Os Últimos Morgenstern escrita por Luna MM


Capítulo 6
Isso faz a humanidade


Notas iniciais do capítulo

"Amor, esperança, medo, fé — isso faz a humanidade;
Esses são seu sinal, registro e caráter."
— Robert Browning, "Paracelsus"



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Sebastian entrou em um restaurante pouco longe do apartamento. Ele havia mentido para Clary dizendo que tinha coisas importantes para fazer. Na verdade, a única coisa que ele queria fazer naquele momento era ficar sozinho. Estava tão acostumado com a solidão que isso já o acalmava.

O restaurante não estava tão cheio quanto ele esperava, o que foi bom. Procurou uma mesa afastada dos casais que flertavam e se sentou perto da janela. Quando o garçom se aproximou, ele pediu vinho num francês perfeito.

Sebastian enterrou o rosto nas mãos. Os últimos três dias haviam sido tão terríveis que ele nem se lembrava de ter tido algum momento bom. Encarou o próprio reflexo no vidro escuro da janela do restaurante enquanto as lembranças invadiam sua mente.

Três dias antes, ele havia levado Clary para sair por Londres com a intenção de se aproximar da irmã. Queria que ela confiasse nele, que gostasse dele. Ele até havia sido sincero em dizer tantas coisas que nunca falaria para alguém e mesmo assim, ela o rejeitara de uma maneira dolorosa.

Ele não queria tê-la deixado sozinha, mas não pôde controlar a raiva que sentira quando escutara aquelas palavras. Clary não se importava com ele, que era seu próprio irmão. Ela só queria saber daqueles Caçadores de Sombras ridículos, principalmente Jace. Como ela não podia entender que ele era muito melhor que Jace? Muito melhor do que um simples garotinho que não aguentava ver a morte de um animal.

Sebastian alimentava o ódio por Jace quando escutara um grito estranhamente familiar. Era Clary. Ele não sabia como, mas era ela. Ela precisava de ajuda.

De repente, a discussão com a irmã não importava mais, o amor dela por Jace não importava mais. Ele dera meia-volta e saíra correndo.

Depois do que parecera a eternidade, Sebastian chegara na rua de onde vinham os gritos. Ele não precisara procurar para saber onde ir, pois escutou vozes vindo de um beco escuro.

Tomando cuidado para se esconder na escuridão, ele se aproximara e prestara atenção.

"Não percebe o quão estúpida é? Você só está me fazendo perder tempo." dissera a voz familiar de um homem, embora Sebastian não tenha reconhecido.

"Um tempo valioso que eu pretendo usar para destruir Jonathan." continuou a voz, provocando a curiosidade de Sebastian. Destruí-lo? Aquilo era patético.

Sebastian se aproximara e conseguira enxergar o Caçador de Sombras que queria destruí-lo. Era Peter, um cara que vivia ameaçando Valentim. Ele deveria ter desconfiado que agora que seu pai estava morto, Peter iria atrás dele. Aparentemente, vingança era algo que se não desse certo com o pai, tente com o filho.

Ele escutara Peter dizer mais alguma coisa e em seguida, algo prateado brilhara em meio à escuridão. Sebastian mal teve tempo de se mover antes de a adaga ser enterrada no coração de Clary, que caíra no chão. Então, tudo parou.

Sebastian não entendia porque não conseguia se mover. Simplesmente achava que se avançasse um passo, cairia de joelhos e não levantaria mais. Olhara para o corpo da irmã, o sangue de anjo espalhado pelo chão, e sentiu que nada fazia mais sentido. Todos os seus planos malignos se perderam na escuridão daquele maldito beco.

Mas ele não podia ficar assim. Ele não era fraco. E, sem dúvida, não deixaria aquilo passar despercebido. Sebastian deixara que o demônio dentro de si tomasse conta de seu corpo, o ódio percorrendo cada veia pulsante até que seus punhos fechados começaram a tremer. Lentamente, caminhara em direção do Caçador de Sombras que apunhalara sua irmã.

Peter estava tão distraído observando o corpo de Clary que não percebera quando Sebastian o agarrou por trás, o braço contra a garganta dele. Apesar de ser pego de surpresa, Peter sorrira ao falar.

— Achei que não iria aparecer — balbuciara ele — É uma pena que não tenha visto sua querida irmã antes que eu a matasse.

Sebastian o jogara no chão e chutara seu corpo, lançando-o contra a parede. Sangue vermelho pingava dos lábios de Peter quando ele se levantou, apoiando-se na parede. Ele ainda sorria.

— Você pode me matar, mas eu já te venci.

Sebastian riu sem humor.

— Você nunca me venceria, Peter. Quando vai aprender isso? Você só provocou a minha raiva e agora terá de lidar com ela.

— Eu o venci quando matei Clary — ele cuspira as palavras, aproximando-se de Sebastian. Peter não sentia medo, apenas queria ver Sebastian destruído. — Ela deve ter esperado por você, não é? Quero dizer, ela sempre esteve acostumada com Jace Herondale sendo o herói dela.

— Cale a boca! — Sebastian tentara acertar um soco no queixo de Peter, mas ele desviara. Peter o agarrara por trás e socara Sebastian, o acertando e o derrubando.

Ele sentira o ódio aumentar dentro de si à medida que o sangue escuro escorria por seu rosto. Como ele havia deixado isso acontecer? Não podia perder uma luta para um Caçador de Sombras insignificante como aquele. E Clary teria esperado por ele? Ela teria esperado pelo irmão mais velho que poderia tê-la salvado? Mas ele não era um herói! Ele não era Jace!

— Ela nunca teria te amado do mesmo jeito que você a ama. Você sabe disso, Jonathan Christopher Morgenstern.

Isso bastara. Sebastian perdera o controle de si e agarrara Peter, empurrando-o contra a parede e socando seu rosto. Ele colocara todo o ódio que sempre sentira em toda sua vida nos seus punhos. Ódio de Jocelyn, de Valentim, de Jace e de todos os outros. E ódio daquele Caçador de Sombras por ter matado a única pessoa que ele amava.

O corpo de Peter caíra no chão, morto pelo ódio de um demônio.

Sebastian caíra de joelhos, as mãos manchadas pelo sangue vermelho de Peter. Ele se arrastara para perto do corpo da irmã e puxara a cabeça dela para seu colo. Ele desejara que ela abrisse aqueles grandes olhos verdes mais uma vez.

De repente, Sebastian sentira ódio de si mesmo. Ele não deveria tê-la deixado sozinha! E se ele não tivesse tantos inimigos, ninguém iria atrás de sua irmã para provocá-lo. A culpa era dele, e ele se odiava por isso.

Sebastian se abaixara e encostara sua cabeça contra a da irmã e fechara os olhos. Enquanto ele lutava contra os pensamentos da própria mente bagunçada, escutara um barulho quase inaudível. Encostara sua cabeça contra o peito de Clary, onde havia uma grande mancha de sangue, e prestara atenção.

Tum Tum Tum

O coração de Clary estava batendo. Ela estava viva. Aparentemente, a adaga de Peter não havia acertado seu coração.

Antes que percebesse o que estava fazendo, Sebastian abraçara o corpo da irmã. Abrira o maior dos sorrisos e levantara-se, carregando-a no colo. Aquilo era tão impossível de acreditar que ele até riu da situação, aliviado.

Enquanto caminhava pelas ruas desertas e escuras de Londres carregando a irmã, ao mesmo tempo que toda a cidade dormia, Sebastian percebera algo.

Medo, culpa, arrependimento. Cada vez mais, Sebastian estava sentido emoções e sentimentos, e isso o estava tornando humano.

Depois de ter procurado uma feiticeira para ajudar Clary, ele ficara a observando dormir. Ela parecia um anjo que havia caído do céu, enquanto ele parecia um demônio que havia invadido a terra. E sempre seria assim.

Sebastian voltou à realidade e balançou a cabeça para afastar os pensamentos. Ele havia saído porque precisava ficar sozinho para pensar no que estava acontecendo com ele.

Era verdade que ele estava sentindo emoções humanas há algum tempo, mas isso o deixava fraco. Ele quase perdera a luta contra Peter, um inimigo sem importância.

Ele não podia se distrair com sentimentos. Ele era Jonathan Christopher Morgenstern; tinha planos para executar, armas para conseguir e além disso, uma irmã que aprenderia à amá-lo. O resto do mundo não importava.

Lentamente, Sebastian pousou sua taça de vinho vazia na mesa, deixou algumas notas do lado e caminhou para fora do restaurante e em direção ao apartamento. Naquela noite, ele iria comemorar a volta da Morgenstern mais nova e seria uma grande noite.


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Notas finais do capítulo

Oi opiniões.