Os Últimos Morgenstern escrita por Luna MM


Capítulo 3
Uma terrível beleza nasceu


Notas iniciais do capítulo

"Tudo mudou, mudou drasticamente:
Uma terrível beleza nasceu."
— William Butler, "Easter, 1916"



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De manhã, o primeiro pensamento de Clary ao acordar foi que aquele sofá não era nada confortável. Suas costas doíam tanto que parecia que um caminhão a havia atropelado. Mas, mesmo com a dor, isso era melhor do que dormir na mesma cama que o irmão.

O segundo pensamento foi o quanto era difícil tentar ter uma atitude de heroína. Nos filmes e desenhos animados, era tudo mais fácil. Ela desejou ter pensado melhor antes de tomar uma atitude precipitada. Para variar.

E o terceiro pensamento foi em Jace. Ele já deveria ter notado que ela havia desaparecido, sem se importar de deixar um bilhete. Seu coração doeu ao perceber que ela não iria encontrá-lo naquela manhã para treinar, passear ou até mesmo alimentar Church. Ela faria qualquer coisa apenas para estar com ele.

Clary balançou a cabeça e voltou para a realidade. Aquele dia, sem dúvida, estava muito mais frio que na noite anterior. Ela se amaldiçoou por não ter feito uma mala com roupas, pois só trouxera a roupa que usava. Mas perder tempo fazendo uma mala de roupas enquanto planeja fugir sem que ninguém perceba seria muita idiotice.

Clary decidiu tentar fazer café tomando cuidado para não fazer o que Isabelle fazia — Izzy era uma ótima Caçadora de Sombras, mas na cozinha... Finalmente, depois de alguns minutos e de quase destruir a cozinha, ela conseguiu. A garota bebia o café quente apoiada na bancada da cozinha quando escutou alguém chegando.

— Gostei de ver, irmãzinha. Seria bom se me recebesse todas as manhãs com café quente.

Sebastian estava de bom humor. Ele colocou algumas sacolas no canto da porta do quarto dele e em seguida, se juntou ao seu lado para tomar café.

— Comprei algumas roupas para você — disse ele, indicando as sacolas — Está frio.

Clary não se preocupou em agradecer, apenas assentiu. Ela queria evitar conversar com o irmão, principalmente depois da discussão que tiveram na noite anterior. Mas não faria sentido se manter afastada dele se agora estavam morando juntos.

— Algum plano maligno para hoje?

Sebastian riu. Ele realmente estava de bom humor, e Clary agradeceu mentalmente por isso.

— Na verdade, não. Estava pensando em dar um passeio com você, irmãzinha — admitiu ele, pensativo — Acredito que agora que moramos juntos, deveríamos nos conhecer melhor.

Clary tentou não pensar no que "conhecer melhor" significava ou o quanto sempre parecia que ele lia sua mente. Mas ela não estava com vontade de ficar trancada em casa pelo resto de sua vida. Sendo assim, concordou.

◌◌◌

Clary não tinha a mínima ideia de para onde Sebastian a estava levando. E, por conta de seu profundo silêncio, ela decidiu não perguntar.

Seu irmão estava estranhamente diferente naquela manhã. Aparentemente, depois da pequena discussão da noite anterior, Sebastian mal chegava perto de Clary. Ela realmente desejava que ele nunca mais encostasse nela. Já era difícil o bastante viver no mesmo lugar que ele.

Enquanto Sebastian fazia uma parada para comprar dois cappuccinos, algo que Clary agradeceu mentalmente, já que estava congelando; ela lembrou que não sabia o que iria fazer dali em diante. Quer dizer, o plano era convencê-lo de levá-la consigo e deixar seus amigos em paz. Ela não havia pensado no que faria depois que estivesse com ele. Quanta estupidez!

Clary estava tão distraída nos próprios pensamentos que mal percebeu quando Sebastian parou. Eles estavam na ponte de Londres que, surpreendentemente, não estava lotada de turistas.

Sebastian a encarou.

— Clary, por que está aqui?

— Porque você me trouxe até aqui — ela respondeu, de forma óbvia.

— Me refiro a você ter saído de perto de todos para vir para perto de mim. Por que fez isso?

Clary se surpreendeu com a pergunta. Ela achava que o irmão ficaria satisfeito com a decisão dela. Não imaginava que ele fosse questioná-la.

— Eu faria qualquer coisa para proteger as pessoas que eu amo, Sebastian. Mesmo que, para isso, eu tenha que ficar longe delas.

Sebastian ainda a encarava com seu olhar duro e frio quando falou.

— Mesmo que, para isso, tenha que ficar perto de mim.

Ela assentiu, ainda não entendendo onde ele queria chegar. Mas, sem dar qualquer explicação, ele prosseguiu.

— Sabe, Clary, eu entendo que você não goste de mim. Mas fico me perguntando se as coisas teriam sido diferentes se você tivesse crescido comigo. Valentim não costumava falar de você porque guardava ódio por sua mãe tê-la escondido dele. Mas desde a única vez que o ouvi falar sobre você, eu a quis conhecer.

Clary não sabia por que ele estava falando essas coisas, mas não ousou interromper. Parecia que, pela primeira vez, Sebastian estava sendo sincero.

— Eu achava que se um dia eu pudesse conhecê-la, eu não ficaria tão sozinho. Achava que finalmente eu encontraria alguém igual a mim.

Não somos iguais — ela insistiu em dizer.

Ele balançou a cabeça.

— Somos, sim. Você só ainda não percebeu isso, assim como ainda não percebeu que me ama — ele encostou o rosto no dela, os olhos brilhando de desejo — Eu espero o tempo que for necessário, irmãzinha. Mas não demore.

Clary sentiu a fúria dentro de si. Por que ele tinha que continuar falando disso? Ela nunca iria amá-lo! Ela amava Jace!

— Por que você tem que ser assim, Jonathan? — ela gritou, se levantando.

Ele se levantou e seguiu seus passos, até que estivessem encostados no muro da ponte.

— Assim como? Seja mais específica — disse ele, soando como se realmente estivesse interessado.

— Você não se importa com ninguém, não de verdade. Só se preocupa consigo mesmo, e com seu maldito sonho de destruir o mundo! — ela gritou, cuspindo todo o ódio que sentia há tanto tempo — Não somos iguais, porque se existe uma razão para eu estar com você agora, é porque eu me importo com alguém. É porque eu amo alguém! Mas você, você não conhece o amor.

De repente, Sebastian estava em frente à Clary. Ele a fuzilava com os olhos, como se ela tivesse acabado de socá-lo. O que, de fato, ela poderia ter feito.

— Talvez você também não conhecesse o amor se tivesse sido criada por Valentim. Mas você acha que sou assim por conta do sangue de demônio, não é? — ele balançou a cabeça e riu sem humor — Você não sabe nada sobre mim, Clary. Você não me conhece, não de verdade.

Ela abriu a boca para responder, mas Sebastian já tinha ido. Por um momento, ela pensou em segui-lo para ir para casa. Porém, seu irmão estava indo na direção oposta ao apartamento. Ele queria ficar sozinho.

Enquanto Clary se encostava novamente no muro da ponte, ela percebeu que Sebastian sempre estava sozinho. Rejeitado pela própria mãe e criado pelo pai que dividia seu tempo em ser um pai horrível e ser um vilão maligno. Talvez até Jace tenha recebido mais amor de Valentim do que Sebastian. E agora, rejeitado pela irmã que ele sempre sonhou em conhecer. Sebastian até poderia ter sangue de demônio, mas essa não era a única causa de ele ser quem ele era. De ele fazer as coisas que ele fazia.

Clary mal teve tempo de assimilar todas as informações e, já estava se arrependendo de ter dito todas aquelas coisas horríveis. Não tinha sido justa! Talvez Sebastian não fosse um monstro, afinal. Talvez ele não tivesse culpa de ser assim.


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Notas finais do capítulo

Não tenho previsão para próximo capítulo; talvez amanhã, talvez semana que vem. Isso vai depender do que vou conseguir escrever, mas continuem acompanhando.