Além Da Amizade escrita por Esc L


Capítulo 6
Capítulo 6




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Gabriella narrando:

Depois de um tempinho presenciando a pornografia da Karol e do Renan, eu decidi voltar pra areia e ficar por lá. Mesmo com o Felipe me tratando daquela maneira, eu não ia evitar ficar com os meus amigos, afinal bancar a vela pra Karol e pro Re, era o que eu menos queria naquele momento. Eu os avisei de que estava saindo da água e fui caminhando em direção onde a Manu, o Bruno e o Felipe estavam. Ele me parecia melhor, estava rindo, talvez fosse realmente a minha presença que o estivesse chateando. Desapontei-me mais ao deduzir isso, mas ao me aproximar deles, fiz questão de disfarçar tal desapontamento.

— E ai. – falei, me sentando ao lado da Manu.

— Voltou por quê? – ela me olhou num tom divertido.

— Acho que cansei de segurar vela pra eles – ri – mais um pouco e eu assistiria a um filme pornô mais do que 3D. – nós rimos.

— Aqueles dois não tem jeito não. – Bruno disse rindo.

— Realmente, foi de se perceber. – falei.

Nós ficamos em silêncio e disfarçadamente, olhei pro Felipe, como quem não queria nada sabe? Ele ainda me parecia pensativo, e olhava pro mar, como a uma hora atrás, mas dessa vez, sem seu óculos escuro, o que fazia com que sua expressão ficasse mais leve.O sol batia em seu rosto, e iluminava seu cabelo castanho claro, que com tanta claridade, ficava quase um loiro escuro.

Perdi-me admirando tal beleza, que só fui encontrada, quando vi a Manu estalando os dedos em frente ao meu rosto e chamando o meu nome, talvez a essa hora eu já o olhasse descaradamente, o que me fez corar de vergonha.

— Oi? – perguntei um pouco sem jeito e encabulada.

— Eu e o Bruno estamos indo dar um mergulho e já voltamos. – avisou-me.

— Mas Manu. – a olhei quase que como um pedido de "não, por favor".

Eu não queria ficar sozinha com o Felipe e aquele silêncio agonizante que vinha permanecendo entre nós, e era exatamente isso que ela estava tentando fazer.

— Nós já voltamos, relaxa. – ela nos olhou com um sorriso travesso, o que me fez sacar o joguinho dela.

Eles entrelaçaram as mãos e foram em direção ao mar, eu apenas os olhava inconformada. Por que fazer isso comigo? Deixar-me ali com ele da maneira que nós estávamos? Pura maldade. Pensei comigo mesma.

E então ficamos os dois, naquele silêncio agonizante e entristecedor, eu queria quebra-lo, mas não estava querendo ser tratada mal, como da outra vez, muito menos ser ignorada, então decidi permanecer calada, implorando em pensamentos pra que ele quebrasse o mesmo. E por incrível que pareça, como quem estivesse lendo tudo que se passava em minha mente, assim ele fez.

— Então... – ele disse sem jeito, como quem estivesse procurando as palavras a falar.

— Então...? – indaguei perguntando.

— Quer dar uma volta? – levantou-se sorrindo e me estendeu a mão. Meu Deus, que sorriso!

Naquele momento, meu coração foi a mil. Como pode? Perguntei-me em pensamentos.

— Ér – falei sem jeito – quero. – sorri e peguei em sua mão, levantando-me rapidamente.

Seu toque! Que saudade que eu estava sentindo daquele toque. Nós caminhamos alguns segundos em silêncio, e logo Felipe o quebrou.

— Então, como você ta? – perguntou-me.

— Indo, acho que bem. – tentei sorrir – e você? – o olhei.

— Indo também. – pausou – Chegou bem em casa ontem? – fez-me lembrar da cena nada legal que presenciei no dia anterior.

— Sim. – respondi firme – e o passeio de vocês? Foi bom? – perguntei como quem não queria nada.

— Ah, foi normal. – disse sem graça.

— Você me parecia bem feliz. Ela ta te fazendo feliz? Ta te fazendo bem?

— É legal ficar com ela sabe, tem aquele jeito, mas é diferente. Só que sei lá. – riu levemente.

— Sei lá? – perguntei desconfiada.

— É, talvez ainda não seja ela quem eu queira. – olhou-me fixamente.

Como assim não seja ela? É quem então? Eu soltaria fogos se pudesse! Saber que não era ela, pra mim foi um alivio e tanto, era como se o caminho estivesse livre. Mas espera, caminho livre??? Que diabos eu estou pensando? Ele é meu melhor amigo, não tem essa de caminho livre. Logo fiz questão de espantar qualquer tipo de pensamento inusitado que me vinha a aparecer.

— Não tá gostando dela então? – não pude conter o sorriso.

— Claro que não Gabi, eu te falei que não queria nada com ela. – ele riu docemente.

— Menos mal né. – eu sorri de orelha a orelha, era quase que impossível esconder a felicidade que eu sentia.

— Mas então – ficou sério – queria te pedir desculpas por ontem, e por todos esses dias que eu te tratei como vim tratando, eu to meio confuso com algumas coisas, sei que isso não e justifica – balançou a cabeça negativamente – mas eu queria me desculpar, você é muito importante pra mim Gabi, tão importante que nem imagina o quanto – ele sorriu, e meu coração disparou ainda mais – e eu não quero te perder, não quero perder sua amizade por coisa boba. – sorriu – Me desculpa?

Se eu o desculpava? Mas é óbvio né! Independente da forma que ele me tratou, eu sentia sua falta, era meu melhor amigo, e eu nem podia imaginar o que seria de mim se eu o perdesse.

— Hum. – me fiz pensativa, e o olhei divertida – será que eu te desculpo? – dei um risinho – É claro que eu te desculpo mané, porque não desculparia? – eu sorri.

— Nem pense em não me desculpar, não quero ficar sem te perturbar nem mais um segundo. – nós rimos – ta esperando o que? Vem cá me dar um abraço! – abriu os braços.

Rapidamente, sem pensar duas vezes eu corri pros seus braços e o abracei, abracei tão forte que se possível, nós de dois nos tornaríamos um só, o abracei como um pedido de"nunca mais me solta, por favor".

Que saudade que eu estava daquele abraço, a saudade era tanta que não queria sair dele nunca mais. Meu coração que já batia acelerado, agora, só faltava explodir de tanta felicidade. Eu não sabia o que estava acontecendo comigo, mas só sabia que precisava dele.

— Você não sabe a saudade que eu estava sentindo desse teu abraço. – ele disse enquanto me abraçava, e deu um beijinho demorado em minha testa, fechei os olhos ao sentir seu beijo.

— Então me abraça mais um pouquinho, por favor. – pedi baixinho e de olhos fechados.

Nós ficamos alguns longos minutos naquele abraço, minutos que pra mim poderiam se prolongar em eternidade. Eu podia sentir seu coração acelerado, que por pura coincidência batia como o meu.

— Senti sua falta. – disse ainda abraçada a ele.

— Eu também senti a sua, muita. – suspirou.

— Eu te amo ta, não faz mais isso não. – me desvencilhei do abraço e o olhei.

— Não vou mais fazer isso ta? – sorriu, ainda me olhando – Eu também te amo, muito.

Nós nos encaramos por longos segundos, nos olhávamos profundamente, talvez em busca de algo que ambos não sabíamos o que era. Nossos rostos foram se aproximando cada vez mais, e eu já podia sentir sua respiração quente e um tanto acelerada, bem próxima ao meu rosto, ele acariciou o mesmo com a sua mão direita, enquanto a esquerda se envolvia em minha cintura, eu ousei a fechar os meus olhos e só sentir o que poderia estar prestes a vir. Foi quando eu senti ele me puxar mais pra si, colando nossos corpos, iniciando um novo abraço, ele seus lábios no meu pescoço, o que me fez arrepiar dos pés a cabeça. Eu apenas me confortei mais naquele abraço, e segundos depois nos desvencilhamos e nos olhamos.

— Danadinha você. – ele riu, quebrando o clima que havia ali.

— Porque? – perguntei desentendida.

— Acha que eu não vi que se arrepiou toda com o meu beijo? Tô sabendo que você me deseja mulher. – riu malandramente.

— Mas como é convencido, meu Deus do céu! – falei rindo.

— Vai me dizer que não é verdade? – perguntou, como se aquilo fosse óbvio.

— É, quem sabe né. – o olhei, fingindo pouco caso.

Até porque, estava mais do que claro, que sim, eu estava começando a desejá-lo.

Voltamos caminhando e conversando até onde nós estávamos antes de fazermos as pazes. Era bom tê-lo de volta, eu me sentia feliz, e com ele ao meu lado, me sentia menos sozinha, me sentia mais completa, mais protegida.

Ao chegar em casa, fui direto pro banho, quando sai vesti uma roupa confortável e desci pra comer alguma coisa, eu estava sozinha em casa, pois que minha mãe e meu padrasto haviam saído com a Heloíse. Depois de comer, fui até a sala e decidi ligar pro meu pai, já que o mesmo não me fazia isso à dias, e eu estava realmente preocupada.

Disquei os números e depois de alguns longos segundos de espera, fui atendida.

— Alô. – falei apreensiva.

— Alô. – ele disse com uma voz meio fraca – oi filha, que saudades. – pigarreou, numa tentativa de engrossar a voz talvez.

— Papai? O senhor ta bem? Que voz é essa? – perguntei intrigada.

— Ah – pigarreou novamente – foi só um resfriado que o papai pegou, logo passa.

— Tem certeza? O senhor não é de ficar doente. Ta tudo bem pai?

— Pois é né, acontece. – disfarçou – Ta tudo bem anjinho, foi só um resfriado, nada mais. – deu um riso leve.

— Eu estava preocupada, o senhor não me liga a dias, não me deu noticias, pensei até que tinha esquecido de mim. – falei manhosa.

— Que isso, eu jamais esqueceria a minha princesinha! Eu só andei meio ocupado com – enrolou, parecendo procurar as palavras a falar – com os trabalhos da empresa, sabe como é né filha?

— Hum. Sei sr. Alessandro, sei. – falei desconfiada.

— Sabe é? – brincou – Pra que essa desconfiança? Não confia no seu pai não?

— Confio. – assegurei-o e assegurei-me disso também.

— Então não tem porque desconfiar.

— É. – dei um risinho – Quando é que o senhor vem me ver? To com saudades.

— Ér, eu ainda não sei, mas logo, logo. – ele teve uma crise de tosse, o impedindo de falar – Logo, logo. – finalizou, parecendo tomar fôlego.

— Pai, tem... – fui interrompida por ele.

— Eu vou ter que desligar Gabi, depois o papai te liga. Se cuida anjinho, e não esquece, não to perto mas to te cuidando, não to por perto, mas te amo. – ele disse a nossa frase de sempre.

— Eu também te amo pai, não to por perto, mas também te amo. – falei confusa e em seguida ele desligou.

Coloquei o telefone no lugar, ainda confusa, meu pai me parecia estranho, sua voz estava fraca, dificilmente ele ficava doente, era muito difícil isso acontecer. Fiquei por alguns longos minutos pensando nisso, todos esses dias sem me ligar, esse "resfriado" repentino, minha mãe evitando de me dar informações sobre ele, estava tudo muito estranho. Tentei espantar todos esses tipos de pensamentos mas não conseguia, algo me impedia, um sexto sentido talvez? Mas não, havia alguma coisa errada, e fosse o que fosse, eu ia descobrir o que era.

Era terça feira quando acordei pra ir à escola, não havia ido na segunda feira pois como dito, estava suspensa por conta da briga com a Larissa. Me levantei, me arrumei e desci pra tomar café com minha mãe, meu padrasto e a Helô, alguns minutos depois recebi um sms do Felipe que avisou-me de que estava subindo, já que hoje a Manu não iria pra escola.

 Mãe, o Lipe ta subindo. – avisei.

 Hum, que bom. Assim aproveito pra dar uns beijos no afilhado ingrato que tenho. – ela disse e riu.

 O Lipe ta subindo? – a Helô abriu um sorriso imenso, ela o adorava.

 Ta sim chatinha. – ri.

 Eba! – riu.

Alguns minutos depois pudemos ver a porta se abrir, Felipe não costumava muito bater na porta, já que o mesmo era de casa. Assim que a Helô o viu correu gritando seu nome e pulando em seu colo.

 E ai Lôzinha, como você ta? – ela disse dando um beijinho no rosto dela.

 Eu to bem, tava com saudades de você Lipe, você nunca mais veio me ver, pensei que não gostava mais de mim. – ela disse agarrada ao pescoço dele, fazendo charme.

 Como é que eu ia esquecer a loirinha mais linda do mundo? Não da né! – riu colocando-a no chão.

 Vêm, vamos tomar café com a gente, vêm! – ela o puxava pelo braço, correndo.

 To indo, to indo! – respondeu rindo, no mesmo tom que ela.

 Quem é vivo sempre aparece né! – minha mãe disse sorrindo.

 Oi madrinha. – sorriu e a abraçou – sempre quando eu venho aqui você não ta poxa. – sorriu.

 To montando uma nova coleção, daí ta uma loucura. – sorriu – mas estava com saudades. Como ta Lorena? To com saudades da minha amiga.

 Eu também tava com saudades – sorriu – ela ta bem, e esta com saudades da senhora também, aparece por lá qualquer dia, ela vai gostar.

 Apareço sim, vou tirar um tempinho e vou lá botar a fofoca em dia com ela, mulheres né. – riu.

 Entendi já. – riu – Oi Julho. – cumprimentou o meu padrasto.

 Bom dia Felipe. – ele o cumprimentou e logo se retirou.

 Bom dia, chata. – veio em minha direção e me deu um beijo demorado na bochecha – Ta pronta?

 Quase, só vou subir e escovar os dentes me espera? – o olhei.

 Espero, anda logo hein, você enrola demais. – fez cara de tédio.

 Meu Deus parece velho, só reclama. – revirei os olhos, rindo e subi.

Escovei os dentes, peguei minha mochila e desci novamente, nós nos despedimos da minha mãe e eu e o Lipe fomos em direção a escola, chegamos um pouquinho atrasados por conta das brincadeirinhas bobas que fomos fazendo no caminho, como exemplo, ele ficar me fazendo cócegas e brincando de estátua a cada dez passos que dávamos. Assim que chegamos, eu corri pra minha sala e ele pra dele, as aulas passaram rápido, logo chegou o intervalo e novamente mais três aulas.

Hoje eu ia dar um jeito de descobrir o que estava acontecendo com o papai, e nada mais fácil de descobrir isso do que falando com a Giovanna, minha irmã mais nova por parte do mesmo. As aulas logo acabaram e eu e o Lipe fomos embora juntos, ele iria passar a tarde lá em casa, e logo depois a Manu iria pra lá também.

Logo que chegamos nós deixamos as nossas mochilas no sofá e fomos chamados pela Andréa para almoçar, assim fizemos e depois subimos pra esperar a Manu chegar.

 Já te falei que você é chato hoje? – sentei no puf do meu quarto e o olhei.

 Já, você vive dizendo isso, mas é puro amor. – fez pouco caso.

 No teu sonho. – dei uma risada sarcástica – mas então, já sei como descobrir o que ta acontecendo lá no meu pai.

 Como?

 Eu vou mandar uma mensagem pra Gigi, como quem não quer nada sabe, daí jogo um verde pra colher maduro e deu. – sorri.

 E você acha que vai conseguir?

 Vou, a Gigi é meio inocente sabe.

 Sei. Mas ainda acho que se estivesse acontecendo alguma coisa a tia Elisa teria te contado.

 Não se o assunto fosse meu pai. Ela sabe o quanto sou apegada a ele e o quanto me desesperaria se estivesse acontecendo algo. – torci os lábios.

 E se estiver acontecendo alguma coisa? – olhou-me.

 Que seja o que Deus quiser né. – sorri fraco – Mas não deve ser nada.

 Também acho. – sorriu – Mas seja o que for, eu to aqui ta? – deu uma piscadela.

 Ta. – sorri docemente.

Ficamos conversando mais alguns minutos até que a Manuella chegou se jogando em cima de nós, conversamos ainda mais, era bom ficar com eles, contando que estava faltando a Karol ali, ainda sim era bom, me faziam bem. Felipe havia realmente voltado a falar comigo como antes, mas as vezes ele me parecia estranho, distante talvez, contando com o fato de que eu não esqueci de que "ele queria alguém" como dito por ele na praia, aquele dia.

Depois de muita conversa, decidi finalmente colocar em pratica o que pretendia fazer e descobrir o que queria saber. Peguei meu celular e digitei o número da Giovanna.

Gabi:Oi Gigi, tudo bem?

Gigi: Oi Gabi, que saudades mana :/

Gabi: Também to com saudades Gigi. Queria saber como o papai ta, ele melhorou?

Gigi: Não, esses últimos dias se agravou mais, ta todo mundo preocupado aqui.

Gabi: Mas o que ta acontecendo exatamente? Ele não me explicou ):

Joguei um verde, essa era a única forma de eu saber realmente o que se passava, e só de imaginar o que estava acontecendo e o que poderia vir, estava ficando com medo.

Gigi: Então, ele tava passando por tratamento, mas os médicos disseram que o corpo dele já não reage mais, disseram que o tempo dele pode ta contado porque o câncer já se espalhou e ele não reage a nada, que a tendência dele é só piorar. Eu to com medo mana, to com muito medo de perder o papai, você mais do que ninguém sabe o quanto ele é importante pra nós, e eu não quero perder ele :/

CÂNCER? COMO ASSIM CÂNCER? MEU PAI, COM CÂNCER? MENTIRA, SÓ PODIA SER MENTIRA! Mas lembrei-me do quanto meu pai era importante pra Geovanna, e que jamais ela mentiria sobre algo assim.

Fique estática, a única reação que tive foi deixar meu celular cair no chão e ficar ali, parada, fitando o nada e tentando raciocinar o que eu acabara de descobrir. Sabe quando parece que nos falta o chão? Parecia mentira, meu pai não era de ficar doente, e do nada eu descobria que ele estava com câncer? Que estava pra morrer? Meus olhos marejaram, e só que pude fazer foi deixar as lágrimas escorrerem descontroladamente.

 Gabi? O que foi Gabi? O que ta acontecendo? – Felipe perguntou, e só o que eu pude fazer, foi chorar mais e mais.

 Gabi, o que foi? Fala pra gente, conta o que ta acontecendo. – Manu disse segurando em minhas mãos.

Eu apontei pro celular que estava no chão, em sinal de que ela lesse o que estava escrito no sms, não haviam palavras a serem ditas, só o que eu queria fazer era chorar, chorar e chorar, com a tentativa em vão de que tudo o que eu estava sentindo, acabasse.

A Manu pegou o celular do chão e leu o sms, logo em seguida olhou pra mim e me abraçou, abraçou forte, um abraço acolhedor e um tanto aconchegante.

— Ei, vai ficar tudo bem Gabi, não chora. – ela dizia enquanto acariciava meus cabelos.

Eu chorava tanto que mal conseguia pronunciar uma palavra se quer, minha vista estava embaçada, e cada vez se inundava mais com as lágrimas que não se cansavam em cair, só o que pude ver, foi o Felipe pegando o celular e lendo o sms também, e num gesto um tanto acolhedor, ele se aproximou, e abraçou a mim e a Manuella juntas.

— Gabi olha pra mim. – o Lipe me pediu e assim o fiz – Vai ficar tudo bem, tudo vai se ajeitar. – ele dizia, enxugando minhas lágrimas com o polegar.

— E se não ficar? – mais lágrimas iniciaram a cair.

— Vai ficar, vai ficar. – disse baixo, e deu um beijo em minha testa.

— Eu vou lá em baixo pegar um copo de água com açúcar pra você – Manuella disse – fica aqui com ela Lipe, eu já volto. – saiu do quarto.

Eu me sentei na cama e o Lipe sentou do meu lado, minhas mãos tremiam, e eu estava extremamente gelada, consequência do nervosismo, talvez. Felipe sentou-se do meu lado, e passou seu braço pela minha cintura, me aconchegando mais em seus braços. Encostei minha cabeça em seu ombro, e fechei meus olhos, apenas desejando que a pior noticia da minha vida, não passasse de uma brincadeira de mal gosto da minha meia irmã.

A tarde foi passando e em momento algum a Manu e o Felipe deixaram de sair do meu lado, até tentaram me animar, conversaram comigo e compreenderam meu silêncio e desânimo. Eram 18h quando o avô ligou pra Manuella pedindo pra ela ir pra casa pois eles iriam ir viajar.

— Então eu vou indo. – ela disse se despedindo do Felipe – Se cuida viu – me olhou – depois de amanhã eu to por aqui pra te perturbar novamente. – sorriu e me abraçou.

— Pode deixar amiga, boa viagem! – falei enquanto a abraçava.

— E o senhor cuida dela viu, nós sabemos o quanto ela é teimosa. – ela me olhou e nós três rimos.

— Sei fazer isso como ninguém, não é mesmo baixinha? – olhou-me e sorriu carinhoso.

Eu apenas retribui o sorriso docemente. Nos despedimos da Manu e assim ela se foi, eu e o Lipe fomos até a cozinha ver algo pro gordo morto de fome comer.

— Vai querer o lanche ou não? – perguntei já impaciente.

— Calma mulher, ta de TPM, é? – olhou-me, segurando o riso.

— Não vou nem me atrever a responder a sua pergunta, idiota. – dei um sorrisinho sínico.

— Quero o nosso lanche de sempre.

— Ah não, muita mão fazer Felipe.

— Por favor, Gabi? – olhou-me com uma carinha de bebê, irresistível. Foi involuntário o sorriso que dei, era incrível como ele me fazia melhor até nos piores momentos.

— Af, essa carinha não Lipe. – o olhei como um pedido de "por favor, para com isso?"

— Por favor, Gabi, to com vontade. – fez beicinho.

— Ai que bebezão. – dei um risinho – Só faço se você me ajudar.

— Viu, deu um risinho. – olhou-me com ternura e sorrindo – Eu te ajudo, chata. – apertou minhas bochechas.

Nós fizemos o nosso lanche favorito e comemos, estávamos tão entretidos que consequentemente acabei me "esquecendo" de tudo que havia descoberto naquela tarde.

As horas foram passando, e o Felipe disse que havia de ir embora, minha vontade foi de pedir pra ele ficar, pra não me deixar, a verdade é que, eu estava morrendo de medo de não conseguir suportar.

— Eu vou indo, ta?

— Fica mais um pouquinho. – o olhei e fiz carinha de bebê.

— Ta tarde Gabi. Mas prometo que amanhã eu venho e fico a tarde toda aqui contigo, se você quiser. – sorriu e se levantou da cama.

— Eu quero né. – sorri, me levantando também.

— Então eu volto amanhã, combinado? – passou seu braço direito em volta do meu pescoço.

— Combinado. – sorri, e passei meu braço direito em torno de sua cintura.

— E ó, olha pra mim. – ele pediu e eu o olhei – Não fica pensando coisa, não fica especulando sobre nada, conversa com a sua mãe direitinho, tenta saber o que ta acontecendo, ta bom?

— Ta bom.

— E não esquece – segurou meu rosto delicadamente com as suas mãos – que eu to aqui, pra tudo. To aqui por você, hoje e sempre. Você é uma das pessoas mais importantes da minha vida, se não a mais importante, e eu vou fazer de tudo que eu puder pra te ver bem e feliz, viu? – sorriu – Tudo.

— Obrigada – sorri – você não tem noção do bem que me faz. Ta sendo muito importante pra mim te ter do meu lado, sempre foi muito importante te ter do meu lado. Eu te amo ta, muito, você nem imagina o quanto! – eu o agarrei pelo pescoço, o abraçando.

— Eu também te amo, amo além do que você pode imaginar. – disse num tom baixo, enquanto me abraçava apertado.

Eu pararia o tempo se possível, só pra não sair daquele abraço. O melhor abraço.

Eu não entendia, não me vinham respostas ao especular tamanha necessidade que eu tinha dele, só o que sabia, era que eu o precisava, agora, mais do que nunca. Fomos nos desvencilhando do abraço, mas não deixando de nos afastar. Meus braços ainda permaneciam em volta de seu pescoço, e nossos rostos colados um no outro. Ousei afastar um pouquinho mais os mesmos, colando nossas testas, permitindo nos olharmos profundamente, eu já sentia sua respiração que a cada vez que nos olhávamos acelerava ainda mais, fechei meus olhos, apenas imaginando e desejando o que poderia vir. Eu queria beija-lo, precisava de um beijo seu.

Ele afirmou suas mãos em minha cintura me aproximando mais pra si, e roçou nossos narizes, de vagar, sorri ao sentir aquilo. Era tão bom tê-lo ali, me sentir envolta por ele, sentia-me protegida, segura, mal sei como meu coração ainda não havia explodido dentro de mim! Eu entrelacei meus braços em sua nuca, acariciando seus cabelos, foi quando o senti aproximar-se mais e assim pude sentir seus lábios quentes, selarem os meus e assim eu o retribui, mordisquei seu lábio inferior e em seguida pude sentir um sorriso seu, sorri junto dele. A essas horas, ambos estávamos com a respiração acelerada e o coração em disparado, precisávamos de mais, desejávamos mais. Sua mão direita, de minha cintura, passou pros meus cabelos, envolvendo-a carinhosamente nos mesmos e finalmente iniciando um beijo calmo e cheio de desejo. Ah! Que beijo! Fogos de artifício já explodiam dentro de mim.

Eu acariciava seus cabelos enquanto ele me pressionava mais pra si, era um beijo intenso e se intensificava cada vez mais, a cada carinho, a cada toque. Depois de longos minutos, quase que sem ar, fomos parando com selinhos, e finalizando com uma mordidinha leve e carinhosa sua, em meu lábio inferior, demos mais um selinho, um tanto demorado e em seguida nos encaramos. Tudo o que eu queria, era que aquele momento nunca acabasse.

Nós nos encaramos confusos, por longos minutos e logo em seguida caímos em si de que aquilo, não era o certo.

— Desculpa, mas eu precisava fazer isso. – falou baixinho, ainda me olhando.

— Isso é errado, Lipe.

— Foi um beijo Gabi, não há nada de errado. – sorriu e acariciou meu rosto.

— Nós somos melhores amigos! – falei confusa.

— Melhores amigos com benefícios agora. – riu e deu uma piscadela.

— Idiota. – ri e o silêncio predominou mais uma vez.

— Preciso ir embora, como eu disse, está tarde. – ele disse meio tenso.

— Tudo bem. Amanhã você volta né? – o olhei apreensiva.

— Volto, chatonilda.

— Então ta. – sorri.

Nós descemos em silêncio, estávamos os dois talvez, um tanto confusos e tensos pra pronunciar muitas palavras. Isso me assustava.

— Então, é isso, eu vou indo, se cuida ai viu.

— Pode deixar, e vai com cuidado. Manda sms quando chegar em casa.

— Sim senhora. – sorriu – Te amo viu. – me abraçou e meu corpo estremeceu.

— Eu também te amo. – sorri docemente e antes mesmo que eu falasse algo, ele me roubou um selinho – Abusado! – gritei pro tal que já entrava correndo e rindo no elevador.

Garoto abusado! Como pode? Ri comigo mesma. Em meio a tudo, eu me sentia feliz, me sentia melhor, e a cada passo que dava, pequenos flashes de nosso beijo vinha a minha mente. Ah, e que beijo! Faltava-me ar só de lembrar, era como se meu coração parasse e faltasse ar ao meu cérebro.

Eu estava no meu quarto quando minha mãe bateu na porta do mesmo, adentrando-o.

— Boa noite filha. – sorriu.

— Boa noite. – respondi sem ânimo.

— Aconteceu alguma coisa? – perguntou-me.

— Porque você não me contou? – fui direta.

— Contei o que? – se fez de desentendida.

Era só o que me faltava né.

— Não se faz de desentendida, porque você não me contou? Hein mãe, porque? – eu já sentia meus olhos marejarem.

— Contei o que Gabi? – me olhou assustada, ela fazia isso quando escondia algo.

— Não me olha assim, eu sei que você sabe do que eu to falando mãe! Porque não me contou do papai? Porque? – alterei a voz, e as lágrimas invadiram meus olhos, vindo a tona.

— Gabi... – pausou, pensando no que falar.

— Não tem "Gabi" mãe. – fiz aspas com os dedos – Meu pai ta morrendo e vocês não me contaram, esconderam de mim. – eu soluçava – Iam me contar quando? Quando ele já estivesse morto, dentro de um caixão? – a olhei, chorando muito.

— Nós íamos te contar Gabi, mas sabíamos o estado que ia ficar, isso precisava ser dito com calma, justamente por essa sua reação! – ela me olhava com dó, parecia sofrer comigo.

— Você tem noção de como eu to me sentindo? Você imagina? – perguntei, engolindo o choro – Vocês me esconderam a verdade! E se o pior acontecesse com ele? Até a Giovanna sabia e eu não.

— Calma Gabi, calma. – ela se aproximou – Nada de pior vai acontecer.

— Calma? Como é que você me pede calma? – falei indignada – Não mente pra mim mãe, não mais. Eu já sei que o estado dele é terminal, ele vai morrer mãe. – despejei as palavras que me agoniavam junto das lagrimas e soluços – Meu pai vai morrer. Morrer. – falei baixinho, chorando, me sentando na cama e colocando a mão sobre o rosto.

— Ei minha querida, calma, vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem. – ela me abraçou, tentando me passar forças – O que você precisa, agora, é ser forte e ter fé. – ela acariciava meus cabelos.

Eu deitei em seu colo, e ali fiquei, eu precisava disso, do colo da minha mãe. Não haviam palavras, não me vinham palavras, apenas uma vontade imensa de que tudo isso acabasse de uma vez por todas. Ela me fazia carinhos, sem falar nada, precisava daquele silêncio, era necessário pra mim, em meio as lágrimas eu acabei adormecendo.

Acordei na manhã seguinte com uma dor de cabeça terrível, parecia que havia tomado um porre, mal conseguia abrir os olhos por conta da dor que me tomava, chamei pela minha mãe e pedi um remédio pra mesma, que logo o trouxe e perguntou-me se me sentia bem pra ir a aula, apenas acenei que não com a cabeça e retornei a dormir.

Acordei horas mais tarde, com o barulho do sms que havia chego em meu celular, olhei o visor e haviam alguns sms’s dentre eles dois do Felipe.

Lipe: Bom dia chata vi que não veio pra aula hoje, espero que esteja tudo bem por ai. Quando sair do colégio vou pra sua casa te atormentar a tarde inteira hahaha Te amo ♥

Lipe: To saindo do colégio, pode ir botando minha comida no prato que teu homi ta com fome, muié.

Sorri ao ler aos sms’s, era impressionante a forma de como ele me afazia sorrir facinho, facinho. Segundos depois de raciocinar sobre as mensagens recebidas, dei-me conta de que ele já estava chegando, ousei olhar as horas e assustei-me, já se passavam de meio dia.

Levantei, indo correndo em direção ao banheiro, quando ouço a campainha tocar. –Droga! – Pensei. Sabia que era o Felipe que acabara de chegar, e como ele já era de casa, não esperaria muito para entrar. Lavei meu rosto, escovei os dentes e ao sair do quarto quase morri do coração com a perfeição que se encontrava a minha frente.

— Ai menino! – falei quase gritando – Quer me matar do coração? – coloquei a mão sobre o mesmo, que batia acelerado, não sei se pelo susto, ou por vê-lo.

— Só se for de amor, daí pode morrer quantas vezes quiser – sorriu divertido – caso contrário, nem pensar! – fez sinal negativo com a cabeça.

De amor? Dei um riso leve e sarcástico. Felipe estava hilário.

— Para de rir porque assim magoa meus sentimentos. – fez beicinho.

— Desculpa bebezão, esqueci que você é sensível. – ri e o abracei, dando um beijo demorado em sua bochecha.

— Que beijo gostoso. – retribuiu o mesmo – Só não é melhor que o de ontem. – disse baixinho, sem a intenção de que eu ouvisse, mas foi em vão.

Pude sentir minhas bochechas corarem, mas disfarcei, já me desvencilhando do abraço.

— Vou trocar de roupa, se quiser vai descendo que a tia Andréa já deve ta pra servir o almoço.

— Vou te esperar aqui, anda logo, você enrola demais. – fez cara de tédio.

— Ai, ai, idoso. – falei rindo.

Fui até o closet, vesti um short jeans e uma blusinha de alcinha branca, prendi meus cabelos num coque frouxo e botei minha havaianas.


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