Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 67
Família


Notas iniciais do capítulo

Mais uma vez acabamos ficando sem tempo, e sempre que conseguimos escrever ficamos enrolando, até parecemos o Jerry e o George, de Seinfield. A verdade é que os capítulos finais são mais complicados, porém vamos tentar apressar. Até mesmo os títulos ficam difíceis de escolher.
Esquecemos de avisar antes, mas a Sarah não terá mais gifs a partir de agora... O do capítulo 65 foi o último dela.
Boa leitura!



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*Narrado por Gabriela Hopper

O silêncio que se instalou após as minhas palavras foi angustiante. Se Gregory queria me dar uma morte indolor deveria ser mais rápido para puxar o gatilho. Tudo o que podíamos ouvir eram nossas respirações, a dele indicava nervosismo, o que já era de se esperar. Eu, por incrível que pudesse parecer, permanecia completamente calma. Apenas me concentrava em esquecer o que deixaria para trás e pensar nos meus motivos para fazer aquilo. Kal, atrás de mim, denunciava apreensão e relutância, pelo menos foi isso que pareceu pela velocidade com que ele inspirava e expirava o ar. Durante o tempo inteiro, mantive meus olhos fixos nos de Gregory, e o ato parecia intimidá-lo, pois o homem me evitava constantemente.

O metal gelado da pistola contra a minha pele acabou me deixando cada vez mais angustiada. Pensei em fechar os olhos para não ver o tempo passar, entretanto fitar Gregory parecia ser a melhor opção. Não que eu ainda tivesse esperança de que o líder do Alto do Morro voltasse atrás em sua decisão, o meu objetivo era não deixá-lo esquecer daquilo, eu queria que Gregory sempre se lembrasse da minha morte, do meu olhar insistente e, no futuro, percebesse que tinha sido um erro.

Cerrei os punhos, sentindo um profundo arrependimento por ter me levantado da cadeira, aquela espera já estava cansativa. Gregory ajeitou os dedos no gatilho e o corpo, ele estava se preparando para atirar. Era possível ver gotas de suor escorrendo nas laterais de seu rosto, sua mão tremia compulsivamente e seu olhar transmitia sofrimento, apesar de que era eu quem sofreria as consequências daquele ato.

Aos poucos, o homem começou a abaixar o braço, de forma que eu saí da mira da pistola. Então Gregory simplesmente a soltou bruscamente na mesa enquanto se jogava sobre a cadeira giratória. Talvez eu estivesse mesmo certa, ele era um covarde. Uma coisa que eu havia aprendido durante o apocalipse era que uma pessoa só devia apontar uma arma quando estava disposta a atirar. Fazer isso quando não tem certeza é praticamente um tiro no pé, e era isso que Gregory estava fazendo.

– Não dá... – ele disse cobrindo o rosto com as mãos e começando a chorar. Eu não deveria estar tão surpresa, aquilo era a cara dele. – Não dá, eu não consigo. Eu não consigo matar uma pessoa, ainda rezo pelos errantes que matei. Eu sei como é horrível tirar a vida de alguém, por isso me aliei a Negan. Não quero que as pessoas sintam esse peso, elas estão se oferecendo para lutar e matar, elas não merecem isso.

Fiquei paralisada, assim como Kal. Aquela cena era chocante, mesmo assim não pude deixar de me sentir aliviada. Minutos antes, a única certeza que eu tinha era que estava morta. Eu pensava que estava pronta para isso, porém, no momento em que Gregory desistira, eu tinha percebido que não estava. Não seria tão fácil assim deixar meus filhos sozinhos, no meio da guerra, não dava para deixá-los sem proteção. Eu confiava na Sarah e nos outros, mas sabia que eles sofreriam se eu morresse, e uma das coisas que eu mais detestava era ver meus bebês chorando. Eles precisavam de mim, e era bom saber que eu poderia vê-los mais uma vez. E ainda havia Daryl, longe de mim e das crianças. Suas reações costumavam ser imprevisíveis para mim, mas eu sabia que a culpa sem razão o atingiria caso eu morresse.

Diante daquela cena, não soube o que fazer. Pena eu não conseguia sentir, Gregory estava ameaçando a minha família e a mim, porém raiva ou ódio estava longe do que eu sentia. No fundo, ele só tentava fazer o que julgava ser o certo, por mais que eu soubesse que aquela atitude só pioraria tudo. A ideia de pegar a arma que estava sobre a mesa passou pela minha cabeça, mas aquilo não seria necessário, e Kal ainda estava atrás de mim com sua lança. Gregory não ordenaria que ele me matasse, afinal, o homem só seguia ordens e o líder do Alto do Morro ainda sujaria as mãos. Eu compreendia aquele sentimento, preferia não ter que fazer coisas terríveis para sobreviver, mas era uma tolice colocar esse sentimento acima da liberdade.

Quase dei um pulo quando a porta do escritório se escancarou rapidamente. Rick e Jesus estavam na frente do restante do grupo, eles vinham armados e entraram lentamente. Fiquei aliviada ao ser que todos estavam bem, exceto Michonne. Rick se adiantou, apontando sua fiel arma, que estivera com ele desde que eu me lembrava, na direção de Kal, o que fez com que ele se afastasse. Jesus segurava algo que se assemelhava a um fuzil, e os outros atrás vinham com metralhadoras ou pistolas.

– Você está bem? – ele se aproximou de mim abaixando a arma.

– Sim – me limitei a responder.

– O que diabos você está fazendo aqui? O que pretendia com isso? – Jesus prosseguiu. Gregory não pronunciou uma palavra, apenas se encolheu mais na cadeira enquanto tentava segurar o choro. Vendo que não conseguiria nada, Jesus tornou a questionar, dessa vez para Kal. – E você?

– Só estou seguindo ordens – o homem respondeu com um tom envergonhado.

– OK, tira o Gregory daqui e fique de olho nele se não quer mais problemas – ele ordenou furioso, só relaxando depois que foi obedecido.

– Eu vou lá em cima buscar a Ave e os outros – Carl se ofereceu. – Onde fica a estação de rádio?

– Jesus,mostre o caminho para ele e peça para o Tyreese descer. Eu preciso conversar com eles a sós – falei com uma entonação séria.

Eu havia tomado uma decisão, porém precisava do grupo inteiro para discutir sobre isso, pelo menos os adultos que tinham acabado de passar por aquilo. Depois de presenciar o que Gregory fizera com nossas crianças, não podíamos nos dar ao luxo de deixar tudo do jeito que estava. Por mais que fosse algo absurdo de se imaginar, era o melhor que poderíamos fazer por eles. Seriam tempos difíceis, tinha uma chance de durarem para sempre, todavia não teríamos que perdê-los para a guerra. Ninguém disse nada enquanto esperávamos por Tyreese, porém a apreensão era visível nos rostos de todos.

– Estou aqui. O que você queria falar? – ele perguntou assim que entrou na sala.

– Eu chamei todos aqui porque tenho uma coisa a dizer. Eu já tomei a minha decisão, mas preciso saber se vocês estarão do meu lado. Depois do que eu passei aqui, e com tudo que está acontecendo lá fora, sei que as crianças não estão seguras aqui. Estamos em guerra e eles precisam sair daqui o mais rápido possível, antes que algo aconteça. Quero deixar meus filhos em segurança, mas não posso fazer isso sozinha. Eu sei que as crianças não estarão a salvo aqui, e queria saber se concordam com isso.

*Narrado por Sarah Grimes

Eu não poderia me sentir mais aliviada por voltar ao Alto do Morro. Depois de uma longa conversa, Jesus havia conseguido convencer os guardas a nos deixarem entrar. Não fora nada fácil, já que eles eram muito fieis a Gregory, porém Jesus era um bom líder e, depois de conversar com os guardas e explicar toda a situação, os portões foram abertos. O alívio não era completo, já que desde que entrara na comunidade, não tinha visto minha filha. Pelo menos eu sabia que ela estava bem, isso já era um começo, no entanto eu só ficaria bem de verdade quando estivesse com Grace.

Havíamos seguido para a sala que tinha sido usada para a primeira reunião das três comunidades e era o escritório dos líderes do Alto do Morro. Jesus pretendera encontrar Gregory primeiro para resolver a situação e quando tudo estivesse limpo ir ver as crianças. Fora uma surpresa para nós encontrar Gabriela e Gregory, este aos prantos. Eu não tinha conseguido distinguir se a expressão admirada dela havia sido causada pela nossa chegada ou pelo estado em que Gregory se encontrava, mas deveria ter acontecido algo importante lá. Também havia outro homem, provavelmente um guarda, que segurava uma lança atrás de Gabriela, ele parecera meio desconcertado ao ver Jesus.

Depois que tudo havia se resolvido, Jesus e Carl subiram para trazer Tyreese, porém havia tido a impressão de que Gabriela só havia pedido aquilo com o intuito de dispensá-los. Seria comum que, naquela situação, ela tivesse ficado nervosa, porém o que víamos era uma Gabriela calma, pensativa e distante.

– Estou aqui. O que você queria falar? – Tyreese perguntou enquanto entrava na sala.

– Eu chamei todos aqui porque tenho uma coisa a dizer. Eu já tomei a minha decisão, mas preciso saber se vocês estarão do meu lado. Depois do que eu passei aqui, e com tudo que está acontecendo lá fora, sei que as crianças não estão seguras aqui. Estamos em guerra e eles precisam sair daqui o mais rápido possível, antes que algo aconteça. Quero deixar meus filhos em segurança, mas não posso fazer isso sozinha. Eu sei que as crianças não estarão a salvo aqui, e queria saber se concordam com isso.

– E o que você pretende com isso? – Fred indagou. Todos os olhares se voltaram para ele, era como se meu irmão fosse um intruso naquele escritório. Não era por menos, todos nós tínhamos filhos, entendíamos perfeitamente a situação, exceto Fred. – OK, eu sou o estranho aqui. Mas estou começando a entender o seu plano, e me preocupo com a minha sobrinha.

As pretensões de Gabriela começaram a ficar claras em minha mente, e não pude deixar de ficar preocupada como meu irmão. Ela queria tirar as crianças da guerra, provavelmente mandá-las com alguém para longe das comunidades. A guerra tinha acabado de começar, precisaríamos do máximo de pessoas possível, por isso dispensar alguém para acompanhar nossos filhos estava fora de questão. E não dava para cogitar a hipótese de abandonarmos a comunidade nesse momento tão difícil, já que nós tínhamos iniciado aquilo.

– Precisamos tirá-los daqui, levar nossos filhos para longe da zona de combate. Mais a leste tem uma cidade, não é grande a ponto de estar infestada de errantes, porém vai ser fácil achar abrigo por lá. Eles podem ficar lá por alguns dias, se necessário mais...

– Eles vão ficar sozinhos? Minha filha é apenas um bebê, seria muito arriscado – Eugene se manifestou claramente preocupado, como todos nós.

– Acho que não é viável sairmos daqui agora. Não sei como está lá fora, mas seremos mais úteis lutando do que levando as crianças.

– Ainda não resolveu o problema de eles irem sozinhos – ele prosseguiu.

– Eles têm uns aos outros e os mais velhos sabem se virar. Confio a minha vida à Avery, ela sabe se defender melhor que eu. E vocês, confiam em Carl, Scott e Mika? Eles já são adultos, vão conseguir proteger os pequenos – nos entreolhamos rapidamente, uns concordaram com a cabeça, outros murmuraram respostas positivas. – Além disso, eles terão armas, mantimentos e o básico para sobreviverem lá fora, eles conseguem se virar. Samuel e Avery são tudo para mim, por isso estou fazendo isso. Tenho certeza que o mundo lá fora está bem mais seguro do que aqui dentro, não vou arriscar que eles sejam ameaçados novamente. Vocês concordam com essa ideia?

A proposta era aterrorizante, não podia imaginar Grace longe de mim, contudo era o melhor que tínhamos no momento. Poderia ser a única chance dela, a morte estava muito próxima e eu não queria aquilo para a minha filha. Ela era muito jovem para isso, não poderia sofrer na guerra nós havíamos provocado. Era difícil imaginar a possibilidade de Grace sendo criada longe dos pais, eu não gostava da ideia de perder o crescimento dela, aquilo me assustava bastante, no entanto a simples garantia de que minha bonequinha ficaria bem fora o suficiente para me fazer mudar de opinião. Eu já tinha tomado a minha decisão, se aquilo era o que poderíamos oferecer aos nossos filhos, uma chance de seguir em frente, parecia ser a coisa certa a fazer.

– Estou com você – me adiantei enquanto os outros ainda ponderavam a ideia. Olhei para Rick em busca de saber a sua posição, e ele apenas esperou que eu prosseguisse, provavelmente concordava comigo. – Eu não gosto nem de imaginar minha filha e as outras crianças presas lá em cima. Assim como você – me voltei para Gabriela, que deu um pequeno sorriso de agradecimento, contente com o apoio e a confiança que depositava no plano dela –, não quero correr o risco de passar por isso novamente. Essa pode ser a nossa única chance de poupá-los da guerra.

– Estamos dentro – Glenn afirmou depois de se trocar diversos olhares com Maggie, e os outros pareceram concordar.

– Ótimo – Gabriela falou depois de algum tempo.

– E quando começamos? – Rick questionou.

– O mais rápido possível.

O mais rápido possível era naquela mesma tarde. Todos começaram a fazer os preparativos, a saída deveria ser antes do anoitecer. Tyreese, depois de conversar com Mika, ficara incumbido de preparar a caminhonete, checar os pneus, a gasolina, e colocar alguns galões de combustível e os primeiros mantimentos na parte destinada à carga. O resto de nós estava aproveitando o tempo para arrumar as coisas e se despedir. Rick, além de se despedir de Carl e Grace, explicava a situação para seu filho. Algo me dizia que ele não gostava muito da ideia, apesar de já ser um adulto, Carl não tinha outra opção e dependíamos dele para aquilo.

Tentava me concentrar em separar as roupas, principalmente de inverno, para Grace e alguns objetos que ela gostaria de levar, como sua boneca Griselda. Dobrei as roupas com todo o carinho, apesar de não estar muito concentrada naquilo. Eu havia lutado muito por Grace, sonhado com minha filha por muito tempo, o amor que sentia por ela era o motivo de estar fazendo aquilo. Eu era mãe, sabia o que era melhor para minha garotinha, e aquilo não significava que Grace estaria segura perto de mim, essa era uma das piores partes. Eu sabia que Gabriela pensara naquilo ao criar o plano, não dava para deixar tudo que jeito que estava. Antes, eu havia ficado muito preocupada com Grace para ver como ela estivera no Alto do Morro, porém, após a reunião, ainda não tínhamos conversado, e provavelmente isso não aconteceria. Se fosse para manter minha filha a salvo, eu ficaria o mais longe possível.

Parei de pensar naquilo para não chorar, ainda havia muito a ser feito. A mochila de Carl, que eu havia arrumado primeiro, já estava fechada. Peguei uma caixa de madeira, que estivera guardada dentro de uma gaveta. Era algo muito importante, onde eu guardava as poucas fotos que tínhamos da família. A partir daquilo eles poderiam se lembrar de nós caso algo pior acontecesse.

Perto da caminhonete, todos terminavam de se despedir. Avery estava de braços cruzados em um canto, notei que ela não gostava muito daquela ideia. Carl, escorado na caminhonete, apenas observava os outros. Rick beijou o topo da cabeça de Grace, deu um pequeno sorriso entristecido e passou a mão por seus cabelos antes de colocá-la no chão. Fui até minha filha, peguei sua mão e a levei até o veículo.

– Papai disse que eu e o Carl vamos passear, mas ele não vem. Você também vai ficar?

– Não posso ir com você, dessa vez será apenas o Carl e os outros – disse controlando a minha voz.

– Não precisa ficar preocupada, a gente não vai demorar muito, daqui a pouco já estaremos juntas – ela sorriu e eu tentei fazer o mesmo, pressionando os lábios para segurar o choro.

– Tudo bem, mas prometa que vai obedecer tudo que o seu irmão disser – Grace sacudiu a cabeça afirmativamente. – Eu vou sentir muito a sua falta.

Peguei-a no colo, coloquei minha filha dentro da caminhonete e fechei o cinto de segurança do banco lateral. Vê-la daquele jeito, tão segura, era algo bom, enquanto Grace não soubesse de nada, as coisas ficariam melhores. Eu, por outro lado, não tinha mais a mesma certeza do início, a hora estava cegando perto e não sabia se já estava pronta para me separar dela.

Hesh já estava no banco do meio, Glenn e Maggie provavelmente já haviam conversando com ele e estavam se despedindo de Scott. Gabriela estava na outra porta, ajeitando cuidadosamente o cinto de Sam enquanto falava algo com ele. Fechei a porta e funguei enquanto passava as mãos pelos olhos, me afastando um pouco do local. Fred também já se despedira de Grace, já estava tudo pronto. Apesar de querer passar o máximo de tempo possível com minha filha, havia optado por não prolongar a despedida, assim seria menos doloroso. Dizer que a amava seria desnecessário, ela já sabia disso. Uma pequena voz em minha cabeça dizia que tudo ficaria bem, e eu procurei acreditar nisso, era a minha esperança.

Desviei o olhar no céu e notei que Carl estava ao meu lado, me fitando atenciosamente. Tentei forçar um sorriso, porém seria impossível e dispensável, já que ele parecia bastante sério.

– Carl, eu preciso que fique com isso – disse entregando a caixa de madeira, era a única coisa que eu tinha conseguido carregar até o carro.

– Tudo bem, mas o que tem aí? – ele perguntou recebendo o objeto cuidadosamente.

– Se lembra da máquina fotográfica que o Glenn tinha na prisão? Aí dentro tem fotos desde a época do hotel, da Grace menor, dos meninos e de todos. Quero que mostre isso para os quatro, até mesmo para o mais velhos, eles devem se lembrar que têm uma família que os ama muito e que não devem se esquecer dela.

– Sarah, você quer dizer que vocês não têm mais chance, que... – Carl não completou a frase, porém deu para entender o que queria dizer. Havia a possibilidade de não sobrevivermos, isso era certo, porém tínhamos uma chance de continuarmos vivos.

– Não é isso, estamos dando mais oportunidades a vocês. Não vou mentir, a situação está ficando crítica aqui, temos as mesmas chances de falhar e vencer. Por isso estamos tirando vocês daqui, queremos que fiquem seguros, a salvo...

– Mas eu quero ficar! – Carl protestou, ele sempre quisera mostrar seu valor e odiava fugir, principalmente de uma luta. Eu o conhecia o suficiente para saber que meu enteado não gostava nada da ideia de deixar seu pai. – Quero ajudar vocês.

– Sei que quer, Carl. Mas precisa entender que só queremos o seu bem e, além disso, preciso que vá para cuidar da sua irmã. Você é a pessoa em quem eu mais confio para isso. Está nesse mundo há mais tempo que eu, você já sabia sobreviver sozinho desde muito novo, enquanto eu dependia completamente do James. Agora eu estou confiando o meu bem mais precioso a você.

– Obrigado. Sabe, no começo eu não fiz por merecer essa confiança, mas agora vou fazer de tudo para não te decepcionar. Eu já estava tentando mudar há algum tempo, vou provar que agora não sou mais aquele garotinho.

– Se cuida – falei dando um pequeno sorriso, surpresa pelo que tinha ouvido, sem dúvida alguma, ele já era um homem. Depois disso, Carl me abraçou. No início não consegui fazer nada além de ficar estática, contudo retribui o ato inesperado prontamente assim que pude absorver a informação. Assim, o último muro que havia entre nós foi quebrado, era nosso primeiro abraço, e talvez o último. Eu não era mãe dele, todavia Carl fazia parte da minha família.

*Narrado por Avery Hopper

Sentada nos degraus da saída do hotel, fiquei apenas observando as despedidas, mas especificamente a de minha mãe e Sam. Eu esperava que ela terminasse para podermos conversar, já que não havíamos tido tempo. Depois que o pessoal tinha voltado e nos livrado das garras de Gregory, a única coisa que mamãe me falara era sobre a decisão que o grupo havia tomado.

Uma parte de mim a repreendia por ter resolvido aquilo antes de me consultar, minutos antes eu havia ficado muito feliz pela confiança que ela depositara em mim, e aquela notícia tinha me decepcionado um pouco. As poucas palavras que minha mãe dissera enquanto arrumava nossas malas diziam que o Alto do Morro não era mais seguro, portanto Sam e eu deveríamos ir embora. Não era como se eu ainda fosse uma garotinha que precisasse de proteção. Isso não significava que eu odiava o jeito que ela me tratava, mas eu gostaria de ser vista como uma adulta.

Por outro lado, minha mãe deveria ter motivos para aquilo, e eles com certeza estavam relacionados à conversa que tivera com Gregory. Provavelmente eu ficaria sem saber o porquê daquilo, assim como estava longe de descobrir o assunto misterioso que ela não queria me contar. Poderia ser a nossa última conversa, e eu só queria ter a minha mãe de volta.

Depois de dar um beijo na bochecha do meu irmão, ela finalmente se afastou do carro. Se antes minha mãe estava extremamente controlada por causa de Sam, quando começou a vir em minha direção pareceu estar muito emotiva, levando o estilingue dele nas mãos. Ao notar que eu a observava, limpou o rosto, tentando novamente não chorar. Esqueci toda a raiva que eu sentia por causa daquilo e corri para abraçar minha mãe, o que acabou fazendo com que ela se desequilibrasse. Inicialmente, ficamos em silêncio nos abraçando, até que eu tomei a palavra.

– Preciso que leve uma coisa para mim – ela disse por fim, me soltando. – Pegue o estilingue do seu irmão e só entregue quando julgar necessário, você sabe que ele é muito novo e não confio o suficiente para que Sam brinque com esse tipo de coisa. Mas também sei que ele adora esse objeto, é uma das poucas maneiras de se lembrar do pai e nesses tempos ele com certeza vai precisar disso.

– Tem que ser assim? Eu preciso mesmo ir? – falei enquanto a abraçava de novo, era a minha última tentativa, apesar de saber que ela não voltaria atrás.

– Eu só estou tentando te proteger.

– Eu sei me cuidar.

– Não posso correr esse risco. Não estou fazendo isso porque te acho muito indefesa ou não confio em você. Só não consigo imaginar como seria se te perdesse...

– Você já está me perdendo, vamos nos separar – eu não falava no sentido de morrer, apesar de isso ser bem provável, mas estaríamos nos afastando e eu não queria ficar longe dela. Soltei-me de seus braços para olhá-la nos olhos. Minha mãe tentava se manter tranquila, e estava conseguindo. Eu, por outro lado, tinha que me esforçar muito pra não chorar. Meus olhos já estavam marejados, provavelmente brilhavam devido às lágrimas não derramadas.

Por mais que minha mãe falasse como se eu estivesse indo para uma colônia de férias com meu irmão e meu namorado por algumas semanas, isso não era verdade. Para mim, era como se um míssil estivesse prestes a nos atingir. E o pior de tudo era que eu estava fugindo, enquanto ela ficava lá. Eu queria pensar que tudo ficaria bem, contudo isso era apenas uma mentira confortante. Se ao menos minha mãe pudesse ir comigo, eu me sentiria melhor. Por outro lado, ainda queria poder ficar e ajudar. O nosso grupo ficaria mais forte se todos ficassem juntos, no entanto os outros pareciam pensar o contrário, já que estavam nos despachando.

– O que aconteceu entre você e Gregory? – se eu soubesse o motivo daquilo, teria uma chance de convencê-la.

– Não foi nada de mais, apenas o suficiente para me mostrar que nenhum de vocês está seguro aqui. Se for necessário separar a minha família para que você e Sam fiquem seguros, é isso que eu vou fazer.

– Mas eu não quero me separar de você!

– Eu também não, mas isso é necessário. Sempre estaremos juntas, aqui – ela apontou na direção do meu coração e eu fiquei um tanto confusa, minha mãe nunca fora de usar essas metáforas.

– No coração? – perguntei ainda perdida.

– Pode ser, mas eu estava falando disto – ela explicou sorrindo enquanto puxava o cordão do meu colar, que eu havia deixado por baixo da blusa. Minha mãe pegou o pingente oval talhado em madeira e o girou, fazendo com que se transformasse num coração. – Esse é o nosso coração, enquanto ele estiver com você nós estaremos juntas – ela me abraçou novamente, dessa vez com mais força. Em seguida me soltou e se ergueu na ponta dos pés para beijar a minha testa. – Eu te amo muito, Ave.

– Também te amo, mamãe – sussurrei com a voz embargada.

– Você precisa ir agora.

Assenti com a cabeça e me voltei para o veículo, caminhando sem olhar para trás. As crianças já estavam sentadas dentro do carro, bastante quietas. Limpei as lágrimas que começaram a cair, tendo a certeza de que a minha família estava se separando.


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Notas finais do capítulo

Ainda odeiam o Gregory? Aguardem, porque ele fará algo muito desprezível...
Uma sequência de Born to Die está praticamente descartada por falta de ideias, apesar de já termos os personagens em mente. Mesmo assim, gostamos de pensar como seriam eles (Grace, Sam, Hesh e Brianna) grandes. Queríamos saber como vocês imaginam a aparência deles, em pessoas famosas. Algumas pessoas costumam descartar as perguntas que fazemos nas notas finais, mas realmente gostaríamos de saber o que acham disso.
O que acharam do capítulo? O que esperam do futuro? Deixem seus comentários, e até semana que vem!