(POV. BERNARDO.)

Depois que larguei Débora e voltei para o Brasil, minha vida melhorou muito. Ela só atrapalhava minha vida e assim que ela saiu, conquistei milhares de coisas. Eu deveria agradecer minha mãe por isso. Minha família decidiu mudar para o interior e hoje eles vivem na nossa antiga fazenda. Clarinha cresceu e estuda em um colégio interno e por duas vezes no més vai pra casa.

Morar sozinho é bom, tem sempre alguma mulher ao meu lado e tenho Laura. Laura está crescendo e se parecendo muito com Cristiana. Ela tem seus olhos azuis, o seu jeito de andar e as vezes, ate fica brava igual ela. Laura é o meu pedaço de Cristiana do qual eu não posso ter, infelizmente.

– E então você vai levar Laura para encontrar algumas mulheres ?. - Beto bebia seu velho martíni, jogado do meu sofá. - Vagabundo se eu fosse um pouquinho mais esperto.

– Eu não vou levar Laura só para isso. - Ressaltei. - Eu quero ter uma conversa com ela.

– Hum, conversa com uma criança, o que você vai conversa ?

– Não interessa.

Beto sempre forra meu amigo e não iria deixar de ser. Ele cresceu comigo e tá aqui ate hoje.

Ouvi o barulho da campainha tocar e fui atende-la. Existia poucos empregados em casa, na realidade vinha uma moça limpar ela, mas eu nunca perguntei seu nome. Era Cristiana na porta, Cristiana e meu pedaço de Cristiana. E novamente as duas estavam linda, Cristiana se destacava mais por ser mais velha e madura, mas Laura também arranca meus olhares.

– Papai. - Laura ficou nas pontas dos pés, mas mesmo assim apenas abraçou minhas pernas. - Saudades.

– Eu também estava minha pequena... - Me abaixei e abracei ela, depois levantei e olhei para Cristiana - E de você também.

– Eu...Nã... Laura comporte-se ok ?. - Ela desviou o olhar e depositou um beijo na testa de Laura. - Eu venho buscar você depois. Tchau Benardo.

Cristiana ainda continuou a olhar para mim por uns dois minutos, mas depois virou a costas e foi embora.

– Ei, Ei... fecha a boca pra baba não cair. - Beto bateu com o meu queixo.

– Otário. - Exclamei ainda pensando na imagem de Cristiana parada na minha frente.

Depois que Laura brincou o bastante com Beto, ele foi embora. Eu tentei imaginar alguma coisa para fazer com Laura e decidi levar ela para um parque público bem aqui perto. Ela queria fazer um piquinique e eu aceitei. Tudo que Laura pedia, eu fazia.

O parque era ate interessante. Muito verde, muito árvore, um lugar para fazer piquinique e várias crianças brincando. Laura sempre forra de brincar, mas preferia passar seu tempo comigo. Algumas crianças ate vinham pedir para ela brincar com eles, mas ela preferia me ouvir falar dos meus livros, minhas músicas e etcs.

Ela estava sentada à minha frente, comendo um sanduíche. Eu estava deitado ao seu lado, com o peso apoiado apenas em um lado do corpo. Sorria quando ela fazia alguma graça ou comentava alguma palavra que não conhecia.

– E então... como está sua mãe... ela anda conversando com alguém ?... homem ?. - Perguntei tentando não fingir importância.

– Não. - Ela respondeu ainda pensativa. - Tem o Rafa, mas ele tem uma namorada. Ela não gosta de sair, só de ficar em casa.

– Hum. - Era aquilo que eu queria ouvir. - Mas ela não conversa com ninguém ? não comenta sobre ninguém ?.

– Ela comenta com Godóia sobre um tal de Oliveira. Mamãe começou a ler um livro e diz que já ama esse Oliveira....

Laura ainda falava, mas eu já não ouvia. Estava feliz por ver que Cristiana lia meu livro e ainda dizia que me amava. Mas ai outra coisa subiu em minha cabeça: Ela não sabia que eu sou esse tau Oliveira, então ela está se interessando por outro homem. Um sentimento de raiva surgiu dentro de mim. Eu queria ir aonde ela estava e entregar tudo, mas seria ruindade demais estragar a nova vida dela.

– E então papai, o que você acha ?. - Laura me arrancou dos pensamentos.

– Que devemos ir tomar um sorvete. Vamos.

Laura pegou na minha mão e começou a andar ao meu lado. Ela apontava para cada pessoa, cada coisa, cada animal que via. Compramos o sorvete, o dela era de chocolate - toda criança gosta de chocolate - o meu era apenas creme. Sentamos perto de alguns brinquedos e Laura comentou sobre a bronca que Cristiana deu nela.

– Mas por que ela brigou com você ?. - Perguntei.

– Ela não me contou, só falou que eu não devia pergunta nada sobre Paris ou a carreira dela de modelo. Eu aceitei por estar triste por ver ela chorando. - Ela respondeu encarando o chão.

– Um dia você vai saber o real motivo dela ficar assim. Enquanto isso não pergunte nada à ela, okay ?.

Ela levantou metade da face e assentiu com a cabeça.

Terminamos o sorvete e decidimos voltar para casa. Já estava quase anoitecendo e eu não queria dar nenhuma mancada para a Cristiana. Enquanto voltávamos para o carro conheci uma mulher, ela era bem atraente. Alice era o nome dela. Muito bonita e eu acabei pegando o telefone dela. Prometi que ligaria, mas iria demorar muito para isso acontecer.

– E você papai ? você não está namorando ninguém ?. - Laura perguntou.

Já estávamos no carro e quase perto da minha casa.

– Não. - Respondi. - Não por enquanto.

– Eu não entendo. Você e mamãe se amam, mas preferem ficar longe um do outro. Por que você não vai lá e dá um beijão nela ?.

– Por que não é assim. - Eu ria da atitude dela. - Você vai entender.

Ela deu de ombros e voltou a olhar pela janela. Quem dera a vida fosse como os olhos de uma criança. Um beijo e curou, um abraço e esta perdoado, um beijo e está tudo bem.

Quando chegamos em casa, Laura correu direto para o sofá. O telefone tocou e eu atendi era meu primo não muito conhecido, mas trazia alguma novidade.

– Vou me casar. - Ele falou pelo telefone. - E você sabe como é nossa família.

– Sei sei...teremos que passar uns dias na casa do lago e assim você casará. Parabéns alias...

– E você sabe quem é minha mulher... - A mulher dele era Cristal. Uma modelo ate que famosa aqui no Brasil. - Enfim... você será meu padrinho e ela vai chamar a...Crist....Cristiana para ser madrinha dela.

– Ah, que legal.

– Ok, tchau.

A ligação acabou e eu pude entender: Cristiana iria estar lá. Iria passar os malditos 8 dias na casa do lago. Quando virei para dar a notícia à Laura ela já estava dormindo. Preferi não acorda-la e fiquei em silêncio.

Já era 8:30 quando o campainha voltou a tocar. Era Cristiana. Trocamos algumas palavras, entreguei Laura para ela e ela foi embora. Queria poder falar mais com ela, fazer ela sentar e conversa comigo, mas nunca conseguiríamos ser assim. Queria falar que eu sou o Oliveira, mas assim ela deixaria de ler meu livro e passaria a odiar o Oliveira e à mim. É melhor tudo ficar me silêncio.