Além Da Amizade escrita por Esc L


Capítulo 5
Capítulo 5




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Dois dias se passaram após o ocorrido, eu havia faltado esses dois dias na escola, por conta da gripe que peguei, tendo que tomar repouso absoluto, mas eu já estava boa o suficiente pra voltar á escola. Nesses dias em que eu fiquei em casa, todos os meus amigos haviam aparecido em casa pra me visitar, mas o Felipe, quem eu mais esperava que fosse aparecer não apareceu, o que me deixou literalmente chateada. Eu não estava entendendo o porque de tal distância, não estava entendendo o porque dele ter se afastado tanto. Desde aquele dia, depois da nossa “discussãozinha” por conta da Larissa ele estava assim comigo. Que culpa eu tenho dele ter bancado o advogado do diabo?

Chegando à escola, todos me olhavam, alguns davam risadas entre si, eu não entendia o motivo de tantos cochichos e tantos olhos voltados a mim. O que foi que eu fiz? Perguntei-me.

— Manu? Porque tem tanta gente olhando pra mim? – perguntei confusa sem entender.

— Amiga é complicado – torceu a boca – nesses dias que você faltou, a Larissa espalhou uma mentirinha, meio que infantil e sem sentido ao teu respeito. – me olhou.

— Mentirinha? – a olhei – Ao meu respeito? – indignei-me – Como assim Manuella? – olhei pra ela novamente

— Ela saiu espalhando que depois daquela discussão de vocês na quadra, ela avisou que se você aparecesse na frente dela, ou se vocês se trombassem por ai, ela iria “acabar” – fez aspas com os dedos – contigo, e que com isso você ficou com medo dela e deixou de vir pra escola.

— Mas o que? – perguntei indignada – Não. Sério mesmo que ela fez isso? – a olhei com raiva – Manu, isso não tem sentido algum, nunca que eu ia deixar de fazer alguma coisa por causa dela. Medo? – ri com ironia – Por favor, né.

— Mas para quem não sabe, foi isso amiga. Eu bem que quis ir tirar todas as satisfações com ela, mas pensei bem e deixei pra você fazer isso. – deu um risinho.

— Pois bem, espera só que ela vai ter o que merece, e de hoje não passa. – dei uma piscadela e sorri.

Antes de entrar pra sala Felipe passou do meu lado e apenas me lançou um olhar, não trocou uma palavra comigo, muito menos um abraço foi capaz de me dar, chateei-me mais ainda. Logo chegou o intervalo, eu iria tirar as devidas satisfações com a Larissa. Fui me aproximando dela e do grupinho onde ela estava junto com a Manu, e logo ela começou com as piadinhas.

— Olha só quem decidiu aparecer. – riu irônica – Faltou esses dias porque Gabizinha? Decidiu perder o medinho foi? – perguntou.

— Sabe, eu até faltei esses dias, mas não por medo – sorri – e sim porque eu estava doente e de cama, mas isso não vem ao caso porque não te devo satisfações. – dei uma piscadela.

— Há que peninha, seria ótimo se... – a interrompi.

— Fecha a tua boca que quem fala sou eu – encarei-a – Se você quer se achar contando uma mentira, conta uma bem contada. – sorri irônica – E tem mais, que horas mesmo que você foi me “avisar” – fiz aspas com os dedos – Nenhuma, porque em momento algum você chegou em mim me dando avisou algum, e outra, você acha mesmo que eu deixaria de fazer alguma coisa por tua causa? – ri com ironia – me poupe né, eu tenho mais o que fazer do que ficar com medinho de você, ou deixar de viver minha vida por tua causa. – a encarei mais um pouco – Se você se gabou tanto contando uma mentira, porque não gaba contando uma verdade? To aqui ó, na tua frente – dei uma pausa – acaba comigo agora. – coloquei a mão na cintura, e esperei alguns minutos – Se você não tem peito o suficiente pra fazer isso comigo, eu tenho pra fazer contigo – a encarei e dei um tapa com toda força que pude no lado direito do rosto dela – isso foi por aquele dia na quadra – sorri e em seguida dei outro tapa no lado esquerdo do rosto dela – E isso é por ter inventado mentiras ao meu respeito. Agora temos uma verdade e com provas. – olhei para roda de pessoas que estava em volta de nós – Ah, um aviso lindinha, se inventar mais alguma mentira ao meu respeito não vai ser tapinha na cara que eu vou te dar, então fica esperta. – dei uma piscadela.

Dei às costas e sai andando, enquanto a escola toda ria e vaiava dela, ela saiu correndo pra algum canto, acompanhada de alguns clones que ela chamava de amiga, mas posso confessar? Lavei minha alma, essa garota estava me cansando e já não era de hoje.

— Amiga o que foi isso? – Manu perguntou rindo e incrédula.

— Eu já disse que essa garota mexeu com a pessoa errada, não disse? – sorri.

— Que coisa mais poderosa essa minha bitch! – riu e me abraçou.

Eu apenas sorri. Não curti muito essas coisas de brigas e barracos, mas se eu não acabasse com isso seria só mais um motivo dela achar que eu realmente estava com medo e continuar, então decidi posicionar os pinos e mostrar que não estava pra brincadeira. O sinal bateu e nós fomos para a sala, passou alguns minutos e nós pudemos ver a coordenadora adentrando e é claro que eu já sabia que era pra mim.

— Licença professora queria levar comigo a senhorita Bittencourt, a diretora aguarda ela.

— Gabriella? – professora me olhou sem entender.

— Eu? – me levantei.

— Acompanha-me até a diretoria por favor? -

— Claro. – sorri e olhei pra Manu, que me retribuiu com um sorriso.

Fomos andando em silêncio até a diretoria, quando eu entrei na sala da diretora ela me olhou e logo se fez surpresa.

— Você aqui? – levantou-se e veio em minha direção.

— Ér, oi dona Flávia. – sorri meio sem graça.

— Não imaginava que era você a Gabriella, não mesmo, você nunca foi dessas coisas. – me olhava ainda sem acreditar.

— Sempre tem uma primeira vez né. – sorri de canto, e olhei pra Larissa que já se encontrava lá.

— Sabem por que estão aqui, não sabem?

— Sim. – mordi meu lábio.

— Hum... Digam-me o porque de tudo isso.

Eu expliquei toda a história pra diretora, desde a primeira vez que nos trombamos até o ultimo ocorrido e ela chegou à conclusão de que nós duas íamos ter que assinar o caderno de advertências, e pegar um dia de suspensão. Assim fizemos e voltamos pra sala. Como já estava no fim da aula eu nem terminei de fazer a lição, guardei o material e eu e a Manu e a Karol fomos andando em direção ao portão de saída da escola pra nos encontrarmos com a nossa turma. No caminho todos conversavam, mas eu reparei que o Felipe estava distante de mim, diferente comigo de alguma maneira que eu não sabia explicar.

— Aê Gabi mandou bem hoje com a Larissa hein, menina nenhuma tem coragem de peitar com ela. – Renan disse rindo.

— É que a minha bitch é poderosa. – Manuella riu.

— Na boa? Até pareceu cena de novela sabe? Daquelas que as gurias vão lá e metem o tapa na cara da outra, foi bem isso. – o Bruno ria simulando a cena.

— Bruno para de ser exagerado pelo amor! – ri – E Re, eu não sou nenhuma querido – dei uma ênfase no nenhuma e pisquei – Vocês sabem que eu não sou de sair dando tapa na cara de ninguém, mas ela me provocou, vocês viram, inventou mentira sobre mim e ainda me meteu umas caneladas na quadra. Eu até que fui muito paciente com ela, vocês são a prova disso.

— Verdade, sou suspeita pra falar mas naquele dia lá na quadra ela exagerou e a Gabi relevou bastante. Se fosse eu já tinha feito barraco naquele dia mesmo. – Karol riu.

— E você Lipe, o que achou da cena cinematográfica de hoje? – o Bruno riu, dando de ombro no Lipe.

— Achei nada cara, achei nada. – respondeu desanimado.

— Esqueceu que a gente ta falando da mina dele mané? Foi ela quem levou o tapa. – Renan riu e bagunçou os cabelos do Bruno.

— Vish é mesmo, tinha até esquecido desse detalhe, mais sorte pra sua mina na próxima vez manézão! – riu.

— Ela não é minha mina cara nós só temos um rolo, nada demais. – ele riu.

— Você que me desculpe Lipe, mas não é o que parece. – Manuella indagou.

Eu segui em silêncio e assim eles foram caminhando e comentando sobre a “lendária” briga de hoje e sobre o caso do Felipe com a Larissa assunto do qual já estava me dando nos nervos e me irritando bastante, então decidi quebrar o meu silêncio.

— Deu né gente, chega de falar dos dois, a vida é deles se eles têm um “rolo” – fiz aspas com os dedos - o assunto diz respeito a eles e mais ninguém, deixa que os dois se resolvam. Chega disso.

— Obrigado. – Felipe me agradeceu, seco e fez cara de aliviado.

— Não me agradeça só fiz isso porque cansei desse assunto. – sorri sinicamente – agora eu vou subir porque pelo que acabei de ver cheguei em casa! – acenei.

Sai andando na frente, já indo em direção a portaria do condomínio, o elevador já estava pra subir quando a Manu gritou pedindo pra que eu o segurasse, assim eu fiz.

— Ei dona Gabriella o que foi isso hein? Um surto de ciúmes? - disse entrando no elevador.

— Deu pra perceber foi? – olhei envergonhada.

Manu: Claro que deu, eles até ficaram comentando. – indagou.

— É meu melhor amigo, tenho mais é que ter ciúmes mesmo. – dei uma pausa – ou era né.

— Melhor amigo né – disse duvidosa – Como assim era? – me olhou.

— Viu como ele ta comigo? Ele ta frio, e distante. Mal falou comigo hoje, nem me cumprimentou, tudo isso por que? Por causa dela? – questionei buscando resposta – Será que ele ta gostando dela Manu? – a olhei assustada e um pouco decepcionada.

— Não viaja amiga, vai ver eles só estão ficando, nada demais, coisa pouca.

— Sei lá. – abaixei a cabeça e fiquei em silêncio.

Logo o elevador chegou ao nosso andar, me despedi da Manu e entrei em casa, fui direto pro meu quarto, joguei minha mochila em qualquer canto e me joguei na cama, fiquei pensando nisso do Felipe poder estar sentindo alguma coisa pela Larissa, pensei também no porque dele estar afastado de mim, me deu um aperto no peito, um “medo” de saber que em breve, talvez ele pudesse ter alguma coisa com ela, logo em seguida me veio uma vontade imensa de chorar, de ter ele comigo, mas só não entendia muito bem, até porque eu nunca havia sentido nada do que estava sentindo por ele, nunca me veio uma vontade absurda dessas de tê-lo comigo e muito menos de impedir que ele tivesse um relacionamento com qualquer pessoa que fosse. Em meio a esses pensamentos, me deixei levar e adormeci.

Acordei horas mais tarde, me levantei, tomei um banho morno e vesti uma roupa confortável, fui até a cozinha, belisquei algumas coisas e subi pro meu quarto novamente, e assim o dia passou, logo já era possível de se ver uma Lua Crescente me dando boa noite da janela do meu quarto “noite tranquila”, pensei comigo mesma. Fui até o closet e peguei um short, uma camiseta azul escura, calcei meu vans branco, ajeitei meus cabelo e desci até a sala.

— Mãe? – gritei enquanto descias os degraus da escada correndo.

— To aqui na cozinha! – gritou.

Me dirigi em direção a cozinha e parei de frente pra ela, me escorando em uma das paredes.

— Desembucha, quer ir onde? – me perguntou rindo.

— Ah, é que eu queria dar uma voltinha, ir até o calçadão, nada demais. – sorri.

— Com quem? – me olhou.

— Sozinha. – eu sorri largo, como um pedido de, ”por favor, deixa?",

— Porque não chama a Manu pra ir com você? – sugeriu – Ta tarde pra senhorita ficar andando sozinha por ai.

— É que eu queria ficar um pouco sozinha sabe. – sorri sem graça – e ainda são 18h30min mãe.

— Tudo bem – me olhou – qualquer coisa me liga, ta levando dinheiro?

— To, se precisar eu volto de taxi. – sorri.

— Ok. Vai com cuidado, e juízo viu! – veio em minha direção e depositou um beijo na minha testa.

— Sim senhora. – sorri e fui em direção a porta, já saindo e pegando o elevador.

Ao sair do condomínio fui andando, sem intenção nem lugar pra onde ir, a noite era calma. Precisava de alguma forma, me organizar em relação aos meus pensamentos e sentimentos, precisava entender a mim mesma, e me posicionar diante de algumas decisões. Andei por alguns minutos e logo cheguei ao calçadão, me sentei em um dos banquinhos que havia ali os quais davam de frente ao mar e deixei a brisa leve bater em meu rosto, era isso que eu fazia quando precisava pensar ou me refugiar de qualquer outro problema, me sentava e ali mesmo ficava até me sentir melhor ou até mesmo chegar à conclusão de algo. Em meio a tudo, lembrei-me de que hoje era sexta feira, dia dos quais meu pai costumava me ligar, lembrei também de que havia mais de uma semana que ele não fazia o mesmo, isso me deixava preocupada, pois ele nunca ficava tanto tempo sem ligar, o que me levou a conclusão de que ligaria pra ele no dia seguinte e me certificaria de que estava tudo bem. Fiquei mais alguns minutos por ali, até que decidi ir embora, fui caminhando pelo calçadão mesmo, quando de longe eu avistei o Felipe, meu coração foi a mil, “O que é isso?” foi o que me veio à cabeça ao sentir meu coração acelerar de tal forma. Pensei três vezes se iria até ele, falar com ele ou não, e quando dei um passo pra fazer isso vi a Larissa saindo de dentro de um dos “quiosques” dali, e indo na direção a ele, ela o abraçou e ele a deu um selinho, esboçando um sorriso logo em seguida.

Aperto no peito sem tamanho era o que eu sentia naquela hora, minha vontade era de sair o mais de pressa possível dali sem que eles me vissem, mas minhas pernas travaram e só o que eu fiz foi ficar ali, parada. Ele me parecia feliz, bem feliz; quem sabe não fosse o que eu havia pensado mesmo? E se ele realmente estivesse gostando dela? Mas que diabos eu tinha haver com isso? E porque eu estava me importando tanto? Milhares de perguntas sem respostas me vinham na cabeça, mas fui acordada do transe quando escutei uma voz fina e um tanto insuportável me chamando.

— Ora, ora, se não é a Gabriella. – ela não fazia questão de esconder sua alegria, e sorria de orelha a orelha.

Assim que ouviu falar meu nome, Felipe que sorria, mudou completamente seu semblante, ficando sério, o que me causou um pouco de desapontamento. Como assim fechando a cara ao me ver? Isso nunca acontecia quando a gente se encontrava.

— Hum... Ér, oi, Larissa. – disse ainda confusa – oi Felipe. – dei um leve sorriso desanimado de canto.

— Oi Gabi, o que você ta fazendo aqui? – ele olhou ao meu redor – E sozinha? – indagou e me olhou.

— Vim dar uma volta. – sorri fraco e sem animo.

— Ah, entendi. – arqueou a sobrancelha, já deduzindo do que se tratava – pra onde você ta indo?

— Pra casa, ta tarde já.

— Quer uma carona? – me passou a impressão de oferecer por educação – Eu já estava indo pra casa. – olhou-me.

Ele ainda estava sério, meio tristonho, eu até pensei em aceitar sua carona, assim resolveríamos de uma vez por todas, toda essa diferença que está entre nós. Em anos de amizade, nunca, nunca mesmo nós aviamos ficado assim, dessa maneira. Sua frieza me assustava, me dava medo pelo simples fato de não querer perdê-lo. Mas logo lembrei de que ele estava com a Larissa, e que provavelmente estavam em um daqueles programinhas de casais do qual eu não queria atrapalhar, muito menos presenciar.

— Mas... – ela se pronunciou, com uma cara nada agradável.

— Não precisa – eu a interrompi – não quero estragar o programinha de casal de vocês dois. – dei um sorrisinho sínico – Eu já vou indo, até mais. – sorri forçado e sai andando.

Tudo que eu mais queria naquele momento era o meu quarto e a minha cama; porque sim; eu odiei tê-los encontrado ali. Eu não sabia o que estava acontecendo comigo em relação ao Felipe, me sentia completamente confusa, só de vê-lo meu coração acelerava mil vezes mais, admito, e só de vê-lo com a Larissa foi o suficiente pro meu sangue ter fervido, meu peito ter apertado e ter tido uma vontade imensa de ter voado no pescoço dela por estarem juntos.

Em meio a tantos pensamentos mal percebi quando já estava em frente ao condomínio onde eu morava, entrei e chamei o elevador, ao chegar em casa conversei um pouquinho com a minha mãe e brinquei com a minha irmã, minutos depois eu subi, vesti um pijama, me deitei e logo dormi.

Acordei no sábado com o meu celular tocando, cobri minha cabeça com a intenção de que fosse parar de ouvi-lo tocar, mas a pessoa persistia, então resolvi atendê-lo.

— Alô. – disse sonolenta, ainda abrindo os olhos.

— Não acredito que ainda ta dormindo, olha que dia lindo que ta lá fora, levanta vai, temos planos pra hoje.

— Bom dia Manuella, estou muito bem obrigada por perguntar e por ter me acordado, não tenho planos pra hoje. – falei com ironia.

— Ih, ta azeda hein, o que aconteceu?

— Nada não. – desconversei – Mas fala, que planos são esses? – mudei de assunto.

— Te conheço Gabriella, te conheço. – disse num tom duvidoso – A galera vai pra praia, daí resolvi te chamar pra ir também, vamos?

— Quem vai? – perguntei antes mesmo de decidir se iria.

— As mesmas pessoas de sempre Gabi – respondeu num tom meio óbvio, soltando um risinho do outro lado da linha – e ai? Vai ou não?

— Ah, sei lá Manu, não sei. – falei desanimada.

— Sai dessa de não sei. – disse autoritária – Daqui dez minutos passo ai, esteja pronta. – desligou o telefone antes mesmo que eu pudesse responder.

Eu sabia que ela não me deixaria em paz e iria perturbar minha paciência até eu dizer que ia pra praia com eles, a questão é que, eu não queria encarar o Felipe, não no clima em que nós estávamos, eu não suportava ele distante, me tratando com tal frieza coma andava tratando, mas sabia que Manuella me atormentaria a paciência, então logo tratei de levantar e me arrumar. Quando estava terminando de me arrumar ouvi batidas na porta do quarto, e em seguida a voz da Manu, anunciando que estava entrando.

— Ta pronta? – ela sorria.

— Quase. – respondi um tanto sem ânimo.

— Que foi hein, Gabi? – repreendeu-me – Se anima vai, olha o sol lindo que ta lá fora!

— Eu sei, eu sei. – dei um sorriso um tanto forçado.

— Vai, me conta, o que foi que aconteceu? – arqueou uma das sobrancelhas.

— Não aconteceu nada. – sorri fraco.

— E você acha mesmo que vai me enganar? Te conheço Gabi, já disse. Me conta. – pediu-me, com uma voz doce.

— Não vai desistir se eu não te contar, né? – a olhei.

— Sabe que não. – deu um leve riso – Vai, me conta, sou tua melhor amiga poxa.

— É que... – dei uma enrolada – Ontem eu fui dar uma volta sabe, espairecer, típico de mim, e quando eu estava voltando, dei de cara com o Felipe. – torci a boca num sinal meio confuso.

— E...? – perguntou-me, curiosa.

— E que ele estava com a Larissa, num programinha de casal, se é que me entende, e sei lá – disse meio confusa – não gostei muito do que vi, ciúmes de melhores amigos, sabe? – dei de ombros, enfatizando a incerteza – Mas é que sei lá, nós estamos afastados, e eu to com “medo” – fiz aspas com os dedos – de perde-lo.

— Ciúmes de melhores amigos? – deu uma risada sarcástica – por favor, né Gabi. Por acaso quando o Felipe namorava a Bruna você tinha esse teu ciúme, de melhores amigos? - olhou-me.

— Não, mas é que – dei uma pausa – é diferente.

Bruna é uma ex-namorada do Felipe, que por mais que não tivesse ocorrido um pedido de namoro da parte dele, eles namoraram por alguns meses, mas terminaram por conta de uma traição dele. Não vou negar, é claro que eu tinha ciúmes deles, mas por “medo” de perder meu melhor amigo pra namorada dele, era esses ciuminhos bobos, não se comparava ao que eu sentia ao ver ele e a Larissa juntos.

— É claro que é diferente na época da Bruna você não estava afim do Felipe. – disparou, sem dó nem piedade de me poupar em ouvir aquilo.

— Ah, claro – dei uma risada sarcástica – que ideia é essa Manuella? Pelo amor né, ele é meu melhor amigo, não tem essa de estar afim.

Manu: Gabi para de mentir pra si mesma, não vai te adiantar em nada. – olhou-me – você mesmo acabou de admitir que sente ciúmes dele e tem medo de perdê-lo.

— Para com isso, sério. – a olhei como se tivesse pedindo "para com essa tortura de me confundir mais" — Toda amizade tem seu tempo ruim, é só isso que ta acontecendo, logo volta tudo ao normal – sorri – eu espero. – disse baixinho sem a intenção de que ela ouvisse, mas acho que foi em vão.

— Tudo vai voltar ao normal, é claro, mas enquanto você não desfazer esse nó na sua cabeça, essa confusão que ta se passando ai, nada vai se resultar. – ela sorriu, um sorriso de incentivo.

— Tudo bem – sorri. – Agora vamos, já estou pronta.

Avisei minha mãe que estava saindo e nós duas fomos em direção à praia, como era bem próximo de casa, não demoramos muito a chegar lá, logo que chegamos fomos ao encontro do Bruno, junto dele estava o Felipe, a Karol e o Renan.

Sabe quando seu coração dispara ao ver uma pessoa? Sabe quando você sente como se houvessem milhões de borboletas no seu estomago? Então, foi assim que me senti ao ver o Felipe, e logo em seguida pensei comigo o que estava acontecendo? Por que isso? Parecia que cada vez mais um nó se embolava em minha cabeça.

Cumprimentei a todos e fui cumprimentar o Felipe, que estava sentado em cima de uma das cangas estendidas na areia.

— Oi. – sorri fraco ao sentar-me do seu lado.

— Oi. – ele retribuiu o sorriso, ah que sorriso!

Deduzi que ele olhava para o mar, já que seus óculos escuros me impediam de para onde seus olhos olhavam, me coloquei a olhar na mesma direção, ele me parecia pensativo, tão lindo! — sorri comigo mesma — Porém pensativo. O silêncio gritava entre nós, e sim, era algo que assustava. Em mais de 15 anos de amizade nunca havia acontecido nada parecido como estava acontecendo agora, nem os sentimentos agonizantes, nem todo esse silêncio assustador.

— Como você ta? – continuei olhando pra onde olhava antes.

Precisava ouvir sua voz, pelo menos um “eu to bem e você?”, era necessário.

— Bem – deu uma pausa breve – to bem. – afirmou.

Ta bem? Onde? Cadê? Não era o que parecia, não mesmo.

— Tem certeza? – insisti.

— Tenho Gabriella. – disse ríspido, e seco.

Ele me olhou e eu apenas o olhei quase que incrédula, desapontada, o que eu havia feito pra ele? Qual o motivo de tanta grosseria? Levantei-me de onde estava sentada e fui me socializar com as outras pessoas, já que com quem eu mais queria conversar, não queria se quer falar direito comigo.

Felipe Narrando

É claro que eu não estava gostando nem um pouco de tratar a Gabi de tal forma como andava tratando, mas sabe quando nós queremos muito alguém, mas não podemos ter essa pessoa? Então, era isso que estava acontecendo. Eu estava confuso, confuso com o que estava sentindo. Eu não sabia do que se tratava, só sabia que a queria. Queria o teu sorriso, queria seus abraços, seus beijos, seus carinhos, seus toques, queria tudo que pudesse vir dela.

A essas alturas ela já devia estar imaginando que qualquer sentimento que eu estivesse sentido seria pela Larissa, mas muito enganada estava ela. Em todos esses anos que eu cresci com ela, todos esses anos de amizade que eu tive com a Gabriella, eu nunca havia sentido nada tão parecido, nada tão forte, nem por ela, nem por ninguém. Não vamos ser hipócritas, é claro que eu já a desejei antes, sou homem e admito isso; mas não havia desejado da forma como vinha desejando-a. Nunca havia desejado um beijo, como vinha desejando o dela ultimamente. Essa menina estava me deixando maluco em relação a esse turbilhão de sentimentos que eu tinha ao vê-la, só de pensar nela meu coração parecia pipoca, ela estava me tirando completamente do sério.

Desde aquele dia em que nós havíamos dado aquele selinho, mesmo que sem querer, foi algo que mexeu comigo, me fez reparar ainda mais nela, e ver o quão especial era a pessoa que esteve comigo há anos e eu não havia notado. Mas nada do que estava crescendo aqui deveria continuar, não era recíproco, sendo assim, não queria me magoar, por isso dei uma afastada. É óbvio que doía em mim fazer o que eu estava fazendo, principalmente a carinha de desapontada que ela fazia cada vez que eu a evitava, era difícil, mas eu tentava.

Depois de um tempo, a Gabi, Karol e Renan foram pra água, e a Manu e o Bruno ficaram sentados comigo, eu ainda permanecia calado, no mesmo lugar, apenas tentando desenrolar tudo que cada vez mais, se embolava.

— Qual é brother? Vai ficar assim o dia inteiro? – perguntou-me.

— To de boa Brunão, só to quieto. – desconversei, tentando convencê-los disso.

—Ah, claro. – Manu disse irônica – Qual é Felipe? Se o teu problema é com a Gabi, eu acho melhor vocês resolverem logo. Vocês mal trocaram uma palavra, nunca foi assim. – olhou-me – Olha o que ta acontecendo com a amizade de vocês. Vai deixar ela se perder, assim, do nada? Ela sente sua falta, e isso está na cara, você sente a falta dela e nós sabemos muito bem disso. Para de tratar ela como se fosse qualquer uma, ela ta magoada contigo, e se quer saber, ela te viu ontem com a Larissa, e ela que não saiba que eu te contei isso, mas ela ficou mexida, ficou magoada com alguma coisa. Então para de fazer corpo mole e vai atrás. – disparou por completo.

— Não é isso Manu, é que... – dei uma longa pausa, pensando se falava ou não – eu... – pausei novamente – eu não sei do que eu to sentindo, entende? To confuso, ela me deixa confuso, a minha cabeça ta um nó, e eu não sei como desatar. Pra não machuca-la, nem me machucar, prefiro evitar. – senti um nó a menos na minha garganta, um alivio em contar a alguém, talvez.

— Ta mais do que na cara que você ta afim dela Lipe – ela sorriu – mas você não vai conseguir desatar esse nó sozinho, nem a evitando, fazendo isso você só vai se machucar, e magoá-la ainda mais.

— Lipe, vocês, acima de qualquer coisa, são amigos. – O Bruno disse – E a amizade de vocês, não se compara a qualquer amizade que tenha por ai, é única, não deixa as coisas acabarem assim, vai ser pior, pior pra você e pior pra ela. – aconselhou-me.

— Eu sei cara, mas é que sei lá. – baguncei meus cabelos – eu me sinto um bundão em falar isso, mas eu tenho medo sabe – ri – medo de que seja lá o que for que eu esteja sentindo não seja recíproco.

— Você só vai saber se é recíproco ou não, se você se arriscar cara.

— Cadê aquele Felipe que não tem medo de nada? Cadê o meu amigo cara de pau mais sem vergonha que conheço? Cadê aquele Felipe que não tem medo de nada, que se arrisca, que se joga de cabeça em tudo? Cadê hein? – Manuella perguntou-me e eu pensei comigo mesmo “Cadê?”

— Cadê? – a olhei, e falei num tom divertido.

Manu: Cadê? – me perguntou, rindo.

— Será que ta aqui? – olhei pra direita – ou aqui? – olhei pra esquerda – Não sei Manu, não sei. Aquele cara tá; tá paralisado – pausei – talvez apaixonado. – olhei pra ela e dei um sorriso fraco.

— Se arrisca Lipe, você só vai saber se tentar. – me olhou docemente.

Bruno: Caso contrário, você vai continuar assim, e sem ela, porque se ficar da forma que está, vai perdê-la. – Bruno disse.

— Eu vou pensar ta, prometo. – sorri.

— Já é um começo. – nós rimos.


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