Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 40
Folhado


Notas iniciais do capítulo

Então, já estamos no capítulo 40! Ficamos muito felizes de imaginar o quanto já escrevemos! Obrigada a todos que acompanharam a história até aqui!
Sem mais delongas, vamos ao capítulo.
Boa leitura!



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*Narrado por Sarah West

Tudo estava silencioso, mas o som do tiro parecia continuar ecoando. O que havia acontecido era inexplicável. O fato era um incidente terrível, que comprovava o que Carol havia dito desde o início da minha gravidez.

Uma pequena manada estava se aproximando do grupo, e Carol acabou se chocando com mais de vinte errantes. Sozinha e cercada por eles, ela teve que lutar contra todos e acabou sendo mordida. Mesmo assim, Carol conseguiu voltar e relatar os fatos para o grupo. Depois de horas agonizando sem decidir o que fazer, ela resolveu tirar a própria vida antes de reanimar e correr o risco de causar algum acidente.

Todos estavam em silêncio devido ao choque. No começo, eu achava que, com tantas mortes, um dia eu iria me acostumar, e não sofrer o mesmo impacto, mas as coisas pareciam ser as mesmas de antes do apocalipse: as mortes nunca são naturais. Parte disso se devia à brutalidade da morte, e também ao curto espaço de tempo entre uma perda e outra. As pessoas que morriam nem sempre eram próximas de mim, mas eu sentia muito pelas mortes.

Gabriela se sentia muito culpada por tudo aquilo. Ela explicou que Carol havia a chamado diversas vezes e ela ignorou os chamados. Depois de explicar, Gabriela não disse mais nada, apenas mirava o horizonte, dispersa em pensamentos.

– Precisamos ir, o tiro deve ter atraído mais deles – Rick falou.

– O que vemos fazer com o corpo? – Glenn perguntou depois que todos haviam se levantado, prontos para seguir a caminhada sem fim rumo ao desconhecido.

– Apesar do que aconteceu, Carol era do grupo – disse. Ela poderia ter feito coisas horríveis contra mim durante os meses anteriores, mas não parecia certo ir embora antes de providenciar um enterro. – Não podemos deixá-la aqui.

– Não podemos perder muito tempo, temos que sair daqui – Sasha falou.

Mais uma vez, o grande impasse era entre a humanidade e a sobrevivência. Ninguém sabia exatamente o que fazer, até que Daryl pegou o corpo, já enrolado em um pano branco que era usado par dormir, e colocou nas costas. Todos entenderam que ele pretendia levá-lo até o local onde iríamos acampar à noite, para fazermos um enterro.

Então nós simplesmente seguimos nosso caminho rumo ao norte, praticamente sem paradas. Quando o Sol começava a se por à nossa esquerda, paramos no meio da floresta. Depois de proteger o local com cordas, começaram a cavar a sepultura.

Eu me sentei assim que comecei a sentir algumas pontadas na barriga, ele estava bem mais agitado que ontem. Suspirei e repousei minhas mãos sobre minha barriga, que já estava bem grande, enquanto observava os homens trabalharem com a sepultura. Ainda era estranho para mim o jeito como tantas mortes aconteciam em tão pouco tempo, principalmente pelo fato de algumas vezes eram superadas tão rapidamente. Talvez fosse o fato da convivência com a dor e com o tempo as pessoas acabacem aceitando que aquela pessoa que mesmo sendo morta de maneira tão brutal havia cumprido seu papel.

A sepultura ficou pronta e Carol finalmente pôde ter seu descanso final embaixo de uma árvore, assim como Bob há seis messes. Mika e Scott se aproximaram de mãos dadas até o local com um ramo de pequenas flores brancas e delicadas.

– A gente pegou umas flores pra ela – Scott falou com uma voz meio triste enquanto colocava pequenas flores, que pareciam ser folhado, sobre o montinho de terra. Na época da prisão, Carol lia para as crianças, e isso mostrava outro lado dela.

Ficamos por alguns minutos apenas refletindo sobre tudo que havia acontecido. Carol era um exemplo de pessoa que foi mudada pelo apocalipse. As pessoas falavam sobre essas mudanças, mas eu não conseguia compreender isso. No começo do apocalipse, a minha vida continuou normal, até que a situação piorou e tive que sair do hospital. Passei aquele tempo todo sendo protegida, e nunca tive que fazer algo realmente importante pela sobrevivência. Eu também não havia visto as pessoas mudarem, uma vez que entrei para o grupo depois de mais de um ano de apocalipse, e acabei conhecendo pessoas diferentes do que eram antes de tudo começar.

Eu preferia esquecer os meses anteriores, principalmente agora com a morte de Carol. Ela me parecia ser o motivo de tudo aquilo. Mas, no final, eu a perdoava. Sabia que ela deveria ter passado por coisas ruins, e tudo que ela havia feito contra mim era pensando em proteger o grupo. Eu não concordava que a minha gravidez era tão arriscada quanto ela dizia, mas seus motivos eram convincentes, e a prova disso era a manada que quase nos atacou. No final, Carol havia tentado nos alertar no risco, e ela deu sua vida para salvar o grupo dele.

*Narrado por Gabriela Hopper

Já havia escurecido e, após a última refeição do dia, todos começavam a dormir. Mesmo que tentasse, eu não conseguiria dormir, então resolvi ficar observando as estrelas em um local mais afastado, para que eu pudesse me sentir sozinha. Toda vez que fechava os olhos, eu escutava os gritos de Carol, mais desesperados do que antes.

Era como se o sangue dela estivesse em minhas mãos, e eu não parava de me culpar por isso. Eu tinha que ter me virado, eu precisava ter ajudado!

A temperatura estava baixa, e o vento só contribuía para a sensação de frio. Enquanto me distraía com esses pensamentos, ouvi passos. Poderia ser um walker. Então me lembrei que estava totalmente desarmada. Passei as mãos pelo chão coberto de folhas à procura de algo, mas acabei desistindo e apenas fiquei inerte, aguardando a aproximação do mordedor. Eu me sentia fraca por dentro e por fora, e a última coisa que eu queria era encontrar uma daquelas aberrações.

Quando os passos pareciam mais próximos, me levantei rapidamente, mas, ao contrário do que esperava, era apenas Daryl.

– É você – disse dando um longo suspiro de alívio e voltando a me sentar.

– Você não estava no acampamento, eu estava te procurando – ele se sentou ao meu lado. – O que está fazendo?

– Pensando.

– Quer conversar?

– Não sei se consigo.

– Faça a mesma coisa que fez ontem: apenas fale. Eu vou estar te ouvindo – apoiei minha cabeça em seu ombro e me preparei para falar.

– Eu ainda me sinto culpada por ela ter morrido. Se não tivéssemos brigado, isso nunca teria acontecido. Se ao menos tivesse prestado atenção no que ela ia me dizer... O pior de tudo é que não tem como voltar, mudar isso. Nada que eu fizer vai mudar isso, eu ainda vou continuar vendo o sangue dela em minhas mãos, eu sinto que a matei – falei tudo de uma vez, sem prestar atenção nas palavras, apenas dizendo o que sentia. – Meu Deus! Eu só estou falando de mim. Você era amigo dela, não? Nem perguntei se você está bem. Como você está?

– Estou levando. Carol estava comigo desde o início, eu a conhecia bem. Vi como ela mudou bastante por causa do apocalipse. Aposto que, se tivesse acontecido comigo, ela teria seguido em frente. Acho que ela sabia, melhor do que ninguém, como enfrentar a dor, ela aprendeu a fazer isso. Talvez por causa da morte da filha dela – fiquei surpresa com o que ele disse. Eu não conhecia a história de Carol, e a julguei por causa de suas atitudes. Ela tinha seus motivos, e eu tinha os meus.

– Eu não sabia disso... Eu disse coisas horríveis para ela...

– Sophia era mais nova que a Avery. Um dia uma manada nos encontrou. Ela ficou com medo e fugiu, mas foi perseguida por dois errantes. Rick a deixou em um rio enquanto os matava, mas quando voltamos, ela não estava mais lá. Depois de dias de procura, encontramos ela no celeiro do Hershel, onde ele escondia os walkers. Carol já passou por muita coisa... Também tinha o marido dela. Ela apanhava dele e tinha que fazer tudo que ele mandava – a cada palavra dele, eu me sentia pior pelo que havia dito. Eu falava como se ela não tivesse perdido nada, e a nossa briga começou porque eu falei sobre ser mãe. – Você está bem? – ele perguntou ao notar que eu estava incomodada com aquilo.

– Por um lado, estou bem por ter falado com você, mas saber tudo isso sobre a Carol não me ajudou. Estou me sentindo uma pessoa terrível. Adoraria pensar que tudo vai ficar bem.

A cada conversa que tínhamos, parecia que a minha relação com Daryl evoluía. No começo era como uma paixão, mas agora as coisas estavam mudando, ele se preocupava comigo, e eu com ele. Não que o sentimento arrebatador do início tivesse ido embora, mas ele vinha junto com outros sentimentos mais puros.

– Já está tarde. Acho melhor voltarmos – disse me levantando e ele fez o mesmo.

Começamos a andar silenciosamente em direção aos limites do acampamento. No meio do caminho, ouvimos o som de um galho se partindo e, logo em seguida, de folhas secas sendo pisoteadas. Com apenas um braço, Daryl me colocou atrás do seu corpo enquanto pegava uma faca com a outra mão.

– Estava te procurando – Avery falou. – O que ele está fazendo aqui?

– O que você está fazendo aqui? – retruquei.

*Narrado por Avery Hopper

Acordei inquieta no meio da noite. Olhei para os lados procurando minha mãe, que estava ao meu lado quando eu havia dormido, mas agora tinha ido embora. Levantei-me com cuidado para não fazer barulho e comecei a andar lentamente pelo acampamento enquanto observava o local, onde as pessoas dormiam tranquilamente.

Depois de chegar à conclusão de que minha mãe não estava lá, resolvi sair dos limites do acampamento para procurá-la. No começo, fiquei com medo, já que não carregava nenhuma arma, mas à medida que andava, ficava mais confiante. Olhei para trás algumas vezes, me certificando de que não perderia o acampamento. Em uma dessas olhadas, pisei em um galho, que emitiu um ruído que pareceu extremamente alto naquele silêncio.

Tentei ignorar aquilo e continuei andando com mais cuidado, mesmo que as folhas secas do chão se partiam quando eu pisava nelas. Depois de uma curta caminhada, finalmente encontrei minha mãe atrás de Daryl, que apontava uma faca para mim.

– Estava te procurando – falei meio confusa. – O que ele está fazendo aqui?

– O que você está fazendo aqui? – ela desviou o assunto, como sempre fazia. Ignorei a pergunta e me aproximei deles. Daryl não sabia o que fazer, e acabou deixando a faca na mesma posição. Coloquei a mão sobre a lâmina afiada e abaixei a faca lentamente.

– Obrigada! – disse com certa ironia para tentar descontrair. O clima não estava nada bom, além da expressão desolada da minha mãe, enquanto Daryl parecia mais compreensivo. – Sabe, não gosto de objetos pontiagudos apontados para mim. Respondendo a sua pergunta, de novo, eu estava te procurando. Agora você me responde.

– Eu estava pensando – minha mãe respondeu. Ela parecia meio indecisa, como se tivesse que me contar algo.

– Nós estávamos conversando – Daryl disse. – Tenho que voltar para vigiar. Fiquem à vontade.

Ele saiu e voltou para os limites do acampamento. Ficamos o observando por algum tempo até que eu me voltei para ela. Eu queria perguntar algo o dia inteiro, mas achava que ela merecia tempo. Essa parecia ser a ocasião perfeita. A verdade era que eu estava muito preocupada com a minha mãe.

– Ainda se sente culpada?

– Não tanto quanto antes, mas ainda me sinto mal.

– Não é sua culpa se você deixou Carol para trás. Você só estava tentando evitar uma briga. Ela sabia se defender sozinha, tanto que matou a manada toda – tentei ajudar, mas talvez isso não fosse necessário.

– Sei disso, mas eu podia ter evitado isso. Eu estava julgando ela sem conhecê-la e o meu julgamento provocou a morte dela.

– Mesmo se a conhecesse, você não iria concordar com aquilo – notei que não estava funcionando, então decidi mudar de estratégia. - Podemos passar a noite toda discutindo se você tem culpa ou não, mas isso não vai mudar nada.

Depois que eu falei isso, minha mãe ficou me olhando por alguns instantes. Seus olhos estavam marejados, mas ela parecia um pouco feliz, até que deu um pequeno sorriso.

– Eu estou orgulhosa de você – ela me abraçou. – Pela garota que é, nunca teria sonhado com uma filha assim, inteligente, esperta, compreensiva... Você me disse uma vez que tudo ficava mais fácil quando você estava comigo, agora é minha vez de dizer. Eu não teria conseguido enfrentar tudo isso sem você, eu não estaria aqui se não fosse você Avery. E por isso eu tenho muito orgulho de ser sua mãe.

Sorri muito contente por ouvir tudo aquilo. Coloquei minha mão em seu ombro e ela fez o mesmo no meu. Continuamos andando lentamente até os limites do acampamento, e dormimos tranquilamente pelo resto da noite.


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Notas finais do capítulo

Se alguém não entendeu o nome do capítulo, folhado é o nome de uma flor silvestre que foi colocada sobre a sepultura de Carol.
http://www.jardineiro.net/wp-content/uploads/2011/05/viburnum_tinus1.jpg

Até mais! E não se esqueçam de comentar!



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