Além Da Amizade escrita por Esc L


Capítulo 7
Continuação Capítulo 6.


Notas iniciais do capítulo

Bom, como vocês viram, não coube o capítulo todo no tópico do capítulo 6, então tive de fazer um com a continuação.



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Nós descemos e fomos até a cozinha ver o que haviam feito de almoço, pois bem, era lasanha, minha comida favorita, e é claro, que quem havia pedido o cardápio de hoje era a mamãe.

— Faz meu prato, Gabi? – olhou-me, pidão.

— O prato já está feito Lipe, olha aqui. – mostrei um prato pra ele e ri.

— Engraçadinha. – ironizou-me – Coloca comida no meu prato pra mim, vai? – era um bebê, como negar?

— Você é a pessoa mais folgada que conheço, juro. Só vou colocar comida pra você porque hoje eu to solidária com os necessitados. – me fiz esnobe, segurando o riso.

— Depois eu te retribuo o favor, correspondendo as tuas necessidades então. – deu uma piscadela e olhou-me maliciosamente.

— Ah, claro, to muito necessitada. – o ironizei, terminando de colocar a comida em seu prato – Pega aqui ó. – entreguei o prato a ele – E come de boca fechada ok criança?

— Obrigado, escrava. – riu de mim, e eu apenas o lancei um olhar do tipo "você me paga".

E o dia foi passando, assim, cheio de brincadeirinhas e troca de olhares entre nós, porém nenhum dos dois tocou no assunto sobre ocorrido do dia anterior.

Ele me fazia esquecer todos os problemas, e quando eu lembrava os mesmos, novamente ele me passava força e me fazia ser forte. Eu não sabia exatamente o que estava acontecendo entre nós, mas algo estava mudando, sabe quando a gente sente isso? Pois bem, era isso que eu sentia. E sentia também mais do que isso, principalmente quando ele se aproximava, seu cheiro me embargava e meu coração pulsava forte e ligeiro. Mas independente de qualquer sentimento que estivesse nascendo ou somente crescendo, eu não podia deixar avançar, não podia levar adiante, talvez pelo meu medo de me machucar novamente e principalmente, por ele ser meu melhor amigo.

Naquela tarde, decidi junto do Felipe que iria visitar meu pai o mais breve possível. Não queria tratar de nada disso por telefone, queria olhá-lo, queria abraça-lo e confirmar qual era realmente, o seu estado de vida. O Lipe se ofereceu pra ir comigo, mas eu não aceitei, era algo no qual eu precisava fazer sozinha, precisava de uns dias sozinha.

Felipe narrando:

Esses últimos dias que vinham passando, estavam sendo os melhores que já vivi. Era até engraçado falar assim, nunca me senti tão bem ao lado de alguém como eu vinha me sentindo com a Gabi.

Em meio a todos os problemas que ela vinha passando, em tudo que podia, eu estava ao seu lado, tentando passar forças pra ela, e demonstrar que independente do que fosse eu não ia deixar faltar com ela. Vê-la sofrer doía em mim, cada lágrima que ela derramava, doía um pouquinho mais, mas ainda assim, eu passava todas as forças que podia a ela, tentando cada vez mais, assegura-la de que comigo, ela estaria segura.

Muita coisa em mim estava mudando, principalmente depois daquele beijo, e cara, que beijo! De todas as vezes em que eu havia beijado alguém, e olha que não foram poucas, esse fora o melhor beijo de todos. Foi algo especial, havia uma sintonia inigualável, talvez por minha vontade absurda de querer tê-la em meus braços. Eu nunca havia desejado tanto alguém, como eu a desejava. Meu coração entrava em disparado quando ela se aproximava, e meu corpo cambaleava em cada toque dela.
Eu tinha vontade de estar ao seu lado a todo segundo, e isso já não mais me confundia. Era paixão, eu nunca tinha sentido nada tão parecido por garota nenhuma, eu estava literalmente apaixonado por ela.

Gabriella narrando:

Já era quinta feira, eu terminei de tomar café e peguei minha mochila pra ir pro colégio, a mamãe iria me levar, já que eu havia acordado um pouquinho atrasada. Assim que cheguei mal me despedi da minha mãe e corri, antes mesmo que pudessem fechar o portão e fui direto pra sala.

As aulas passaram voando, e logo chegou o tão esperado, intervalo, fui até a porta e meu guarda costas já me esperava, sorri ao vê-lo ali.

— Pensei que tinha morrido lá dentro. – Felipe disse, me abraçando.

— Não posso morrer, você precisa de mim pra viver. – falei rindo e retribuindo o abraço.

— Realmente, preciso mesmo. – sorriu e me olhou por alguns segundos.

Fiquei sem graça e apenas dei um risinho, tentando descontrair.

Fomos eu, ele a Manu, Bruno, Karol e Renan, em direção ao lugar onde sempre ficávamos, eu estava morrendo de fome.

— To indo ali na cantina rapidinho, não chorem de saudades. – todos riram e eu dei um tchauzinho, me fazendo esnobe.

Fui andando em direção a cantina do colégio, e quando estava bem perto da mesma, fui interrompida por alguém, que me puxou pelo braço, virei assustada.

— Nossa hein, cada dia que passa você fica mais linda. – disse segurando meu braço e dando um sorrisinho malicioso.

— Da pra você me soltar, por favor? – pedi.

— Calma princesa, só to te admirando.

— Não quero ser admirada por você, me solta Gabriel, por favor. – pedi mais uma vez.

— To com saudade do seu beijo sabia, não tiro da minha cabeça a última vez que nós nos beijamos. – ele se aproximava mais, estava estranho, muito estranho.

— Pois trate de esquecer, porque aquilo não vai mais se repetir. – sorri sínica – agora solta o meu braço. – fiz força e soltei meu braço de suas mãos.

— Nossa, ta bravinha. – falou com ironia – Eu ainda vou te ter de volta Gabriella, você vai ver. – se aproximou mais de mim e eu dei um passo pra trás.

— Não sonha Gabriel, desencana, já falei que nós dois não da mais. – o olhei séria, o jeito que ele me olhava estava me assustando.

— Você vai ser minha de novo, de qualquer jeito, ta me ouvindo? – pegou no meu braço novamente, dessa vez segurando mais forte.

— Me solta, você ta me machucando! – ele me olhava e segurava mais forte ainda.

— Você não ouviu que é pra soltar ela, mané? – ouvi uma voz masculina vindo de trás de mim.

É óbvio que eu reconhecia aquela voz, olhei pra trás e era o Lipe, que estava olhando pro Gabriel com uma cara nada boa.

— Não se mete cara, ninguém te chamou aqui. – Gabriel disse.

— Eu te dou três segundos pra soltar o braço da Gabriella.

— E você vai fazer o que? Me bater? – riu com ironia.

— Se preciso, sim. – disse firme – Você só tem mais um segundo.

O Lipe encarava o Gabriel que logo soltou meu braço, com uma certa ignorância.

— É melhor você deixar a Gabriella em paz, ta me entendendo? Caso contrário eu vou ter que partir pra ignorância contigo. – Felipe o avisou.

— Quem você pensa que é pra falar assim comigo, otário? – Gabriel alterou o tom de voz e peitou o Lipe.

— Eu sou o melhor amigo da Gabriella, e eu falo com você do jeito que eu quiser, porque a partir do momento que você desrespeita alguém, principalmente uma mulher, você não merece ser respeitado. Se você continuar atormentando a Gabi, você vai se ver comigo, é só um aviso. – o Felipe deu uma piscadela, e saiu andando junto de mim em direção a cantina.

— Obrigada. – sorri e o abracei apertado.

— Não tem o que agradecer, ele estava precisando de uma dura dessas. Se ele continuar atrás de ti, me avisa, viu? – abraçou-me e deu-me um beijo em minha testa.

— Ta bom.

Nós compramos o lanche e voltamos para onde nossa turma estava, logo o intervalo acabou e nós voltamos pra sala. O dia passou tranquilo, a noite chegou e eu estava arrumando a minha mala, iria pegar o voo pra Porto Alegre na manhã seguinte, para visitar meu pai, assim que terminei ajeitei minha cama e dormi.

Acordei as 07h do dia seguinte, corri pro banheiro, tomei banho, vesti minhas roupas intimas, um short não muito curto, uma bata comprida em tom pastel, com estampa, um casaquinho meia manga preto, e uma sapatilha com taxinhas na frente, peguei uma bolsa, coloquei meus acessórios dentro, passei uma maquiagem leve, penteei meus cabelos os deixando literalmente soltos e desci, comi alguma coisa e eu e a mamãe saímos em direção ao aeroporto, eu iria pegar o voo das 09h.

Depois de escutar muitos conselhos da minha mãe, chamaram o meu voo e assim eu fui, era hora de enfrentar o que estava por vir.

Duas horas depois eu já em encontrava no RS, peguei minha mala e fui andando, procurando minha madrasta que me esperava. Depois de uns minutos de procura, eu a achei, junto da Gigi e do Gustavo, meu irmão mais novo de cinco anos.

— Gabiiiiiiiiiiiii! – o Gu e a Gigi gritaram, e correram em minha direção, me abraçando.

— Oi meus amores, que saudades de vocês! – enchi os dois de beijo, realmente, eu estava com saudades.

— Como tu ta linda mana, ta mais bonita que a minha namorada. – Gustavo disse, como se tivesse tamanho e idade pra tal coisa.

— É mesmo? E como é o nome da sua namorada? – eu e a Giovanna riamos.

— O nome dela é Clara, mas ela já ta me dando muita dor de cabeça. – balançou a cabeça negativamente, o que me fez rir.

Nós caminhamos em direção a minha madrasta, e eu a cumprimentei.

— Ei minha linda, que saudades! – Luciana disse me abraçando.

— Eu também estava com saudades Lu. – sorri, retribuindo o abraço.

— Como tu ta? Deve ta cansada da viagem, né?

— Um pouquinho, mas to bem. – sorri.

— Quem bom então. Vamos pra casa? Ou quer passar em algum lugar?

— Não, eu quero ver o papai. E só pra te deixar claro, eu já sei de tudo. – torci os lábios, em sinal de confusão.

— É, eu já sei, a Giovanna me contou que falou contigo. – olhou pra Gigi com cara de brava e ela se encolheu.

— Antes tarde do que nunca, não é mesmo?

— É sim. Agora vamos, seu pai está te esperando, vai fazer bem a ele te ver.

Quando ela me falou isso, senti-me bem em saber, ver meu pai bem era tudo o que eu queria, e confesso, estava morrendo de medo de vê-lo.

Nós fomos em direção ao carro, e a Lu colocou minhas malas no porta malas do carro, ajeitamos o Gu na cadeirinha, e fomos em direção a casa do papai, conversando animadamente, mas no fundo, no fundo mesmo, a tensão me dominava, o medo me afligia e eu fazia de tudo pra demonstrar que estava otimamente bem.

Esperamos o portão se abrir e a Lu entrou com o carro, logo ela estacionou na garagem e nós fomos tirando as malas de dentro do carro, fomos adentrando a casa gigante, que não se encontrava muito diferente da última vez em que eu havia ido lá. Os móveis, os sofás, a sala de TV, tudo se encontrava do mesmo jeito, apenas as posições deles mudaram de lugar.

— Bom Gabi, eu pedi pra Cida arrumar o teu quarto, é só subir e colocar as tuas malas lá. – ela sorriu.

— Obrigada Lu. – sorri de volta – E o papai? Onde ele ta?

— Ele está no quarto, descansando, bota tuas malas no teu quarto e vai lá falar com ele.

— Ok.

Eu subi em direção ao meu quarto, e coloquei minhas malas, o mesmo se encontrava da mesma forma de quando sai de lá da ultima vez, igualzinho, sem mudar nem tirar nada.

Sentei na minha cama e me apoiei em minhas mãos, tentando criar coragem ou dominar todo o medo que estava sentindo, e principalmente, tentando mandar embora minha vontade de chorar.

Depois de alguns longos minutos ali, pensando em tudo que tinha pra pensar, tomei coragem e fui em direção ao quarto do meu pai, antes de abrir a porta, respirei fundo e adentrei o mesmo.

— Oi pai. – sorri ao vê-lo.

Ele estava deitado na cama, mais magro, meio pálido, em seus olhos haviam olheiras e o mesmo se encontrava num olhar triste, partiu-me o coração ao vê-lo daquela maneira, alguém que fora tão forte, tão vigoroso, hoje se encontrava daquela forma. Assim que me viu, sua expressão mudou, e ele soltou um sorriso animador e sentou-se.

— Oi minha princesa. – ele sorria.

— Como o senhor ta?

Como ele ta? Oras Gabriella, mas que pergunta! Arrependi-me.

— To ótimo filha. – sorriu convicto de tal coisa, como se eu acreditasse.

— Hum, que bom. – relevei a mentira.

— Como tu ta, hein princesa? – ele sorria.

— To bem pai, to bem. – tentei sorrir, mas era difícil.

O silêncio reinou entre nós, mas eu precisava falar, estava sendo difícil guardar pra mim, difícil não ter o abraço dele, e mais difícil ainda, não ter a certeza de tudo.

— Tu ta calada, o que foi? Não segura as palavras filha, faz mal.

Eu respirei fundo, era difícil, muito difícil, eu queria chorar, correr pro seu colo, como fazia quando tinha os meus 6 anos de idade e algo não estava bem.

— Porque tentaram me esconder, pai? – o olhei, já com os olhos marejados.

— Algumas coisas são necessárias, filha, não tem um por que exato. – olhou-me docemente.

— Vocês deviam ter me contado, ia estar doendo bem menos agora.

— A dor sempre nos serve pra algo, ela sempre nos ensina algo.

Meu pai sempre foi um homem sábio, sempre soube usar as palavras nas horas certas, e mesmo que no momento não fizesse sentido, depois sempre era de se compreender. Ele era uma das únicas pessoas que eu mais confiava nesse mundo, meus maiores segredos eu confinava a ele, sempre que precisava de conselhos, de palavras confortantes, e até mesmo desabafar, eu recorria a ele, e ele sempre sabia como me ajudar, até mesmo com puxões de orelhas e verdades dolorosas.

— To me sentindo traída pai, eu poderia estar mais tempo perto do senhor, poderia ter vindo antes, poderia ter te acompanhado desde o inicio – uma lágrima escorreu – to me sentindo culpada por não poder ter te ajudado, mesmo que eu não soubesse, eu queria ter te ajudado. – eu tentava segurar as lágrimas, mas era em vão.

— Nós não podemos fazer de tudo princesa, e você não têm culpa de nada, nós apenas te preservamos, eu, como teu pai, tentei cuidar de ti, e vou continuar tentando, eu não vou sair de perto de ti nunca, mesmo que não estando mais presente. – ele me olhou de uma maneira diferente, o que me amedrontou mais.

— Eu to com medo, eu não sei viver sem o senhor, juro que não sei, eu não vou saber papai, não vou. – eu chorava e tentava segurar os soluços entre o choro.

— Não há nada que o tempo não cure ou amenize, nada.

— Eu não quero te perder, não quero. Não vou suportar! – eu o abracei, em prantos.

Tentei despejar toda minha dor naquele abraço, que saudades do deu abraço, era confortante.

Eu me sentia com os meus cinco anos novamente, quando acordei com o terrível pesadelo que tive, e corri pros braços do meu grande herói, pra ali me refugiar e mandar todos os monstros e medos embora.

O abracei com todo cuidado que pude, ele me parecia tão frágil, estava tão frágil.

— Sssh, vai ficar tudo bem. – deu-me um beijinho na testa.

Ele acariciava meus cabelos, enquanto eu me deitei em suas pernas, e assim ficamos eu, ele, meu choro e o silêncio um tanto confortante entre nós, silêncio necessário.

— Mais quanto tempo pai? – fui direta ao querer saber sobre o tempo de vida que lhe restava.

— O necessário, princesa. – falou baixinho.

Fiquei em silêncio, mas minha mente estava tumultuada, eu precisava me adaptar a isso, mas como me acostumar com a ideia de perdê-lo?

Depois de algum tempo ali com ele, eu já estava mais calma, mais segura, foi quando meu pai pediu pra eu ir pro meu quarto tomar um banho para sairmos, nós íamos almoçar fora.

E assim eu fiz, tomei banho, vesti uma roupa, penteei meus cabelos, fiz uma make leve e logo desci, o Gu estava sentado no sofá da sala de TV, todo arrumadinho e assistindo desenho.

— Nossa, como ta gato esse menino! – falei me sentando do lado dele – Vem cá pra mana ver se ta cheiroso.

— Eu sou um gato, mana! – ele levantou e veio em minha direção.

— Realmente, um gato e muito cheiroso.

Dei um cheiro no pescoço dele, e comecei a fazer cócegas no mesmo, que começou a gargalhar com vontade. Sabe aquelas risadas gostosas que as crianças dão, que da vontade de apertar até esmagar? Foi assim que ele fez e então cessei as cócegas nele.

— Cóceguinhas não vale, vou falar pro papai me ajudar depois, tu vai ver. – ele ainda ria.

— Quero ver só, vai ser eu e a Gigi contra vocês dois.

— Eu e o papai vamos ganhar, nós somos forte, ó o tamanho dos meus músculos. – ele puxou a manga da camiseta, fazendo força com o braço e mostrando os músculos que não tinha.

— Mas ta forte hein Gu – ri – assim as novinhas vão gamar.

— Elas já gamam em mim mana. – ele fez pouco caso.

Eu fiquei com o Gu na sala até o papai, minha madrasta e a Gigi descerem para nós irmos, perguntei ao meu pai se ele estava bem, se podia sair mesmo, e ele me respondeu com um "estou doente mas não estou morto".

Realmente, ele me parecia frágil, mas não ao ponto de não poder sair ou algo do tipo. Toda essa força e demonstração de vida dele, me revigorava e me empolgava, fazia com que eu tivesse esperanças, de que de alguma forma, ele fosse se recuperar e ficar bem.

Nós fomos para o carro e partimos em direção ao restaurante, com a minha madrasta dirigindo, chegando lá fomos direto pra mesa, que já estava reservada, almoçamos e depois fomos até o Parque da Redenção.

O Gu saiu correndo, me parecia feliz, fez-me lembrar de quando eu era menor e ia com o meu pai ali, só pra brincar e ficarmos deitados, observando as nuvens e as formas que tinham. Lembro também de quando tinha os meus 10 anos de idade, meus pais haviam se separado fazia um tempinho, e meu pai já tinha a Lu como esposa, pois ela foi o real motivo da separação deles, meu pai tinha um caso de mais ou menos um ano com ela, que na época também morava no Rio, depois de descobrir isso, minha mãe pediu o divórcio, pois já era de tempos que eles mantinham a aparência de casal, mas apenas conviviam na mesma casa, por mim.

Na época eu culpei muito meu pai, e principalmente a Lu por ela ter sido o motivo da separação deles, mas ao passar dos anos, quando obtive mais entendimento, aceitei a situação e compreendi, perdoando todo erro cometido de ambas às partes. Nessa mesma época, meu pai apresentou-me a Giovanna, que tinha os seus seis anos de idade, ela não era filha legitima do papai, mas quem havia a criado e ajudado a cuidar dela desde quando ele havia conhecido minha madrasta e firmado o que tinha com ele, e como diz o ditado, pai é aquele que cria.

Todas as vezes que eu vinha passar as férias com o meu pai, eu ele e a Gigi íamos até a Redenção, brincar de pega-pega e também, observar o formato das nuvens, era como se fosse uma tradição, e ir até lá sempre me traziam inúmeras lembranças.

— Te peguei! – tocou em mim e logo saiu correndo – Vai bibi, ta contigo! – ele gritava.

Eu olhei pra Gigi e a mesma logo percebendo o meu olhar, correu de mim, que fui atrás dela, rindo, e a peguei.

— Ta com a Gigi, Gu! – gritei pra ele ainda rindo e tomando fôlego.

Giovanna correu em direção ao papai e a Lu, e tocou no papai.

— Ta com o papai, corre! – ela correu pra perto de mim.

O papai correu em nossa direção, ele ainda mantinha seu ritmo, me parecia alegre, ele assim como nós corria e consequentemente ria, o Gu ficava em sua volta e por inúmeras vezes gritava um "olé" após desviar do mesmo.

A Lu de longe ria e tirava fotos da nossa, ficamos brincando de pega-pega por alguns minutos, estava na minha vez de pegar, fui correndo em direção ao papai, que parou, parecendo tentar tomar o ar que não tinha, ele apoiou suas mãos em seus joelhos, e caiu sentado no chão, eu aumentei o ritmo da minha corrida e fui em sua direção, já preocupada.

— Pai, ta tudo bem, pai? – falei afobada e o olhei, ele estava pálido, mais que o normal.

— Ta, só corri demais – ele puxava ar intensamente, seguido de tossidas - estou ficando velho pra essas coisas. – disfarçou e tentou rir, ao ver o Gu se aproximar.

— O senhor ta bem papai? – ele se sentou ao lado do dele.

— To sim campeão, papai só ficou cansado. – respirou fundo, já tomando ar e voltando a sua cor de antes.

A Giovanna apenas olhava, seu olhar era perdido, amedrontado, deu-me dó ao vê-la daquela maneira. A Lu que estava longe, logo se aproximou de nós, correndo toda afobada.

— Vamos pra casa? Já nos cansamos demais por hoje. – ela olhou pro meu pai.

— Mas mamãe, está tão legal aqui. – disse o Gu com uma voz manhosa.

— Está ficando tarde Gu, outro dia a gente volta. – falei pela Lu, que ajudava meu pai a se levantar.

Nós fomos caminhando em direção ao carro, a Giovanna permanecia calada, desde que cheguei ela se encontrava calada, logo ela que sempre fora tão faladeira, seu silêncio me preocupava.

— Ta tudo bem, Gi? – perguntei.

— Aham. – ela assentiu, com os olhos marejados.

Assim que chegamos, subi pro meu quarto e me deitei, fiquei pensando por alguns minutos, até que adormeci. Acordei já de noite, com o meu celular tocando insistentemente.

 Oi? – falei sonolenta, ainda de olhos fechados.

 Fala ai, gatinha. – dei um pulo ao ouvir aquela voz.

 Ai meu Deus. – falei afobada, meio difícil esconder a felicidade.

 Que foi? Que aconteceu? – perguntou assustado.

 Nada não. – dei um riso leve – Não imaginei que você fosse me ligar. – eu sorria.

 Você não me ligou, me esqueceu, alguém tinha que se lembrar de alguém aqui, né? – falou manhoso do outro lado da linha.

 Ai que drama Lipe. – protestei – Eu não te esqueci, é que as coisas ficaram meio corridas aqui. – falei sem graça.

 É mesmo? Conversou com teu pai?

 Conversei, na verdade – dei uma pausa – mais chorei do que conversei. – ri.

 Mas ta tudo bem? – perguntou preocupado.

 Na medida do possível.

 Hum. – respondeu pensativo – Só liguei pra ver como você tava, como estavam as coisas ai.

 É bom saber que você se importa. – pensei meio alto, ops.

 Com você, sempre. – perdi o ar, a noção, meu coração disparou.

 Já to com saudades.

 E eu também, muitas.

 É difícil sem você por perto, sabia? – falei, sem noção de nada.

 Pra mim é triste sem você por perto. – suas palavras pareciam penetráveis ao meu coração, mas logo cai em consciência de mim, assim que vi meu pai na porta do quarto.

 Preciso desligar aqui, ta? Depois eu te ligo. – olhei pro meu pai e sorri.

 Ta bom, qualquer coisa me liga, ta?

 Ta bom.

 Te amo, não esquece.

 Eu também te amo. – sorri e desliguei.

— Namorado novo? – perguntou meu pai com aquele sorrisinho no rosto.

— Não. – dei um risinho.

— Não mesmo? – arqueou uma sobrancelha, com um olhar duvidoso.

— Não mesmo. – ri com a cara que ele fez.

— Quem é então?

— O Lipe. – o olhei, sorrindo.

— Ah, o Felipe?

— Aham, ele mesmo.

— Hum. – sentou-se na minha cama, pensativo.

— Fala pai, desembucha. – falei divertida, certamente ele estava pensando em algo.

— Seu olhar. – olhou-me fixamente.

— O que tem meu olhar?

— Seus olhos brilham só de falar o nome dele. – ele riu.

— Que isso pai. – ri.

— É verdade, antes de tu me perceber ali na porta, eu estava te observando, tu tinha que ver a tua felicidade, teus olhos brilham princesa, isso é um sinal.

— Sinal? – perguntei confusa.

— É, quando nossos olhos brilham por alguém, é porque essa pessoa é realmente especial.

— Mas ele é especial pai, é meu melhor amigo. – tentei desviar o assunto.

— Tenho certeza que é bem mais que isso. – deu um risinho – Eu vi a maneira de como falou pra ele que estava com saudades e que é difícil sem ele, foi diferente.

Meu pai era uma pessoa muito perceptiva, mas além disso ele era uma pessoa especial, mas um especial diferente, ele percebia as coisas tão fácil, tinha as palavras tão certas, e as falava sem piedade alguma também.

— Sei lá. – balancei a cabeça em sinal de confusão.

— Viu, ta confusa.

— Um pouco. É que – pausei – eu até que gosto dele sabe? Mas tenho medo– corei.

— Até que gosta? Me parece mais que isso. – ele riu – Mas não vou enfiar caraminholas na sua cabeça, sei que tu foi magoada recentemente, mas dê uma chance ao seu coração, não se faz de cega, a pior mentira é aquela que contamos pra nós mesmos. Pensa sobre isso. – sorriu.

— Tudo bem. – sorri.

— O jantar está servido, só vim te avisar. – ele levantou da cama e se retirou do quarto.

Eu me joguei pra trás, caindo na cama, e pensando sobre o que meu pai havia dito. Realmente, eu havia ficado muito feliz ao falar com o Lipe, me senti melhor.

O que meu pai falou não saia da minha cabeça me veio como um filme na memória, todos os momentos que passei com o Felipe, as brincadeiras, os carinhos, as brigas, as risadas, o beijo, como me sentia ao lado dele, seu sorriso, a forma como ele me fazia uma pessoa melhor, me fazia querer ser melhor pra ele.

"Dê uma chance ao seu coração, não se faz de cega, a pior mentira é aquela que contamos pra nós mesmos." Foi concluído, estava claro, eu estava oficialmente apaixonada por ele, eu só queria ele.


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