Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 15
Início do caos


Notas iniciais do capítulo

Esse é o penúltimo capítulo do ano. Vai ficar um pouco tenso nas partes finais.
Esperamos que gostem!



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*Narrado por Gabriela Hopper

Logo que chegamos à cidade, notei que ela estava abandonada. O único som que eu podia ouvir eram gemidos, mostrando que os walkers haviam tomado conta da cidade. Com ajuda do mapa que Avery e Jacob (que havia feito especialização em cartografia) fizeram, conseguimos encontrar a rua onde Avery morava.

Todas as casas eram quase idênticas, no mesmo formato e mesma cor, dando um aspecto militar. Josh passou pela rua até que encontramos o número 12, era a casa dela. Ignorei os errantes que caminhavam em nossa direção e saí correndo até a casa.

A porta não estava trancada, como Ave havia dito. Pude ver manchas de sangue na pequena escada do lado de fora. Entrei e Josh fechou a porta depois de fazer o mesmo.

– Vou olhar se ela está limpa. Você pode ficar aí e vigiar a porta – ele falou antes de sair para vistoriar os cômodos.

Comecei a observar o antigo lar de Avery. A casa estava arrumada e intacta, não havia sinal da presença de mais nada lá. A lareira me chamou bastante atenção. Encima dela pude ver várias fotos, mas apenas uma continha a família inteira reunida. Aproximei-me para pegá-la, mas pisei em um caco de vidro. Olhei para o chão e vi um porta-retratos quebrado com uma foto de Avery. Abaixei-me para pegá-lo e pude ver outra foto escondida. Era a foto dela com um garoto. Peguei-a e notei que, na parte de trás, estava escrito “Lembranças do verão em Tellahassee - Dylan” com uma caligrafia caprichada, aquele garoto da foto deveria ser o tal Dylan, antigo namoradinho dela.

Coloquei as fotos de volta na lareira e peguei a foto da família. Avery estava feliz, mas seus pais pareciam forçar um sorriso. Eu não entendia como aquela família poderia ter dado errado. Mesmo tento abandonado a minha família, eu me sentia feliz quando estávamos juntos, mas pela foto, eles não pareciam felizes por estarem reunidos. Avery dizia que o pai não a amava, mas eu não conseguia entender como um pai não poderia amar uma garota tão esperta, corajosa e especial como ela.

Parei de procurar um motivo para as ações de pessoas mortas e resolvi procurar as armas. Fui até a cozinha e encontrei uma chave encima da geladeira. Comecei a andar pela casa a procura de um armário grande, o que levaria muito tempo já que a casa continha muitos armários, por sorte a maioria não possuía fechadura o que facilitou um pouco a minha busca. Depois de alguns minutos de procura no andar de baixo, encontrei o escritório.

O escritório era um cômodo não muito grande com uma mesa ao centro e um móvel grande que dá um volta nas paredes com se as envolvesse, havia vários armários nesse móvel, porém um me chamou a atenção, um pouco mais no alto havia um com uma fechadura.

Fiquei na ponta dos pés, já que nem minha estatura de 1,64 nem a bota com um pequeno salto permitiam que eu alcançasse a fechadura. Coloquei a chave no buraco. Ela se encaixou perfeitamente, dei duas voltas para destrancar o armário. Ele não possuía grande espaço nem muita profundidade por dentro, tentei puxar uma grande bolsa preta (que eu julguei ser a bolsa de armas), que era extremamente pesada. Puxei-a novamente com tanta força que ela caiu por cima de mim, me derrubando no chão. O barulho do meu corpo e da bolsa estalando no chão foi alto e eu não me admiraria se tivesse chamado atenção dos mordedores lá fora. Josh rapidamente desceu as escadarias para me acudir e rir da minha situação no mínimo hilária.

–Como aconteceu isso? – ele perguntou em meio às risadas eu o repreendi com os olhos, mas ele riu mais ainda.

–Eu puxei a bolsa e ela caiu sobre mim – informei com derrotismo e ele riu mais um pouco. – Quer parar? Está parecendo uma criança!

–Você também parece uma, uma criança emburrada!

–Está bem, somos duas crianças então.

Josh agachou e abriu o zíper da bolsa, enquanto ele observava as armas eu suspirei olhando para o chão e acabei encontrando algo, um envelope de cartas branco. Peguei-o e olhei o remetente: John Dickins. Era o pai da Avery, claro aquele deveria ser seu armário pessoal. Quando li o destinatário soltei uma exclamação. A carta era destinada para Ave.

–O que foi? – Josh perguntou ao notar minha surpresa.

–Essa carta é para a Avery – respondi.

–Guarde e leve para ela – Josh falou. – Tem mais alguma coisa que temos que fazer nessa casa? Não podemos ficar muito tempo fora do parque.

–Só tenho que pegar algumas coisas que a Ave pediu para levar – falei me levantando. – Eu não demoro muito, em quanto isso você pode ver se tem algo de útil na despensa.

–Boa ideia – ele falou saindo.

Subi as escadas com pressa, o andar de cima era um corredor com várias portas. Suspirei e abri a primeira porta a esquerda, era o banheiro. Ótimo, com tantas portas demoraria mais de uma hora para achar o antigo quarto da garota. Minha sorte foi que a porta depois era o quarto dela.

O quarto não era muito grande, nem de longe tinha o tamanho dos quartos da minha antiga casa, mas era aconchegante. As paredes eram pintas de bege escuro, quase um marrom claro e possuía alguns pôsteres de artistas de rock na parede onde ficava a cama. A primeira vista o quarto estava arrumado, porém com uma olhada mais atenta pude perceber vários objetos fora do lugar, na pressa ela deve ter arrumado tudo em sua mochila e deixado o quarto como estava. Já que Avery era com um mini furacão, por onde passava deixa rastros, mesmo que mínimos.

Tive uma vontade súbita de ficar a arrumar seu quarto, deixá-lo pronto para que ela voltasse a ter uma vida tranqüila, não a vida que levávamos cheia de incertezas, medo e angústia. Mesmo que custasse não vê-la, eu desejava que seus pais voltassem, que a vida normal e que a certeza de que ela viveria por muitos e muitos anos voltassem. Doía pensar em não vê-la mais, mas eu faria isso por ela. Porém nada disso estava ao meu alcance.

Lembrei onde estava seu caderno de música, estava debaixo da cama. Agachei-me para pegá-lo, passei a mão pelo escuro e a única coisa que encontrei foi um caderno roxo, deveria ser aquele. Comecei a folheá-lo, havia várias partituras, em sua maioria de músicas clássicas, mas também havia umas de rock, ela amava rock.

–Achou o que ela pediu? – Josh perguntou me assustando.

– Sim. Achou comida? – perguntei e ela mostrou uma sacola cheia de enlatados.

– Vamos embora. Aquela maldita manada deve estar chegando.

*Narrado por Avery Dickens

Eu estava no “estacionamento” olhando para a estrada quando notei que alguém se aproximava.

– Eles vão voltar – Kate falou se posicionando ao meu lado.

– Eu sei. O problema é quando eles vão chegar.

– Vamos – ela falou.

– O Josh pediu pra você me vigiar? – perguntei enquanto ela me conduzia em direção às mesas, onde todos costumavam ficar. – Se não, pode ficar com o Jacob, eu sei onde ficam as mesas.

– O Jacob é legal, mas não entende coisas de garotas – ela falou sorrindo.

– Agora eu cresci? – ironizei.

– Não, mas você é uma garota – ela respondeu séria. – Vamos andar um pouco e conversar. Eu quero esquecer um pouco dessas coisas – ela falou apontando para os caminhantes que esticavam os braços na tentativa inútil de nos alcançar.

– Tudo bem. Vamos falar sobre...?

– Vamos falar sobre garotos! – ela sugeriu.

– Dá pra ver que eles são muito importantes pra você, já que se jogou em um que nem conhecia direito – provoquei.

– O mundo está acabando! Não quero morrer sozinha. E eu gosto dele. Um dia você vai saber o que é ter um namorado.

– Eu já tive um. Não sou tão criança assim – ela ficou surpresa. – Passamos um verão junto, não foi uma semana.

– Não foi uma semana. Já faz quase um ano.

– Mas vocês começaram a namorar logo no começo – eu ri.

– Vamos mudar de assunto! – ela falou irritada.

– Ta bom. Quando você fez essa tatuagem? – falei apontando para a sua tatuagem, onde pássaros rodeavam seu braço. – O que significa?

– Liberdade.

– Bem a sua cara! Fez quando?

– Quando eu fiz 18.

– O que seus pais disseram?

– Eles nunca viram – ela olhou para o chão. – Eu nem cheguei a conhecê-los.

– Eu sinto muito – tentei.

– Eles morreram num acidente de carro quando eu tinha alguns meses. Nós dois tivemos que morar na casa de uns tios. Eles eram bons pais, até de mais. Eles tinham cinco filhos. Eu e o Josh éramos meio que excluídos. Quando ele começou a trabalhar saiu de casa e me levou pra morar com ele.

– O Josh é tipo seu pai? – era um pensamento bobo.

– Como tatuagens se transformaram em pais? – ela mudou de assunto depois de pensar um pouco.

– A Gabriela disse que eu sou muito animada, então é fácil mudar o rumo da conversa.

– Ela te conhece muito bem.

– Muito – concordei. – Eu queria fazer uma tatuagem, mas ninguém deve estar trabalhando – isso era óbvio.

– Desculpem interromper, mas a comida está na mesa – Scott avisou.

– Desde quando enlatados são comida? – Kate perguntou. – Até a nossa macarronada era melhor.

– Ela era boa! – retruquei.

– Vocês sabem onde a Molly está? – Scott perguntou.

– Deve estar com o Elias. Já os peguei juntos uma vez – Kate falou.

– Juntos tipo juntos? – perguntei incrédula com os olhos arregalados.

– É, juntos – ela falou e Scott fez uma careta. – O que foi? Você devia estar feliz porque os seus pais estão namorando!

– Eles não são meus pais, mas cuidam de mim. Acho que é isso que os pais fazem – ele pensou.

– Então fique feliz pelos seus... Tutores – Kate disse.

Comemos a mesma coisa de sempre: enlatados. Aquela comida estava com um gosto horrível. Era impossível não pensar na Gabriela, eu sentia muito a falta dela, mesmo que ela havia saído há poucas horas. Depois de tentar comer um pouco, resolvi ajudar Elias a matar os errantes da cerca. O peso deles poderia derrubar aquela cerca, mas preferi não pensar nisso.

Era horrível ter que olhar para aquilo. Eles grunhiam e tentavam desesperadamente nos pegar. Sempre que um caía, o de trás avançava, pisoteando-o. Aquilo era, no mínimo, nojento. Além dessa visão terrível, eu tinha que suportar o cheiro, que mesmo estando lá há muito tempo, não conseguia me acostumar.

– Então... Você e a Molly? – perguntei com cuidado e ele ficou surpreso.

– É. Nos conhecemos há bastante tempo. Estávamos esperando o momento certo para falar pro Scott, pra não assustar ele.

– Então... Acho que ele já sabe – não sabia se devia falar, mas não dava pra esconder isso dele. – A Kate contou...

– É, estávamos esperando um pouco para contar, mas agora que ele já sabe... – ele disse passando a mão pelo cabelo, como se avaliasse a situação para saber o que fazer, ou melhor, o que dizer para ele.

– Mas ele gostou bastante da ideia – comentei e ele deu um fraco sorriso. – Quem sabe ele não faça uma missa celebrando a união dos dois? – brinquei e ele sorriu de novo. – Eles não acabam? – falei indicando o bando que se aglomerava e envolvia o parque.

– Não, o tiro atraiu muitos deles – Elias disse. – Me admira que a cerca não tenha cedido ainda!

– Ainda bem!

– Que tal vocês descansarem um pouco? – Emily sugeriu se aproximando junto com Ashley. - A gente faz o serviço.

– Bom, eu vou aceitar – Elias falou. – Vou conversar com o Scott.

– E eu também, estou morta! – exclamei, mas na mesma hora me arrependi de dizer quando olhei para os errantes na cerca. – Quero dizer, estou muito cansada.

Voltei para o chalé e, novamente, me lembrei de Gabriela. O quarto estava vazio e eu sentia vontade de falar com ela. Sacudi a cabeça para espantar os pensamentos e tirei o colar e o relógio para tomar banho. Como aquela água era fria, tomei o banho mais demorado que pude, eu estava quase acostumada com aquilo.

Ouvi um barulho estranho lá fora. Vesti minha roupa rapidamente e abri a porta do banheiro. Me deparei com a pior coisa que podia ter acontecido: três walkers. Isso significava que a cerca havia caído. Olhei para o meu taco de beisebol, ao lado da porta. Não tinha como pegá-lo. Comecei a andar para trás por instinto. Não dava pra sair correndo, eu me depararia com centenas deles.


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Notas finais do capítulo

Gostaríamos muito de saber a opinião de vocês, principalmente a dos leitores fantasmas. Até amanhã!



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