

 Um tempo depois o fogo cessa. Seu corpo preto, na carne viva. Fico chocada e surpresa quando seus olhos encontram os meus novamente. Ela força um sorriso como quem diz que vai ficar tudo bem mesmo com as lágrimas ameaçando sair. Surgem, então, mutações ao seu redor e a atacam, devorando-a em minha frente.

 Começo a gritar desesperadamente quando percebo que aquela é a mulher que estava segurando um bebê naquela foto.


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Notas finais do capítulo

Por hoje é isto, gente... Espero que tenham gosta! Vejo vocês no próximo, beijos!



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