Isto não é mais um romance água-com-açúcar escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 11
Confissão e proposta




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O dia amanheceu com céu limpo e sol, cuja luz invadia o quarto. Gintoki acordou com o som da porta corrediça se abrindo.

— Bom dia, Gin-san! Vamos levantar e... – Shinpachi se interrompeu.

— O que foi, Shinpachi-kun...? – o albino perguntou após um bocejo.

— Você e a Tsukuyo-san...?

Ele olhou para o lado e viu Tsukuyo ainda dormindo profundamente. Pensou que ela já tinha ido embora à maneira ninja, mas ela permanecia ali dormindo, vestida com seu quimono branco.

— Não, não aconteceu nada de mais, se quiser saber. Apenas dormimos juntos, nada além disso.

— Tá falando sério?

— Tô sim. Acredite ou não, apenas dormimos juntos de forma inocente. Não teve nem “isso” e nem “aquilo”...

“... Por mais que eu quisesse.”, ele completou em pensamento.

— Bem, nós recebemos um serviço pra fazer hoje. – Shinpachi disse. – Vamos procurar um cachorro desaparecido.

O Yorozuya se levantou e se espreguiçou, enquanto o garoto de óculos saía dali. Ouviu um gemido de Tsukuyo e olhou para trás. Ela acabava de acordar naquele exato momento, enquanto ele tirava a camisa do pijama.

— Bom dia! – ele disse. – Eu achei que você acordaria primeiro.

— Acho que eu estava muito cansada do trabalho. E vou confessar que esta noite eu pensei que você me atacaria. – ela comentou com um tom divertido.

— E eu vou fazer isso pra apanhar? – ele replicou em tom igualmente divertido. – Não vou mentir, eu tive que me segurar muito esta noite.

Tsukuyo ficou meio enrubescida, e até mesmo encabulada. Quer dizer que mais um pouco e ele a possuiria? Gintoki coçou a cabeça e prosseguiu agora num tom de voz mais sério:

— Eu só me segurei porque não quero atropelar as coisas. Não quero que pense que sou um babaca qualquer que só quer uma aventura.

Essa última frase ecoou várias vezes na mente da líder Hyakka. Quer dizer que o albino realmente gostava dela? Não duvidava tanto, mas ouvir isso da boca dele era diferente. Bem diferente.

— Bem, vou me trocar lá no banheiro. – anunciou enquanto pegava suas roupas. – Vou pedir pro quatro-olhos trazer a sua roupa.

*

Após mais um dia de serviço, o Trio Yorozuya regressava para casa. Haviam conseguido encontrar o cão desaparecido, não sem antes Gintoki tomar umas belas mordidas do animal. Porém, quem fora determinante na captura do cachorro fora Kagura, junto com seu cão Sadaharu.

— Se eu soubesse que esse Chippo não era “chippo* coisa nenhuma, eu recusaria esse serviço... Da próxima vez que a gente for procurar cachorros desaparecidos, vamos exigir uma foto recente deles!

— Relaxa, Gin-san – Shinpachi respondeu. – Pelo menos ganhamos um bom pagamento.

— Não foi você que quase virou comida de Dobermann e ainda teve que tomar vacina antirrábica no traseiro! – Gintoki contestou.

— Você tem a tendência natural de despertar o ódio dos cachorros. – Kagura disse.

— Menos conversa fiada... Preciso chegar em casa e dar uma descansada... E ficar um bom tempo deitado de bruços. – o mais velho do trio murmurou enquanto passava a mão pelo traseiro dolorido por conta da injeção.

Chegaram à Yorozuya. Shinpachi e Kagura entraram primeiro e, quando Gintoki ia entrar, foi interceptado por alguém. Tsukuyo acabava de tirar de seus lábios seu inseparável kiseru** e soprar para cima um pouco de fumaça.

Ultimamente ela estava frequentando a Yorozuya mais do que o normal. Mas, desta vez, o que ela queria? Eles não haviam combinado nada... Pelo menos o ex-samurai não se lembrava de ter combinado alguma coisa com ela.

— Gintoki, eu gostaria de ter uma conversa com você. – ela disse.

— Que tipo de conversa? – ele perguntou enquanto ainda tinha a mão em sua nádega direita.

— Tá com hemorroida?

— Que hemorroida o quê! Isso foi injeção! Mas... Mudando de assunto – ele agora exibia um ar mais curioso – O que você quer conversar comigo?

Ela se encostou à grade da sacada e o olhou nos olhos. Depois, desviou seu olhar para o céu que começava a escurecer e a mostrar as primeiras estrelas a brilhar, contrastando com o horizonte alaranjado que fazia com que os prédios da parte moderna de Edo tivessem um brilho dourado ao longe.

Era uma vista muito bonita daquele lugar. De certo modo, era uma vista meio poética.

— Gintoki, você gosta de mim?

Ele se aproximou dela, ficando também debruçado sobre a grade da sacada, que sustentava a placa da Yorozuya. Respondeu:

— Claro que gosto de você. Por que a pergunta?

A loira desviou o olhar.

— Gosta de mim a ponto de me amar?

— Eu te respondi nesse sentido. – Gintoki sorriu, enquanto Tsukuyo ficou rubra.

— Está falando sério?

— Aham. Aquele dia que você me agarrou eu ia te dar uma chance só por dar mesmo. Mas sinto que estou querendo ter você... Algo que não seja uma aventura.

A loira ficou surpresa com a sinceridade do ex-samurai. Seu olhar era sincero. Realmente dava para perceber que Gintoki queria algo mais do que apenas uma aventura. Pelo jeito, ela conseguira.

— Você não disse que se sentia fraca perto de mim?

— E isso é verdade. E eu realmente me sinto segura ao seu lado.

— O que acha de começarmos a agir como um casal?

— Está me propondo um namoro?

— Não é isso o que você quer? – ele perguntou enquanto usava o dedo mindinho para fazer sua higiene nasal e depois jogou pra longe sua caquinha de nariz.

Aquela “limpeza de salão” não era lá muito agradável de ver, mas Tsukuyo cogitava que isso não atrapalharia muita coisa. Respondeu, olhando nos olhos dele:

— Eu aceito a sua proposta.

Ela colocou sua mão esquerda sobre a mão direita do Yorozuya, que olhou para aqueles olhos violáceos, que pareciam ficar mais intensos com o anoitecer. Ambos sorriram. Nos olhares, era possível perceber que os dois se queriam e se desejavam.

Com um único passo, Gintoki cobriu o pouco espaço que havia entre ele e Tsukuyo. Seus rostos começavam a se aproximar de forma irreversível, até que os lábios de ambos se colaram em um beijo apaixonado. Ele a enlaçava pela cintura com o braço esquerdo, enquanto com a mão direita segurava-lhe a nuca. Ela enlaçara o pescoço do Yorozuya com os dois braços, fazendo com que ambos os corpos estivessem bem colados, dando a sensação de que a temperatura ali já estava começando a esquentar... E muito.

Nisso, se separaram. Precisavam respirar, pois o beijo fora de tirar o fôlego. Mas havia sido muito bom... Tão bom, que decidiram repetir a dose, esquecendo tudo o que havia ao redor... Até mesmo três enxeridos que espreitavam tudo da porta corrediça: uma garota, um cachorro gigante e um par de óculos.

*

— Oh, tá me propondo um namoro, é...? – Shinpachi perguntava de modo afetado.

— Não é isso o que você quer? – Kagura imitava a expressão facial de Gintoki enquanto limpava o nariz com o dedo mindinho.

— Eu aceito a sua proposta!

Os dois começaram a abraçar a si mesmos e simular uma cena de beijo, mal aguentando segurar as risadas. No entanto, pararam com a brincadeira quando ouviram um pigarreado e olharam para trás. Mas não se assustaram com Gintoki ali, que vira toda a tiração de sarro. Muito pelo contrário... A dupla apenas deu um sorriso bem cara-de-pau para o albino e abafou uns risinhos.

— Viraram stalkers, por acaso? – o mais velho questionou.

— A gente não resistiu, Gin-san! – Shinpachi disse segurando as risadas.

— Eu não sabia que você ficava tão bobão quando tá apaixonado, Gin-chan! – Kagura dizia entre risos.

“Droga... E eu, tentando manter a pose pra não parecer um bobão apaixonado...!”, o albino pensou com uma aura escura e depressiva por trás dele. Mas, pra retomar a pose, disse:

— Vão caçar o que fazer! Será que não posso ser um bobão apaixonado em paz?

— Você acabou de se assumir um “bobão apaixonado”, Gintoki. – Tsukuyo observou de forma divertida.

Em resposta, Gintoki só conseguiu fazer um facepalm. Já estava prevendo as piadinhas que teria que ouvir a partir de agora... Desde a do “bobão apaixonado”, passando por “que macumba você fez pra fisgar ela?” até chegar a “você ainda lembra o que se faz com uma mulher na cama?”.

Bom... Esse era o preço a se pagar, certo? Bem... Paciência.


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Notas finais do capítulo

* “Chippo” foi uma redução da palavra japonesa “Chippokena” que, em português, é “pequenino”.

** “Kiseru” é uma espécie de cachimbo longo, ou uma piteira.



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