Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 39
Problema ou solução?


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo também ficou muito grande. Tínhamos que explicar várias coisas, já que houve um salto temporal de mais ou menos quatro meses.
Gostaríamos de agradecer a Giovanna, que nos ajudou muito com suas sugestões de nomes.



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*Narrado por Sarah West

– Podemos parar? – perguntei. Na mesma hora todos pararam e alguns soltaram suas mochilas no chão.

Andei até a beira do rio e me agachei com dificuldade. Minha barriga já estava grande e isso só aumentava o meu cansaço. Eu não sabia ao certo, mas deveriam ter se passado seis meses ou algo próximo disso. O crescimento da minha barriga poderia confirmar isso, mas aos seis meses o feto já deveria estar dando os primeiros chutes, algo que ainda não havia ocorrido e eu temia essa época.

Mexi um pouco a água rasa do rio antes de juntar as mãos para enchê-las de água e levá-las à boca.

A água estava um pouco mais fria que o clima. O inverno parecia estar prestes a começar. Não tínhamos muitas roupas para frio, apenas alguns casacos e os vestidos que eu passei a usar nas últimas semanas, todos vindos do estoque preparado para uma possível fuga da prisão.

Observei meu reflexo tremido na água escura do rio que seguíamos. Meu rosto mostrava meu profundo cansaço e o quanto os últimos meses haviam sido difíceis.

*Flashback (narrador observador)

Sarah se abaixou na beira do rio e tomou um pouco daquela água límpida e cristalina. Duas semanas haviam se passado desde a confirmação da gravidez, e muitos sintomas ainda não haviam se manifestado, fora a fome e cansaço repentinos.

Ela matava a sua sede sem notar os fracos gemidos de um errante que se aproximava cada vez mais. Lá, não havia ninguém além dos dois. O resto do grupo estava em uma clareira perto do rio, mas eles não podiam vê-la.

Sarah só percebeu a presença do ser indesejado quando ele se jogou sobre ela, que apenas emitiu um grito baixo de mais para ser ouvido. Ela jogou seu corpo para o lado, deixando o mordedor no chão, e começou a se arrastar desesperadamente para trás, tentando ignorar o forte cansaço que começava a tomá-la. Sua respiração ficava mais forte a cada segundo, à medida que o caminhante se rastejava e esticava os braços apodrecidos para tentar agarrar seus tornozelos.

Ela só parou quando chegou se chocou contra um montinho de pedras grandes. Rapidamente, Sarah se virou e pegou a pedra de cima, que era bastante pesada, porém a única saída que ela tinha. Sem outra opção, vendo que ninguém poderia ampará-la, ergueu a pedra acima da cabeça com uma expressão de raiva. Normalmente, ela não conseguiria fazer isso, mas a adrenalina, seguida pela vontade de viver apenas para ver seu filho nascer e todo a raiva que havia acumulado durante aqueles dias em que estivera quase sozinha recebendo olhares atravessados, fizeram com que ela erguesse aquela pedra e a arremessasse na cabeça do mordedor, que já tocava seus joelhos.

Antes que ele voltasse a se levantar, Sarah pegou a pedra novamente e a bateu com força no crânio do mordedor diversas vezes, até constatar que ele finalmente estava morto. Ela limpou sua roupa suja de massa cerebral ainda ofegante. Esse foi o primeiro infectado que Sarah havia matado depois muitos meses apenas fugindo e sendo protegida. Mesmo assim, ela ainda não se sentia forte, muito menos capaz de se defender sozinha.

Fraca, Sarah desabou no chão, apenas apoiada por suas mãos ensanguentadas, começou a soluçar e, logo em seguida, a chorar. Depois de alguns minutos de total solidão, Gabriela chegou desesperada e se ajoelhou ao lado da amiga. Ela apenas olhou para o cadáver no chão e para o sangue nas mãos de Sarah antes de abraçá-la.

– Eu não aguento mais! – Sarah admitiu em meio aos soluços. – Não sei se vou conseguir continuar com isso! Todos me olham como se eu estivesse fazendo algo terrível, como se eu estivesse matando eles! Eu me sinto tão sozinha...

Depois do dia da confirmação da gravidez de Sarah, ela realmente havia ficado mais sozinha. Rick se afastara dela, deixando clara a sua opinião sobre aquilo. Não que ele concordasse totalmente com as ideias de Carol, ele não fazia isso pensando no grupo, Rick queria protegê-la porque temia a morte de Sarah, assim como havia acontecido com Lori, mas ainda não encontrara uma solução para aquilo, por isso ia apenas levando os fatos. Carol era a mais insatisfeita com a situação, alegando muitas vezes que Sarah era um fardo muito pesado, e que o grupo não precisava se arriscar por ela. O resto do grupo aguardava a decisão de Rick, e preferia não tomar uma posição, pois conheciam os riscos.

Em meio ao isolamento, Sarah ainda tinha algumas pessoas do seu lado. Gabriela fazia de tudo para ajudá-la a seguir em frente. Avery também a apoiava, sabendo que isso significava não falar com Carl enquanto o assunto não era devidamente resolvido.

– Você não pode desistir – Gabriela finalmente conseguiu falar. – Você não está sozinha, apesar da decisão ser apenas sua. Eu vou continuar com você até o final. O que você realmente quer?

– Esse era o meu sonho, mas agora que está acontecendo parece tão difícil... Parece um pesadelo.

– Então, você quer esse filho? – Sarah não disse nada, apenas balançou a cabeça positivamente enquanto Gabriela reforçava sua pergunta anterior. – Então você lutar, e não precisa fazer isso sozinha. Tenha esperança, seu filho será a sua esperança.

*Narrado por Sarah West

Voltei para o local onde o grupo estava, e todos pareciam estar apenas me aguardando. Lembrar que eu era um fardo para eles me entristecia, e isso era exatamente o que Carol havia dito. Eu sentia que à medida que meu filho crescia, eu ficava mais forte, tinha mais vontade de seguir em frente, apesar da insegurança inicial.

Antes que eles notassem que eu me aproximava, alguém segurou o meu braço delicadamente e me virei para encarar Rick, que parecia sério.

– Precisamos conversar – ele falou e eu tirei sua mão do meu braço, mas continuei lá. – Por favor. Quero colocar um ponto final nessa história.

Fomos para um local mais afastado antes que ele continuasse. Rick ficou de cabeça baixa enquanto procurava as palavras para começar, e eu apenas o observava, sem esboçar expressão alguma.

– Não vai dizer nada? – disse irritada depois de alguns segundos de silêncio.

– Desculpe, só estou procurando as palavras certas.

– Não precisa dizer nada, você já passou seis meses dizendo a mesma coisa, mas isso não vai fazer a diferença agora – ataquei. – Você não ficou quase seis meses praticamente isolado, sentindo que todos te odeiam, vendo a pessoa que você mais ama te ignorar! Não sabe como é isso! Eu não o fiz sozinha, e parece que está me culpando e a ele também. Mas, afinal, você nunca quis essa criança. O filho é só meu e você não tem o direito de opinar!

– Eu sinto muito, de verdade. Eu queria ter ficado com você esse tempo todo, mas minha consciência não deixava, eu tinha medo de te perder – ele continuou dizendo calmamente, e isso me irritou mais.

– Como você consegue ficar tão calmo?

– Eu não quero te irritar mais. Só vim aqui pedir perdão. A Gabriela estava certa, a decisão era sua. Para mim, era como se você estivesse escolhendo a vida do bebê, e não a sua, e isso contribuiu para que eu me afastasse.

– O problema é que temos pontos de vista diferentes. Para mim, essa criança é uma vida, mas você acha que será a minha morte, como se não houvesse mais esperanças.

Ficamos algum tempo parados sem dizer nada. Coloquei a mão na barriga e esperei que ele dissesse alguma coisa. Subitamente, senti um chute. Algo muito fraco, mas eu consegui sentir. Eu não era boa em esconder meus sentimentos, e a única coisa que pude fazer foi sorrir.

– O que foi? – Rick perguntou confuso.

– Ele chutou – respondi e ele também sorriu.

– Posso? – assenti. Ele se ajoelhou e eu coloquei a mão dele no local onde minha mão estava e eu sentia o chute. – Papai está aqui agora.

Quando ouvi aquela última frase, parecia que todos os problemas foram embora e tudo voltava ao normal. Dei um fraco sorriso e, logo em seguida, comecei a chorar.

– Odeio te ver chorando – Rick se levantou e eu ri enquanto limpava as lágrimas.

– São os hormônios – respondi num misto de choro e risos.

A verdade era que eu simplesmente não conseguia ficar muito tempo com raiva dele, a raiva era repentina. Beijamos-nos rapidamente e depois ficamos abraçados por um tempo, até que ouvimos gritos vindos do rio.

*Narrado por Avery Hopper

Eu estava sentada do chão, conversando com Scott e Mika, as pessoas mais próximas da minha idade que eu tinha para conversar. Por causa daquele “conflito” que praticamente dividiu o grupo, eu não falava mais com Carl, e como Patrick estava do lado dele, também acabamos nos afastando. No final das contas, Mika não era tão ruim quanto parecia. Pelo contrário, ela era bem legal. Talvez fosse a influência daqueles garotos, ou da irmã dela, que parecia ser a única que realmente acreditava que walkers eram pessoas diferentes. Scott me explicou que Mika apenas fingia acreditar nisso enquanto as coisas estavam boas, mas sabia que errantes não eram pessoas.

– Mas tocar violino é muito difícil? – Mika perguntou sentada no chão com as pernas cruzadas e uma expressão de curiosidade.

– Sabe, quando você vê outra pessoa fazendo parece uma coisa meio absurda, mas não é tão difícil quanto tocar piano.

– Eu nunca toquei piano – ela falou e eu sorri.

– Nem eu – falei. – Na verdade, você só precisa praticar. Com o tempo vai ficando mais fácil. Scott, já pegou em algum instrumento?

– Uma vez o padre me deixou tocar o órgão da igreja, mas não sou muito bom com isso – claro, tinha que ter igreja no meio, apesar de Scott ter parado de falar tanto sobre isso.

– A Sarah está demorando muito – minha mãe falou depois de se aproximar. – Eu vou lá no rio, você vem comigo? – me levantei e a segui.

– Não precisa ficar cuidando dela. Você disse que ela já conseguiu matar um walker – Carol disse se juntando a nós no percurso até o rio.

– Você também não precisa, por que está me seguindo?

– Certificar se ela ainda está viva – a conversa não tomava um rumo agradável, mas esse tipo de diálogo entre as duas havia sido comum nos últimos meses, principalmente porque minha mãe usava um tom muito provocativo. – Ela está demorando de mais.

– O que você disse? – paramos na beira do rio e minha mãe fitava Carol atentamente. Era notável que ela estava com.

– Você sabe do que eu estou falando. Essas paradas que fazemos sempre vão matar o grupo! – mais uma vez, Carol listava os problemas que Sarah, segundo ela, estava trazendo para nós. – Pense bem, o errantes nos seguem, mas nós conseguimos manter uma distância. Sempre que paramos, eles se aproximam mais. Pode ter uma manada atrás do grupo. Podem nos alcançar enquanto dormimos. A comida está acabando, estamos praticamente vivendo do que Daryl encontra na floresta. O grupo está sendo prejudicado. Por que a Sarah é mais importante que todos nós?

– Você fala do grupo, mas parece que só está pensando em si mesma! É sempre o grupo! O grupo não concordou com isso! Nada que você fizer pode mudar o que está acontecendo! Você está tão cega pela sobrevivência, que não notou o que isso realmente significa. Sarah é o futuro que temos por enquanto. Esse bebê, essa nova vida, é a esperança, a sobrevivência no futuro! Um dia, nós morreremos, e essa criança vai seguir o mesmo caminho que nós. Mas você não se importa com isso, não é mesmo? Do jeito que está falando, parece que prefere matá-la!

– Não, não quero matar ninguém. Há outras saídas – Carol falava naturalmente, mesmo parecendo irritada por causa das palavras ofensivas da minha mãe. – Poderíamos deixá-la para trás. Podemos fazer isso à noite, ela não precisa saber.

– E acha que Rick vai concordar com isso? – a conversa ia piorando, e eu me sentia neutra lá. Elas não se importavam com a minha presença.

– Ele vai concordar com o que é melhor para o grupo.

– E acha que ela vai sobreviver assim, grávida e sozinha?

– Provavelmente não, mas isso não será mais problema nosso – chegava a ser assustadora a forma com que ela falava friamente.

– Devíamos te deixar para trás! – minha mãe gritou num tom que não poderia ser ouvido pelo resto do grupo. – Você sim é um risco! Está falando de deixar uma mulher grávida e indefesa para trás! Carol, você é louca! Perdeu toda a noção de humanidade! Você não sabe como é ser mãe!

Essa última frase pareceu irritar Carol muito mais do que antes. Era como se aquele fosse o limite, e ela não aguentasse mais ser insultada daquela forma. De repente, Carol ergueu a mão e bateu com força no rosto da minha mãe. Sua cabeça virou para o lado, de forma que seu cabelo se desarrumou um pouco. Depois de alguns segundos de aflição, minha mãe voltou a encará-la. Eu fiquei muito apreensiva, e, no fundo, sentia que ela iria revidar, mas ainda torcia para que isso não acontecesse.

Estiquei o braço levemente para tentar segurá-la, mas não consegui impedir que ela devolvesse o tapa. Logo em seguida, as duas começaram a brigar. Carol puxava os cabelos de minha mãe, que a arranhava com vontade. Suas expressões mostravam a dor que sentiam por causa dos “golpes” que recebiam. No começo, fiquei paralisada, mas logo percebi que precisava fazer algo para impedir as duas.

– Socorro! Alguém! Rápido! – gritei enquanto corria para o local onde o grupo estava reunido. Quando cheguei lá, todos me olharam sem entender o que eu acontecia. Eu não conseguia encontrar palavras para explicar então disse a primeira coisa que veio a minha cabeça que parecesse muito impactante. – Elas estão se matando!

Quando disse isso, todos abandonaram o que estavam fazendo e me seguiram até o rio. Rapidamente, Daryl puxou Carol pela cintura, e Glenn fez o mesmo com minha mãe, enquanto Tyreese entrava no meio das duas para soltá-las.

– Me solta! Eu vou matar essa desgraçada! – minha mãe gritou tentando se soltar de Glenn. Rick chegou lá, acompanhado de Sarah. Ninguém sabia o que fazer diante daquela situação.

– O que está acontecendo aqui? – ele perguntou com uma voz autoritária.

Ninguém precisava responder. Todos sabiam que minha mãe e Carol estavam discutindo com frequência nos últimos meses, e pelo mesmo motivo. Eu nunca havia visto minha mãe daquele jeito. Ela já havia se estressado várias vezes, ma nunca daquela forma. E era a primeira vez que ela havia batido em alguém que não a ameaçava.

*Narrado por Gabriela Hopper

Eu realmente havia perdido a cabeça, mas era impossível não bater na Carol depois de tudo que ela havia dito. Eu ainda sentia muita raiva por tudo aquilo, mesmo assim estava envergonhada por ter feito aquilo, principalmente na frente da minha filha. O que mais me irritava era o fato de Carol querer tomar a decisão pelo grupo, além do pessimismo. Eu compreendia todos aqueles riscos que ela fazia questão de citar o tempo todo, mas continuava acreditando que a decisão era de Sarah.

Depois daquilo, fiquei na margem do rio, sem fazer absolutamente nada até que eu escutei passos que vinham em minha direção.

– Por que você fez aquilo? – Avery perguntou.

– Isso é o que acontece quando eu esqueço a racionalidade e decido seguir os meus sentimentos, coisas erradas acontecem.

– Por que sempre certo e errado?

– É engraçado você perguntar isso. Parece que isso é normal para você – ela fez uma expressão de confusão e eu decidi procurar palavras melhores para me expressar. – Você lida bem com isso, vê pessoas fazendo coisas erradas naturalmente.

– Mas você não!

– Avery, eu não sou perfeita. Nem um robô. Às vezes todas essas emoções que eu tento controlar acabam agindo por mim – pensei um pouco antes de completar a explicação. – Talvez o meu defeito seja querer coisas muito certas, e agir assim. Passei muito tempo tentando concertar as coisas erradas que fiz na ânsia de acertar. Nem sempre o errado é errado – parei novamente percebendo que estava confundindo minha filha. – Não nessa situação! Eu bati naquela mulher!

– Não que a Carol não tenha merecido. Mas você mesma disse que controlar emoções por muito tempo acaba dando em uma explosão.

– É, pode ser. Você pode me deixar sozinha?

Avery saiu de lá e eu continuei pensando. Tudo ficou silencioso e, por alguns instantes, fechei os olhos. Fiquei com a terrível dúvida de pensar naquilo ou em qualquer outra coisa, talvez para esquecer a briga que havia acontecido no mesmo local em que eu estava. Tudo ficou extremamente calmo até que eu escutei passos e abri os olhos.

– Você está estranha! – Daryl comentou enquanto se aproximava. – Não está brigando com ninguém e...

– Isso pode mudar se você continuar aqui! – senti que aquela serenidade inicial iria escapar. – O que está fazendo aqui?

– Como você está?

– Bem.

– Não posso dizer a mesma coisa da Carol... Ainda dá pra ver a marca da sua mão na cara dela!

– E você veio aqui para falar isso?

– Já disse que queria ver como você estava – ele falou num tom de rendição.

– O que realmente está acontecendo entra nós? Parece que somos dois adolescentes nos encontrando escondido! – essa frase definia o que havia acontecido nos últimos meses. – Estamos no encontrando na floresta! O pior de tudo é que eu não sei por que continuo fazendo isso! – Daryl tentou dizer algo, mas eu continuei. – Eu não sei, mas talvez seja porque a nossa relação está boa desse jeito, e eu tenho medo de estragar isso – parei um pouco para pensar no que havia dito. Essa era a resposta! – Obrigada por me ajudar a entender isso!

– Eu não disse nada, mas tudo bem. Então?

– Eu quero ficar sozinha – ele deu de ombros e se retirou.

O Sol parecia estar prestes a sumir no horizonte, e o grupo deveria ter decidido passar a noite onde estávamos. Incrivelmente, eu estava muito calma. Mergulhei minha mão esquerda nas águas gélidas do rio e, por alguns instantes, senti a paz tomar meu corpo. Mas isso durou pouco porque, logo em seguida, ouvi mais passos.

Aquela paz deu lugar à irritação. Eu começava a me sentir como uma doente sendo visitada por outras pessoas. Ergui-me no momento em que Carol se aproximou de mim e a fitei por alguns instantes, aguardando que ela dissesse algo, mas Carol parecia procurar as palavras certas.

– Não temos mais nada para conversar – falei seriamente.

– Gabriela, você precisa me entender!

– A única coisa que eu preciso dizer é que sinto muito por termos brigado, eu me descontrolei. De certa forma, você está certa. Eu sei que essa gravidez pode nos trazer problemas. Você está pensando na sobrevivência do grupo, mas Sarah também faz parte do grupo, ela também está lutando para sobreviver. E nós não podemos tirar isso dela. Ela já sofreu um aborto...

– Foi espontâneo.

– Não, não foi espontâneo. Foi o marido dela – respondi e depois parei para pensar em como dizer aquilo. – Ele a espancou. Por isso havia tanto sangue no supermercado. Depois ele a deixou lá, para ser devorava por um walker. Às vezes é preciso conhecer a pessoa antes de julgar. Não sei o que aconteceu para você ter perdido tanto a esperança...

– Talvez porque, na hora de ser recompensada pela sua fé, ela foge e você precisa começar de novo.

– Discutir não vai nos levar a lugar algum. Parece que sempre vai haver esse conflito entre humanidade e sobrevivência, e não há certo ou errado. Nenhuma de nós está disposta a ceder, então eu prefiro acabar com isso.

– Gabriela... – me virei e fui embora, a deixando para trás. – Gabriela! - Carol gritou num tom um tanto desesperado para a ocasião. Ao fundo, pude ouvir um som leve, talvez dois ou três pássaros levantando voo. Eu poderia me voltar para ela, mas teríamos aquela mesma conversa e eu não queria que acabássemos da mesma forma. – Gabriela!

Apenas continuei andando em direção ao local onde o grupo estava reunido enquanto escutava seus gritos ficarem cada vez mais fracos. Mesmo que Carol não me perdoasse, isso havia sido importante para mim, pois eu estava assumindo a culpa.


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Notas finais do capítulo

Não temos muito o que dizer nas notas, só que estamos curiosas para saber o que acharam do capítulo.
Alguém já viu o último episódio da temporada de TWD? O que acharam?