Além Da Amizade escrita por Esc L


Capítulo 22
Continuação Capítulo 9.




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Quando já estava ficando cansada de esperar, vi um táxi virar a esquina da rua onde eu estava e dali mesmo sair a Gabriella, que pareceu me buscar com os olhos e assim que meu viu, veio correndo em minha direção. 

— Manu! - ela gritou, aproximando-se de mim e agachando em minha frente - Você tá bem? O que aconteceu? - perguntou aflita, olhando o estado em que eu me encontrava. 

— Não fala nada não. - pedi, sentindo mais lágrimas invadirem meus olhos - Só me abraça, por favor. - eu agarrei seu pescoço, abraçando-a com toda intensidade que podia.

Sabe aquele abraço de melhor amiga, que só ela sabe dar? Aquele colo e carinho inigualável? Aquela proteção diferenciada das outras? Eram todas essas sensações que eu tinha ao lado da Gabriella. 

— Não chora Manu. Me conta o que aconteceu, por favor. - ela pediu, secando as lágrimas que escorriam. 

Solucei, tentando parar o choro e puxando o ar de meus pulmões.

— Eu tentei, Gabi. - solucei novamente, fungando logo em seguida - Eu tentei tirar esse bebê que tá crescendo dentro de mim. - seu semblante mudou no momento em que eu revelei o que havia ido fazer ali.

— Vo... - ela gaguejou, me olhando assustada - Você não abortou, não é? - ela me olhou duvidosa, desesperada.

— Não, eu não posso! Não consegui! Eu seria um monstro se levasse isso adiante. Não tenho coragem, não consigo. - falei arrependida por estar ali, e vi seu olhar mudar. Um olhar mais confortante. 

— Ainda bem que não fez - falou, olhando-me nos olhos - se fizesse tal coisa, não seria a Manu que conheço. Quando eu falei que ia estar ao seu lado, enfrentando tudo contigo, eu não menti, Manuella. Eu to aqui, você pode contar comigo. 

— Eu sei. - a abracei novamente - Me desculpa, você estava certa, foi horrível tudo o que vi lá dentro. Eu devia ter te ouvido. - falei enquanto sessava o choro. 

— Tudo bem. - ela acariciou meus cabelos, ainda abraçada a mim - Já passou, tá bom? O que aconteceu aqui, vamos esquecer, tudo bem? - ela me olhou, e eu assenti que sim. Eu realmente queria esquecer - Agora vamos, já está tarde. - levantou-se, estendendo as mãos para que eu levantasse. 

Caminhamos até o táxi, entrando no mesmo. Ela deu o endereço do condomínio ao taxista, e assim ele segui com o caminho de volta para a casa. Encostei minha cabeça no ombro da Gabi, permanecendo em silêncio. Por alguns minutos, ousei encostar minha mão em minha barriga, coisa que fiz pela primeira vez, em dias de suspeitas daquela gravidez. Arrependi-me profundamente de tudo que eu pensei e ousaria fazer contra aquela gravidez. Talvez, se eu pensasse pelo lado positivo, não fosse tão má ideia assim, ter aquele bebê. 

— Eu sou um monstro, não sou? - perguntei chorosa, encostada no ombro da Gabi. 

— Seria, caso tivesse feito o que ia fazer hoje. - ela falou me olhando - Mas não fez, então não vejo monstruosidade nenhuma em você. To orgulhosa, enfrentou seu medo, conseguiu deixá-lo de lado, por uma força maior. - ela sorriu, passando-me confiança. 

— Eu me sinto horrível. 

— Você não é uma pessoa horrível, Manu, está mito longe disso. - lançou-me uma piscadela. 

Ficamos alguns minutos em silêncio, até ela quebrar o mesmo. 

— Vai contar pro Bruno sobre a gravidez, não vai? - ela me olhou com cautela. 

— Vou. - dei um sorrisinho - Pretendo contar hoje mesmo para ele, assim que chegarmos. 

— Muito bem, assim que eu gosto. - falou autoritária, arrancando um risinho meu. - O que eu falo pro Felipe? Ele estava comigo na hora em que você ligou. - suspirou. 

— Fala a verdade. - a olhei - Confio nele, não tenho o que esconder. 

— Ok. - ela sorriu, encostando sua cabeça na minha. 

O silêncio se instalou entre nós, novamente. Mas nada muito pesado, somente aquele silêncio que parecia ser reflexo de pensamentos tumultuados. 

— Gabi?

— Oi? - ela falou, continuando com a cabeça encostada a minha, enquanto a minha se encostava em seu ombro. 

— Você é a melhor amiga do mundo. - sorri, falando as mais sinceras palavras que já havia dito. 

— Eu sei! - gabou-se, arrancando risos de nós duas. 

  Gabriella narrando:   Depois de ter ido buscar a maluca da Manuella, no fim de mundo onde ela se encontrava, eu pedi para o taxista deixá-la na casa do Bruno e dei o endereço da casa do Felipe, para que ele me deixasse lá. 

— Eu já ia te ligar, já. - o Lipe disse, enquanto me recepcionava no hall de entrada de sua casa. 

— Fui buscar a Manuella num fim de mundo que você nem imagina, amor. - falei enquanto entrava, dando-lhe um selinho. 

— E o que foi que aconteceu com ela? Eu fiquei preocupado, você saiu da sua casa que nem um foguete. - ele me olhava. 

— Seus pais estão em casa? - assegurei, pra que eu pudesse contar ali mesmo o que havia acontecido. 

— Não, saíram pra jantar, pode falar. 

Eu o puxei pela mão e nós nos sentamos no sofá, um de frente para o outro. Eu contei todo o ocorrido para ele, que ficou surpreso com tudo que havia acabado de ouvir, e com razão, até eu fiquei surpresa em saber que a Manuella faria uma maldade como aquela. 

— Caramba, Gabi. - falou surpreso, enquanto assimilava tudo - O Bruno já sabe? Porque vai ficar muito bravo com ela quando souber. 

— Vai ficar sabendo agora... Você acha que ele vai rejeitar essa gravidez? - perguntei pensativa. 

— Não. - ele deu uma pausa, parecendo pensar também - Ele vai ficar bravo com ela, por ela ter pensado em tirar... Mas ele não rejeitaria, pode até dar um desespero, mas rejeitar, isso não. 

— Eu espero. Ela vai precisar dele, e de nós também. - falei, encostando-me ao peito dele. 

— Eu sei, e ela vai poder contar com a nossa ajuda. - ele sorriu, dando um beijo estralado em minha bochecha e me abraçando. 

Ficamos em silêncio por alguns minutos, parecendo estarmos perdidos em nossos pensamentos. Se tinha uma coisa que eu jamais faria, era tirar a vida de uma criança - que nem formada estava - por algo que ela não tivesse culpa. Eu não julgava a Manu pelo que ela pensou em fazer, por saber o desespero que ela estava, mas talvez tudo o que tinha acontecido naquele dia, fizesse com ela pensasse e pegasse um pouco mais de apego ao bebê que ela teria. 

— Se um dia nós tivermos um bebê antes da hora - o Lipe falou, olhando diretamente em meus olhos - eu espero que você não faça uma coisa dessas. 

Eu o olhei com um sorriso nos lábios, quase que rindo do que ele havia dito. 

— Eu jamais faria uma coisa dessas. - virei-me de frente para ele, o olhando - Ainda mais com um filho nosso. - falei sorrindo, fazendo com que ele sorrisse também. 

A forma que ele sorria era tão linda, que tive vontade de aperta-lo, de tanto amor que eu sentia naquele momento. 

— Assim espero. - falou, fazendo-se autoritário. 

— Lindo! - sorri, enchendo-o de selinhos e me agarrando em seu pescoço. 

— Eu sei, obrigada, amor. - gabou-se, dando uma leve mordida em minha bochecha.

— Urgh! - resmunguei, ajeitando-me ao seu lado. 

— Você sempre solta esse "urgh" quando sou realista quanto a minha beleza. - empinou o nariz, gabando-se ainda mais. 

— Porque o teu amor próprio é tanto que chega a me apavorar. - o olhei, rindo. 

— Meu amor por você é ainda maior. - me olhou nos olhos, fazendo-me sorrir feito boba. 

— É mesmo? - perguntei enquanto acariciava seus cabelos. 

— É mesmo. - ele sorriu, dando-me um selinho demorado, e iniciando um beijo maravilhoso, como todos os seus beijos eram. 

  ***  

De todas as noites que eu dormi sozinha, aquela fora a primeira que eu havia conseguido dormir sem que o choro me cansasse. Não é que eu queria dramatizar as coisas, mas é que a perda do meu pai ainda era muito recente e para eu me acostumar com aquela dor rotineira, talvez levaria um tempinho. 

— Bom dia, cabeção. - falei abraçada ao Felipe, dando um beijo rápido no mesmo. 

— Bom dia, chatonilda. - ele selou nossos lábios, enquanto eu o puxava pela mão.  

Estávamos mais do que atrasados para o colégio. Enquanto eu tentava andar o mais rápido possível para entrar na primeira aula, o Felipe me abraçava ao máximo no meio da rua, prendendo-me em seus braços e me enchendo de carinho, fazendo minha missão ficar impossível der ser realizada. Afinal, era impossível de resistir a ele. 

— Vem Lipe, anda logo! - falei, puxando-o para dentro da escola, com pressa. 

— Eita, que mulher apressada! - disse rindo, enquanto entrava comigo para dentro da escola.

Nós entramos apressados, por um fio de um dos inspetores de alunos fecharem o portão. 

— Aula de quem? - ele perguntou, enquanto caminhávamos pelos corredores da escola.

— Dona Lourdes. - fiz careta, escutando um breve risinho do Felipe.

— Quer apostar quanto que a tua sala vai estar fechada? - falou rindo. 

— Amor, para de praguejar, não posso perder aula daquela velha. - falei manhosa, o arrastando pelos corredores. Ele estava realmente impossível.

— Se a Dona Lourdes tiver fechado a porta, você vai para o jardim comigo, fechado? 

Eu o olhei com o canto dos olhos, sabendo que ele estava desejando mil vezes mentalmente que a porta da minha sala estivesse fechada, e bem, talvez eu estivesse desejando isso. A aula da Dona Lourdes era uma das mais chatas que tinham, e entre ela e um gato, perfeito como o Felipe, eu escolheria mil vezes ele. 

— Tá bom. - falei dando-me por vencida. 

Nós caminhamos até a virada do corredor da minha sala e bingo! A porta estava fechada. Olhei para ele, rindo da cara de "eu sou o dono da razão" que ele fazia. Ele arqueou as sobrancelhas, como quem dizia "eu falei" e deu um sorrisinho de canto para mim, todo charmoso e sedutor.  

— Se você quer que eu vá contigo para o jardim, é melhor que pare de tentar me seduzir com esse teu olhar 43 e ande logo, antes que peguem a gente aqui. - ele fez uma careta, rindo e me abraçando de lado. 

— Olhar 43. - ele deu uma risadinha sarcástica - Só você, mulher. - riu, dando um beijo estralado em minha bochecha. 

Nós fomos caminhando em direção ao jardim que tinha na parte de trás da quadra do colégio. Era um jardim muito bem cuidado, mas eram muito poucas as pessoas que sabiam da existência dele ali, por sua entrada ser um pouco estreita, e a quadra - que não era nem um pouco pequena - esconder a maior parte dele. Eu vivia me perguntando o porque dele não ser conhecido, já que era um lugar tão bonito e tranquilo para ficar, seria uma ótima ideia se eles liberassem aquele jardim no intervalo. Assim que chegamos lá, nos sentamos de baixo da grande árvore que tinha ali, proporcionando sombra para nós dois. O Lipe se sentou, encostando-se na árvore e eu sentei no meio de suas pernas, encostando-me em seu peito. 

— Eu gosto daqui. - falei enquanto sentia o carinho dele em meus braços. 

— Eu também, é um lugar bom para ficar. - sorriu - Principalmente com você. - sussurrou em meu ouvido. 

Senti todos os pelos do meu corpo arrepiarem-re, sentindo minha nuca queimar. Contato demais, muito contato! 

— Não faz isso. - reclamei, aninhando-me em seus braços. 

— Isso o que? - ele sussurrou novamente em meu ouvido. 

— Isso. - revirei os olhos, dando um longo suspiro. 

— Só porque você se arrepia todinha. - falou calmo, apoiando o queixo em meu ombro - Vou nem te contar o que isso significa. - ele falou com malicia, dando um beijo em meu pescoço. 

Virei-me de frente para ele, o olhando me fingindo incrédula. É claro que eu sabia que ele estava me provocando, mas não ia me deixar ser vencida por ele, não ali. 

— Você provoca - falei com os lábios próximos aos seus - e depois não aguenta. - mordi seu lábio inferior, arrancando um sorriso malando do mesmo. 

— Olha, olha quem tá entrado no meu jogo. - falou brincalhão, trazendo-me para mais perto de seu corpo. 

— Nesse teu jogo eu já fui campeã muitas vezes - dei uma piscadela, envolvendo meus braços em sua nuca. 

Ele deu uma risadinha, sabendo que o que eu falava era realmente verdade, assim não provocando mais do que devia. Trocamos alguns longos beijos, e tudo o que eu não queria, era sair dali de seus braços. 

— Tenho uma surpresa pra você hoje, amor. - ele falou, abraçado a mim. 

— Surpresa? - perguntei curiosa - Que surpresa? - o olhei. 

— Se eu contar vai deixar de ser surpresa, né. - ele riu de minha pergunta. 

— Me conta, amor. - pedi com dendo, dando alguns beijos pelo rosto dele. 

— Não, curiosa. - riu - Mais tarde você vai descobrir. - falou pensativo - Aliás, o fim dessa semana será de surpresas. - ele sorriu, dando-me um selinho demorado. 

Ficamos juntinhos, curtindo um o outro até dar o sinal para a segunda aula. Era tão bom ficar ao lado dele, que quando estávamos juntos eu desejava constantemente que os segundos virassem minutos e os minutos virassem horas, para que o tempo que ficássemos um com o outro fosse o bastante para nos aproveitarmos, mas ainda assim, com tamanho sentimento que eu tinha por ele, apenas algumas horas nunca pareciam ser o suficiente quando estávamos juntos.

Fui para a sala antes que a professora fechasse a porta e não me deixasse entrar. Assim que entrei na sala, fiz questão de me sentar perto da Manuella para saber tudo que tinha acontecido no dia anterior, depois que ela havia ficado na casa do Bruno. E bem, o ocorrido foi o seguinte: ela contou tudo para o Bruno, do início ao fim, e ele, por sua vez, ficou uma fera com ela por não ter contado nada para ele e por ter ido até lá tirar o bebê que estava esperando, mas no final, mesmo em meio a toda preocupação e choque pela noticia de ser pai aos 17 anos, ele deu a palavra dele de que assumiria o bebê, nada mais justo, né? O que me aliviou foi saber que eles haviam ficado bem um com o outro, mesmo ele estando um pouco chateado pela atitude que ela teve, ela teria o apoio dele, e isso era uma das coisas que mais importavam para ela naquele momento. 

Passei o resto da manhã pensando na tal surpresa que o Felipe disse que tinha para mim, e pra aumentar ainda mais a minha curiosidade, eu não fazia a mínima ideia de que surpresa seria essa. 

As horas foram passando, rastejando como sempre, quando eu estava na escola, até finamente chegar o intervalo e depois de mais três tediosas aulas seguintes, finalmente, a tão esperada hora de ir embora!

— Não vai me contar mesmo que surpresa é essa? - perguntei com manha, enquanto caminhávamos em direção a sua casa. 

— Não. - o Felipe falou firme, olhando para mim. 

— Tô agoniada, amor. Você sabe como sou curiosa. - resmunguei o olhando. 

— Para de ser resmungona. - riu - Depois do almoço tua surpresa chega, mas, acho que você vai gostar. - sorriu.

— Dá uma dica? - pedi, fazendo bico. 

— Nã, nã, não. - negou, fazendo com que meu bico aumentasse ainda mais - E não adianta fazer bico, não vai amolecer meu coração. - riu, dando um selinho rápido no meu bico. 

— Irredutível. - reclamei, revirando os olhos. 

Fomos caminhando e conversando em direção à casa dele, ao chegarmos nos deparamos com a tia Lorena sentada no sofá, foleando uma revista. 

— Oi mãe. - o Lipe falou risonho.

— Oi meu amor. - ela sorriu ao vê-lo - Oi minha linda. - acenou para mim, vindo em minha direção. 

— Oi tiaaa! - falei enquanto a abraçava. 

— Como vocês estão? 

— Bem. - respondemos em coro, rindo logo em seguida. 

— Que bom. - sorriu - E a relação de vocês, da namoro ou não? - ela nos olhou, arqueando a sobrancelha. 

— Ih, ta curiosa hoje hein, Lorena. - o Lipe falou num tom brincalhão. 

— Sou tua mãe, tenho mais é que saber das coisas, menino. - falou autoritária. 

— Ata, desculpa. - ele levantou as mãos, ainda rindo - Mas respondendo a sua pergunta, o namoro logo, logo sai. - ele sorriu, dando uma piscadela para mim. 

Eu sorri para ele, mandando um beijo no ar. Era engraçado, porque toda vez quando ele tocava nesse assunto e afirmava com toda certeza que o namoro logo sairia, meu coração disparava, e as terríveis borboletas faziam festa no meu estômago. 

— Sério? - ela perguntou, surpresa - Ai, fico feliz por vocês! - ela sorria feito boba, parecendo realmente gostar da ideia. 

Eu via isso de uma forma muito positiva, afinal, ninguém merecia uma sogra chata, que não aprovasse sua relação com seu namorado, não é? 

— Sério, dona Lorena. - sorriu, confirmando o que havia acabado de falar. 

— Ah, eu ia me esquecendo de falar - ela olhou para o Lipe - ligaram lá daquele lugar, perguntando que horas podiam trazer a...

— Você falou o horário? - ela a interrompeu, antes que ela falasse o que poderiam levar, de certo, fazia parte da surpresa.

— Sim, aquela hora que você me pediu pra falar. 

— O que? Posso saber do que vocês estão falando? - perguntei, intrometendo-me no assunto.

— Não pode não, curiosa. - ele falou zombeteiro - Faz parte da surpresa...

— Ah, quer dizer que a senhora também tá de complô com essa surpresa, tia? - fiz-me impressionada, apoiando as mãos na cintura. 

— Não é bem um complô. - falou rindo - Só fiz um favorzinho para o pitchulico. - ela o chamou pelo apelido que ele tanto odiava, fazendo-me rir e ele ficar de cara feia. 

— Mãe se a senhora soubesse o quanto esse apelido é de viado, não me chamava assim. - reclamou, com a cara fechada. 

— Não vejo onde, é um apelido tão lindo, e você dava muita risada quando eu te chamava assim quando pequeno. - o olhou incrédula. 

Ele revirou os olhos, ficando com a cara fechada. Toda vez que a tia Lorena o chamava por aquele apelido na frente dos outros ele fechava a cara, chegava até ser engraçado de se ver.

— Own, o pitchulico ficou de cara feia, tia! - falei, aproximando-me dele e o abraçando por trás. 

— Não fica bravo não, pitchulico. - a tia fez uma voz de bebê, fazendo com que nós três rissemos. 

Nós ficamos conversando por mais alguns minutos, colocando o papo em dia e eu aproveitei para fofocar algumas coisas com a tia Lorena, enquanto o Lipe tomava banho, depois de um tempinho a Maria foi atá a sala nos avisar que o almoço estava pronto, e que ao pedido do Felipe, a sobremesa era mousse de chocolate, especialmente para mim. Como posso com uma coisa linda dessas?

Nós almoçamos em meio a brincadeiras e conversas na mesa. Eu adorava quando me juntava com a tia Lorena, tinha ela como uma segunda mãe pra mim e as conversas que nós tínhamos era sem igual. 

— Mais uma coisa que eu ia esquecendo de contar. - a tia falou dando um pulo da cadeira - O teu irmão ligou hoje, disse que logo, logo está voltando! - ela falou feliz. 

— Sério que o Rafa vai voltar? - falei eufórica, quase dando u pulo da cadeira. 

— Sério. - confirmou rindo. 

— Pena, que eu já sabia disso tudo. - o Lipe falou, fazendo-se superior. 

— Sabia e não me contou? - a tia perguntou indignada, fazendo a mesma pergunta que eu queria fazer. 

— Qual é, ele pediu segredo e vocês que me desculpem, mas sou um ótimo irmão. - gabou-se. 

Rafael era o mais velho e único irmão do Felipe, ele foi estudar fora, nos Estados Unidos, especificamente, faziam-se dois anos e desde então só tinha ido visitá-los no natal do ano anterior e nada mais, por não poder estar saindo de lá. Assim como foi com o Felipe, eu também havia crescido com o Rafa e ele era quase que um irmão mais velho para mim, a única diferença é que eu tinha mais apego no Felipe, pelas idades serem quase as mesmas, e por nós vivermos juntos, desde pequenos, sem desgrudar um do outro. 

— Ah, e tem mais, ele disse que voltaria com uma surpresa. - a tia olhou de canto de olho para o Lipe. 

— Dessa eu não sabia. - o Lipe fez careta.

— Espero que seja uma surpresa boa, e que teu irmão tenha tomado juízo. - falou preocupada, dando um risinho logo em seguida.

— Esses Massinelli's, vai entender - dei de ombros - cheio de surpresas. - fiz aspas com os dedos, rindo. 

Terminamos de almoçar e saboreamos o mousse maravilhoso que a Maria tinha feito, depois disso eu e o Felipe a ajudamos na cozinha, secando e guardando a louça. Eu estava ansiosa para saber o que era, e ficar parada seria algo que eu não iria conseguir.

Meia hora depois nós escutamos o interfone tocar, o Felipe, que também estava inquieto, o qual eu supus que também estivesse ansioso, correu até o interfone, atendendo o mesmo e sorrindo para mim.

— Chegou, amor. Vem! - ele me puxou pela mão, levando-me para fora. 

— Eu corri com ele até o jardim da casa, ele pediu que eu esperasse ali enquanto ele foi até o lado de fora. Não entendi o porque de ficar ali esperando e não poder ir com ele, mas não contrariei, porque né... Cinco minutos depois - que mais pareceram uma eternidade - ele entrou novamente, carregando uma bolinha de pelos linda em seus braços, com um laço enorme em seu pescoço. 

— Ai. Meu. Deu. - falei pausadamente, aproximando-me deles - Que coisinha mais linda, amor! - falei, acariciando o cãozinho em seus braços. 

Ele sorriu, olhando para mim. Olhei atentamente para o cachorrinho e lembrei-me então, que era o mesmo do pet-shop que nós havíamos passado em frente, e que eu tinha me apaixonado. Olhei para ele encantada, pegando o cãozinho de seus braços. 

— Oi. - falei boba, acariciando o cachorro. 

— Lembra anteontem, que nós passamos em frente aquele pet-shop e você ficou brincando com os filhotinhos de Golden que tinha lá? - eu assenti que sim, ainda encantada com a bolinha de pelo em meus braços - Então, eu tive uma ideia, e voltei lá ontem, enquanto você saiu para buscar a Manu e comprei. - riu - É uma fêmea, e eu tinha certeza que você ia gostar. - riu. 

— Gostar? - fiz um sinal negativo com a cabeça - Eu amei! - sorriu - Obrigada amor, ela é linda! Né menina? - eu me sentei na grama, acariciando-a. 

Ela estava quietinha, talvez por não conhecer nenhum de nós dois ainda, eu poderia dizer perfeitamente que ela estava tímida! 

Eu a coloquei em meu colo, sentando com as pernas cruzadas e ela encostou a cabecinha em minha coxa, sentindo o carinho que eu fazia. O Lipe, que pareceu ter ficado feliz por eu ter gostado do presente, sentou-se ao nosso lado, quase que deitando na grama. 

— Eu dei ela pra você, mas por um motivo ainda maior. - ele me olhou - Ela vai te fazer companhia, toda vez que eu não estiver por perto. - ele sorriu, acariciando-a também - Porque eu sei que quando você fica sozinha, ainda não são os melhores pensamentos que invadem tua cabeça, sei também, que com isso você fica triste, e a última coisa que eu quero nesse mundo e não suporto, é ver você triste, amor. Dói tanto em mim que você nem imagina. - ele me olhou nos olhos, fazendo-me sorrir. Saber que ele se preocupava comigo era tão bom quanto a surpresa que ele havia me feito. - Então, quando eu não estiver por perto, quem vai te fazer companhia e não te deixar triste, vai ser ela, né? - ele sorriu, mexendo com ela. 

Eu estava tão encantada com a atitude dele comigo, que não haviam palavras que traduzissem o que eu estava sentindo. Eu amava aquele jeito só dele, de cuidar de mim e querer o meu bem. Amava a forma como ele transmitia todo aquele carinho e fazia-me feliz. Eu não sabia o que falar, mas tinha certeza de uma coisa: ele, sem dúvida alguma, era a melhor coisa que tinha acontecido na minha vida. 

— Eu te amo, menino! - estiquei-me, dando um selinho demorado nele - Amo mais do que você pode imaginar, obrigada por se preocupar comigo e cuidar de mim. - eu o enchi de selinhos, arrancando risos dele e fazendo com que a cachorrinha que estava em meu colo se despertasse da timidez e desse um pulo no colo do Felipe. 

Ele ficou brincando com ela, que pareceu agitar-se e deixar toda a timidez de lado. Eu observava os dois, ainda boba com o que ele havia feito. Eu via na minha frente, um Felipe que eu pensei que nunca existiria na questão de relacionar-se com alguém. 

— To apaixonada! - falei feliz, dando um beijo estralado na bochecha dele - Obrigada, obrigada, obrigada! - selei nossos lábios. 

— Apaixonada por mim? Isso eu já sei, mas é sempre bom saber. - gabou-se, abraçando-me e me apertando contra ele.

— Por ela. - fiz bico, olhando para ela que dava voltas em torno de nós dois - Mas por você, to ainda mais! - sorri, fazendo com que ele desse um sorriso largo. Ele me olhou nos olhos, com um sorriso no canto dos lábios, dando-me dois selinhos, iniciando um beijo calmo e completamente envolvente. Eu enrosquei meus dedos em seus cabelos, puxando-os com carinho enquanto nossas línguas entrosavam-se em perfeita sincronia, ele deu uma leve mordida em meu lábio inferior, finalizando o beijo. 

— Te amo, te amo, te amo! - dei um risinho, mordendo sua bochecha. 

— Eu também te amo, amor. - ele sorriu, todo lindo! 

Ficamos os três brincando ali no jardim durante um bom tempo. A tia Lorena, que um tempinho depois notou que a surpresa havia chegado, aproximou-se, brincando com a nossa bolinha de pelos também. 

Ela era muito bagunceira, e tinha uma energia que parecia não acabar nunca, quem olhava a carinha dela, não diria que faria uma bagunça como a que estava fazendo. Depois de um bom tempo, nós decidimos entrar e como ela era pequenininha, ainda não podia ficar para o lado de fora. O Lipe a levou até a parte de trás da casa, perto da piscina, onde tinha um potinho de água e outro de ração, ela, por sua vez, pareceu notar os mesmos ali e correu de imediato, atacando toda sua ração. Dez minutos depois ela nos olhava com aquela carinha de cachorro pidão, parecendo pedir por mais. 

— Acho que ela quer mais. - eu ri, olhando para o Lipe.

— Não sei se pode dar mais, Gabi. 

— Olha a carinha dela, amor. - falei com dengo - Dá só mais um pouquinho pra ela. - o olhei, junto dela que ainda o olhava com aquela carinha apaixonante. 

Ele colocou mais um pouquinho de ração no potinho da mesma, que novamente, devorou tudinho. Depois de alguns minutos ela correu para um cantinho, fazendo as necessidades dela por lá mesmo e voltou, nos olhando com aquela carinha de pidona.

— Ah não - o Lipe a olhou, fazendo careta - não vou te dar mais comida, você já comeu demais. - ele acariciou sua cabeça - Você não cansa de comer não, menina? - perguntou, recebendo um latido agudo dela. 

— Acho que isso foi um não. - falei rindo. 

— Pois você trate de descansar, que não vai comer mais agora não, eu sou teu pai, e não deixo. - ele conversava com a cachorra, que o olhava atentamente. 

— Você é o pai dela então? - perguntei rindo do jeito que ele havia falado. 

— É claro. - afirmou me olhando em seguida.

— Então eu sou tua mãe. - falei boba, acariciando a cachorrinha que agora estava no colo do Lipe. 

Eu me sentei em uma espreguiçadeira estofada que tinha em baixo da sombra e o Lipe deitou em meu colo, com ela em seus braços. Enquanto eu cariciava seus cabelos, ele fazia carinho na cachorra, que parecia estar pegando no sono. 

— Amor, ela ainda não tem um nome. - falei pensativa. 

— Verdade, que nome nós podemos dar para ela? 

— Não sei. - pensei, tentando lembrar-me de um nome legal - Que tal, Lola? 

— Não, Lola não. É estranho. - fez careta.

— Huuuum, Missy? 

— Não, amor, vamos pensar em outro. - riu.

— Mel? Os pelos dela são cor de Mel, vai combinar com ela. - falei rindo. 

— É, é um nome legal. - falou pensativo - Mas é comum, um monte de cachorra tem. 

— Verdade. Não dei qual então. - dei-me por vencida. 

Nós ficamos em silêncio, pensando num bom nome pra dar para a nossa menina.

— Ela é tão bonitinha, mas parece uma ogra. - riu - É bagunceira, come demais e faz um cocô, que nossa. - fez careta. 

— As aparências enganam. - brinquei.

— Já sei, amor, já sei um nome pra dar para ela! - falou animado. 

— Qual? - o olhei. 

— Fiona! - riu - É a cara dela, que é linda, mas tem jeitinho de ogra. 

Eu ri do nome que ele teve ideia de dar a ela, mas pensando bem, era realmente um nome perfeito para a peludinha. 

— É. - ri, pensativa - Nossa menina vai se chamar Fiona! - sorri, acariciando-a - Viu, bebê? Teu nome agora é Fiona. 

Nós ficamos mais alguns minutos com ela no colo, que logo dormiu. O Lipe a colocou no cantinho da espreguiçadeira, aconchegando-se em meus braços enquanto eu o acariciava. Ficamos ali, o resto da tarde, brincando e trocando beijos, curtindo um ao outro. Eu me sentia completamente, completa ao lado dele. Quando já estava anoitecendo, pedi a ele que me levasse embora e assim ele fez. Despedi-me da tia Lorena e da Maria e logo em seguida da Fiona, que estava atrás de nós. 

— Tchau menina, se comporta, amanhã a mamãe vem te ver de novo, ok? - a acariciei, recebendo um latido como resposta.

Ela ficaria os primeiros dias na casa do Lipe, até ela completar os 10 dias, a partir daí, toda vez que o Felipe não pudesse estar por perto ela ficaria comigo, o que não dava era para deixar ela trancada dentro do apartamento, e lá na casa dele, ela teria espaço suficiente para fazer o que bem entendesse. 

Fomos caminhando calmamente pela rua, alguns minutos depois nós já estávamos em frente ao meu condomínio. 

— Quer que eu suba com você? - ele perguntou, entregando-me minha mochila. 

— Não precisa, não. - sorri - Você deve tá cansado, vai pra casa e descansa. - acariciei seu rosto, dando um selinho nele. 

— Qualquer coisa me liga, tá? E se quiser pode mandar sms. 

— Pode deixar, amor. - sorri. 

— Ah, e sábado tem mais uma surpresa para você. - sorriu, olhando-me nos olhos - Esteja pronta às 20h, vou vim te buscar, vamos sair. 

— Pra onde? Ai meu Deus, amor, uma hora eu caio pra trás com essa de surpresa. - ri, envolvendo meus braços em seu pescoço. 

— Não vou falar, é surpresa. - falou como se fosse óbvio - Mas esteja mais linda do que já é. - selou nossos lábios. 

— Ok, meu amor. - sorri, fazendo-o sorrir. 

Nós nos despedimos, com um longo e apaixonado beijo, mas o que eu menos queria, era subir e deixa-lo ir embora. Depois de enrolarmos, sem vontade alguma de ambas as partes de se despedir, demos um último beijo rápido e eu virei as costas, subindo antes que ficássemos ali a noite inteira. Peguei o elevador totalmente pensativa e feliz com o dia que eu tive. Tudo o que eu mais queria saber, era qual seria a próxima surpresa que viria. 

Na sexta feira, depois da escola, fui para o shopping com a Karol, a procura de um vestido para sábado. Rodamos por metade do shopping, a procura de uma roupa que fosse realmente do meu agrado, para a ocasião do dia seguinte, mas o Felipe não havia dito onde iríamos, somente me limitou a saber que iríamos jantar e nada mais, sendo assim, a busca por um vestido ficava realmente difícil.  

Depois de entrar e sair de mais algumas lojas, finalmente achei um vestido que chamou minha atenção. Eu puxei a Karollyn para dentro da loja, indo direto a vendedora e pedindo aquele vestido no meu numero, e assim que ela veio com ele em suas mãos, eu fui para o provador o experimentando. Fiquei por alguns minutos me observando e analisando detalhe por detalhe do vestido em meu corpo, e bem, não é que ele havia ficado perfeitamente, perfeito em mim?! Sorri para o espelho, gostando do que via e olhei para a Karol, que também sorria, aprovando o vestido que eu tinha escolhido para a noite do dia seguinte.  

Depois de fazermos mais algumas compras, fomos para a praça de alimentação, finalmente matando quem nos matava. A fome. Depois disso, fomos cada uma para sua casa, mas antes que eu pudesse entrar no táxi, recebi algumas recomendações da Karol, do tipo "Me liga depois contando tudo, caso contrário, eu mato você. Faça sexo com camisinha, não quero mais uma amiga grávida. Esse vestido ficou perfeito, se não usa-lo, faço picadinhos de você." e só depois disso, pude finalmente entrar no táxi, rindo das recomendações hilárias da minha melhor amiga maluca.  

Quando acordei no sábado, já se passavam das 12h, corri para o banheiro, tomando um banho rápido e vestindo uma roupa. Eu tinha horário marcado no salão de beleza para as 15h da tarde. Depois de pronta, desci, comendo algo que sustentasse a fome e corri para o salão, onde fiquei por algumas horas fazendo minhas unhas e uma hidratação no cabelo, não queria nada mais que isso. As horas pareciam rastejarem, e tudo que eu mais queria era que elas passassem o mais rápido possível, tudo isso devido a minha ansiedade para mais tarde.  

Ao chegar em casa, encontrei com a Helô, deitada no sofá, dormindo enquanto um de seus desenhos favoritos passavam na TV e minha mãe sentada na mesa central, mexendo em seu notebook. Sentei-me ao lado da mesma, conversando com ela e contando sobre o jantar de mais tarde, descobrindo então, que o Felipe já havia conversado com ela e pedido a permissão da mesma. Porque eu era sempre a última a saber das coisas? Isso era uma coisa que eu queria muito descobrir. Ela me contou sobre o desfile de sua nova coleção, que seria dali alguns meses, da última vez que havíamos conversado sobre isso ela tinha concluído os croquis com a coleção já terminada e agora só o que restava era o desfile de lançamento. 


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Notas finais do capítulo

Continua...



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