Waiting For The Impossible Girl escrita por Harpia


Capítulo 11
O baile




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– Não foi tão difícil – Clara afirmou convencidamente, quis transmitir segurança.

A ruiva esboçou um sorriso malicioso e umedeceu os lábios com língua. Adorava provocá-la, sentia uma enorme satisfação quando a fazia descer do salto, então, dando passos largos em sua direção, provocou. – Até parece né.

– É verdade. O que você sabe sobre lutar contra um exército de Daleks ou enfrentar os senhores do tempo? Eu ajudei a salvar Gallifrey – franzindo a testa, ela se vangloriou um pouco defensiva por Amy duvidar de sua capacidade heroica.

"Se ela soubesse o que eu já enfrentei...".

– Eu não esperava que você viesse atrás de mim – Amy não quis se aprofundar naquele assunto das guerras intergaláticas, o que importava agora eram as duas e como lidaria com a negociação da Tardis.

– Vi o bilhete que sua irmã deixou na porta da geladeira e soube exatamente que você as trouxe para cá sã e salvas.

Próxima demais, a ponto de sentir o calor que seu corpo emanava, sua mão passeou pelo seu cabelo castanho e sedoso. – Eu tento ser uma heroína, mas no fim é sempre você que me salva.

Elas se encararam em absoluto silêncio enquanto travavam uma interminável guerra interna.

"Eu não sei mais o que é ser boa, deve haver algum ácido na minha mente matando todas as flores no meu coração" pensou Amy e não estava errada. Sua alma costumava ser um belo jardim, agora era um túmulo. Com tantos anos cultivando o ódio, todos os outros sentimentos estavam desacordados, porém graças à Clara ela estava experimentando uma porção deles, era como renascer ou finalmente abrir os olhos para o paraíso, ainda que fosse um paraíso nas trevas. Clara era um nome derivado do latim e aquela mulher incrível de pé á sua frente fazia jus ao significado dele: Brilhante.

Sem conseguir controlar seu desejo e a corrente elétrica que serpenteava entre seu ventre que lhe causava uma sensação latejante entre as pernas, Clara a prensou contra a parede dos fundos da casa e seus lábios encontraram os dela. Foi um beijo desesperador, cheio de fervor. Amy não esperava por isso, ela sempre costumava ser tão delicada e ir sempre com calma. Tinha um homem com a cabeça ensanguentada no gramado logo ao lado, mas e daí?

De repente ela parou, ofegante. – Vamos voltar, viva comigo e nós não precisamos nos preocupar com mais nada.

– Não – Amy quebrou o clima ao se afastar e virar de costas, apreensiva. – Ainda não terminei o que eu tinha que fazer.

– O Doutor pode estar precisando da Tardis – afirmou rispidamente, mesmo que sua voz fosse aveludada. – Você não pode ser tão egoísta a esse ponto, pelo menos eu acredito que não seja.

– É aí que você se engana. Preciso de mais tempo e eu sei que você não vai levá-la de mim.

– Talvez.

– Então você teria coragem de arruinar minha vida?

Clara não respondeu, sua expressão era severa.

– A resposta dessa pergunta também seria "Talvez"? – incitou.

– Não é só por causa da nave, eu não quero mais ficar longe de você.

Arfou e sacudiu a perna, hesitando. – Podemos continuar nos vendo, mas sem o Doutor saber, assim não tenho que devolver a Tardis.

Amy ainda estava vestida com sua camisa vermelha quadriculada e seu jeans surrado. Havia uma mancha seca de óleo em seu braço, talvez houvesse se sujado na Tardis.

– Isso é pedir demais – duvidava que o Doutor não fosse descobrir já que sua esperteza era superior a dos humanos.

Mas a ruiva era inflexível. Cruzou os braços com firmeza e rebateu. – Eu não vou implorar, se você quiser levar a cabine vai ter que me matar.

– Quanto tempo você vai levar para resolver esse problema? – ela fingiu ceder à sua pressão psicológica.

– Uns dois dias até eu conseguir um jeito do meu paradoxo saber o quão Benedict é perigoso.

– Isso é trabalhoso Amy, não vai levar só dois dias.

Estreitou os olhos. – Se é assim que vai ser, aceite ou me esqueça Clara.

Aquele era um empate injusto. Clara a encarou incrédula, sentiu pouco à pouco as lágrimas se acumularem em seus olhos desiludidos. – Por que você é tão horrível comigo?

Talvez essa fosse quem Amy realmente era e estava começando a se revelar agora que a considerava uma ameaça.

– Por que você vive tentando me controlar, eu gosto de fazer o que eu quero. Não preciso de você e nem da sua proteção, você não consegue entender isso?

– Sim, entendo – Clara se conformou e ativou o vórtex manipulator em seu braço.

Sabia lidar com decepções melhor do que ela, afinal, perdeu seus pais muito cedo e viu muitas mortes em vão. O universo não tinha misericórdia, levava embora quem quisesse.

Amy se arrependeu instantaneamente do que disse. – Aonde você vai?

Ela engoliu à seco, conforme se espectro se dissipava entre as partículas cintilantes que se repartiam, prestes a se desmaterializar. – Boa sorte, Pond. Vou deixar que você siga seu próprio caminho.

De repente, antes que Clara fosse sugada pelo buraco criado no espaço-tempo, Amy segurou sua mão e foi levada junto.

~

As duas se materializaram no quarto da casa vitoriana. Uma luz alaranjada penetrava as frestas da cortina, era o sol poente que se deitava sob as colinas íngremes há dezenas de quilômetros daquele pequeno vilarejo em que o Doutor se estabeleceu. Não ficava muito longe de Londres. Quando ela se transportou para o passado de Amy, saiu à noite de casa, o que significava que em breve o Doutor viria checar o motivo de ela ter dormido tanto.

– Por que você fez isso? – Clara torceu as sobrancelhas e forjou uma expressão enfurecida quando nem sequer conseguia conter o riso.

Ficou extremamente contente por ela não ter desistido e tê-la seguido, mesmo que estivesse cega pela ganância de mudar o passado.

– Eu nunca vou te deixar ir embora – Amy corou e a beijou assim que terminou de confessar.

Comemorou por dentro. – Que bom então.

– Se eu te amo, isso é um fato ou uma arma que você pode usar contra mim?

Três batidas na porta interromperam sua conversa.

– Clara?! – era a voz familiar do Doutor. – Está aí?

Antes ir abrir a porta ela fez um sinal para Amy ir se esconder atrás da cama. Ela se abaixou e tentou diminuir o ruído de sua respiração, tampando a boca.

Ao girar a maçaneta, o Doutor entrou e investigou ao redor suspeitosamente. – Está tudo bem?

– Estou ótima – tentou disfarçar, mas sua inquietude denunciava seu nervosismo.

Ele arqueou uma sobrancelha. – Você passou a tarde inteira enfiada nesse quarto.

– Eu precisava ficar um pouco sozinha.

– Que horas você chegou ontem à noite?

– Ás quatro. Acho que você já estava dormindo.

– É... Acho que eu estava – ele não se convencia com facilidade, mas não se preocupava, se sua companion estivesse escondendo algum segredo, logo o desvendaria. Humanos era um livro aberto para um Senhor do Tempo. – Bom, caso você esteja se sentindo melhor, se arrume depressa, nós temos um baile para ir!

– Baile? – ela arregalou os olhos como se estivesse vendo Jesus descendo à Terra. Percebeu que os olhos azuis do Doutor vagavam para outro lado do quarto, onde Amy estava escondida. – O que está olhando?

Desconversou, estampando um sorriso debochante. – Nada, só pensei ter visto uma coisa.

Desde esse segundo, ficou muito óbvio que ele já tinha sacado tudo.

– Por quê temos que ir nesse baile?

– Você faz perguntas demais, fomos convidados por um velho amigo sontariano, que tal irmos para esquecer todo esse problema que você nos meteu?

"Todo esse problema que você nos meteu", ela choramingou mentalmente.

– Se é assim... – se rendeu. – Saia para eu poder me trocar.

– Não aja como se eu tivesse que pedir duas vezes, até parece que você não adora essas festas – ele brincou.

– Pensei que você não soubesse de dançar – afirmou botando as mãos na cintura.

– Eu? Sou o melhor dançarino de todos, vou te provar – o Doutor rebateu ajeitando sua gravata borboleta vermelha. – Vá vestir algum vestido bonito e todo cheio de brilhos e essas frescuras, te encontro na carruagem.

Acenando, Clara fechou a porta com um leve chute e observou conforme a tempestade eminente se aprofundava na penumbra do corredor. Quando a porta deu um baque estrondoso, Amy pôde sair detrás da cama.

Ao invés de ter ficado aliviada, sua frustração aumentou. – O que faremos agora?

– Você vai comigo.

– Você enlouqueceu? Como é que eu vou se ele vai estar lá?

– Você pode prender o cabelo e usar uma máscara.

– Não é um baile de máscaras Clara, que coisa ridícula, além do mais eu não nasci para usar esses vestidos bonitos.

– Pare de complicar as coisas, você pode ir atrás de mim e ficar ao lado de fora com os outros convidados que gostam de passear pelo labirinto, não se preocupe porque o labirinto tem muros baixos e não é fácil de se perder por lá, e uma hora ou outra eu saio e ficaremos nas mesas à beira da fonte. É uma mansão, não tem erro.

– Essa festa deve ser promovida por alguém muito importante.

Começando a ficar indecisa diante do que vestir, Clara andou até seu armário e tateou cada tecido dos vestidos pendurados nos cabides. Maioria eram vestidos justos e cheios de bainhas que ela detestava usar. Agradecia por ainda guardas suas roupas do século XXI para usar durante a folga. – Quer me ajudar a escolher um vestido? Você tem bom gosto.

Amy desaprendeu todas as respostas ousadas que poderiam dar a essa pergunta e gaguejou. – Qu-que cor você quer?

– Algo vermelho ficaria bom em mim.

– Você é tão segura da sua aparência maravilhosa.

– Não sou, você é que faz eu me sentir tão bem.

Escolheu um longo vestido escarlate e a entregou. Clara Oswald o vestiu sem fazer nenhuma reclamação e em seguida ficou em frente ao espelho da penteadeira para desembaraçando as pontas de seu escuro cabelo liso. Depois que ela estava pronta, desceu e foi encontrar o Doutor na carruagem. Foi difícil subir com a barra pesada do vestido, mas com a ajuda de uma mão gentil logo partiram para o baile ao lado da Madame Vastra e sua esposa Jenny Flint, muito educadas, porém não conversavam muito com estranhos, então ela se sentiu meio deslocada.

Amy não se arrumou muito para não chamar a atenção, sabia que se caprichasse em seu visual ficaria deslumbrante, sua intenção naquela noite não era essa. Uns dez minutos depois que a carruagem já tinha ido, ela saiu da casa e esperou que algum homem gentil se oferecesse a levá-la. Quem a menosprezaria? O frio começou a se intensificar e, num gesto instintivo, ela abraçou seu próprio corpo. Quando sentiu braços fortes a envolverem por trás, tremeu ao sentir o choque da desconhecida pele quente contra a sua.

– Melhor entrar... Ou vai acabar pegando um belo resfriado – alertou protetoramente uma voz masculina.

Imediatamente virou-se sem saber se deveria começar a correr ou acreditar que havia bondade naqueles olhos verdes que a fitavam de modo atencioso. – Ah, estou esperando minha carruagem, mas mesmo assim obrigada pelo conselho.

– Está falando sobre aquela carruagem ali que acabou de chegar? - ele apontou com o dedo indicador para o outro lado da rua.

Havia uma coupé preta de quatro rodas puxada por um cavalo branco.

– Pode ser. Onde está o condutor?

– Ele foi beber algo antes de partir – ele informou confiante.

Contando os segundos para estar no baile, Amy resolveu se despedir do homem. Mal podia aguentar a ansiedade de ver Clara de novo. – Então já estou indo, até mais.

Ao subir na carruagem fechada, ela fechou os olhos e se permitiu se perder naquele momento de paz e plenitude, porém a trégua do caos acabou quando outra pessoa entrou, bateu a porta com força exagerada e se sentou preguiçosamente ao seu lado. Ela saltou no banco e o encarou assustada. Era o mesmo homem com quem conversou na calçada.

– O que está fazendo aqui?

Ele tirou um bilhete dourado do bolso de seu casaco. – Também estou indo para o baile de gala na mansão da Madame Vastra!

Com certeza Amy Pond não sabia quem era Madame Vastra ou o quê ela era, então sem contestar, permaneceu calada o percurso inteiro. Ele também não sabia quem era a moça ruiva ao seu lado e se mostrou interessado. Ao desembarcarem, o condutor ofereceu as mãos para ajudá-la a descer e assim que pararam em frente os portões da mansão, ela perguntou o nome do homem que acabara de conhecer.

– Qual é o seu nome?

– Jack, Jack harkness – respondeu, lançando um olhar sedutor.

Ao mostrar seu convite para um dos guardas dos portões, Jack assumiu Amy como sua acompanhante quando percebeu que ela não tinha o convite. Atravessando a trilha entre os jardins da mansão, avistava-se longas paredes de folhas podadas formando um labirinto nos fundos e outras árvores menores.

"E ela ainda me disse que não era fácil se perder aqui" Amy pensou torcendo o nariz. Um pequeno lago e uma fonte condecorava o lugar, haviam mesas que rodeavam o ambiente artificialmente natural assim como Clara dissera. O cheiro misto das flores e da relva macia era divinamente reconfortante. Empregados serviam uma mesa extensa com vários pratos e metade dos convidados estavam dentro do salão da mansão.

Jack agarrou sua mão e tentou levá-la. – Vamos lá.

– Não! – Amy recusou, soltando um "Não" alto demais.

– Por quê?

– Prefiro ficar aqui, se quiser ir dançar com outra pessoa, pode ir.

– Você é esquisita – ele a ofendeu com uma expressão enojada.

Jack seguiu sozinho para dentro da mansão. A sinfonia da música instrumental que tocava era melancólica e pura demais para uma pecadora como ela. Meio hora se passou e Clara não foi encontrá-la. Amy ficou entediada, beliscou um prato com doces e decidiu vagar pela entrada do labirinto ao ver que um casal também iam. Era noite de lua cheia e tudo parecia perfeitamente bem, sem formação de nuvens ou indícios de nevoeiro, e era exatamente por isso que havia um toque tenebroso na paisagem, pois ao mesmo tempo em que coroavam o céu com um fascínio exorbitante, as estrelas pareciam diferentes do que costumavam ser, como se um cenário artificial houvesse sido posto acima do planeta. Em frente à entrada do labirinto, uma mulher de tapa-olho e avental branco surgiu detrás de uma árvore.

– Sua hora chegou Amy Pond – declarou Madame Kovarian.

Será que se Clara tivesse chegado antes isso não teria acontecido? O que impede nosso destino de ser marcado com feridas incuráveis depende de nós ou tudo já foi pré-escrito por algum Senhor do Tempo ou outra entidade que administra individualmente a vida de cada um?


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Notas finais do capítulo

fucken dumb , postarei a 2º parte desse capítulo semana que vem