Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 30
Uma pequena farpa


Notas iniciais do capítulo

(NOTA DA AGATHA)
Amados leitores, eu nunca tinha feito isso antes, nem pensava em fazer, mas é uma ocasião especial. Eu e a Amélia seguramos esse capítulo para ser postado em uma data importante. Hoje (19/02) é o aniversário da Amélia, e ela queria que esse capítulo fosse postado hoje.
A Amélia queria que as notas parassem por aqui, mas estou escrevendo um pouco mais e espero que tenham paciência para ler.
Três vezes já recebi créditos individuais pela história. Não que eu esteja dispensando isso, mas junto com a alegria, veio um pouco de preocupação. A Amélia não se importa com isso, mas eu sim. Para começar, Born to Die foi ideia dela! Estávamos conversando na escola e, meio que do nada, ela sugeriu que escrevêssemos uma fanfiction juntas. Ela me contou sua ideia (que era meio diferente da história atual), e isso foi a base de tudo, só que com um pouco das minhas ideias misturadas. Geralmente eu digito tudo porque tenho mais habilidade com a escrita, mas quando não sei o que escrever, a Amélia faz isso.
O que eu quero dizer é que, se vocês gostam da ideia da história, por favor, agradeçam a ela. Não acho que uma de nós seja mais importante que a outra, mas a Amélia também merece créditos pela história. Hoje me sinto meio arrependida por isso, mas ela deveria ter sido a autora e eu, a co-autora. Quando começamos a escrever, eu pedi para colocar meu nome primeiro e ela concordou. Atualmente, não existe uma co-autora, nós duas somos as autoras. A ordem dos nomes não muda nada na criação da história.
Acho que as notas já estão enormes, então se alguém leu até aqui, muito obrigada!
Parabéns Amélia!!! Você é a melhor irmã do mundo!



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*Narrado por Sarah West

– Essa é a enfermaria da prisão – Hershel explicou quando chegamos a uma sala média, com mesas e cadeiras, além de prateleiras com poucos remédios.

– Isso é perfeito! – há muito tempo eu não via um local como aquele, e estava admirada.

– Em que área da medicina você trabalhava?

– Emergências – expliquei.

– Isso será muito bom para nós.

Ele começou a mostrar os equipamentos e remédios que possuíamos e eu me esforcei para prestar atenção em tudo aquilo, mas meus pensamentos estavam em outro lugar. Eu não parava de pensar no que Carl havia me dito. Provavelmente ele já sabia da história do aborto, e eu não me importava que as pessoas soubessem. Desde que não me olhassem com pena não haveria problema algum. Eu ainda não conseguia entender por que Carl havia feito aquilo, e não entendia o que poderia ter de errado no que eu fazia, mas procurava não pensar nisso.

– Quando posso começar? – perguntei ao fim da explicação.

– Quando você quiser – ele respondeu e eu sorri.

– Bem, acho que vou organizar as coisas, se não se importa – Hershel assentiu e saiu do local, me deixando sozinha.

Decidi começar pelos equipamentos de primeiros socorros, que seriam mais úteis e importantes. Guardei tudo em um organizador vermelho que tinha uma cruz branca na tampa. Era muito bom voltar a fazer o que eu fazia antes, a profissão que eu havia escolhido com 5 anos de idade. Desde pequena eu sonhava em ser médica e ajudar as pessoas, sempre achei lindo o trabalho dos médicos, a forma com que eles salvavam vidas. Eu sempre quis fazer isso, eu queria salvar pessoas, fazer a diferença na sociedade, mesmo que fosse com um gesto simples, como estancar um ferimento. A melhor recompensa por salvar pessoas era a gratidão, as famílias aliviadas.

Depois de alguns minutos mergulhada nos pensamentos, a enfermaria estava bem arrumada e me sentei para descansar. Voltei a pensar no meu trabalho e acabei me lembrando de pessoas que havia atendido há muito tempo. Comecei a pensar nas pessoas infectadas do começo do apocalipse. Aquelas pessoas ferviam de febre e sentiam muita dor. Eu era responsável pelos primeiros atendimentos, que incluíam limpar os ferimentos, estancá-los e, na maioria das vezes, medicar os pacientes. Depois disso, os infectados eram transferidos para uma ala de isolamento, e eu nunca soube o que acontecia com aquelas pessoas, mas ainda tinha esperança de que sobrevivessem.

– Hershel? – ouvi uma voz e pulei da cadeira. Depois de alguns segundos consegui me recuperar do susto.

– Ele não está aqui.

– Sarah. Ele havia me falado que você começaria a trabalhar na enfermaria – Rick falou entrando no local. – Eu te assustei?

– Imagina... – acabei rindo e ele fez o mesmo. – Sim – rimos novamente. – O que aconteceu?

– Não foi nada... Só uma farpinha na minha mão – só então notei que ele segurava a mão direita com força.

– Posso ver? – perguntei e ele colocou a mão sobre a mesa. Não se tratava apenas de uma farpinha, e sim de uma enorme farpa, que vinha acompanhada de um corte profundo na palma da mão e sangue. - Acho que isso não é só uma farpinha. O que você fez?

– Eu estava ensinando meu filho a cuidar da plantação. A enxada era velha e estava cheia de farpas... – ele fez uma careta quando eu comecei a tirar a farpa. – Não foi nada.

– Bem essa “farpinha” vai te deixar de molho por alguns dias, uma semana pelo menos – falei.

– Uma semana? – ele fez outra careta quando comecei a limpar o corte.

– Isso, e você não vai poder usar a mão direita enquanto ela não cicatrizar. O corte foi profundo, então há um risco de infecção – peguei uma atadura e comecei a enfaixar sua mão. – Você terá que trocar a atadura todos os dias - Rick assentiu.

Expliquei a ele todo o procedimento, desde lavar o ferimento com água corrente até o modo de colocar as ataduras. Ele pareceu prestar atenção, mas mesmo assim estava confuso.

– Acho que não vou conseguir fazer isso – ele comentou no final da explicação. – É difícil fazer isso quando você só pode usar uma mão.

– Eu posso te ajudar amanhã, mas ainda acho que você vai aprender com o tempo, terá uma semana para isso.

– Muito obrigado – ele falou ao mesmo tempo em que colocou sua mão esquerda sobre a minha.

– Não foi nada – disse um pouco constrangida. – Vocês fizeram muito mais por mim me salvando daquele supermercado. Eu poderia ter morrido lá.

– Não precisa agradecer. Tenha um bom dia – Rick falou.

Ele saiu e eu fiquei para alguns instantes o vendo desaparecer no corredor. Era engraçado, mas eu nunca havia me sentido tão viva quanto antes, qualquer um que chegasse naquele momento me veria sorrindo como uma boba. Não por causa de Rick, mas eu sentia que a prisão era meu lugar, junto às pessoas que viviam nela.

*Narrado por Avery Hopper

Meu dia não estava tão agitado quanto os anteriores, não tinha falado com Patrick muito menos com o Carl. Primeiro porque estava andando com Scott, segundo porque Carl estava trabalhando com seu pai na horta, e terceiro porque Patrick estava com os garotos do seu bloco.

Depois daquele episódio com Judith e Sarah, Carl entregou a irmã para Beth e pediu para que ela não largasse a menina em momento algum. Eu estava estranhando muito esse comportamento de Carl, era bem infantil para uma pessoa que se dizia tão adulta como ele.

– O que você está comendo? – Scott perguntou apontando para o meu pacote de M&M's.

– M&M’s. A Michonne me deu, ela trouxe alguns pacotes. Quer? – estendi o pacote amarelo para ele, que pegou algumas bolinhas chocolate.

– Michonne? Aquela da espada?

– Katana. O nome da espada é katana – corrigi.

– Você conversa com a Michonne? Ela me dá medo!

– Ela é bem legal. Devia experimentar falar com ela.

– Posso roubar a Avery um pouquinho? – ouvi a voz de minha mãe por trás.

– Claro! – Scott falou se virando junto comigo.

– Vê se não vai falar com aqueles pirralhos do outro bloco – brinquei antes que ele fosse embora.

– Assim como eu deveria falar com a Michonne, você deveria falar com eles, não são tão ruins assim. Você os julga só porque ainda não entendem o que aconteceu.

Ele saiu e eu revirei os olhos. Se Scott não fosse um “padre”, ele deveria se tornar um psicólogo ou algo parecido, além de agente da Cruz Vermelha.

Minha mãe começou andar e eu a segui. Não sabia para onde estávamos indo, mas continuei andando. Inicialmente, achei que ela me levaria para a cerca onde trabalhava matando mordedores, como havíamos combinado noite passada, mas estávamos entrando em um bloco da prisão.

– Achei que íamos para onde você trabalha – finalmente falei.

– E estamos. Aqui está – ela abriu uma porta.

Era uma sala de tamanho mediano, com as paredes da cor cinza, como todas as da prisão. Em uma das paredes havia um quadro com o mapa da região. Ao centro havia uma mesa com vários papeis e uma cadeira giratória, e ao lado um pequeno armário de aço com um cadeado. Fiquei mais confusa ainda quando vi aquela sala. Minha mãe se sentou na cadeira, deu um giro e sorriu.

– Dá pra explicar agora?

– Você não queria ver o meu trabalho? – fiquei irritada com a resposta vaga em forma de pergunta e ela sorriu. – A partir de agora eu vou administrar a prisão. Só terei que cuidar do consumo de água e comida dos moradores. O Conselho ficou sabendo que eu cursei administração e me convidaram para trabalhar aqui.

– E esse é o motivo de tanta alegria? Fazer contas? Eu estou feliz por ter me livrado da matemática há mais de um ano e você está feliz por ter que fazer contas?

– É o meu trabalho. Sempre fui boa com matemática e estou muito feliz por voltar a fazer algo que gosto.

– OK. Quando eu disse “Ver o seu trabalho” eu queria te ver perfurando crânios, não fazendo contas!

– Acredite, isso é muito mais divertido do que ficar no Sol, com todo aquele sangue, as mãos e os gemidos.

– Seria mais “divertido” se aqui tivesse um ar condicionado – brinquei.

– Para mim está tudo ótimo! Mas um ar condicionado seria muito bom nesse calor.

– Por que você resolveu fazer administração? – mudei de assunto. Eu sempre quis saber isso, e esse era o momento certo para perguntar.

– Bem... Como eu falei, sempre fui boa com matemática. Sempre fui muito indecisa para decidir o que iria cursar – foi estranho ouvir isso. Minha mãe parecia ser uma mulher tão decidida, determinada, e estava me dizendo o contrário. – Dentro da matemática, o que eu mais gostava era de estatísticas, e no último ano do colégio decidi fazer administração.

– Falando assim, parece que você mudou muito desde que tudo isso começou.

– Na verdade, eu mudei muito depois da morte do meu pai e da minha reação aguda ao estresse. Eu era uma adolescente infantil – ela parou um pouco para pensar, sorriu e voltou a falar. – Depois que me formei, achei que não precisava mais de ninguém. Meus pais já tinham me dado tudo, e eu pensava que deveria viver por conta própria.

*Narrado por Gabriela Hopper

Comecei a me lembrar de meus pais. Como eu havia sido tola... Eu poderia ter passado mais tempo com eles, aproveitado mais a presença de meus pais, mas optei por me afastar e só vê-los em datas comemorativas. Se as menos soubesse que iria perdê-los... Também me lembrei do ano que passei com minha mãe. Eu pensava que tinha tudo, mas não tinha o amor, a coisa mais valiosa de todas. Minha mãe conseguiu me passar essa mensagem no pouco tempo que tivemos, já que metade daquele ano eu estive trabalhando como uma louca.

– Você deveria tê-la conhecido, vocês se dariam muito bem... – fiz uma longa pausa. Avery me olhava atentamente, e percebi que ela queria ouvir mais. – Minha mãe era meio... “moderninha”, dizia que eu era muito devagar – ri com a lembrança de minha mãe dizendo isso. – “Você é muito devagar! Quando eu tinha a sua idade, já era casada e tinha uma filha de 5 anos! Você está ficando velha e não consegue segurar um namorado por três meses!”, ela me disse isso umas quatro vezes.

– Você é muito devagar – minha filha repetiu rindo. – Fala mais sobre ela!

– Ela era fã de rock. Era louca com os Beatles. Aposto que era uma das garotas que gritavam nos shows sempre que eles eram anunciados – eu sempre imaginava isso. – Minha mãe foi ao último show deles. Foi assim que ela conheceu o meu pai. Os dois estavam em uma caravana que ia para o estádio Candlestick Park, em 1966. Eles eram os únicos de Albany.

– Quer dizer que os seus pais eram fãs de rock e você não gosta de música?

– Nunca disse que não gostava de música, eu não gosto de rock.

– Pior ainda! Você não teria nascido se não fosse pelo rock! Você deveria amar os Beatles! Você está renegando suas origens!

– Exagerada... – ri do drama dela. Não havia pessoa mais dramática no mundo do que Avery Hopper. – Vamos parar de falar disso?

– Vamos falar sobre o quê?

– Que tal sobre você? Já arrumou um namoradinho? – brinquei e ela se enfureceu.

– Você quer que eu seja uma criança ou não? Crianças não namoram! Você deveria arrumar um namorado! Já está ficando velha! – ela repetiu a fala de minha mãe outra vez para me provocar. – O tempo de luto já passou. O que você está esperando?

– Não estou de luto, só não estou preocupada com isso agora.

Eu já havia aceitado a morte de Josh, e sempre me lembrava de Scott dizendo que ele estava em um lugar melhor. Josh havia cumprido a sua missão, e além de tudo, eu sabia que todos nascemos para morrer. Ele viveu o tempo qu pôde.

– Sério? Você pretende passar o resto da vida sozinha, como uma mãe solteira? Além do mais, eu quero um irmãozinho!

– Primeiro, eu não estou sozinha, tenho você. Segundo, acho que não posso ser considerada uma mãe solteira. Terceiro, o que te faz pensar que eu quero mais filhos? Você já não é o bastante?

– Tudo bem... – ela fez uma vozinha de tristeza e abaixou a cabeça fazendo um biquinho. – Ainda não desisti de ter um irmão!

– Você não tem medo que eu dê mais atenção para o “irmãozinho” do que para você?

– Não, eu sei que bebês exigem muita atenção, mas eu também preciso e você é uma ótima mãe – eu sorri e a abracei. Eu só era uma boa mãe (na visão de Avery) por causa da minha mãe. Eu fazia tudo aquilo inspirada no que ela tinha feito por mim, esperando ser um pouco do que ela era. Eu não queria falhar como mãe assim como eu havia falhado como filha. – Sério, o que você está esperando para arranjar um namorado?

– Quando for a hora certa eu vou encontrar a pessoa certa – isso ia contra aquele conceito de fazer a sua chance, mas eu preferia que fosse assim, não buscar, e sim aguardar. – Eu tenho muito a fazer, essas contas não vão se resolver sozinhas.


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Notas finais do capítulo

Esperamos que tenham gostado! Até o próximo e nos vemos nos comentários!