Isto não é mais um romance água-com-açúcar escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 10
Clichês não são tão ruins como parecem




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Ela também estava ensopada da chuva. Seus olhos violáceos pareciam arrependidos. Mas Gintoki estava tão aborrecido que seguiu sua caminhada sem lhe dirigir qualquer palavra. No entanto, a kunoichi loira segurou a manga do quimono do ex-samurai albino, impedindo-o de avançar mais um passo.

— Espera, Gintoki!

— O que você quer? Me espancar de novo?

— Sinto muito. – ela respondeu. – Eu não fiz por querer.

— O que você faz parece que nunca é por querer.

— Eu... Eu fiquei com ciúme. Eu tentei, mas não consegui me segurar. Ainda mais com aquela quatro-olhos em cima de você...!

O Yorozuya passou a mão pelo rosto encharcado, para poder retirar a água que escorria pelo rosto e atrapalhava sua visão. Suspirou aborrecido e disse:

— Você deveria ter confiado em mim, Tsukuyo.

— Eu sei. É que eu nunca passei por isso antes. – ela respondeu cabisbaixa. – Acredite, é tudo novo pra mim. Eu nunca fiquei assim por causa de alguém antes.

Gintoki olhou para ela ainda com alguma desconfiança.

— É, realmente é estranho. Mas até te ver, eu não sentia isso. Eu... Não me sentia e nem agia como uma mulher. Esta cicatriz no meu rosto não me deixava fazer isso. Sempre me lembrava que eu abri mão de ser uma mulher.

— Se você realmente abrisse mão de ser uma mulher, para começar, você abriria mão até dos seus peitos.

Por mais que a observação de Gintoki soasse rude e até mesmo estranha, era algo que o cobria de razão. Ela nunca havia deixado de ser mulher.

— Você está certo. – Tsukuyo disse. – Eu é que tô agindo como uma boba. Eu quero tentar de novo agir melhor com você. Evitar te agredir e me controlar, não ser tão ciumenta. Mas eu não gostaria de te ver com outra mulher. Parece bobagem, mas isso me machuca.

O ex-samurai cedeu:

— Então vamos tentar de novo. Mas quero que confie em mim. E não me bata se eu fizer isto!

Rapidamente, ele roubou-lhe um beijo. Estava louco pra fazer isso, mas não tivera a oportunidade antes. Embaixo de chuva, que ainda persistia ali, aquele beijo era voraz e refletia o quanto ele queria fazer aquilo logo, mas só tivera coragem agora. Se tivesse que apanhar, apanharia feliz após tascar um beijão naqueles lábios macios.

No entanto, Tsukuyo não o agrediu. Pelo contrário, ela acabou é gostando da surpresa. Sentiu que ele queria apenas a ela. Viu que a atração era recíproca agora. Ambos, ensopados, se beijavam sem tempo para respirar, devoravam os lábios um do outro com muita urgência.

Logo que se separaram para respirar, Gintoki tomou a liberdade de soltar os cabelos da loira. Estavam molhados, óbvio, mas eles emolduravam o rosto dela, conferindo-lhe um ar mais inocente. Engraçado como um cabelo preso muda a fisionomia das pessoas.

Tsukuyo afastou uma mecha do cabelo prateado do Yorozuya, para ver melhor aqueles olhos rubros tão incomuns. Para olhos de peixe morto, eram olhos até bem vivos... E de certa forma eram hipnotizantes... Tão hipnotizantes, que a kunoichi não resistiu e, desta vez, ela tomara a iniciativa para mais um beijo molhado pela chuva.

Mais uma vez os lábios macios de Tsukuyo tomavam os lábios de gosto adocicado de Gintoki. Tal era a intensidade, que dava para se notar que os dois formavam, de fato, um casal apaixonado.

Não estavam nem aí para a cena clichê na qual eles estavam inseridos. Pelo contrário, continuavam entregues àquele momento, parecendo que nada mais existia ao redor. E era isso o que realmente importava, pois queriam apenas um ao outro e nada mais.

*

A porta corrediça se abriu com barulho, dando passagem a duas pessoas completamente encharcadas da chuva que tomaram. Gintoki e Tsukuyo se desfizeram das botas e entraram. O Yorozuya, indo à frente, deu à líder Hyakka uma toalha para se secar no banheiro, enquanto ele se secava no quarto, no qual trocou a roupa e vestiu o seu pijama verde.

Enquanto Sadaharu se espreguiçava, Tsukuyo saía do banheiro com os cabelos soltos e vestida com um quimono branco de Gintoki.

— Pelo jeito essa chuva vai durar a noite inteira. – ele disse após verificar a janela. – Melhor você dormir aqui.

— Parece que não tenho muita escolha, certo? – ela comentou meio ruborizada, o que o albino logo percebeu.

— Eu só não te falo pra se enfiar no armário da Kagura, porque você não caberia lá. Mas eu tenho um futon a mais no meu quarto.

Ele abriu outro compartimento do armário, do qual tirou o futon extra. No entanto, ele estava fedendo a mofo e bastante amarelado de tanto tempo guardado. Não dava pra usar sem dar uma boa lavada antes.

Iria sugerir para dividirem o mesmo futon, mas antes que verbalizasse a sugestão, pensou:

“Se eu der essa ideia, com certeza vou apanhar e ser tachado de tarado! E o pior de tudo é que ela teria razão, porque se soubesse o quanto eu quero dar uns ‘pegas’ nela... Ainda mais usando o meu quimono...!”

Engoliu seco e disse:

— Você pode ficar no meu futon e eu vou dormir no sofá.

“Perfeito! Não vou ter problemas com o meu autocontrole!”, Gintoki comemorou em pensamento.

— Por que não dividimos o mesmo futon? – Tsukuyo perguntou.

“EI, TÁ QUERENDO ME MATAR, É?”, o Yorozuya gritou em pensamento.

— N-Não é preciso, Tsukuyo...! Eu vou ficar bem no sofá...!

— Não é justo que o anfitrião fique desconfortável, então eu vou ao sofá.

— Nada disso, eu não posso deixar uma visita desconfortável.

*

“Vamos lá, Gintoki, se controla! Resista às tentações, senão você não será um bom samurai! Relaxa, cara, senão ela vai perceber!”

O Yorozuya suava frio enquanto se policiava dentro do futon. Não deveria fazer um movimento em falso, senão com certeza faria besteira. Virou-se para o outro lado, para evitar qualquer contato inconveniente. O pior de tudo é que o sono não chegava.

“SONOOO, CADÊ VOCÊ?!”

Não conseguia pregar o olho de jeito nenhum. Por mais que tentasse, não conseguia fazer o sono chegar, para poder dormir. O cheiro agradável da loira que dormia ao seu lado não o deixava se concentrar em pelo menos começar a cochilar.

“Mas que droga! Eu quero agarrar a Tsukuyo, mas não posso! Preciso resistir, preciso resistir...!”

Do outro lado, Tsukuyo também não conseguia dormir. Não que estivesse com medo de Gintoki pegá-la e agarrá-la, mas na verdade até que cogitava um contato entre os dois. Nem que fosse uma “mãozinha boba”.

Virou-se e o viu de costas, prestando atenção no cabelo enrolado e prateado tão peculiar. Com seus dedos, começou a brincar com uma das mechas curvas e macias do albino. Não imaginava que os cabelos dele seriam tão gostosos de se passar a mão.

Ele, por seu turno, se encolheu ante aquele contato. Não que ele não estivesse gostando, porque na verdade estava adorando aquilo. Mas estava fazendo o máximo possível para não ficar louco e estragar aquele momento.

No fim das contas, acabou relaxando e sorriu. Era uma sensação muito boa aquela. Se ele fosse um gato, com certeza iria ronronar muito.

Ele se virou e seu olhar se encontrou com o dela. Tsukuyo sorriu, o que fez com que ele também sorrisse. Delicadamente, o Yorozuya pegou o queixo dela e aproximou seu rosto. Colocou seus lábios sobre os dela, dando-lhe um terno beijo, o que fez com que seu coração desse uma acalmada. Não só o seu, como o da mulher à sua frente.

Claro que queria bem mais, mas também não queria atropelar as coisas. Não queria estragar tudo. Naquele momento, sentia-se como um adolescente que, depois de muito tempo, conseguia ter uma namoradinha, superando todas as expectativas quanto a um possível fracasso... Sem contar que ele tivera sua dignidade manchada por conta de ter recebido uma calcinha do Homem-Tanga Mascarado, só porque tinha um vício surreal por doces e era apaixonado por uma revista Shounen Jump.

Sua mão direita acariciava o rosto da loira e afastou dos olhos uma mecha de cabelo. Tsukuyo conseguira despertar nele algo que há muito o Yorozuya não sentia.

Ele realmente havia começado a se apaixonar por aquela mulher à sua frente. O que era apenas a concessão de uma chance virou algo maior. E não era apenas atração física, que ele procurava conter por enquanto... Afinal, ele era um homem e estava diante de uma mulher muito bonita. Tava dando trabalho resistir à vontade de fazer “isso e aquilo” com ela.

Por seu lado, Tsukuyo percebia que estava mais e mais atraída por aquele homem de cabelos prateados. Ele era sincero, valorizava uma amizade e era protetor. E era esse lado protetor que lhe chamara tanta atenção.

Sim, seus atributos físicos também a atraíam, claro! Sua aparência peculiar e seu corpo sarado chamavam a atenção. Além do mais, aquele olhar a enfeitiçava. Aqueles olhos vermelhos pareciam não querer nada, mas muitas vezes podiam dizer algo.

Seus olhares mais uma vez se encontraram em meio à penumbra, em sinal de cumplicidade. Queriam ir além, mas sentiram que ainda não era o momento. O sono logo chegou para ambos, que adormeceram juntinhos, de conchinha.

Assim, Gintoki sentiu que protegia alguém de verdade. E Tsukuyo se sentia realmente protegida.


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