Naquele momento, Violetta encontrava-se debaixo das suas cobertas e não tinha vontade alguma de sair dali. O calor dos cobertores a aquecia do extremo frio que fazia lá fora. Aquele final de tarde estava muito gelado. Tão gelado que Buenos Aires estava a pouco de começar a cair neve. Mas o que mais intrigava Violetta era que, todo mês de agosto, Buenos Aires era fria, igualmente há três anos, quando seu amado havia falecido. Lembrou-se do dia anterior, de sua visita ao cemitério. Queria muito que aquilo que tivesse visto fosse verdade. Mas não podia ser, pois ele estava morto. MORTO. Ela tinha que entender isso de uma vez por todas. O pior era que ela estava sozinha, não tinha nenhuma companhia ali. Nem mesmo se ela chamasse por alguém. Seu pai já tinha desistido de ajudá-la, despertar todas as noites por gritos e choro de sua filha já não funcionava mais. Sua tia Angie, que era a única que Violetta não tinha dúvidas de que estaria ao seu lado, naquele momento estava longe demais, ela havia se mudado para a França há quatro anos, perdendo o total contato. Olga e Ramalho, bom, esses ainda trabalhavam para seu pai, mas dificilmente subiam até seu quarto. Germán os proibira disso. Não queria que a filha tivesse qualquer contato em seu próprio quarto, com exceção da Olga que levava o seu alimento de todos os dias. E seus amigos, ainda sim a visitavam, mas raramente acontecia isso. Maxi e Camila foram umas duas vezes visitá-la. Francesca ia quase todos os finais de semana. E Natália ia várias vezes na semana, já que essa se tornara sua melhor amiga. Quando Léon faleceu, Violetta tentou ser forte e seguir em frente. Continuou seus estudos, tentou não se abalar. Mas de uns meses para cá, ela andava muito cansada, em um estado deplorável. Cada dia que passava era pior. Ela tinha chegado até a ficar internada por uns dias, havia ficado doente seriamente. Por um instante até desejou a morte. Queria estar ao lado de Léon, não importava se ele estivesse brilhando no céu ou queimando no inferno, apenas queria estar com ele.

Ainda tremia, mesmo embaixo daquele amontoado de tecido. Mas um ruído estranho a fez criar coragem e se levantar. Caminhou lentamente até a janela, em busca da visão da rua. Ficou meio intrigada, um carro estava estacionado à frente de sua casa, mas era desconhecido. Então viu seu pai sair de dentro do mesmo, acompanhado de uma mulher que também era desconhecida. Provavelmente era a "nova namorada" de Germán.

Ouviu três leves batidas na porta, tirando-a de seus devaneios. Era Olga que trazia seu jantar. Em mãos, uma bandeja completa com tudo o que Violetta tinha direito. O problema era que ela não tinha apetite suficiente para tudo aquilo. – Vilu, minha querida, o que faz aí na janela? – Olga colocou a bandeja sobre a escrivaninha e se aproximou da jovem.

– Nada, apenas estava vendo a "linda" paisagem lá fora! – Violetta disse irônica se referindo à mulher que acompanhara seu pai.

– Ah, sim, Esmeralda!

– Ah, então esse é o nome dela? – Perguntou com desgosto. – Esmeralda... – Repetiu tentando se lembrar de algo. – Bom, deixei seu jantar aqui! Pena que não quis jantar à mesa junto a sua família.

– Obrigada, Olga! – Foi o que respondeu.

A empregada saiu deixando-a sozinha novamente. Violetta sentou-se em sua cama e pôs a bandeja em seu colo. Começou a analisar cada alimento que se encontrava ali. Uma simples sopa, nada exagerado. A típica salada de sempre, frutas e um copo de suco.

Com grande desgosto, levou a comida até sua boca em uma primeira colherada. Mastigou devagar, como se tivesse preguiça de tal ato, e assim terminou seu "jantar". Largou as frutas de lado e deu apenas um gole no suco. Não queria mais nada.

Pensou em levar a bandeja até a cozinha, assim tendo uma certa desculpa para descer e quem sabe poder "conhecer" a tal Esmeralda. Calçou suas pantufas, respirou fundo e saiu do quarto. Desceu as escadas lentamente, observando o movimento que havia na sala. Encontrou seu pai e a tal mulher conversando. Cumprimentou-os cordialmente e seguiu para a cozinha. Aquela mulher parecia ser uma boa pessoa, talvez ajudasse a mudar aquele jeito fresco de Germán, que sempre irritava Violetta.

Procurou Olga, mas ela não estava ali. Guardou o suco e as frutas de volta na geladeira e, de repente, quando fechou a porta, sentiu um vento frio e sombrio passar por sua espinha.

Assustada, Violetta fechou os olhos.

– Ei, não precisa ficar assustada, estou aqui para te proteger meu amor! Fique tranquila, não deixarei que nada, absolutamente nada, te machuque!– Uma voz doce e suave sussurrou em seu ouvido. Ela reconhecia aquela voz.

Abriu os olhos desesperada, queria saber o que estava acontecendo ali. E sim, era ele mesmo. Léon mais uma vez lhe aparecera, com aquela mesma roupa do dia anterior. Era um espírito, só podia ser.

Violetta se assustou quando o mesmo lhe tocou o cabelo. Com a respiração descompassada, emitiu um grito que ecoou por toda a casa, fazendo com que Germán e Esmeralda fossem correndo até a cozinha.

– O que aconteceu aqui? – Germán gritou, preocupado e ao mesmo tempo furioso pela bagunça da filha.

– Eu o vi... Pai, ele estava aqui! – Violetta permanecia estática, não conseguia mover um músculo. – O Léon estava aqui!

– Quê? Violetta, você está ficando louca com isso. Já está me cansando.

– Mas é sério, pai, eu juro que o vi. Bem aqui.

– Cansei! Eu já cansei! – Ele gritou se rendendo. – Violetta, você não pode mais continuar aqui em casa, precisa de um tratamento.