Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 16
Queda


Notas iniciais do capítulo

Feliz Ano Novo para todos vocês! Aqui está o último capítulo do ano, como prometemos.
Boa leitura e até quinta-feira, em 2014!



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*Narrado por Gabriela Hopper

Enquanto voltávamos para o carro, olhei atentamente para os rostos de todos os caminhantes, mas não vi nada parecido com os Dickens que eu vi nas fotos. Hesitei um pouco antes de entrar no carro, mas eu não tinha tempo para atrasos, a manada não esperaria.

Não houve nenhum incidente pelo caminho, fora um walker que Josh atropelou. Eu não via a hora de voltar, mas seria difícil entrar no parque com aquela camada de mortos. Eu esperava ver os errantes tentando entrar, mas quando cheguei, vi a cerca derruba e manada toda do lado de dentro. Era a única coisa que não podia ter acontecido. Desci do carro rapidamente com meu machado e Josh fez o mesmo. Observei tudo aquilo que estava acontecendo. Não sabia para que lado olhar, nem mesmo o que fazer.

A primeira coisa que me chamou a atenção foi, ao lado da cerca quebrada, um corpo sendo devorado.

– Era a Emily – Josh falou pegando uma arma e me dando outra.

Eu não sabia o que fazer, para onde ir. Estava paralisada diante daquela cena quando me lembrei dela. Onde ela poderia estar? Estaria morta? Estaria a salvo?

Comecei a olhar para os lados numa busca desesperada por ela, até que resolvi chamá-la.

– Avery! – gritei. – Pelo amor de Deus, responde! Avery! – comecei a correr em direção ao nosso chalé.

– Mãe! – ouvi ela responder. – Me ajuda!

Sem parar para pensar, entrei no chalé e vi três walkers andando em direção a Avery, que estava no chão, indefesa. Soltei a arma no chão e cravei o machado na cabeça do primeiro. O segundo se aproximou de Avery e eu o puxei com força antes de dar o golpe. Ela chutou a perna do terceiro, que caiu no chão. Cortei a cabeça dele fora e olhei para trás. Outros mordedores já se aproximavam do chalé.

– Eu estou aqui. Está tudo bem – falei abraçando-a com força antes de puxá-la para fora. Ela pegou seu taco e sua mochila enquanto eu pegava a minha pequena mala e começamos a acertar os andantes que tentavam nos cercar. Eram muitos indo em várias direções.

Tentei localizar Josh.

– Ave, vou procurar o Josh. Vê se você acha mais alguém e leva pro carro. Toma cuidado! – falei correndo em direção ao chalé de Josh.

Enquanto corria para outro canto do parque, comecei a me perguntar por que Avery me chamou de mãe, se ela estava me chamando. Aquilo era estranho para mim, mas mesmo assim, mesmo estando naquela situação eu não podia deixar de estar feliz por dentro, ela era com uma filha para mim, uma filha que eu nunca tive.

*Narrado por Avery Dickens

Depois que Gabriela saiu, resolvi procurar pelo mais indefeso, Scott. Com certeza ele precisava de ajuda, a menos que estivesse com Elias. Corri o mai rápido que pude, batendo na cabeça dos walkers que tentavam me pegar. Eu estava indo na direção contrária de Gabriela.

De repente, parei de correr. Josh estava parado em frente a um chalé. Ele olhava para algo no chão, incrédulo. Olhei para a mesma direção que ele e entendi tudo. Em meio àquela carnificina, pude ver um braço pálido com uma tatuagem. Logo, o sangue escorreu pelos pássaros e eu me toquei que Kate estava morta. Josh olhava para aquilo atônito, como se não soubesse o que fazer. Pude ver uma lágrima solitária rolar pelo rosto dele. Kate não merecia aquele fim tão horrível.

– Josh, a Gabriela estava te procurando! – falei tirando o foco dele.

– Eu... Vou encontrá-la – ele respondeu num tom estranho com a voz um pouco rouca e depois correu sem rumo algum pelo parque.

Voltei a procurar Scott. Resolvi ir até as mesas, onde ele provavelmente estaria. Vi muitos mordedores debruçados sobre algo, eles se alimentavam vorazmente de alguns de nós. Eu não pude reconhecê-lo, me aproximei para tentar vê-lo, porém um deles se virou e veio em minha direção.

Matei o walker com duas batidas na cabeça, o segundo também se levantou e eu o acertei com toda força que tinha e ele caiu inerte no chão. Os demais ignoraram a minha presença enquanto se alimentavam. Respirei ofegante e olhei para os três corpos, o mais deformado de todos era Elias, mesmo com o rosto todo desfigurado, o abdômen aberto eu o reconheci.

Corri o mais rápido que pode pelo parque até o lago, em meio aos grunhidos e aos sons de tiros que atraíam os mordedores para o outro lado do parque. Eu não sabia o que fazer, nem para onde ir. Eu mal conseguia acreditar no que havia visto! A lembrança dos corpos de Kate e Elias ainda estava fresca em minha memória, mas era algo que eu queria esquecer.

Tive vontade de desistir, o mundo estava tomado por aberrações que comiam sua própria espécie com grande voracidade e meus amigos estavam quase todos mortos... Quase. Lembrei-me de Gabriela. Ela era mais do que uma a uma conhecida, amiga, melhor amiga, irmã, Gabriela era minha mãe. Ela havia cuidado de mim desde que tudo isso havia começado, era por isso que eu tinha chegado à conclusão de que ela era minha mãe.

Por ela eu não iria desistir. Pela minha mãe eu nunca desistiria de lutar.

Olhei uma última vez para meu reflexo na água antes de partir. Mesmo depois de tomar um banho eu estava imunda, suja de sangue e com os cabelos todos bagunçados. Me virei para ir embora dei de cara com um errante que esticava suas mãos para poder me pegar. Fiquei em posição de ataque, mas antes que eu pudesse acertá-lo, ouvi um tiro. Quando o corpo caiu, pude ver Molly a uns três metros de distância com a arma na mesma posição em que ela atirou. Ela tinha um aspecto meio sombrio, talvez já soubesse da morte de Elias.

– Vamos embora – ela se virou e eu a segui em direção ao carro. – Josh mandou você entrar no carro.

Enquanto corríamos, ela atirava em todos os caminhantes que tentavam nos bloquear. Eu não sabia se ela sabia usar armas, mas talvez fosse uma mistura de ódio com adrenalina, que aguçava o nosso instinto de sobrevivência.

Não dava pra matar todos eles, eram muitos. Preferi não olhar para trás, eu sabia que muitos nos perseguiam. Enquanto uns faziam isso, outros se alimentavam de nosso amigos mortos e outros seguiam o som de tiros, provavelmente disparados por Josh.

*Narrado por Gabriela Hopper

Eu procurava Josh desesperadamente enquanto torcia para que os outros estivessem bem. Ouvi muitos tiros e pensei que fosse ele. Afinal, era o único que poderia estar com armas.

Corri por um caminho cheio de corpos até chegar a uns dez metros do carro. Lá, pude ver Avery seguindo Molly, que atirava rapidamente. Aquelas armas eram, em sua maioria, automáticas, o que facilitava o uso e não exigia muita experiência. Cheguei à estrada de cascalho. E consegui alcançá-las com dificuldade, já que precisava quebrar alguns crânios enquanto corria. Começamos a correr juntas em direção ao carro.

De repente, senti uma mão gelada puxando a minha perna. Bati com a cabeça no chão e demorei alguns segundos para recuperar os meus sentidos. Meu corpo doía bastante e, um pouco acima do meu lábio superior, do lado direito, eu sentia um ardor. Comecei a sacudir a minha perna para tentar me livrar da coisa que me segurava.

Olhei para o lado e vi Molly na mesma situação, mas ela se contorcia de dor. Do outro lado, vi meu machado, peguei-o e parti a mão do errante que me derrubou. Avery tentava ajudar Molly, mas era tarde de mais, ela havia sido mordida. Voltei a matar os walkers que nos rodeavam sem ligar para o filete de sangue que escorria pelo meu rosto.

Vi Josh chegando e senti um alívio imediato. Puxei Avery pela mão e chegamos ao carro. Lá dentro, vi Scott ajoelhado no piso do carro totalmente apavorado, com os olhos arregalados e os dedos entrelaçados enquanto rezava freneticamente e voz alta.

Josh dirigiu o carro em alta velocidade em meio ao silêncio perturbador. Avery olhava para trás, apavorada, enquanto Scott permanecia rezando. Estávamos deixando o nosso lar, aquele que nos protegeu por um ano (talvez mais, talvez menos), onde fizemos amigos que agora se juntavam aos mortos caminhantes.

Aquele fora um dia de poucas palavras e de muitas ações para tentar sobreviver, nunca tivemos que lutar tanto como há alguns minutos atrás, lutamos com todas as nossas forças para sobreviver e salvar quem amávamos, mesmo assim não foi suficiente.

Eu sentia que deveria acabar com aquele silêncio que me corroia por dentro, eu não sabia ao certo o que dizer, até que Scott parou de rezar e decidiu falar.

– Para onde vamos? – ele perguntou com uma voz chorosa.

– Não sei – Josh respondeu ríspido. – Agora vamos continuar em silêncio.

– Não! – falei em tom de protesto. – Não vamos!

–Gabriela eu não quero conversar – ele falou sem tirar a atenção da estrada, que estava deserta, era como se ele não quisesse me encarar.

– Josh, por favor, todos nós perdemos alguém – disse. – Sei como doi, sei que às vezes a dor pela morte e a falta da pessoa é tão forte que temos vontade de desistir – ele finalmente olhou para mim, eu pude ver nos olhos dele a dor que ele sentia pela perda de todos os amigos e principalmente da irmã. – Mas mesmo assim não podemos desistir, precisamos seguir em frente. Não estou pedindo para esquecer as pessoas que perdemos, temos que, ao menos, tentar conviver com a falta delas.

– Eu... Eu não consigo – ele disse.

– Josh, a Kate gostaria que você seguisse em frente – Avery comentou.

– E ela sempre vai estar com você em seu coração – complementei o que Ave disse. – E você não precisa lutar sozinho, temos um ao outro, somos uma família.

– Uma família de sobreviventes – Avery acrescentou.

Josh deu um sorriso para ela e depois para mim e voltou sua atenção para estrada, agora pelo menos com um semblante mais calmo, como se as palavra que eu e Avery havíamos dito tivessem o confortado.


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