Os Últimos Morgenstern escrita por Luna MM


Capítulo 5
Venha a mim nos meus sonhos


Notas iniciais do capítulo

"Venha a mim nos meus sonhos, e em seguida
Amanhecendo estarei bem.
Pois então à noite serei mais que compensado
Pelo dia em desejo desesperançado."
— Matthew Arnold, "Longing"



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Clary estava de volta à biblioteca do Instituto. Não sabia como havia chegado lá, mas era bom estar de volta à um lugar familiar. Olhou para o próprio corpo, procurando os machucados que a luta com Peter havia causado, mas não encontrou nada. Ela estava perfeitamente normal, como se nada tivesse acontecido.

Então, vozes familiares a tiraram dos pensamentos. Ela prestou atenção no lugar e percebeu que estava no meio de uma reunião. Reconheceu Isabelle, Alec, Magnus, Maryse, Luke, Jocelyn e Jace. Não pensou duas vezes e correu para abraçá-los, com lágrimas nos olhos.

Mas Clary parou quando viu que ninguém pareceu perceber que ela estava ali. Ela olhou para as próprias mãos e sentiu o estômago congelar. Talvez Peter a tivesse matado, talvez ela fosse um fantasma.

— Não existe outra explicação! — Jocelyn berrou, arrancando Clary da própria paranoia. Ela notou que sua mãe estava com uma aparência terrível; seus cabelos descontrolados, olhos inchados e vermelhos e provavelmente emagrecera alguns quilos. — Ele a levou, sem que ninguém percebesse.

Maryse ergueu a cabeça, tentando parecer confiante.

— Jocelyn, mantenha a calma. Nós todos também estamos preocupados. Mas, sinceramente, eu acho difícil Jonathan ter entrado no Instituto sem que ninguém o visse. Além disso, Clary não ficaria calada e nem deixaria que ele a levasse.

Clary se sentiu tonta, prestes a desabar ali mesmo. Eles estavam falando sobre ela, sobre o que tinha acontecido com ela. Eles achavam que ela era uma vítima de Sebastian. De repente, não conseguiu mais olhar para a mãe sem que a culpa a invadisse. Decidiu, então, encarar o chão enquanto escutava o restante.

— Jonathan é um monstro, Maryse. Ele pode ter feito qualquer coisa para que ela ficasse quieta. Pelo Anjo! Não posso nem imaginar o que ele pode estar fazendo com ela neste exato momento.

Apesar das circunstâncias, Clary não gostou do que a mãe disse. Como ela podia falar assim do próprio filho? Se Sebastian era um monstro, a culpa também era dela.

Jace assumiu uma expressão de nojo, como se estivesse prestes a vomitar. Ele também estava com uma aparência horrível.

— Então, o que estamos esperando? — perguntou Alec, um pouco perdido. — Vamos atrás dele.

— Acha que é fácil assim? — Jace riu sem humor. — O apartamento dele não pode ser rastreado. Se eu soubesse algum jeito de encontrá-lo, pode ter certeza de que ele já estaria morto.

Ninguém falou nada. Clary abandonou a culpa e resmungou palavrões baixinho. Eles não podiam ir atrás dela! Ela preferia que eles seguissem em frente, mas seguros de Sebastian.

Isabelle quebrou o silêncio, impaciente. Ela descruzou os braços tão rapidamente que suas pulseiras fizeram o barulho ecoar na biblioteca.

— Também estou triste pelo sumiço de Clary, está bem? Ela também é minha amiga. Mas, sinceramente, ficar nesse clima de luto não vai ajudar em nada.

— E o que sugere para nós fazermos, Izzy? — perguntou Alec, quase inaudível.

— Ora, qualquer coisa ajuda! Estudem novas maneiras de rastrear Sebastian, saiam nas ruas de cada país procurando, perguntem até para os mundanos. Apenas não fiquem aqui resmungando uns com os outros e façam algo que possa ser útil.

Mesmo não concordando, Clary sentiu orgulho de Izzy.

— Isabelle está certa. Não podemos desistir de Clary. — concordou Jace, finalmente se animando.

— Sim, posso falar com alguns feiticeiros que conheço. Talvez descobrir algum jeito de encontrá-los. — disse Magnus, os olhos de gato brilhando.

— Acredito que falar com os licantropes e as fadas também possa ajudar — sugeriu Luke.

O clima no Instituto pareceu melhorar, como se a esperança houvesse sido acesa.

— Vamos logo com isso, temos que encontrar Clary antes que...

Alec não concluiu a frase.

◌◌◌

Clary abriu os olhos.

É claro, pensou. Foi apenas um sonho.

Tentou se sentar e gemeu de dor. Seu corpo inteiro doía como se ela tivesse sido esmagada. Então, as lembranças da luta com Peter vieram à tona. Clary se lembrou de ter saído sozinha e encontrado o Caçador de Sombras que quase a matara. Ergueu o braço e viu que tinha uma iratze que curara todos os seus arranhões e sua mão quebrada. Clary pôs a mão sob a barriga e sentiu uma cicatriz onde a adaga havia sido cravada.

Sentia dor, mas pelo menos estava viva. Então, finalmente, ergueu a cabeça para olhar onde estava. A garota estava deitada numa cama com lençóis pretos, que obviamente era de Sebastian. Mas como ela havia parado ali?

— Finalmente! Achei que não iria mais acordar, irmãzinha — murmurou Sebastian, parado na porta. — Como está se sentindo?

— Viva — respondeu Clary, em um suspiro.

Sebastian se sentou na cama. Ele estava com os cabelos bagunçados e a pele mais pálida do que já era, provavelmente não tinha uma boa noite de sono há muito tempo. De repente, sua expressão se tornou furiosa, como se estivesse esperando dias para gritar com a irmã.

— Agora será que você poderia me explicar por quê estava andando sozinha em lugares que você não conhece?

Clary puxou o lençol preto para si. Por quê todos sempre questionavam o que ela fazia? Como se eles também nunca errassem!

— Você me deixou sozinha! E eu não sabia como entrar no apartamento, o que queria que eu fizesse? — ela rebateu, gritando.

Sebastian continuava a encarando, seus olhos brilhando.

— Você podia ter morrido, Clarissa! — ele gritou, se levantando. — Peter teria te torturado pelo resto da vida se soubesse que isso me atingiria, você não entende isso? Ele estava atrás de você por minha causa!

Clary estava confusa. Sebastian estava se sentindo... culpado?

Então, se lembrou do que Peter havia dito. Todos sabem o quanto ele é obcecado por você, Clarissa. O quanto você o deixa fraco.

— Como me encontrou? — ela perguntou, de repente.

Sebastian pareceu não ter entendido a mudança de assunto, mas manteve o mesmo tom de voz.

— Não sei, apenas escutei você gritando. No que isso importa? Quando cheguei você já estava quase morrendo.

— E o que aconteceu com Peter? — Clary se lembrou do Caçador de Sombras, jurando matá-la junto com Sebastian.

Sebastian deu de ombros.

— Eu o matei, é claro.

Clary ergueu as sobrancelhas, mas não disse nada. Se levantou com dificuldade, passando por Sebastian e entrou no banheiro. Quando olhou seu reflexo no espelho, sufocou um grito. Seus cabelos estavam absurdamente bagunçados e seu rosto ainda guardava alguns arranhões. Ela levantou a camisola — que esperava que não tivesse sido Sebastian a vesti-la — e passou o dedo sob a cicatriz um pouco embaixo do coração. Ela realmente podia ter morrido. Grande heroína.

Voltou ao quarto e encontrou Sebastian na cama a observando. Ele parecia ter se acalmado, embora seus olhos continuassem irradiando ódio.

Clary se sentou ao seu lado.

— Por quanto tempo fiquei inconsciente? — perguntou ela, num sussurro.

— Três dias — resmungou Sebastian, e se levantou. Parou na frente da irmã e estendeu a mão. — Venha, você precisa comer alguma coisa.

Em resposta, o estômago de Clary roncou. Ela aceitou sua mão.

◌◌◌

Enquanto Clary comia, observou Sebastian. Ele parecia cansado, como se tivesse trabalhado por dias e mesmo assim, não obtera ganho algum. Ele não disse mais nada sobre o incidente com Peter, então Clary decidiu esquecer; embora a cicatriz embaixo de seu coração tornasse o esquecimento difícil.

Sebastian a flagrou o observando e abriu um sorriso torto, e Clary percebeu que não via aquele sorriso há muito tempo. Isso a fez retribuir o sorriso.

Não fazia sentido, pensou Clary, desprezar alguém que salvara sua vida.

Ele se levantou e pegou o casaco, jogando-o pelo ombro. Em seguida, se virou para olhar a irmã.

— Tenho algumas coisas para fazer, irmãzinha — murmurou ele — Já que decidiu dormir durante três dias, tive que ficar de babá e perdi um tempo muito valioso.

Clary revirou os olhos.

— Fique à vontade.

Ele não se moveu.

— Tem certeza de que ficará bem?

Clary assentiu. Desde quando ela era tratada como uma criança que precisava de cuidados? E desde quando Sebastian se preocupava tanto com ela?

Ele deu de ombros e caminhou para a porta... bem, onde deveria haver uma porta.

— Sendo assim, nos vemos à noite.

Ela esperou alguns minutos e, em seguida, largou a comida e se direcionou silenciosamente para o quarto de Sebastian.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo ficou muito parado, mas foi necessário. Digam o que acharam :)