Waiting For The Impossible Girl escrita por Harpia


Capítulo 10
Inesperado


Notas iniciais do capítulo

Quem está sentindo falta de DW e acha que não vai aguentar até Agosto ergue a mão o/



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/423550/chapter/10

Clara desceu até o escritório da casa vitoriana e ficou sentada sob o tapete à beira da lareira. As chamas assumiam formas espirais ardentes, tão ardentes quanto o silêncio ao seu redor, afinal, quando a mente está abarrotada de condenações, o silêncio pode ser destrutivo e matar as borboletas em seu estômago. Pegando o ateador para mover uma das lenhas, ela deu um longo suspiro desanimado. O Doutor chegou por trás, botou uma mão sob seu ombro e o apertou suavemente como sempre fazia para demonstrar apoio e devoção. Ele não precisava fazer nenhum discurso, afinal, conhecia muito bem a complexidade dos humanos: Quando se decepcionavam só queriam ficar sozinhos para poder se torturarem com a própria dor.

Depois disso, ele se moveu até a poltrona, sentou seu corpo esguio e abriu seu exemplar de física quântica na página 221 fingindo total indiferença. Queria que sua companion aprendesse a lidar com obstáculos e quebra-cabeças por si mesma.

– Se a dimensão alternativa deixou de existir, Benedict deixou de ser um perigo no futuro de Amy, não é? – Clara o fitou séria, exigindo firmemente. – Me diga que sim, Doutor.

Fazendo uma careta, ele passou a ponta língua num dos dedos para mudar a página do livro. – Só depende dela agora. Mude o passado, mude o futuro, exceto é claro, que ela irá criar um ponto fixo no tempo e a versão dela que roubou minha Tardis irá desaparecer assim que ela impedir o assassinato.

Mordendo o lábio de impaciência, Clara se levantou e pegou seu suéter no tripé ao lado da lareira. – Acho que vou dar uma volta para pensar melhor, você não está me ajudando.

– Quer que eu vá com você? – O Doutor já sabia qual seria sua resposta.

– Não, obrigada. Quero ficar sozinha.

Embora parecesse indisposta a sair, Clara inalou fundo o ar gélido de sua trágica realidade e se retirou do escritório rodeado por prateleiras. Eram onze horas e a penumbra ao lado de fora era densa. Ao passar pela porta da frente, sorriu ao perceber que estava agindo como Amy. Pelo menos havia algo que pudesse se apegar além das memórias. Subiu em sua moto atrás do muro do jardim e dirigiu até o campo do moinho de vento. Nenhum habitante a perseguiu dessa vez, eles estavam dormindo, sonhando com o futuro ou talvez com o passado, jamais suspeitariam que poderiam mudá-los com a ajuda de um Senhor do Tempo.

Ela freou no meio do campo e passeou por uns metros. As únicas testemunhas de sua presença eram os grilos e as cigarras. As hélices giravam sem velocidade e as nuvens rosadas no céu estavam se separando lentamente uma das outras. Lembrou-se de quando elas estiveram deitadas ali, seus corpos sedentos de desejo e impedidos de liberá-lo por puro receio, mal sabiam o quanto se completavam ou o quanto possuíam a habilidade de amar sem jogos e mentiras; pelo menos por parte de Clara que não seria capaz de olhar direto para os olhos verdes de Amy e mentir descaradamente. Ainda havia tanto que gostaria de dizê-la.

Então, Clara sobressaltou ao se lembrar de como voltaram para casa naquele encontro. Usaram o vortex manipulator! Ela saltou de alegria, orgulhosa por ser um gênio; arrumou um jeito de ver sua amada outra vez e recuperar a Tardis.

~

Amy Pond deitou-se no chão metálico da Tardis e se enrolou no cobertor como se ele fosse um casulo, o encontrou no armário de uma das milhares de salas que talvez nem se quiser existisse mais ou fosse se lembrar onde ficava. O caminho dos corredores eram confusos e variavam. Com as mãos entrelaças sob o peito, ela quis chorrar, mas as todas lágrimas já haviam secado.

– Pensei estar preparada para vivenciar a morte da minha família de novo, mas me enganei – pensou alto.

Era insuportavelmente solitário lá dentro, ela achou que talvez por essa razão o Doutor sempre escolhia alguém com quem pudesse compartilhar as vantagens e desvantagens de viajar pelo tempo. Fazia muito sentido, mesmo que ele aparentasse ser durão e calculista, era um homem generoso. Depois de refletir tanto, Amy dormiu tranquilamente, desejando que as coisas fossem consertadas com um único lampejo do amanhecer. De manhã, a primeira coisa que fez foi mexer no console e ativar o holograma de Clara apenas pelo prazer de vê-la e dizer "Bom dia!" a sua interface digital.

– Bom dia minha linda – disse acariciando seu cabelo castanho. Na verdade, acariciava o vazio, o ar, o que não era real, atravessando a ponta dos dedos entre os pixels.

– Bom dia Amy Pond – o holograma saudou inexpressivo.

– Eu queria poder estar aí pra te abraçar.

– O meu banco de dados não possui uma resposta para sua pergunta. Tente outra vez.

Ela suspirou sentindo uma faísca inexplicável abranger seu peito. Tinha certeza que não era um infarto, era sempre amor. – Não tem problema, eu poderia olhar para você o dia inteiro.

Se serviu um copo de café e creme de baunilha com palitos de peixe antes de recomeçar sua missão. Ligando a Tardis ao elevar uma alavanca no painel, voltou ao dia anterior ao assassinato. Ao invés de ir ao mercado encontrar seu pai, percorreu um curto trajeto até uma rua residencial. Parando em frente ao jardim de sua antiga casa, hesitou. Era agora ou nunca. Será que devia ir ou deixar pra lá?

Foi até porta e tocou a campainha. Tabetha atendeu e arregalou os olhos. Amy ficou apreensiva. Será que ela descobriu que ela que veio do futuro?

– Amy – sua mãe murmurou assombrada, levando a mão a boca. – Pensei que tivesse saído com uma roupa diferente e não com esse trapo!

Ela rolou os olhos de alívio e sem dizer nenhuma palavra, a abraçou, aproveitando cada segundo. "Eu não vou deixar você morrer".

– Entra logo – Tabetha a empurrou pra dentro, afagando suas costas.

No hall, quase se emocionou vergonhosamente ao se deparar com sua casa tão vívida. Não havia nenhum objeto fora do lugar ou pó nos móveis. Andando mais à frente, avistou sua irmã estava debruçada sob o balcão da cozinha, tomando café da manhã em sua tigela de cereal. Rose deu sorriso inocente para ela; sorriso que nunca mais seria visto se Amy não mudasse seu destino.

Tabetha afastou uma cadeira para sua filha se sentar. – Já que mudou de idéia sobre ir pra aquela festa, fique aqui conosco.

A estava mesa abarrotada de pães e folhas do jornal diário.

– Quer que eu ajude com alguma coisa? – antes de sentar-se, Amy quis ser prestativa.

Arqueando as sobrancelhas, a mãe botou a mão sob sua testa para medir qualquer possível febre. – Você está estranha, tá tudo bem?

– Estranha? Que nada, só acordei de bom humor hoje – ela sorriu, dando de ombros.

Rose Tyler gargalhou ironicamente. – Bem que isso poderia acontecer todos os dias! Vou fazer um teste, me deixa ficar com sua coleção de vinis do Pink Floyd?

– Nem fodendo, Rose. Vai se foder – exaltou-se, sem desarmar seu sorriso.

– Falso alarme, você ainda é você, tão egoísta como sempre.

Ela resolveu ignorá-la. Sua irmã a enchia o saco, mesmo que esse fosse o passado. – Mãe vamos sair hoje à noite? Eu, você a Rose e o papai?

Guardando os pratos que estavam na lava-louças no armário, Tabetha teve que repetir para si mesma as palavras de Amy antes de se convencer. – Estou ouvindo mesmo o que você está dizendo ou é só mais uma das suas piadas infames para nos menosprezar?

– Estou falando sério, vamos sair dessa casa hoje mesmo – insistiu alarmada.

– Para onde? – Tabetha não tinha a mínima ideia.

– Podemos ir para a praia ou para a fazenda do vovô, mas não podemos ficar em casa nessa noite. Hoje é sábado, dia de agitação! – sugeriu, disposta à tudo.

– Tudo bem, fique calma, sairemos hoje.

Rolando os olhos, Rose terminou sua tigela de cereal e se levantou para botá-la dentro da pia. – Podem ir desde que deixem dinheiro para eu comprar o jantar. Não estou a fim de ir pra lugar nenhum.

Lentamente, Amy estreitou os olhos e a persuadiu. – Não seja uma vadiazinha e estrague nosso passeio, você vai e ponto final.

E no próximo instante, estava tudo resolvido. Rose arrumou uma mochila e depois ajudou Tabetha a arrumar a sua, um pouco maior. Amy insistiu que nada levaria e que estava contente apenas por estarem à indo até a fazenda de seu avô numa cidade vizinha. O pai de Amy ia ficar, estava no mercado àquele horário. Ele com certeza sairia com os amigos à noite, merecia uma folga de seu trabalho de carrasco. Rose deixou um bilhete para ele com o endereço anotado e grudou a nota na porta da geladeira.

Ao meio dia, elas pegaram um trem. A paisagem dos vastos morros e pradarias era estonteante. Ela quase adormeceu dentro do vagão que nem sequer chacoalhava nos trilhos. Antes das três horas, chegaram famintas a fazenda do avô. Depois dos estábulos, havia uma casa de porte pequeno, mas muito luxuosa. Suas paredes externas eram verdes. Moriarty estava fumando na varanda quando Rose correu até ele e pulou em sua direção com os braços abertos.

Tabetha e Amy foram as últimas a cumprimentá-lo. Sua mãe deu um beijo na bochecha dele. Depois, Amy se aproximou para abraçá-lo com um braço só. Ela não via seu primo Moriarty há anos, mas não sentia saudade. Ficou surpresa com o quanto ele estava... Maduro, se é que comportamentos irresponsáveis como se tornar um alcoólatra e se drogar poderiam ser considerados maduros.

– Você cresceu – ele comentou, era um eufemismo para "Tá gostosa hein?" nítido em seu olhar mais ousado do que o comum.

– Não, sou a mesma de sempre – Amy discordou, defendendo sua idealização de que eles não deviam notar nenhuma diferença já que ela veio do futuro.

Corando, Tabetha preferiu deixá-los conversando a sós. – Vou ver o vovô e já volto. Aproveitem.

Era óbvio que sua mãe era do tipo que ficava insinuando para a filha se atirar aos pés de qualquer homem.

Moriarty a ofereceu um trago e encostou os cotovelos no parapeito. – Relaxa aí.

– Já parei de fumar faz tempo – Amy recusou gesticulando.

Parecendo preocupado, ele fez um bico. – Você mudou mesmo então gata. Ainda toma aqueles comprimidos?

– Os de êxtase?

– É, ia perguntar se pode me trazer mais alguns.

Ela deu sua sincera opinião baseada em experiências passadas; ou futuras? Já que estava seu passado as experiências passadas agora eram futuras? – Sai dessa cara, isso não faz bem, só vai destruir seu sistema nervoso e imunológico.

– Para com esse sermão brega – Moriarty tirou sarro. – Como vai a vida em Leadworth? Lá pelo menos tem um shopping?

– Você sabe que não há muitas novidades por aqueles lados do país – ela fechou as mãos em punho e tentou não ser rude para não arruinar seus planos de consertar o passado.

– Aposto que você mal pode esperar para sair daquele buraco. Vou te levar para Londres qualquer dia desses, você vai gostar pra caralho.

Mudou de assunto, não pensava sobre esse objetivo dele se concretizando. – Como está o vovô?

Ele soltou a fumaça, ponderando. – Nada bem. Ele passa o dia inteiro na cama, tomando sopa e respirando por um tubo. Se sobreviver até ano que vem é sorte.

Amy abaixou a cabeça, aborrecida. Implorou que seus dutos lacrimais não se abrissem.

– Ei pequena – ele afastou seu longo cabelo laranja e encostou seus os lábios quentes em sua nuca, sussurrante. – Não vamos nos abater com esse assunto, vamos falar sobre o que realmente importa.

– E o que realmente importa? – ela se assustou ao sentir sua respiração sob sua pele.

– Você – Moriaty respondeu voltando à posição anterior.

– Como assim?! – a garota deu passos para trás, desconfiada.

– Há uma coisa que quero fazer com você faz tempo, mas antes – ele pausou para dar uma checada descarada em seu decote. – Como anda seu namoro?

– Não gosto de falar sobre meus relacionamentos.

Um silêncio constrangedor os aplacou.

– Tá a fim de ir jogar tênis lá na quadra no fundo? – ela mais uma vez tentou mudar de assunto e o convidou ingenuamente.

– É melhor não, você joga muito mal.

– Cala a boca – ela riu, desconsiderando a crítica e o dando uma leve cotovelada nas costelas. – Com esse terninho, você soa esnobe.

Moriarty achava fofo o jeito como ela se movia. A roubou um beijo. Foi um beijo ruim, afinal ela não correspondeu, simplesmente o deu um empurrão e o fez bater as costas no batente.

– Ai, por que fez isso? – questionou de olhos fechados e espremendo a cara de susto.

– Você pirou? Você é meu primo Moriarty.

– Não, não, eu sou adotado, esqueceu?

– E daí? Eca... – repulsiva, limpou os lábios com a manga da blusa. – Eu não estou a fim de você.

– Eu não aceito um 'não' – Moriarty a agarrou violentamente pelo pulso e a arrastou para o estabulo.

– Seu canalha filho da puta – ultrajou, se debatendo e tentando fazer com que ele a soltasse.

Seu primo era fisicamente mais robusto e esculpido do que ela. A esmagaria se quisesse. Uma rajada forte de vento soprou no caminho atrás deles. Pedregulhos e galhos giravam num redemoinho como se o chão fosse se partir ou algum relâmpago fosse cair especificadamente naquela área. Moriarty virou-se perplexo. Entre flashes de luzes, Clara se materializou e surgiu prestes a nocauteá-lo com uma tora de lenha.

– Não toque no que é meu – ela advertiu furiosa quando Moriarty tombou com um ferimento na lateral da cabeça.

Amy a encarou boquiaberta, aquilo foi inesperado. – Impossível!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

A ideia da Rose sendo irmã da Amy foi inspirada nessa teoria: https://scontent-b-atl.xx.fbcdn.net/hphotos-ash3/t1/q71/1511744_536467879783423_708042957_n.jpg. Esse capítulo não teve muita ação ou surpresas, mas ele é fundamental para dar continuidade ao que irá acontecer no próximo. Quero reviews :(