Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 48
Acerto de contas


Notas iniciais do capítulo

Agora voltamos às três narrações. A primeira foi um pouco menor do que queríamos, só para resolver uma parte e iniciar outra.
Esperamos que gostem, estamos muito ansiosas para saber o que vocês vão achar desse.
Boa leitura!



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*Narrado por Avery Hopper

Depois de cantar umas seis músicas acabei pegando no sono. Acordei com muita fome, me perguntando como havia sobrevivido apenas com o café da manhã do dia anterior. Por mais que eu soubesse que era quase impossível escapar, ainda tentava encontrar uma maneira de fugir. Rick, minha mãe e os outros deveriam estar a caminho, mas isso parecia perigoso. Brian havia dito que qualquer um que entrasse no caminho dele morreria, e eu não podia esperar que minha mãe ou qualquer outro viesse para correr esse risco. De repente, a porta se abriu e James entrou na sala. Ele parecia bem mais calmo do que da última vez, e assim como Brian, aparentava ser mais simpático.

– Aproveite a comida – James colocou uma lata de pêssego em calda com uma colher na maior brutalidade possível, sem derramar o líquido. Ele parecia me evitar, e me pensei que ele ainda tentava absorver o que eu havia dito. – Não se acostume, as refeições vão piorando, então torça para o Rick chegar logo. Talvez você saia viva.

James saiu, me deixando sozinha novamente. Devorei os pêssegos e tomei todo o caldo, ignorando o habitual gosto de estragado da maioria das comidas. Eu poderia ter pensado em guardar um pouco para depois, mas estava com tanta fome que isso parecia inviável.

Então houve um som que eu demorei a distinguir. Só quando ele tornou a se repetir percebi que havia alguém subindo as escadas. Fui até o canto contrário à porta, me escondi atrás de um móvel e fiquei parada esperando que alguém chegasse. Eu não sabia exatamente quem era, mas estava com medo que fosse algo ruim, porque James havia acabado de sair e o barulho era alto de mais para uma só pessoa. Escutei a tranca sendo jogada para cima, e então a porta se abriu.

– Está vazio – reconheci a voz de Carl. Fiquei muito feliz em saber que ele estava lá, e que eu finalmente poderia sair.

Levantei-me rapidamente e corri até Carl para abraçá-lo. Eu estava tão assustada que nem pensei que ele poderia achar isso estranho. Notei que Daryl estava com ele, e fui até ele, que retribuiu o abraço ao seu estilo frio.

– É bom te ver também, garota – ele falou depois que eu me acalmei.

– Onde está a minha mãe? – perguntei.

– Ela, Rick e Michonne foram buscar a Sarah – Daryl respondeu. – Temos que sair daqui. Vocês dois vão para o carro, eu vou dar cobertura.

– Mas... – Carl tentou argumentar, porém foi interrompido.

– Apenas entrem no carro.

Antes que pudéssemos fazer algo, o som de um tiro ecoou pela sala. Ele parecia ter vindo de um dos andares de baixo, mas era difícil distinguir. Primeiramente ficamos paralisados. Por um lado poderia ter sido algo bom, mas o tiro poderia ter sido disparado por um inimigo. Descemos as escadas rapidamente, Carl e eu fomos até o carro escondido atrás de alguns arbustos e árvores, muito bem camuflado, enquanto Daryl seguiu na direção contrária. Trancamos o veículo e ficamos apenas tentando ver algo pela janela.

Fiquei sem saber quem havia atirado, e se essa bala atingira alguém. O mais estranho era que não foram três ou quatro, foi apenas um tiro. Isso me deixava muito aflita, mas eu não podia fazer nada, o que me restava era apenas esperar e torcer para que fosse algo bom.

*Narrado por Sarah West

Depois de passar o dia inteiro trancada no quarto, eu comecei a formatar um possível plano de fuga na minha cabeça, que só teria êxito se tudo saísse conforme o planejado. Em primeiro lugar, o quarto, que deveria ter pertencido a uma criança, tinha duas portas: uma levava ao corredor; e a outra, que não estava trancada, levava ao quarto dos pais. As duas portas possuíam a mesma fechadura, mas o quarto dos pais não tinha chave, já que James deveria estar com a única. E se eu conseguisse pegar a chave, poderia me trancar no outro quarto para poder tentar sair da casa.

O único jeito de conseguir isso era apagando James, e para isso eu havia pego uma caixa de madeira no quarto do casal, que era usada para guardar fotos de família e outras recordações. Eu realmente estava determinada a fazer isso, eu iria conseguir sair daquele quarto. Não era uma vingança por tudo que ele havia me feito, e sim uma prevenção pelo que estava por vir, eu não podia deixar que ele fizesse algo com a minha família.

Fiquei sentada na cama observando a porta com a caixa ao meu lado. Escutei passos perto da porta, e eu sabia que só poderia ser James. Fui até a parede, onde eu poderia me esconder quando a porta fosse aberta. Ergui a caixa acima da minha cabeça quando ela foi destrancada e se abriu lentamente.

– Sarah, precisamos conversar – ele começou e eu esperei. – Tem alguma possibilidade de esse filho não ser meu? – quando ouvi essa pergunta, comecei a abaixar a caixa aos poucos e gelei. James me procurou pelo quarto, e eu tentei continuar calma. – Não se esconda. Eu tenho o direito de saber! – fiquei sem saber o que fazer quando notei a fúria dele. Eu já sabia do que James era capaz quando estava nervoso, e não queria repetir aquilo. Então ele fechou a porta e me encarou por alguns segundos antes de me puxar pelo braço. – Agora você vai me falar tudo!

– Não, não é seu – falei com raiva. A expressão dele mudou drasticamente, e senti que as minhas palavras o afetaram muito, como se eu tivesse descontado tudo que havia acontecido, mas isso não era o suficiente. Ele apertou meu braço com mais força, mas antes que James pudesse fazer algo, ergui a caixa e acertei a cabeça dele com força.

Ele cambaleou para trás e caiu no chão desnorteado. Aproximei-me de James e acertei sua cabeça pela segunda vez, deixando-o desacordado. Corri até a porta e retirei a chave, depois me agachei ao lado de James, peguei sua arma e a minha faca. Quando tentei me levantar, algo me bloqueou.

Uma dor muito forte invadiu o meu corpo. Eram as contrações, mas elas estavam mais fortes do que nunca. Apoiei meu corpo na parede e tentei me levantar novamente, mas eu não conseguia. Arfando e sentindo muitas dores eu me arrastei com dificuldade até a porta do quarto de casal usando as últimas forças que eu tinha e me tranquei no quarto.

Minha cabeça rodava e as dores só aumentavam, as contrações forçavam a expulsão do bebê estavam insuportáveis. Tentei ir até a cama de casal, mas não consegui atravessar nem metade do quarto quando a dor mais violenta de todas me alcançou. A bolsa estourou e um líquido começou a escorrer pelas minhas pernas até o chão. Em seguida veio o sangue, que desceu rapidamente. Encostei meu corpo na parede e passei a mão direita pelos meus cabelos desesperada, tentando pensar em algo.

Depois de tudo que eu havia passado por causa dessa gravidez, tinha que ter valido a pena, o parto precisava dar certo. Junto com a dor das contrações veio a dor emocional. A primeira gravidez, e então aquele fatídico dia no supermercado, que havia deixado em mim uma marca, algo que eu nunca poderia esquecer, e a pessoa que me causou todo aquele sofrimento foi alguém que eu amava. Então, depois do recomeço na prisão e eu engravidei novamente. Pensei que as coisas estivessem melhorando, mas isso só criou outro problema, para mim e para todos do grupo. Rick acabou me magoando e isso doeu muito, mas conseguimos consertar isso e agora eu estava sozinha, prestes a dar a luz.

Parecia uma experiência de morte, e a minha vida inteira voltava em minha mente. Coisas boas e ruins, minha primeira família, o grupo, minha segunda família, minha infância, juventude e a fase atual. Minha vida antes do apocalipse e depois dele. Tudo parecia ter passado muito rápido, quase 30 anos que passaram sem que eu percebesse, e eu só me dava conta disso agora. Não era a morte, ou pelo menos eu pensava que era, apenas uma nova vida que entrava nesse mundo turbulento e desesperador, que distorcia a visão das pessoas. Era uma realidade horrível para se viver, mas meu filho iria nascer.

*Narrado por Gabriela Hopper

Estávamos dentro do carro, de frente para a casa de dois andares, à espera das últimas instruções. Rick dirigia o veículo, Martinez ia amarrado no banco do passageiro para apontar o caminho e, nos bancos de trás, iam Carl (que teve que insistir muito até seu pai permitir), Michonne, Daryl e eu.

Rick havia preparado tudo para que ninguém fosse onde realmente queria, para que isso não atrapalhasse o plano. Assim, Daryl e Carl iriam encontrar Avery, enquanto eu e Rick iríamos atrás do Governador e Michonne nos dava cobertura, e depois pegaríamos Sarah. Deixei meu machado no hotel e optei por levar uma pistola. Por mais que eu adoraria manter a promessa, estava tentando superar isso, não pelo instinto de sobrevivência, e sim pelas pessoas que eu amava e que precisavam de mim no momento.

– Vamos esperar um pouco até que haja movimentação, em seguida entraremos – Rick falou. A nossa grande desvantagem era o fato de desconhecer o local e os planos do inimigo. A única coisa que tínhamos a nosso favor era Martinez.

De repente, vimos um homem loiro saindo da casa com uma lata e uma colher nas mãos. Ele deu a volta e subiu uma escada que ficava na parte de trás da casa. O acompanhamos com o olhar até que o homem abriu uma pequena porta e entrou. Suspeitamos mais daquilo quando, minutos depois, ele desceu as escadas sem a comida. Provavelmente havia alguém lá.

– Daryl e Carl, vão até lá. Deve ter alguém nesse lugar – Rick falou depois que o homem já havia voltado para a casa.

Apenas com um sinal de cabeça, os dois saíram do carro e se dirigiram à escada. Continuamos no carro até que o Governador apareceu na janela, sorriu ao ver o carro e voltou para o interior da casa. Sem dizer nada, Rick abriu a porta e saiu, e Michonne e eu fizemos o mesmo. Segui Rick, que puxava Martinez, enquanto Michonne nos acompanhou mais atrás. Destravei a pistola e nem me dei ao luxo de observar o local, apenas fitei a janela até que o Governador apareceu lá novamente com um olhar ameaçador e ao mesmo tempo tranquilo, como se sua espera pelo acerto de contas finalmente tivesse acabado, e estava acabando.

– Eu sabia que vocês viriam! – ele falou com um sorriso vitorioso.

– Você tem reféns, e nós também – Rick disse empurrando Martinez, tentando começar pela diplomacia, de acordo com o que havíamos planejado no hotel. Tentaríamos ao máximo não usar as armas e, no lugar delas, as palavras.

– A época de diplomacia já acabou há muito tempo! – o Governador retrucou. – Eu não preciso lembrá-lo de Woodbury, não é mesmo?

– Poderíamos fazer uma troca – ele ignorou o que o homem havia dito e prosseguiu. – Ninguém sai perdendo, e não precisamos nos ver novamente.

– Acha mesmo que eu me importo com Martinez? – essa frase nos surpreendeu. Rapidamente o Governador sacou uma arma e apontou para seu capanga, mas rapidamente mudou de direção e disparou.

Tudo foi muito rápido. O tiro veio na minha direção, e atingiu a minha cabeça. O som do disparo ecoou na minha mente, e eu acabei caindo no chão. Era uma dor insuportável na têmpora esquerda. Tudo estava escuro, e eu só pude escutar o som de algo caindo no chão e, logo em seguida, algo parecido com uma luta corporal. Eu sentia um filete de sangue escorrendo na lateral do meu rosto, um sangue quente e dolorido. Parecia haver uma pressão enorme na minha cabeça, e só a minha audição realmente funcionava. Pude escutar o som de uma gota de sangue pingando no chão, vozes, passos apressados.

Eu me esforçava ao máximo para tentar ficar acordada, mas a cada vez que eu fechava meus olhos ficava mais difícil para abri-los novamente. Se o tiro atingiu a minha cabeça eu já deveria estar morta, mas não conseguia entender o que realmente havia acontecido. Encontrar uma conclusão parecia inútil, e não tornaria a minha situação melhor. As minhas energias finalmente se esgotaram e eu acabei perdendo a consciência.

– Gabriela – ouvi uma voz e senti que alguém me sacudia. Tentei abrir os olhos, mas a luz era muito forte. Aquela voz ficou ecoando na minha cabeça por alguns segundos até que eu fui sacudida novamente. – Gabriela!Vamos acorde! – dessa vez a voz foi um grito desesperado.

– Ela está bem? – outra pessoa perguntou, num tom igualmente desesperado. Eu me esforçava muito para reagir, mas me sentia tonta e fraca.

– Ela levou um tiro de raspão na cabeça e perdeu muito sangue. A Gabriela ainda está respirando, mas não acorda.

– Eu... – tentei falar. – Eu estou bem. O que aconteceu? – finalmente consegui abrir os olhos e me foquei na pessoa que estava na minha frente. Daryl suspirou aliviado ao me ouvir falar. Atrás dele estava Rick, que deu um pequeno sorriso.

– Não se preocupe com isso – Daryl falou.

– Michonne – Rick fez um sinal com a cabeça e ela pareceu entender o recado. Sem mais palavras, Michonne ergueu a katana e decapitou o Governador.

– Vão encontrar a Sarah e sairemos daqui – Daryl disse segundos após a morte do inimigo.

Olhei para o lado. O corpo do Governador estava no chão ao lado da cabeça, e Michonne, em pé ao lado dele, com a katana ensanguentada. Martinez estava provavelmente morto do outro lado, rodeado por uma poça de sangue. Ver o Governador ser decapitado na minha frente não foi tão chocante quanto eu pensava, talvez pelo fato de que ele tinha que ser morto e também porque o apocalipse me forçava a ver coisas piores, e ainda possuía alguns problemas a serem resolvidos. Daryl e Michonne pareciam bem, mas Rick estava com alguns cortes no rosto e o olho esquerdo muito inchado e roxo. Quando Daryl mencionou Sarah, Rick se levantou rapidamente e subiu as escadas, como se nada mais importasse. Encontrar Sarah era sim a maior das nossas preocupações no momento.

Segui Rick pelas escadas com uma pequena dificuldade, mas a tontura e o cansaço não importavam mais, principalmente porque o homem loiro deveria ser James, e ele estava com Sarah. Havia um enorme corredor com várias portas, o que nos deixou um pouco confusos, mas foi fácil encontrar o lugar certo, já que pudemos ouvir gritos de dor e outros de raiva.

– Sarah! Abra a porta! – um homem gritou e nós seguimos o som. – Eu nunca deveria ter me casado com você, sua vadia!

Nesse momento abrimos a porta. James socava a outra porta com fúria e, ao fundo, podíamos ouvir os gritos de dor de Sarah. Rick tirou uma faca do bolso e se jogou contra o homem, acertando um soco no rosto dele, que caiu no chão cambaleante. James se levantou rapidamente e tentou ir para cima de Rick. Então os dois começaram a lutar. Fiquei parada sem saber se interferia ou não, mas optei por ajudar Sarah.

Antes que eu pudesse fazer algo, os gritos que vinham de trás da porta se intensificaram. Instintivamente rodei a maçaneta várias vezes, mas a porta estava trancada. Os gritos pioraram, seguidos por uma respiração alta e ofegante. Tomei distância da porta e me joguei contra ela diversas vezes, mas as minhas tentativas estavam sendo em vão. Tomei mais distância e usei toda a minha força contra a porta. Ela cedeu e caiu no chão, juntamente comigo. Antes que eu pudesse me levantar, vi um enorme rastro de sangue no chão, o que me deixou paralisada.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam desse desfecho?
Nesse capítulos demos adeus ao Governador, mas temos alguém chegando. Por isso gostaríamos de fazer uma enquete em relação aos nomes do bebê.
Escolham o nome entre as opções: Christopher; Grace; Benjamin; Lucy; Luke; Ellie.
Queremos saber a opinião de todos!
Deixem a sua opinião!