[Joe]

Eu não aguentava mais aquela vida. Sempre a mesma gritaria, as mesmas frases ditas, a mesma pressão, vinda das mesmas pessoas que pensavam que me conhecia. E claro! A hipocrisia... Tudo isso, eram fatores que contribuíam para tornar minha vida um completo vazio. Tudo isso, fez de mim, um modelo de plástico. Um fantoche, uma marionete. Tudo não passava de uma máscara com sorrisos falsos, olhares falsos e palavras ditas da boca para fora. Já não enxergava uma luz no fim do túnel. Este era o ápice da minha vida. Porque, de todos os modos, pensei que seria isso algo passageiro... Mas estava enganado e agora, cansado dessa vida medíocre que estava vivendo eu encontrei uma saída e ela estava bem diante de mim...

O Sol já se escondia nas nuvens, fazendo com que elas ficassem em um tom alaranjado. O céu era uma mistura de azul com rosa e nessa harmonia perfeita, as cores, sem ninguém perceber, dançavam até tornar-se uma.

A brisa era calma e suave. O vento ora balança meu cabelo, ora arrepiava-me. Era frio, mas ainda assim, um bom momento para refletir. Não tinha ninguém me ordenando o que fazer. Mas, de que adianta pensar, se a  decisão já está tomada?   

Mesmo assim, fiquei andando pelo terraço do prédio e observando o movimento, que por sinal era intenso por causa da hora. Em meio à multidão, fitei aquela monotonia. Eram pessoas falando da vida alheia, pessoas egoístas, pessoas que não sabiam o significado da palavra “compartilhar”. Cansei de viver em meio às essas pessoas, cansei de ver e presenciar isso todo santo dia. Estava farto. Voltei a sentar no meu local inicial.

Com um suspiro exalado do meu peito, analisei o local onde me encontrava. Ao lado do prédio em que eu estava, havia mais um bem mais alto. Ele era coberto de vidros-janela que refletiam o que estava à sua volta. Entretanto, em meio a tantas janelas que lá havia, me deparei com uma cena que me chamou a atenção. Era um casal que passava de um lado para o outro e pelo que percebi, estavam discutindo. Os braços de ambos movimentavam rapidamente. A mão da mulher mexia no cabelo e o homem a ignorava. Ficava de costas para ela.

Esta cena me fez imaginar em quantas juras de amor eles trocaram. Será que todas foram sinceras? Não sei. Só sei que quando o assunto é amor. Posso dizer com absoluta certeza que nunca fui privilegiado. Em todos os meus namoros, eu me entregava de corpo e alma e no fim, acabava sofrendo por saber que a pessoa que eu amava não sentia o mesmo que eu. Elas diziam que viveriam para sempre comigo e que jamais iriam me abandonar. Mentira. E a cada namoro terminado que eu me lembrava, era um passo que eu dava. Um. Dois. Três...

O que eu estava esperando, afinal? Por que não pular logo de uma vez? Não sabia. Eram perguntas simples sem respostas.

Respirei fundo. Peguei todo o ar que meus pulmões poderiam suportar. Fechei os olhos e ouvi uma voz calma, doce e serena, que dizia para mim “falta pouco” Mais um passo e seria o fim. O fim de todos os meus problemas, de todas as minhas duvidas, mas uma força dentro de mim, prendia-me ao chão. E não era a gravidade. Era algo maior.

Abri os olhos e finalmente olhei para baixo. “Mais um passo... só mais um...”.  Desistir. Desistir de tudo e de todos. Desistir do sonho... Desistir da vida.

- Só mais um passo. – disse aos meus pensamentos, tentando combater aquela força desconhecida.

O que era? Quem ou o quê poderia eu, estar esperando? Ninguém me faria mudar de idéia. Nenhuma pessoa...