Isto não é mais um romance água-com-açúcar escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 15
Olhar para o teto é uma forma qualquer de reflexão




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Os dois permaneciam abraçados ali por mais algum tempo, até que os soluços de Tsukuyo parassem. Gintoki esquecia, por alguns momentos, a dor que sentia do seu ferimento e se preocupava com a mulher que não parava de molhar seu ombro com as lágrimas.

— Não teve nem mesmo uma ficada?

— Bem... Teve um momento que eu acabei cedendo... – o olhar de Tsukuyo se tornou sombrio. – Mas não gostaria de falar sobre isso. Me desculpe.

— Ei, foi tão ruim assim?

Tudo fazia sentido agora. Hinowa lhe contara que Tsukuyo fora possuída à força. Em outras palavras, fora estuprada mesmo. Como essa ferida não se abriria diante de seu algoz? E como ele não enxergara antes que era algo tão grave?

Pelo menos tudo acabou. Ela estava livre de mais aquele fardo.

Nisso, o abraço se desfez. Tsukuyo, por fim, conseguira se acalmar, mas seu rosto ainda estava encharcado. Com vergonha de ter demonstrado sua “fraqueza”, desviou seu olhar do albino. Sentiu que um dedo deslizava por seu rosto, procurando secar as lágrimas que ainda corriam por ele.

— Pra que ter vergonha? Só estamos nós dois aqui. O cadáver não conta.

Ela sorriu:

— Você está mesmo bancando o bobo apaixonado.

— Uma vez na vida eu teria que fazer isso. – ele sorriu de volta.

Os dois se levantaram e Gintoki sentiu uma forte dor no ombro ferido, o que fez com que ele contraísse o rosto e deixasse escapar um gemido. A loira ficou preocupada, porque o quimono branco dele já estava com uma imensa mancha vermelha por conta do sangue que ainda saía.

— Não é nada, relaxa...! – ele tentou tranquilizá-la em vão, pois seu rosto transparecia dor.

— Não seja tolo, Gintoki! – a loira deu-lhe uma bronca. – Tá na cara que você está com um ferimento mais grave!

— Já estou acostumado a isso.

— Falando assim, parece masoquista.

— Não, eu não sou. Sou apenas um cara que já viu os horrores de uma guerra bem de perto, apenas isso.

— Compreendo. Mas isso não me deixa menos preocupada.

Tsukuyo não pensou duas vezes e tirou do seu braço a manga direita do quimono preto, rasgou-a ao meio e improvisou uma tipoia para apoiar o braço do Yorozuya, que protestou em vão. Acabou cedendo porque via que ela estava de fato preocupada.

Após isso, saíram daquele beco, deixando para trás todos os resquícios de uma tragédia antiga que se desfechara naquele momento. No entanto, com eles estava o fortalecimento de um laço que os unia mais e mais.

*

Estendido no sofá e com o braço devidamente imobilizado e enfaixado por ataduras, Gintoki fitava o teto da sala, pouco se importando com o que era exibido na TV. Só deixara o televisor ligado para fazer algum barulho enquanto Shinpachi e Kagura estavam fora. Eles estavam fazendo um serviço que não necessitaria tanto de sua presença ali.

Aliás, os dois não o deixaram ir, justamente devido ao ferimento que exibia ao aparecer junto com Tsukuyo. Por mais que tivesse argumentado que tinha condições de ir junto, não o deixaram ir.

Bom... Melhor assim. Estava cansado daquele confronto com aquele homem, o Kuroyasha. Graças a isso, ele vira uma faceta diferente de Tsukuyo... Uma faceta que mostrava o quanto ela tinha cicatrizes além das cicatrizes físicas.

Aquilo o havia preocupado muito, pois achava que ela estava em paz após ter se livrado de Jiraia. E não entrava em sua cabeça como um sujeito poderia ser tão possessivo a ponto de tentar matar para que ninguém mais se envolvesse com ela.

Mas, para a sua sorte, isso não ocorrera. Sim, poderia se considerar muito sortudo.

Ainda fitando o teto, o Yorozuya começou a pensar em algo para fazer a respeito de seu relacionamento com a kunoichi. Desde que começaram a namorar ou algo assim, nunca haviam agido como um casal de namorados comum.

Mas... O que fazer sem envolver bebidas alcoólicas ou confusão?

*

Tsukuyo estava em seu quarto, após terminar a ronda de sempre e, sentada e pensativa, fitava a parede com um olhar distante. Perguntava-se como estaria Gintoki, com aquele ombro ferido. Sabia que ele era forte e tudo mais, mas não deixava de se preocupar com ele.

Engraçado que um sempre estava se preocupando muito com o outro. Ele estava mais preocupado com ela do que consigo mesmo, apesar da gravidade do ferimento. Não, ele não se preocupava com o ferimento físico, mas com aquele que se abrira quando ela revira Kawana Ryo.

Sentira-se envergonhada ao ter sido exposta daquela forma. Ter sua humilhação exposta tal como fora.

Mas isso não o afastara dela, pelo contrário... Fez com que ele a defendesse sem olhar para as consequências. E isso só mostrava que ele era capaz, sim, de amá-la de verdade.

Só estranhava o fato de ele ainda não ter tocado no assunto de querer possuí-la. Mesmo depois de várias apalpadas acidentais e tudo mais, ele não se atrevera a tocá-la mais do que devia de propósito.

Temia afugentá-lo e não queria que isso acontecesse. Não ligava se se sentia fraca perto dele ou não, pois o que mais queria era ficar perto dele. Encantara-se por seu jeito protetor e por sua pose relaxada. Adorava seu sorriso e sua voz que, quando tinha uma entonação tranquila, era irresistivelmente sedutora.

E parecia que ele se forçava a não forçar as coisas com ela. Aí estava uma faceta bastante diferente de Sakata Gintoki... A faceta de um homem que era como poucos, o que a atraía mais e mais.

Levantou-se e decidiu sair dali. Lembrou-se de que precisava conversar com alguém.

*

A campainha tocou na Yorozuya. Gintoki abriu a porta corrediça e viu Tsukuyo ali à sua frente. Ela logo se adiantou:

— Eu vim ver como você está.

— Não se preocupe, eu estou bem. O corte, apesar de profundo, deve se fechar logo, ganhei alguns pontos. Não comprometeu nada.

— Isso é bom. Eu estava preocupada.

— Preocupou-se à toa. – ele disse com a típica cara de desligado enquanto limpava o salão com seu dedo mindinho. – Esqueceu que eu disse que já estava acostumado a isso?

— É, tem razão. Mas eu vim pra te dizer outra coisa.

— E o que seria?

— Obrigada por me proteger... Mesmo eu me sentindo tão fraca naquela hora.

— Não precisa agradecer.

— Claro que preciso. – ela deu uma piscadinha e em seguida deu um selinho no ex-samurai.

Ela deu as costas e já ia embora, quando ouviu:

— Ei, Tsukuyo, o que acha de termos um encontro de verdade?

— Um encontro de verdade?

— É. Daqui a alguns dias. Podemos tentar, não acha?

— É. – ela sorriu. – Podemos tentar.

Assim, Tsukuyo se foi e Gintoki a seguia com o olhar. Mas, instantes depois, percebeu que alguma coisa estava errada:

— Como é feito um encontro normal?


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