Violetta fechou os olhos e se deliciou com os batimentos cardíacos de Lucas adentrando em seus ouvidos como uma melodia fazia anos que não se sentia tão segura, desde que Léon morrera Violetta sempre viveu com medo, medo que de que o assassino viesse atrás dela, mas ele nunca veio, provavelmente nem sabia que ela existia, talvez tenha matado Léon apenas por fazer, e quem sofreu todas essas consequências foi ela, mas agora ela estava ali com Lucas, mesmo não sabendo o que sentia por ele, não sabia mais como lidar com os sentimentos a muito tempo, e agora que eles voltaram as mesmas duvidas do passado circulavam na sua cabeça.

Violetta acariciou as mãos do enfermeiro que estavam ainda presas em sua cintura, percebeu que Lucas ainda estava com o queixo apoiado em sua cabeça, ela sorriu, uma das melhores sensações tê-lo ali com ela, naquele manicômio, porem Diego lhe veio à mente, a discussão que Tomas mencionara, ela precisava falar com Lucas sobre isso, perguntar o que estava acontecendo, mas agora ali, no meio do filme, não parecia ser um ótimo lugar para isso.

– Lucas, eu posso lhe perguntar uma coisa? - Perguntou se virando para ele fazendo os rostos quase se colarem. - Mas eu quero que me responda a verdade.

– Claro, respondo o que você quiser. - Disse com a voz baixa causando arrepios na menina.

– O que você e Diego tanto discutem em relação a mim?

– Diego já veio reclamar de mim a você é? - Riu irônico.

– Não, não foi ele quem me contou, aliás, não falo com Diego faz tempo.

– Então quem foi?

– Tomás. Ele viu vocês dois discutindo quando chegou.

– Ah. - Resmungou desconfiado.

– Mas então, posso saber o motivo de discutirem por minha causa?

– Olha, esquece isso ta. É complicado...

– Responde Lucas! - Disse grosso virando-se pra ele. - Eu estava envolvida nessa discussão, então tenho o direito de saber.

– Será que você não entende que... é difícil pra nós dois essa situação? - Se levantou da cama deixando-a sozinha.

– Difícil por quê? - Questionou. - Sei que os dois gostam de mim, mas eu não posso escolher...

– Por isso mesmo Violetta! - Gritou. - Tanto eu como Diego, te amamos! Mas só um pode por a alegria de volta na sua vida!

Aquelas palavras ecoaram na mente da garota, ela ficou paralisada. Nunca imaginou que alguém além de León fosse capaz de amá-la, ela não ouvia um "Te amo" há anos.

– Desculpa, não devia ter dito isso... - Lucas também estava estático, não sabia como teve coragem de dizer aquilo.

– Violetta, a gente pode conver... - Diego ia entrando no quarto sem bater. - O que ainda faz aqui Lucas? Seu expediente já acabou por hoje. - Fez uma careta ao vê-lo ali.

– Eu o chamei aqui Diego! - Violetta se intrometeu.

– Mas já estava de saída! - Lucas pegou a bandeja encima da mesa e se retirou.

– Lucas... - O chamou porem ele já havia saído e batido a porta com força á deixando ali com Diego. - Meus parabéns Diego, viu o que fez? - Resmungou se levantando da cama e indo em direção ao banheiro.

– Eu? Não coloque a culpa em mim Violetta, ambos estavam discutindo e se você não consegue manter uma relação boa com o seu enfermeiro não diga que isso se deve a mim. - Resmungou colocando as mãos no bolso do jaleco branco. - Alias, vocês não se amam?

Violetta agora que se encontrava em frente ao espelho do banheiro arrumando os cabelos com a escova a deixou cair no chão, se amam,não eles não poderiam se amar, Violetta não poderia por outro no lugar de Léon mesmo que Lucas a fizesse se sentir feliz e completa depois de anos ela não deveria, fechou os olhos sentindo as mãos dele presas nelas á segundos atrás, os seus lábios doces colados aos delas, o seu aroma penetrante a deixando ansiosa, a garota precisava dele mas parecia que ele não a desejava tanto assim.

– Isso não tem nada haver com você Diego. - Sorriu irônica se lembrando dos sentimentos dele por ela. - Pelo o que eu saiba, você também me ama. - Questionou e de repente Diego estava no banheiro ao seu lado a olhando assustado.

– O que você disse?

– Você escutou bem Diego. - Suspirou cansada e soltou os cabelos cacheados caindo em ondas nas costas. - De todas as maneiras, você acha que isso é um jogo, e eu não sou algo para ser conquistado, sou uma pessoa, e sabe quando você me perguntou o que eu achava em Lucas? - Diego assentiu nervoso. - Eu o prefiro, porque ele me trata como alguém deve ser tratado, como alguém que me ama, e que não me vê como um objeto, essa é a diferença entre vocês dois, então, por favor, saia do meu quarto, quando eu precisar de você eu lhe chamo.

Diego a olhou horrorizado com suas palavras, abriu a boca para dizer alguma coisa mais nada saiu, assentiu e saiu dali sem dizer uma única palavra se quer, Violetta se deu por vencida e se trancou no banheiro decidindo tomar um banho, entrou no chuveiro e deixou a água quente cair sobre o corpo a relaxando, Léon lhe veio à mente naquele momento, os seus olhos verdes encantadores, seu sorriso se tirar o fôlego, não sabia como tinha sido capaz de ficar em duvida algum dia entre ele e outra pessoa.

Após tomar o banho, se enxugou, escovou os cabelos, olhou em volta daquele quarto, estava escurecendo aos poucos, e como estava sozinha e os expedientes já havia acabado decidiu tomar um pouco de ar, ela sabia aonde iria sem ser incomodada por ninguém.

Caminhou dentre os corredores mal iluminados do manicômio silenciosamente, o que menos queria naquele momento era chamar atenção, um descuido que fosse e Diego ou qualquer outra pessoa a mandava de volta para o quarto. Queria se ver livre, pelo menos aquela noite.

Saiu do local de fininho, andou até o jardim florido. Que mesmo à noite se era possível de enxergar as flores coloridas. Era o mesmo jardim que Lucas a havia levado dias atrás, quando ele se abriu para ela, quando Violetta percebeu o seu verdadeiro sentimento pelo enfermeiro.

Aquele mesmo banco onde eles se sentaram e conversaram estava ali, um pouco mais abarrotado por conta do tempo e da chuva de mais cedo, a madeira da arvore ao lado respingava gotas de água em sua cabeça, mas ela nem ligava, apenas apreciava o dom da natureza.

Sentou-se e começou a observar o barulho das árvores que eram tocadas pelo vento suave, aquele vento calmo pós-chuva que ela tanto admirava. Com tal ato acabou se lembrando dos momentos em que ficava trancada em seu quarto junto a León durante aquelas pancadas que até faziam com que a energia acabasse. Ela sentia medo, e seu amado estava sempre lá para protegê-la.

– O que faz aqui uma hora dessas? – Assustou-se quando foi tocada no ombro por alguém. Virou-se bruscamente ao encontro dessa pessoa, e um sorriso brotou assim que viu quem era.

– Ah, oi Lucas! – Sorriu discreta. – Apenas estava apreciando a única coisa bonita que existe nesse lugar. – Disse virando-se novamente para o jardim.

– Ah claro. – O enfermeiro riu baixo. – Também acho que aqui é a única bonita que existe nesse lugar. – Sentou-se ao lado da menina. - Eu queria me desculpar por hoje, sobre o que aconteceu com Diego. - Olhou para suas próprias mãos a mexendo como se fosse capaz de cortar aquele assunto, mas ele precisava falar disso com ela.

– Não se preocupe com Diego, eu já resolvi as coisas com ele, esclareci tudo o que deveria ser dito, acredito que ele tenha entendido e que não o trate mais assim. - Sorriu olhando para Lucas que agora olhava para o horizonte.

– Não precisa me defender. - Respondeu de prontidão. - Eu sei me resolver com Diego.

– Lucas... – Suspirou o olhando nos olhos castanhos encantadores. - Todos aqui sabemos como Diego é, ele já bateu em você, e não quero que se machuque. - Deitou a cabeça em seu ombro cansada com tudo aquilo. - Eu preciso lhe ver bem.

Lucas sorriu, mesmo que não estivesse aprovando as atitudes dela, ele gostava, ela era especial demais, era como se tivesse sido feita para ele, pena que nada daquilo iria durar tanto, ela sairia dali, voltaria a viver a sua vida normalmente, encontraria outro amor, e seria feliz com ele, esqueceria tanto dele como de Diego. Uma tristeza tomou conta dele ao pensar nisso, era difícil imaginar que nunca mais teria a garota presa em seus braços insegura pedindo por ajuda, seus lábios colados aos seus outra vez, o cabelo macio preso entre seus dedos, a risada contagiante que transmitia, o sorriso sincero, o jeito carinhoso que o tratava, a forma como via o mundo, e o brilho maravilhoso do olhar, ele sentiria falta disso, e talvez ela também, mas sentiria mais falta ainda de poder se sentir completo novamente.

– Eu estou bem, mas acho melhor entrarmos, esta esfriando. - Afagou os braços da menina que estavam congelados. - Você esta tremendo.

– Logo passa, e gosto de ficar aqui com você. - Fechou os olhos e se deixou dominar pelo seu aroma.

– Não Violetta, pegue. - Lucas tirou o casaco que usava e estendeu a ela, Violetta a contragosto acabou aceitando, o calor dele a esquentou, o seu perfume a dominou, e ele a abraçou de volta. - Eu também gosto de ficar com você, seja onde for.

Permaneceram por uns instantes abraçados, até uma brisa fria subir por sua espinha. Violetta estremeceu em seus braços sentindo o calofrio. Ela reconhecia aquele tipo de acontecimento, era o mesmo que ela sentira todas as vezes que o vira. Sim, aquilo significava a presença de uma única pessoa.

Olhou pelo ombro baixo de Lucas e o avistou, ele estava ali a fitando serenamente. Sentiu certo medo e abraçou mais forte o enfermeiro. León se aproximou em passos lentos e se agachou ao seu lado com um sorriso inigualável no rosto. O sorriso que ela tanto amava ver quando estavam juntos.

– Eu disse que não te abandonaria. – Sussurrou em seu ouvido. – Estou aqui meu amor, fique tranquila. – Acariciou os cachos da menina que caiam sobre seus ombros. – Apenas peço para que não me troque. – Disse com certo desgosto na voz levantando-se e a fitando agora de pé. – Ainda voltarei, Te Amo! – Disse por fim.

Violetta se assustou quando León beijou seu rosto levemente, acabou se levantando apressadamente dos braços de Lucas que a olhava confuso, não entendi tal ato da garota. Ela ficou de pé tentando ir atrás da alma de León, mas já era tarde, ele não estava mais ali.

– Violetta, o que aconteceu? – Lucas levantou-se ficando ao seu lado.

– Eu... o vi, Lucas... – Disse ofegante, sua respiração estava descompassada. – Ele estava aqui, ele voltou... – Disse sorrindo de canto e levando a mão em seu peito tentando acalmar seus batimentos.

– Do que está falando, quem você viu? – O enfermeiro indagou confuso, ainda não entendia as palavras da menina.

– León, o León estava aqui! – Sorriu radiante. – Ele disse que amava e que não me abandonou. – Olhou para Lucas e viu certa dor em seus olhos. – O que foi?

– Nada, vem. Temos que voltar para o quarto, você não está bem! – Pegou em seu braço e a guiou para dentro do manicômio de volta.

Andaram em total silencio, ela tremia, não de frio, mas devido ao que tinha acontecido, ele nunca tinha vindo dessa forma, nunca tinha dito que a amava como disse dessa vez, nunca se aproximou tanto como agora, uma felicidade grande tomou conta dela ao saber que ele ainda voltaria, voltaria depois de tudo o que tinha acontecido entre eles dois, ele provavelmente não tinha notado Lucas, ou tinha? Será que voltaria para dar o aviso que dessa vez nunca mais voltaria, que ela deveria agora seguir o seu caminho já que tinha outros amores e que ele nunca passou de ser passado? Duvidas que a assombravam.

Entraram no quarto em total silencio suas mãos agora suavam e esta quente demais e tremia, Lucas estava preocupado, talvez ter ficado com ela aquelas horas não tinha sido uma boa ideia, a sentou na cama e retirou a jaqueta que usava, a viu apenas de vestido, uma camisola na verdade, seus olhos estavam vermelhos, sem saber o motivo, suava, seu cabelo estava grudado no rosto, Lucas se agachou na sua frente e segurou suas mãos tremulas.

– Se acalme. - Sua voz saiu doce e cuidadosa.

Violetta assentiu e suspirou, fechou os olhos tentando controlar os tremores que a dominavam, sua respiração já estava se acalmando um pouco, ainda suava mas não tanto como antes, quando abriu os olhos viu Lucas ainda parado na sua frente com a expressão meio perturbada, acariciou o rosto dele, era inevitável não fazer isso, ele era perfeito demais para ser real, assim como Leon.

– Eu já estou bem Lucas, pode ir para casa agora. - Sorriu deixando as mãos cair sobre o seu ombro. - Esta tudo bem comigo, já passou. - Sorriu amarelo.

– Violetta... Eu...

Violetta o cortou dando um selinho nele rápido, ele a olhou surpreso e ela deu de ombros como se fosse inocente, um riso veio dos dois dominando o quarto frio e sombrio que estava, o abraçou em seguida, se deliciando com os braços dele presos em sua cintura, o seu perfume como sempre a dominou, sorriu e o desejou boa noite, Lucas saiu dali em seguida a deixando sozinha no quarto, tentando assimilar tudo o que havia acontecido.